Capítulo 1
Segunda-feira, primeira
Gina nunca tinha visto uma das masmorras parecer tão bonita e acolhedora. Uma das paredes estava tomada por um grande espelho e uma barra mais ou menos da altura da cintura de Gina corria de um lado ao outro dele.
O piso era de tábua corrida, e não de pedra como o resto do subsolo do castelo, e várias luzes enfeitavam o teto, tornando o ambiente muito mais claro que a sala de aulas de Snape.
Gina entrou um pouco insegura. Era a única quintanista presente, não tinha conseguido que nenhuma de suas amigas a acompanhasse. O aposento estava tomado de garotas do quarto e terceiro anos. Pelo menos, foi o que ela pensou.
- Bom dia. – disse uma voz etérea às suas costas. Gina se virou e tomou um susto.
- Luna? Eu pensei que você tivesse dito que toda essa história de dança era coisa de idiotas.
- Eu disse. – Luna afirmou enquanto olhava para algum ponto atrás de Gina.
Gina resolveu não insistir. Afinal, a amiga estava usando uma mistura no mínimo curiosa de roupas. Uma calça muito justa e brilhante roxa, que terminava em duas polainas rosa, uma camiseta azul larga com a gola cortada, que caia sobre um ombro e deixava à mostra as alças de um top rosa e, no cabelo, uma faixa preta com os dizeres "Winston Ballet Academy, 1969".
Ela não foi a única a reparar na estranha combinação de Luna. Todas as outras meninas olhavam para ela com visível desprezo. Gina se sentiu aliviada por ter escolhido um top preto de alças trançadas nas costas, uma calça vinho e uma sapatilha também preta.
Uma mulher alta e magra entrou na sala. Ela usava o cabelo preto num coque alto, como McGonagall, e uma roupa justa toda preta. Tinha a postura muito elegante e exibia um enorme sorriso. As alunas se sentaram no chão.
- Bom dia, classe. Eu sou a professora Juliette Lautrec.
- Bom dia, professora Lautrec. – as meninas responderam, sem muita coordenação entre as vozes.
- Ah, sim... Isso... Eu sei que vocês costumam, aqui em Hogwarts, chamar os professores pelo último nome, mas eu realmente gostaria que vocês me chamassem de senhorita Juliette apenas. E... Ora, entrem! – a professor olhou para a porta pareceu bastante animada.
Cerca de dez garotos entraram na sala. A maioria evitava olhar para as meninas e preferia mirar o chão. No final do grupo, Draco Malfoy deu um passo para dentro da sala e encostou-se na porta, displicente.
Enquanto os outros garotos procuravam se sentar não muito perto das meninas, a senhorita Juliette aproximou-se de Draco.
- Posso perguntar o seu nome?
Draco endireitou-se. Estava com 16 anos e já era mais alto que a professora. Abriu um sorriso cínico.
- Draco Malfoy.
- Muito bem, senhor Malfoy, pode se sentar perto de seus colegas.
- Eu acho que não.
A professora olhou para ele com uma expressão severa:
- Sou eu quem coordena esta sala, senhor Malfoy. E estou dizendo que o senhor deve se sentar. Se vai fazer esta aula...
- Esse é o problema. – Draco voltou a encostar na porta. – Eu não vou fazer a aula propriamente. Pensei em apenas tomar nota das palhaçadas que forem cometidas aqui hoje.
- Senhor Malfoy, se não quiser perder 20 pontos para a sua casa, o senhor vai se sentar agora. – a senhorita Juliette virou as costas para Draco e voltou para a frente da sala. Draco, contrariado, sentou-se no fundo.
- Hogwarts colocou matérias de estudo dos hábitos dos trouxas na grade obrigatória este ano. Essa é apenas uma delas, senhor Malfoy, poderia ter escolhido outra.
- Eu e o resto deles. – Malfoy disse, apontando para os outros garotos. – Acha que não tentei? Todas as vagas foram preenchidas. O professor Snape tentou arranjar algo melhor para mim, mas, aparentemente, o diretor achou muito engraçado eu tomar aulas de dança.
Gina apertou os olhos na direção de Draco. Não tinha gostado do tom com que ele dissera diretor. Uma menina à sua direita comentou 'que grande babaca' e ela não pôde deixar de concordar.
A senhorita Juliette também parecia estar começando a se divertir muito com a idéia de Draco fazer suas aulas. Mandou que todos se levantassem e iniciou uma série de aquecimentos. As meninas faziam sem qualquer problema, mas a ala masculina da sala parecia terrivelmente constrangida. Draco mal se movia e tinha uma expressão de profundo repúdio nos olhos.
De uma caixa roxa com detalhes prateados, saía uma música bastante agitada.
- É um rádio? – perguntou uma quartanista ao lado de Gina. Ela deu de ombros, não era especialista em reconhecer artefatos trouxas. Só aqueles que seu pai tinha desmontados e, na verdade, vê-los aos pedaços não servia para muita coisa.
- Não, não pode ser. Aparelhos eletrônicos não funcionam em Hogwarts, acho que tem muita magia interferindo. – comentou uma outra quartanista. – Deve ser um substituto, alguma criação mágica que substitui o rádio dos trouxas.
Quando a professora decidiu que bastavam de aquecimentos, entregou ara todos uma pequena apostila com uma letras de músicas. Gina recebeu a sua e leu o título da primeira, 'Stupid Cupid'.
- Nós vamos iniciar as aulas com sapateado e, como parte do curso, iremos apresentar um curto musical para o resto da escola. Eu selecionei músicas antigas que ficarão muito engraçadinhas com a dança. Mas a dança não é simplesmente mover as pernas e os braços. – ela fez movimentos esquisitos e a sala toda caiu na gargalhada. Draco, porém, bufou e comentou:
- E eu achava que já tinha visto o bastante de macaquices nos aquecimentos.
Gina ouviu a voz dele pouco atrás de si. Com os exercícios, tinha acabado se deslocando para o fundo da sala. Toda a sala escutou o comentário e a senhorita Juliette ficou bastante constrangida.
- De qualquer forma – ela recomeçou , dança é também atuação. Vocês precisam sentir o que estão dançando e o que querem que o público entenda de vocês. Por isso eu lhes entreguei as letras das músicas que vamos usar. Quero que vocês saibam o que estarão dizendo para as pessoas.
Todos folhearam as apostilas. Draco, que não tinha se dado ao trabalho de pegar a sua das mãos da professora, espiou por cima do ombro de Gina. Ele era alto em relação a ela, ainda que Gina tivesse crescido muito no último ano.
- Pára de respirar no meu pescoço, Malfoy. – ela disse assim que percebeu a aproximação dele e deu um passo para o lado. Draco colou uma das mãos sobre a apostila dela.
- Só queria olhar a música, Weasleyzinha. Ou será que você, só porque finalmente ganhou uma coisa que não é de segunda mão, pode ser tão egoísta?
Gina sentiu seu rosto ficar vermelho de raiva.
- Você é um idiota, Malfoy. Maldita hora em que não conseguiu vaga em outras aulas.
- Calma, calma.Vocês grifinórios podem ser tão exaltados. – Draco usava tom de deboche. – Ou você tem passado tempo de mais com o estressadinho do Potter.
- Não consegue deixílo em paz, não é mesmo, Malfoy? Mesmo quando ele está do outro lado do castelo.
Draco chegou perigosamente perto de Gina:
- Ainda defendendo o Potter, Weasleyzinha? Você já não teve tempo o suficiente para se livrar desse encanto?
- Ah, cala a boca! – mas Gina falou mais alto do que esperava e a classe toda olhou para os dois. A senhorita Juliette perguntou se havia algum problema e Gina, envergonhada, respondeu que não.
- Viu o que você fez? Agora me empreste aqui esta apostila. – Draco puxou-a da mão de Gina, mas ela a segurou. Acabaram os dois lendo.
- Stupid Cupid -
My fine feathered friend with your cute little pranks / Meu caro amigo de penas com sua travessurazinha
I would like to express my thanks / Eu gostaria de expressar meu agradecimento
I trusted you implicitly / eu confiei em você implicitamente
but what a double-crosser you turned out to be / mas que traidor você se revelou
Stupid Cupid you're a real mean guy / Cupido estúpido, você é um cara muito mau
I'd like to clip your wings so you can't fly / Eu gostaria de grudar suas asas para você não poder voar
I'm in love and it's a crying shame / Eu estou apaixonado e é uma grande pena
and I know that you're the one to blame / E eu sei que você é o culpado
Hey hey, set me free / Hey, hey, me liberte
Stupid Cupid stop picking on me / Cupido estúpido, pare de pegar no meu pé
I can't do my homework and I can't think straight / Eu não consigo fazer minha lição, eu não consigo pensar direito
I meet her every morning 'bout half past eight / Eu a encontro todas as manhãs por volta das oito e meia
I'm acting like a lovesick fool / Estou agindo como um louco doente de amor
You've even got me carrying her books to school / Você até me fez carregar os livros dela para a escola
Hey hey, set me free
Stupid Cupid stop picking on me.
You messed me up for good right from the very start / Você me atrapalhou todo desde o começo
hey now, go play Robin Hood with somebody else's heart / Agora, vá brincar de Robin Hood com o coração de outro
You got me jumping like a crazy clown / Você me faz pular feito uma palhaço louco
and I don't feature what you're putting down / E eu não entendo o que você está planejando
well since I kissed her loving lips of wine / Bem, desde que eu beijei os adoráveis lábios de vinho dela
the thing that bothers me is that I like it fine / O que me incomoda é que eu gosto bastante
Hey hey, set me free.
Stupid Cupid stop picking on me
- Essa letra é estúpida. – Draco criticou, largando a apostila só com Gina. Ele cruzou os braços e ficou em silêncio, muito irritado.
- Vocês irão notar que a primeira música é o carro chefe do musical. Todas as outra irão levar para esse desfecho. – a senhorita Juliette continuava a falar. – Por isso, vamos escutar as outras primeiro e escolher os pares para cada uma.
Ela começou a passar todas as músicas na caixa roxa. Gina achou muito interessante, todas pareciam muito antigas e a quartanista com quem ela tinha conversado no começo da aula disse que eram da década de cinqüenta, quando os homens trouxas usam jaquetas de couro e as mulheres, saias bem rodadas.
A senhorita Juliette escolheu os pares para cada uma das músicas. Gina foi ficando apreensiva por não ganhar nenhum papel, mas ela notava os olhares de Juliette em sua direção e um pouco a sua esquerda. Gina espiou e percebeu que Draco continuava parado lá. Fechou os olhos, antevendo o que aconteceria.
Quando a última música começou a tocar e os primeiros acordes de Stupid Cupid fizeram Gina conhecer a música cuja letra tinha lido, a senhorita Juliette informou em voz alta:
- Neste último número, todos vocês estarão presentes, mas apenas para rodearem a história do casal principal. Hum... – ela olhou na direção de Gina. – Como você se chama, querida?
- Gina Weasley. – ela respondeu apreensiva.
- Senhorita Weasley, espero que tenha bastante espírito para a tarefa que eu vou propor. Quero que você seja a protagonista da música principal.
Gina abriu um sorriso e agradeceu.
- Senhor Malfoy? – Draco olhou para a professora com impaciência. – espero que o senhor tenha mais delicadeza e mobilidade no corpo do que mostrou até agora. Detestaria cometer uma injustiça com a senhorita Weasley e até acho injusto fazê-la aturar o senhor. Mas eu vi os dois juntos e, acho que estou começando a enlouquecer, mas vocês formam um belo casal... Você será o par dela na apresentação.
Draco parecia ter levado um choque, fez um movimento brusco para traz. Gina fechou os olhos e balançou a cabeça.
- Eu acho que essa aula será uma ótima oportunidade não só para estudar os trouxas, mas também para desenvolver as habilidades de socialização de vocês. A apresentação será em uma semana, nós teremos que ensaiar todos os dias depois das aulas, certo?
A turma toda reclamou baixinho, mas a senhorita Juliette não aceitou as caras de indignação.
- Vamos aproveitar que vocês estão bem longe do período de provas para podermos usar esse tempo. Bem, classe, acho que não será produtivo começarmos os ensaios hoje, o aquecimento foi só para vocês irem se acostumando com o ritmo do curso. Classe dispensada.
A professora começou a bater palmas e alguns dos alunos entenderam que era dessa forma que ela acabava as aulas. Bateram palmas também.
Quando todos já tinham saído da sala em direção aos seus salões comunais, Draco reparou que Gina tinha ficado para trás. Ele a olhou por um momento e depois, balançando a cabeça, saiu da sala. Gina percebeu e foi atrás dele. Enquanto todos subiam as escadas que levavam para longe das masmorras, Draco andava mais para o fundo dela, onde ficava o salão comunal da Sonserina.
- Malfoy? – Gina chamou, sua voz ecoando pelas paredes frias.
Draco parou, mas não se virou, esperou que ela o alcançasse.
- O que você escolheu fazer primeiro, Weasleyzinha? Tirar sarro de mim pessoalmente, espalhar para todos na escola ou deixar ainda mais claro o quanto a idéia é detestável para você?
- Olha como você fala. Parece até que sou a única a detestar a idéia.
- Não, não é. – Draco ficou de frente para ela. – Uma Weasley, uma grifinória. Era tudo de que eu precisava. – ele continuou a andar para a o salão comunal.
- Olha aqui, Malfoy. – Gina agarrou o braço dele. – Se eu vou ter que suportar você todas as noites por uma semana, seria bom se você simplesmente parasse com essa atitude.
- É inevitável, Weasleyzinha. Malfoys não se juntam com Weasleys, com traidores do próprio sangue.
- Por Merlin, você soou com a senhora Black! – mas Gina percebeu seu erro um segundo depois de cometê-lo.
- Senhora Black? Quando foi que você esteve com uma senhora Black? O que você quer dizer?
- Eu... Eu li sobre a família Black num livro de bruxos famosos.
- É, eles sim merecem estar lá. Encontrou seus parentes também?
- Encontrei. Você sabe, todas as famílias puro-sangue estão interligadas. Você poderia descobrir que é meu primo, Malfoy.
Draco livrou seu braço finalmente da mão de Gina.
- Sonhando em entrar no hall das grandes famílias bruxas, Weasleyzinha? Vai precisar tentar muito mais que isso. Vai ter que tentar um casamento de luxo...
- Você é desprezível, Malfoy. Como se eu estivesse me importando com uma besteira dessas.
Malfoy sorriu e fez uma pequena reverência.
- Admiro sua grandeza de espírito. Faça bom proveito do mestiço do Potter, então – ele se ergueu novamente, Gina.
Draco finalmente alcançou a entrada do seu salão comunal. Gina teria reparado em como os sonserinos faziam para entrar se não estivesse tão preocupada sentindo raiva do maldito Malfoy.
Subiu as escadas para a entrada do castelo pensando em como iria contar a Rony o que tinha acontecido naquela aula. "Faça bom proveito do Potter", pensava irritada. Então Malfoy não sabia que ela estava namorando Dino desde o ano anterior. "Grande babaca, não repara em ninguém a não ser ele mesmo".
Draco passou pouco tempo no salão comunal, não podia agüentar a cara de curiosidade dos que sabiam que ele estivera na aula de dança. Incomodou-se com o olhar sonso de Pansy Parkinson.
Subiu para o seu dormitório. Deitou-se e pensou em Gina. Sorriu, era realmente divertido irritar uma gentalha como os Weasleys. Pelo menos de alguma forma iria se divertir naquela semana.
N/A: "Faz D/G, faz D/G!"
Ok, ok... vocês venceram. Eu fiz uma D/G...
Espero que gostem:)
