Capítulo 5

Sexta-feira, de camarote

'Você deve realmente estar aliviada porque a semana chegou ao fim.'

'Os ensaios devem ter sido uma tortura!'

'Hoje a gente vai ter que aturar aquele arrogante.'

'Quem sabe a gente podia fazê-lo escorregar... assim... acidentalmente.'

As meninas começaram a rir. Gina, sentada no meio delas, continuava a se concentrar no espelho e nos seus exercícios de aquecimento. Ela pensava que no ensaio geral apenas teria que disfarçar seu envolvimento com Draco – e Céus! Isso já era difícil o suficiente – mas agora tinha percebido que deveria também fingir odiá-lo. Como na primeira aula da semana.

Draco entrou na masmorra. Gina achou estranho encontrar com ele fora da Sala Precisa. Era estranho encontrar com ele em qualquer outro lugar. Com tantas pessoas em volta.

A senhorita Juliette entrou e Gina não podia parar de reparar como a professora era elegante. O balé devia ter feito isso com ela. Perdida em pensamentos de danças e espetáculos, Gina se levantou e pensou no que Draco dissera um dia, que talvez ela tivesse alma refinada.

"Pare com isso, Gina! Já está até falando como o Malfoy. Talvez tenha uma alma refinada... ah, que coisa nojenta de se dizer!" Mas ela achava a história engraçada em vez de nojenta.


Gina não agüentava mais o ensaio. Repetições, repetições. Só tinham passado da metade da coreografia havia pouco tempo. Draco, ao seu lado, também exibia impaciência no olhar.

You messed me up for good right from the very start

Gina e Draco interpretaram uma cena de romance não correspondido enquanto os outros alunos formavam um meio círculo em volta deles.

Hey now, go play Robin Hood with somebody else's heart

Draco fingia estar nervoso e saía do meio do círculo.

Os outros alunos rompiam a formação e se espalhavam pelo espaço do que seria o palco.

You got me jumping like a crazy clown

and I don't feature what you're putting down

well since I kissed her loving lips of wine

Gina achou que a caixa roxa tinha pifado. Se fosse trouxa, provavelmente suspeitaria de uma queda na energia. Draco, levantando-a, olhou assustado para o resto dos colegas.

Nenhum som, mas todos os olhavam assustados. A senhorita Juliette tinha a mão sobre a caixa roxa e as sobrancelhas franzidas.

'O que você estão fazendo?'

Gina olhava para a professora e para Draco com os olhos arregalados. Draco passou a mão pelos cabelos. Gina olhou questionadora para ele. Ele entendia o espanto das pessoas?

'Por que vocês... Por que esse... Por quê?'

'O beijo não fazia parte da coreografia original, fazia?' – Draco perguntou num suspiro.

'Não...' – a senhorita Juliette respondeu, ainda sem entender.

'Sweetie.' – Draco deu meia-volta e se sentou no chão da sala encostado a uma parede.

'A Sweetie ensaiou isso com vocês?' – a professora perguntou.

Draco ergueu o olhar para ela e respondeu:

'É claro, ou você acha que foi idéia minha beijar a Weasley?'

Gina fez menção de sair da sala correndo. Interrompeu seu gesto antes de começá-lo. Andou até Draco, soltou o cabelo e disse:

'Senhorita Juliette, eu já agüentei o suficiente do senhor Malfoy. Eu não estarei no espetáculo amanhã.' – por fim, ela saiu da sala. Sem correr.


'Você deveria ter saído correndo da sala.'

'Ah, sim. Agora eu sou 'Gina Weasley, a fracote de Hogwarts'?'

'Por Merlin, como você é explosiva.'

'Eu não sou uma bobinha qualquer.'

'Não, longe disso. Você é uma garota muito decidida.'

Gina virou os olhos.

'Garota?'

'Ora, você ainda tem quinze anos. Espere mais três e você será uma mulher muito decidida... e interessante.'

Draco beijou Gina. Ela passou as mãos pelos cabelos dele.

'Como foi o fim do ensaio?'

'A senhorita Juliette acredita que você vai reconsiderar sua decisão. Ela disse que irá falar com você depois do jantar.'

'Então eu acho melhor nós nos apressarmos, o jantar está terminando e eu ainda nem apareci no salão principal.'

'Calma, calma... Esse esconderijo é tão bom, por que nós não aproveitamos mais um pouquinho? E depois decidimos qual vai ser nossa próxima atuação para convencer Hogwarts de que nos odiamos.'

'Hum...' – Gina mordeu um lábio e olhou para cima. – 'Dessa vez eu quero ter a oportunidade de te chamar de sonserino nojento.'

'Não seja tão rebelde, Weasley.' – Draco a abraçou pela cintura e levantou-a um pouco. Eles se beijaram de novo.

Minutos depois, Gina saía da saleta onde estivera escondida e dirigia-se para o Salão Principal.

Depois dela, Draco alcançava sorrateiramente as escadas que levavam para as masmorras.


Gina subiu as escadas para o dormitório bastante alegre. Tinha convencido a senhorita Juliette de que, "apesar de estar profundamente ofendida com as palavras do senhor Malfoy", ia fazer o esforço de apresentar o espetáculo no dia seguinte.

Ela já sabia o suficiente da coreografia e sabia que o resto da turma tinha ensaiado com Draco e Sandy, uma das ajudantes da professora, no seu lugar. Sabia também que a parte do beijo tinha sido tirada da coreografia.

Quando Gina chegou ao seu dormitório, ele estava vazio. Ela não estava surpresa, era noite de sexta-feira e suas amigas estavam todas no Salão Comunal. Mas estranhou as cortinas de sua cama estarem fechadas.

Gina afastou uma delas e não conseguiu entender o que uma grande caixa retangular fazia sobre a sua cama nem como tinha chegado ali. Reparou que a janela estava aberta. Fechou-a.

As cortinas da cama foram corridas de volta quando Gina se sentou. Não sabia explicar, mas achava melhor não correr o risco de alguém entrar no quarto e ver o que ela estava fazendo. A caixa era branca e estava fechada com um laço cor de rosa. Ela desfez o laço e levantou a tampa.

Os dedos de Gina tocaram suavemente o tecido de um lindo vestido cor de vinho. Ela o tirou da caixa para encontrar um par de sapatos que combinavam com ele. Quando ela estendeu o longo vestido para vê-lo melhor, um bilhete caiu sobre o seu edredon.

"Com o vestido, no lugar dos ensaios, à meia-noite"


Gina parou na frente da sala precisa ofegante. Não tinha corrido, não era possível com aqueles sapatos. Mas seu coração estava acelerado e suas mãos tremiam.

Ela olhou para o Mapa do Maroto. Não tinha visto Draco nele. Seria possível que o mapa não mostrasse quem estava na Sala Precisa? Mas a porta estava fechada e ela não fazia idéia do que deveria pensar para abri-la. Certamente, não seria uma sala de ensaios.

Gina escondeu o mapa atrás de uma estátua. Harry sabia que ela o tinha guardado fazia um tempo, mas nem desconfiava que ela estivesse usando. Suspirou. A porta da Sala Precisa foi aberta.

Draco apoiou-se no batente e olhou para Gina. Ele usava um elegante terno preto e gravata. Estendeu a mão para ela. Ela deu para ele a sua, que ele beijou. Depois, prendeu o braço de Gina no seu e a levou para dentro.

Gina soltou uma exclamação. Estavam numa pequena sala, uma sala onde entrara depois de atravessarem uma cortina de veludo vermelho. O piso estava forrado por um carpete e duas cadeiras douradas encontravam-se na ponta. Gina andou até elas e percebeu que estavam viradas em direção a uma grade baixa também dourada. Quando se aproximou da grade, Gina olhou assustada para baixo. Estavam no camarote de um grande teatro e uma cortina preta grossa escondia o palco.

'Como você fez isso? Como saímos de Hogwarts?'

'Não saímos. Olhe como o teatro está vazio. Eu imaginei o local, mas não poderia imaginar as pessoas.'

'Mas então, quem vai estar no palco?'

Draco puxou uma das cadeiras para que Gina se sentasse.

'Você quer que eu estrague a ilusão?'

Gina se levantou de novo.

'Draco, eu não gosto de ilusões. Eu... eu prefiro viver a realidade.'

'Você está agitada.'

Gina andou para o fundo da pequena sala.

'Draco! Isso, você!' – ela segurou o vestido. – 'Essa roupa, esses sapatos, essa sala. Quanto tempo isso vai durar? Quanto tempo uma menina pode viver um conto de fadas?'

Draco olhou para ela sério.

'Estou longe de ser um conto de fadas, Gina. Não sou exatamente o príncipe perfeito, sou? Como o santo Potter.' – ele se sentou de costas para ela.

Gina andou até ele. Parou atrás da cadeira e apoiou as mãos em seus ombros.

'Eu não falei nada sobre o Harry...'

Draco ergueu sua mão esquerda e segurou a mão direita de Gina sobre o seu ombro.

'Mas pensa, não pensa?'

'Draco...'

Ele se levantou e soltou a mão dela.

'Acha que eu não sei o que seus amigos pensam de mim? Que eu sou um sonserino nojento? Você mesma quis usar essa fala!'

'Mas você não pode achar que eu penso assim'

'Como não? Você não anda com eles? Não tem as mesmas opiniões?'

'Por um acaso eu preciso pensar igual aos outros?' – o tom de voz de Gina começou a se elevar. O de Draco, também.

'Quanto tempo isso vai durar, você me perguntou. Quanto tempo isso vai durar, é o que eu pergunto de volta pra você! Quanto tempo até você perceber os meus defeitos e querer voltar para o Potter? Ou para o Thomas?'

'Draco...'

'O que você pensa, Gina? Pensa que é geralmente assim que acontece comigo? Que eu costumo preparar uma noite especial para todas as meninas? Que eu invento uma mentira descabida para a minha mãe para ela enviar um vestido para a escola? Pensa que eu beijo dessa forma todas as meninas?'

Draco segurou o braço de Gina. O aperto era forte, mas ela não se importou. Passou a mão que estava livre por trás da nuca dele e o beijou.

Ele soltou o braço dela e a abraçou.

Quando os dois se separaram, as respirações pesadas, Draco olhou para Gina e disse:

'Só acaba quando você quiser, Gina.'

'Mas eu não quero que acabe.' – ela garantiu, antes de beijá-lo de novo.

Draco levou Gina suavemente até a poltrona. Sentou-se ao lado dela e deu um toque com a varinha na grade do camarote, em direção ao palco.

As luzes diminuíram, Gina prendeu a respiração, Draco olhou para ela sorrindo. Pensou que ela nunca parecera tão linda, e não era culpa do vestido e sim da expressão. Sentiu uma emoção inexplicável. Estava feliz simplesmente por fazer Gina feliz. E ele não sabia o que isso significava.

A cortina do palco se abriu e Gina viu algumas formas pouco definidas. Percebeu que havia ainda uma outra cortina, mais fina, que deixava ver pouco do que acontecia na metade de trás do palco. Mas tudo estava parado e silencioso.

De repente, uma música clássica começou a tocar e uma bailarina vestida inteiramente de branco entrou no pedaço visível do palco. Gina não perdia nenhum dos seus movimentos. A bailarina parou no centro do palco numa bela pose e uma luz foi acesa na metade coberta pela cortina.

O tecido era fino e, com a luz, Gina pôde ver dez bailarinas e outros dez bailarinos vestidos de preto, que começaram a dançar. Conforme dançavam, a cortina começou a ser levantada e a bailarina de branco, como se só então percebesse as outras pessoas, uniu-se a elas admirada.

Gina acompanhou a triste história de uma menina que chegava a uma nova cidade onde tudo e todos eram estranhos e hostis com ela com lágrimas nos olhos. Nas suas lágrimas, misturavam-se a beleza da dança e a tristeza da pobre personagem. Draco segurou a mão de Gina durante todo o espetáculo e ele sentia que ela a apertava com mais força nos momentos mais emocionantes da apresentação.

Quando a dança terminou e as luzes foram acesas novamente, Draco inclinou-se na direção de Gina e enxugou uma lágrima que caída de seu olho.

'Você gostou, então?' – ele disse, com um meio sorriso.

Gina não conseguiu responder. Ela balançou a cabeça enquanto mordia o lábio inferior, tentando conter novas lágrimas. Draco a levantou e a abraçou.

'Draco, nós somos de mundos tão diferentes. Como vamos fazer isso, como vamos ficar juntos?'

Ele ainda estava abraçado a ela. Respondeu:

'Você está me dizendo que tem medo de tentar?'

'Não, eu...'

Ele se afastou dela.

'Você tem medo do que então?'

'Não é medo, é mais...'

'É o quê?'

'Você promete para mim que vai dar certo?'

Ele sorriu e se aproximou dela, tirou uma mecha de cabelo de seu rosto.

'Você está me pedindo, como uma pobre garota, que nunca a abandone, Gina?'

Gina fez um movimento brusco para trás.

'Você é realmente intragável, Draco Malfoy.'

Draco deu risada.

'Eu gosto de quando você é arisca, Gina.'

Gina endireitou a postura e jogou o cabelo para trás.

'Não se acostume a me provocar, Draco Malfoy. Eu posso me cansar.'

'Não!' – Draco fez um gesto exageradamente dramático e se jogou aos pés de Gina. Abraçou as pernas dela e implorou: - 'Não me deixe, senhorita Weasley, prometa que vai dar certo!'

Gina não conseguiu segurar as risadas.

'Levante-se e seja homem, Malfoy.'

Draco levantou e abraçou Gina, rodando-a com força. Parou com ela inclinada, apoiada em seus braços e com as mãos em torno do seu pescoço.

'Você consegue guardar segredos, Gina?'

'Melhor do que você pensa.'

'Então acho que não teremos problemas.'

Draco a beijou e Gina, estendendo a varinha, deu uma leve batida da grade do camarote. As luzes diminuíram.


As duas meninas que estavam na sala comunal da Grifinória estranharam que Gina estivesse entrando tão tarde. Gina sequer reparou que elas estavam lá. Amaldiçoava o relógio por ter tido que sair tão depressa da Sala Precisa. Mas o espetáculo tinha demorado muito tempo ela não poderia ficar a noite toda lá com Draco.

Gina hesitou na escada ao ter esse pensamento. Passar a noite com Draco. Ela sentiu seu rosto quente. Balançou a cabeça algumas vezes. 'Gina, Gina, vá com calma!'


N/A: Desculpem pela demora! Prometo que posto o próximo (e último capítulo) mais rápido!