Nereida II
Por Senhorita Kaho MizukiPassou a mão na testa, afastando a farta franja esverdeada, enquanto soltava um suspiro cansado. Apoiou os braços cruzados sobre a vassoura, sorrindo ao ver o monte de folhas secas que acabara de juntar. Era outono, e as árvores da propriedade dos Solo estavam carregadas de folhas amareladas que formavam enormes tapetes no chão. Issac apreciava essa época, o lugar possuía uma beleza que sua terra nunca iria ter, sua Sibéria nunca seria coberta por folhas que mais pareciam lascas de ouro e bronze, seria eternamente coberta pelo manto de neve branca.
A mansão fervilhava de afazeres, o que o aprazia, assim se sentia útil. Mesmo que estivesse vivendo de favor na casa de Julian, sob a proteção de Kanon. Sabia que nunca lhe faltaria nada enquanto estivesse com o Dragão Marinho, mas sentia-se ainda desconfortável, como um peso morto na vida do cavaleiro. E fazendo coisas como aquela, pequenas e sem muita importância, diminuía esse sentimento.
Com um saco de lixo grande, foi varrendo as folhas para dentro dele, completando o serviço. Pronto, o pátio estava limpo, colocou o saco nas costas. No meio do caminho parou, estava perto do estábulo, sentiu o cheiro dos animais. Largou o saco e aproximou-se, curioso. Os belos cavalos de raça pura eram alimentados e tratados, como se valessem ouro. E valiam, nunca vira animais tão lindos como aqueles na vida. Esbeltos, elegantes e fortes, exatamente como seu dono. Enrubesceu ao perceber em quem pensava.
Alguém o chamava, seu olho rondou o lugar até encontrar Kanon, que escovava o pêlo brilhante de um corcel negro. Magnífico, Dragão Marinho percebeu sua admiração pelo animal e riu, pegando sua mão, trazendo-o mais para perto. Segurando sua mão, obrigou-o a acariciar o cavalo, mas tinha receio de tocar nele e se assustar. Sorriu, estava calmo, pôde sentir a maciez e a quentura da pele. Kanon deixou de escovar o animal e o arriou, colocando uma sela no seu lombo, enquanto Isaac o acariciava fascinado.
– Vai montá-lo?
– Eu não, ele vai.
Apontou para alguém atrás de si, então se virou para olhar, quase caindo de susto. Julian se aproximava, colocando a luva de couro negro na mão esquerda, com movimentos felinos. Lançou um sorriso malicioso para Isaac, acompanhado de um olhar perigoso, como os que vinha dando para ele, como se o estivesse despindo. Engoliu em seco, como sempre o herdeiro dos Solo estava lindo, com sua roupa de equitação. Uma camisa branca sem aquela jaqueta com alguns botões abertos, as calças negras que lhe aderiam a pele das pernas torneadas, e botas de cano longo. Seus longos cabelos azulados estavam presos numa fita de cetim preto.
Com uma habilidade incrível, montou o corcel, e este não se agitou. Não sabia se essa facilidade de lidar com os cavalos era porque desde pequeno fora treinado para a equitação ou se era por possuir o espírito de Posseidon, o deus desses animais. Mas o impressionante era que os dois, homem e cavalo, pareciam se fundir, entender-se como um só. Cabisbaixo, deu as costas e pegou o saco de lixo, jogando-o sobre os ombros. Ouviu Julian chamá-lo, virou para olhá-lo, mas logo baixou o olhar, enrubescido, droga, ele tinha de sorrir daquele jeito?
– Não quer cavalgar comigo?
– Eu...Eu não sei montar.
Ainda com o sorriso provocante e uma sobrancelha levantada, o rapaz dá um tapinha na traseira do cavalo, mostrando o lugar. Isso o fez enrubescer mais ainda, ate os fios do cabelo e engasgar. Olhou para Kanon, pedindo ajuda. O Dragão Marinho apenas pegou o saco de sua mão, dizendo que poderia ser um passeio agradável. Não gostava de cavalos? Pois aí estava sua chance de passear em cima de um. Olhou para si mesmo, em que estado estava. Usava uma calça larga de bolsos laterais, uma camisa branca de algodão e um tênis velho, meio sujo de terra. O jovem grego disse que estava tudo bem, oferecendo-lhe a mão.
Aceitou-a hesitante e foi puxado de encontro a Julian, se afastou vermelho, então o outro riu.
Segure-se firme, ou vai acabar caindo, Isaac! – advertiu Kanon.
Segurar? Mas segurar onde, em Julian? Pelos deuses porque aquilo estava acontecendo com ele? O grego pegou suas mãos e as juntou na sua frente, fazendo-o abraçar sua barriga. Queria morrer de vergonha, manteve o abraço frouxo, para ter de tocar o menos possível em Julian. Este percebeu e sorriu, fazendo o cavalo empinar e Isaac em reflexo gritar e apertar-se mais junto a si. Satisfeito com a proximidade, bateu com o pé na barriga do animal, galopando.
Kanon balançou a cabeça, inconformado, ao ver o cavalo sair em disparada, com os ecos dos gritos do finlandês para que parasse e as risadas do grego.
Com medo de cair, Kraken acabou praticamente grudando em Julian, abraçando-o forte e apertando a cabeça no seu ombro, os joelhos retesados e presos aos quadris dele. Via passarem rápido pelas árvores, tão perto que tinha a impressão que a qualquer momento iriam se chocar com alguma delas. Em contrapartida, sentia as costas dele no seu peito, o cabelo esvoaçar e acariciar suas faces, exalando um perfume característico.
Sentiu que diminuíam a velocidade, o galope virando um leve trotar. Aliviado afrouxa o abraço e a pressão das pernas, encostando a testa nas costas do grego. Só então resolveu rondar o lugar onde estavam. Em floresta fechada, estavam cercados por árvores altas, um dos bosques da imensa propriedade Solo. Franziu as sobrancelhas, o que aquilo significava? Não lembrava de ter entrado naquele lugar antes, e pelos seus cálculos, estavam bem longe do estábulo e da mansão.
Antes que pudesse sacar o que estava acontecendo, Julian subitamente desceu do cavalo, começando uma onda de pânico nele, temendo ser deixado sozinho em cima do animal. Mas então o grego montou de novo, só que atrás dele, deslizando-o pela cela. Tirou a luva esquerda com os dentes, enfiando a mão nua por debaixo da camisa do finlandês. O menino estremeceu, sentindo o toque quente e atrevido.
– Ju-Julian?
– Porque me tortura, Isaac?
Piscou sem entender. O jovem grego sussurrava no seu ouvido, enquanto dava lambidas e sugava a pele de seu pescoço, onde uma veia visivelmente pulsava com a adrenalina do passeio. Isaac ficava cada vez mais confuso, e a língua brincando com o lóbulo de sua orelha só atrapalhava seu raciocínio ainda mais. A mão sem luva passeava pelo seu tórax, pelo peito arfante. Apertando de leve um dos mamilos, arrancando um pequeno gemido involuntário. Enrubescido, Kraken finalmente ficou nervoso.
– Pare...com isso...
– É a sua punição por me evitar nessas semanas inteiras...
Estremeceu levemente. Há algumas semanas tinha se entregado para Julian, literalmente. Seu atual mestre, Kanon, os encontrara em uma situação constrangedora. O grego pareceu adorar o episódio. E tinha aquela ilusão estranha de estar debaixo do mar, no meio de uma orgia com os outros três marinas, além do milionário. Desde então não conseguia encarar os companheiros, e tinha a impressão de rirem às suas costas. O que realmente acontecera naquele quarto a mais que uma tarde entre dois rapazes?
Por isso e pela extrema vergonha, evitava encontrar Julian. Entrava pela entrada dos fundos, não ficava nos aposentos mais freqüentados da casa.
Solo percebeu meio ultrajado que Isaac estava com o pensamento longe dali. Decidido a trazê-lo de volta a realidade, torna a acariciar seu abdômen, os dedos se insinuando pelo cós da calça. O finlandês relutou, se remexendo em cima do cavalo, que se agitou um pouco abaixo deles. Julian acalmou o animal, assim como Isaac, sussurrando palavras delicadas no seu ouvido.
Alisou o volume por cima do tecido da calça, satisfeito com o efeito que estava causando no rapaz. Kraken mantinha a cabeça baixa, a franja verde cobrindo parcialmente seu rosto. Sentia suas faces queimarem e mordia o seu lábio inferior, enrolou as mãos nos arreios torcendo, tentando segurar os gemidos. Era impossível, com as carícias carinhosas e exigentes do grego.
– Juuuuuuuuuulian!
O milionário estacou, interrompendo o que fazia, enquanto Isaac soltava a respiração que mantivera presa até o momento. Julian praguejou, amaldiçoando. Virou o cavalo para ver o autor do chamado, uma voz feminina e irritantemente familiar. Suspirou frustrado ao ver a moça de cabelos arroxeados se aproximar alegre, galopando em uma de suas éguas. O finlandês sentiu corar até a raiz dos cabelos, abaixando a cabeça sem coragem de encarar aquela que diziam ser a reencarnação de Atena. Ajeitou a camisa rapidamente, rezando para que notasse nada.
Saori diminuiu o ritmo quando chegou perto dos dois, com o cenho franzido ao ver o rapaz de cabelos verdes no mesmo cavalo que Solo. O grego não pôde fazer mais nada a não ser exibir seus costumeiros sorrisos polidos. Um rapaz chegava logo atrás dela, montado em um dos seus cavalos também. Era um dos seus cavaleiros de bronze. Isaac nem tinha coragem de encará-los, tamanha sua vergonha.
– Porque está montado aí, Isaac?
O finlandês estremeceu ao reconhecer a voz um tanto intrigada, levantou o rosto feliz. O loiro devolveu o sorriso, há tempos não se viam. Julian se sentiu subitamente incomodado com a troca de olhares e sorrisos entre os dois cavaleiros.
– Hyoga!
– Ele me pediu para acompanhar-me na viagem, pois queria muito rever o amigo. – Saori esclareceu com um sorriso.
O grego soltou um "ah" desanimado, sorrindo forçado. Apenas quando Hyoga repetiu a pergunta que fizera que Isaac percebeu que continuava sentado na frente de Julian, corou novamente. Gaguejou, tentando achar uma desculpa, mas nada vinha à mente, e piorava diante do olhar desconfiado que o loiro sempre teve.
– Estava ensinando Isaac a montar, apenas isso.
O rapaz de cabelos esverdeados apenas acenou nervoso, concordando com Solo. Um silêncio se seguiu então. Isaac desceu do cavalo, para o desagrado do milionário. Disse que ia voltar a pé, sorrindo polidamente para a rica herdeira. Julian e Saori seguiram na frente, andando calmamente com seus animais. Hyoga parou do lado do amigo, estendendo sua mão, que aceitou alegremente. Em poucos segundos, Isaac estava montado atrás do loiro, conversando animadamente.
Com o canto dos olhos, Julian viu tudo, sem prestar atenção à matraca irritante que a garota se tornara naquele momento. Trincou os dentes contrariado, lembrava do rapaz da foto que Isaac mostrara no quarto dele. O amigo com quem passara a infância, sob os cuidados de um homem chamado Camus. Olhou novamente para trás, sentindo-se mais irado ainda. Porquê Isaac estava abraçando a cintura daquele idiota!
Estava tentando, jurava que estava tentando, agüentar aquela menina. Já estava há duas horas sentado naquela varanda tomando chá. Apenas sorria e concordava com que falava, no fundo o que mais queria era pular e esganá-la por tê-lo interrompido. Como pudera um dia pedi-la em casamento?
E o que deixava mais furioso ainda era imaginar Issac sozinho com aquele rapaz russo. Sozinhos dentro do quarto. Tudo bem que eram amigos de infância, que sentiam saudades. Mas... Porque incomodava tanto ver o rapaz tão feliz ao lado dele?
Suspirou aliviado quando Saori limpou a boca com o guardanapo e anunciou que tinha de ir. Estava ali para outros negócios, e como tinha coisas a resolver com os Solo decidira passar lá. Um dos empregados apareceu na porta da varanda, informando que Hyoga pernoitaria a pedido de Isaac. Engasgou. Como? Antes que pudesse responder algo, a Kido se levantou, estendendo a mão enluvada para si. Levantou atrapalhado, pegando a mão e depositando um leve beijo cortês.
Quando a moça se retirou com o empregado, num acesso pegou o bule delicado de porcelana e jogou ao chão. Kanon parou assustado vendo o objeto se espatifar. Julian o encarou com desagrado e se virou para a murada. O cavaleiro balançou a cabeça e soltou uma risada abafada.
– Está com ciúmes...
– Não estou, não!
O encarou possesso. Ah, mudara nada em mais de treze anos, continuava a ser o mesmo menino mimado. O pequeno Julian que fazia manha quando seus desejos não eram atendidos. Criara todos sob o mesmo teto, conhecia cada um muito bem. Menos Isaac, esse viera a ele com a forte influência de Camus.
– Oh, ele está com um lindo rapaz loiro... – Io apareceu e se encostou em uma coluna.
– Só se ouve sons de risadas deliciosas do quarto. – Baian apareceu do lado de Io, com as mãos nos bolsos.
– Nunca o vi tão alegre na minha vida.
Sorento passou o braço pelo de Kanon, encostando a cabeça no seu ombro, exibindo um sorriso malicioso. Os três marinas riram, fazendo Julian quebrar mais uma peça de cerâmica da mesa. Mandou se calarem, saindo abruptamente do lugar. O Dragão Marinho cerrou os olhos, pensativo.
Isaac não cabia em si de contentamento, assim que deixaram os cavalos, foi arrastando Hyoga para seu quarto. Queria que dissesse tudo, sobre a Sibéria, o mestre. O loiro relatava tudo, admirando o rosto do amigo, que ficava muito mais bonito quando sorria. Passou a analisar a cicatriz que cobria parcialmente seu rosto, obra de seu erro.
Parou de falar e o marina estranhou, percebendo que olhava para sua marca, discretamente a cobriu com a mão. O loiro ficou encabulado, não devia olhar com tanta atenção para aquilo, sabia que ele se sentia mal. Precisava mudar de assunto.
Isaac lembrou que quando devolveram o cavalo para as mãos de Kanon, o russo não devolveu o sorriso do grego. O olhou desconfiado, estreitando os olhos.
– Hyoga...Você não gosta de Kanon?
– E por que gostaria? Ele despertou um deus e jogou você contra mim...
– Mas ele é um novo homem, Atena o perdoou!
– Milo quase o matou quando a batalha de Hades começou.
– Mas não matou...Viu? Kanon é um homem bom. – suspirou – Se não fosse por ele, eu não estaria vivo.
Hyoga sentiu uma pontada no coração, tinha que admitir que devia estar eternamente agradecido pela vida de Issac, que ele havia arriscado por uma tolice. Camus já havia expressado sua gratidão por tê-lo salvo. Apenas seu mestre para perdoar um traidor daqueles, e ainda mais deixar que continuasse sendo mestre do amigo. Nem Milo aceitava a impunidade daquele crápula.
Bom, se Aquário confiava tão cegamente em Kanon, porque não confiar também?
Na hora do jantar, sentou-se do lado do russo. Sentiria muito incomodado sentado na mesma mesa com aqueles marinas se Isaac não estivesse bem próximo a si e conversando animado, como se estivessem sozinhos. Com o canto dos olhos, viu que Julian o encarava com cara de poucos amigos. Muito diferente do rapaz polido que costumava encontrar em sociedade. Virou-se para encarar o milionário, que desfez a carranca e sorriu, levando a taça de vinho a boca.
– Kanon já deve ter providenciado um quarto de hóspedes arrumado para você, não?
– Na verdade não precisou. – Kanon cortava um pedaço de carne – O rapaz vai dormir no quarto de Issac. – completou com um sorriso.
Devolveu a taça à mesa com um tanto de força a mais, que todos sentiram. Sorento não conseguiu segurar uma risadinha, escondendo a boca com a mão. Fulminou Kanon com o olhar, estava achando tudo muito divertido, não é mesmo?
– Agradeço a hospitalidade. – Hyoga sorriu para Isaac, que sorriu de volta.
– Não há de que. – Julian disse entre dentes.
Depois do jantar, Julian e seus três generais marinas bebiam em uma das saletas da mansão. O milionário via pela janela Kanon, Isaac e Hyoga no jardim, ao longe. Estava nervoso e impaciente, andando de um lado para o outro, sem tirar os olhos da janela. Aqueles três pareciam felizes demais para o seu gosto. Os generais presenciavam tudo divertidos.
– Julian, admita logo que está com ciúmes. – Sorento suspirou.
– Ciúmes de qual dos dois? – Baian interferiu, rindo em seguida.
– Não sejam ridículos! Não estou com ciúmes...é que...esse garoto pode atrapalhar meus planos...
Ou pelo menos era o que tentava dizer a si mesmo o tempo todo. Depois do que Io lhe falara, sobre Kanon amar Isaac mais do que tudo na vida, aquilo o ferira fundo na alma. O finlandês sempre fora tímido, meio ingênuo, que ele sempre protegia e cuidava. Com as palavras de Io, algo diabólico viera à sua mente.
Talvez tirar Isaac do seu mestre, ter ele como Kanon nunca poderia ter, pois prezava-o demais. Dois anos sem ter o Dragão Marinho consigo, o amando, o venerando, deitando-se com ele como fazia antes. Voltara estranho para a residência Solo, menos ambicioso, mais calmo e atencioso com relação a Isaac do que antes, e agora sabia o porque. Desde que aquele menino entrou nas suas vidas, com uma aparência humilde, olhos cabisbaixos e tímidos, com a cicatriz no olho esquerdo, Kanon não poupava atenções para com ele.
Não ia ser difícil dobrar Isaac a seus caprichos, o rapaz já o venerava, o tratava com respeito demasiado, o que não via muito com os outros, que tinham uma posição mais alta na sociedade. E Io estava certo, era uma tentação, aquele ar confuso, as faces vermelhas constantes quando se envergonhava. E Kanon decidira não interferir, claro, tudo para o bem do pupilo. Que patético.
No entanto ter o marina fora a melhor coisa que havia acontecido para si. Despertava cada ponto em que tocava daquela pele, era muito sensível, quebrava a crosta de gelo pouco a pouco, derretendo com seus beijos e toques. E como o interior era quente e apertado, os gemidos doces e incontroláveis ecoando nos seus ouvidos como uma bela música.
Quando percebeu, estava debruçado no parapeito da janela, divagando e suspirando. Os três rapazes o olhavam estranhando aquele ar abobado. Se endireitou e pigarreou, mirando novamente aqueles três pontos lá no jardim. Mas aquele Hyoga tinha de aparecer, parecia ter muita importância para Isaac. Ficara alegre como nunca tinha visto, abria um sorriso imenso cada vez que o olhava ou dirigia-lhe alguma palavra.
Ah, como isso o irritava profundamente!
Não importava o que aqueles generais pensassem, não era ciúmes!
Kanon acompanhava os dois guerreiros de gelo um pouco afastado, observando a descontração de Kraken. Ele não sabia, mas ficava mais bonito quando sorria despreocupado daquele jeito. E fazia de tudo para arrancar sorrisos daqueles. Sabia o quanto o seu mestre Aquário e Cisne eram importantes na sua vida, será que um dia conseguiria algo assim para si?
Pensou em Julian, no quanto ficara alterado com a vinda do cavaleiro de Atena. Há semanas via Isaac evitar o grego, estava extremamente envergonhado pelo que acontecera antes. Tinha respeito absoluto por Julian, era reencarnação de Poseidon, devia-lhe devoção. Mas tinha de saber quais as reais intenções do herdeiro, o observava com cautela. O ataque de fúria da tarde era coisa para se pensar.
Isaac parara e se virara para ele, esperando que os alcançasse. Sorriu para Hyoga, que devolveu meio contrariado. Ainda não tinha muita confiança nele, não era por menos.
– Hyoga, como vai Camus?
– Oh, ele vai bem... – respondeu num dar de ombros.
– Continua com Milo? – alfinetou.
– Hunf, continua, eu não sei o que faz meu mestre manter aquele homem com ele. – chutou uma pedrinha, visivelmente aborrecido. – O que acha de Milo, Isaac?
– Eu acho que tudo bem, o importante é se Camus se sente feliz. Se está com ele, é porque deve ser uma boa pessoa. – deu de ombros.
– Fala isso porque não é obrigado a conviver com ele! Não tem um dia em que me provoca, me chama por apelidos como pato, pirralho, faz caretas para mim quando Camus está de costas!
Kanon e Isaac riam das expressões que Hyoga fazia ao descrever o amante do mestre. O clima amenizou entre o Dragão marinho e o Cisne, diminuindo a desconfiança da parte do loiro. Kanon se sentiu grato, por isso, e por ver seu pupilo feliz.
Logo olhou para o relógio no pulso e os chamou para voltarem para a casa, era hora de dormir. Andaram pela trilha de volta, sob o olhar de uma solitária figura recostada em uma das janelas da mansão. Esperou que os três saíssem de sua linha de visão para se retirar para dentro do aposento.
Acordou e abriu os olhos, vendo o quarto às escuras, ainda era noite. Remexeu-se, sentindo um peso sobre si. Virou a cabeça cuidadosamente, encontrando Hyoga dormindo profundamente às suas costas, abraçando-o pela cintura. Sorriu, tal qual quando eram crianças e dormiam na mesma cama.
Tirou lentamente os braços ao seu redor, tomando cuidado para não acordar o loiro. Quando se viu livre, deslizou para fora da cama, procurando e vestindo os chinelos. Foi tateando até achar a porta e sair. Usava apenas um pequeno shorts e uma camiseta, trajes que não deveria usar para perambular numa mansão daquelas. Mas estava tudo escuro e silencioso, ninguém mais estava acordado. Ou assim esperava.
Foi para a cozinha, abrindo a imensa geladeira apenas para pegar água gelada. Saciada sua sede, fez o caminho de volta para seus aposentos. Viu uma fresta de luz debaixo da porta de uma das saletas do lugar, era mais um lugar para estudos. Andou até lá, atraído pela luz. "Kanon?". Entreabriu a porta, olhando para dentro e apenas vendo uma lareira fracamente acesa. Então viu um homem sentado numa poltrona em frente a ela e de costas para a entrada.
Nenhum movimento, talvez fosse Kanon que havia dormido enquanto lia algum livro, era comum encontrá-lo nesse estado. Avançou para dentro da sala decidido, quando a poltrona virou, revelando a figura mergulhada nas sombras, mas iluminada por trás pela fraca luz da lareira, criando-lhe uma aura dourada.
O finlandês estacou e suou frio, os cabelos tinham a mesma tonalidade, mas não era Kanon. Julian vestia um roupão azul marinho de tecido macio, que moldava-lhe o corpo bem definido. Tinha as pernas cruzadas, revelando a pele levemente bronzeada da coxa descoberta, a veste aberta na frente com o tórax à mostra. Em uma das mãos erguidas, uma taça de vinho.
Estremeceu ante a visão, a expressão séria e dura em seu rosto o assustou mais ainda. Gaguejou um pedido de desculpas e se virou, fazendo menção de sair dali o mais rápido possível.
– Isaac, preciso falar com você.
O pedido tinha um tom de ordem, que sabia que não podia recusar. Se manteve parado a alguns passos da saída, ainda de costas, com medo de encará-lo. O grego percorreu o corpo do jovem com o olhar, contendo um longo suspiro. As longas pernas claras expostas para sua apreciação, juntas em gesto de acanhamento. A camiseta era larga e comprida, mas não o bastante para esconder o pequeno e arrebitado traseiro claramente desenhado através do tecido do pequeno shorts. Inocente e tentador, deveria mandar-lhe usar apenas isso pela casa, mas atrairia outros olhares além do seu.
Bebeu o resto de seu vinho, para tentar acalmar seus ânimos. Aquele marina aparecendo no meio da noite como um anjo acabou de vez com qualquer tentativa de relaxar. Depositou a taça na mesinha ao lado, próxima à garrafa de vinho quase vazia, ali não havia álcool suficiente para embebedá-lo. Colocou os braços apoiados nas laterais da poltrona, deixando seu corpo praticamente exposto com sua posição um tanto displicente. Suavizou sua voz o quanto pôde.
– Venha até aqui.
O finlandês se virou, com a cabeça baixa e os punhos cerrados, evitando olhar para o milionário. Julian soltou uma risada baixa, vendo o rosto corado e a tentativa frustrada de não notar sua presença inebriante. Parou na sua frente, a cara virada para outro lado. O punho tremendo tamanha a força com que apertava os dedos, enfiando a unha na carne da palma da mão. O grego franziu as sobrancelhas, assim ia se machucar.
Tomou as mãos entre as suas, assustando Kraken. O fez abrir elas, e beijou a palma de cada uma gentilmente, fazendo um fino arrepio percorrer toda sua espinha apenas com esse gesto. Porque seu corpo tinha de reagir com um simples toque? Era humilhante...
Depois puxou-o levemente para mais perto, abraçando-o pela cintura e enterrando a cabeça na sua barriga. Tão quente, apoiou as mãos nos ombros largos a fim de afastá-lo, mas não resistiu e só conseguiu passar os dedos pelos fios azulados sedosos e segurar sua cabeça contra si. Ouviu a voz rouca meio abafada.
– Que importância tem aquele garoto para você, Isaac? Por acaso o ama?
– O que? – surpreendeu-se com a pergunta, hesitou um bom tempo antes de responder - Ele foi como meu irmão, a única pessoa que eu tinha além do meu mestre. Houve uma época em que eu daria minha vida por Hyoga... – "E eu quase dei...", lembrando da causa da cicatriz imensa que carregaria até a morte. – Então eu poderia dizer que o...
Parou ao se deparar com duas órbitas azuis encarando-o intensamente, o que era aquilo? Julian desviou o olhar, levantando a camisa do jovem para beijar o abdômen liso.
– Você não está mais sozinho...tem os rapazes, as pessoas dessa casa, Kanon...tem a mim... – sentiu-o tremer ao passar levemente a língua na pele um tanto salgada – Não gostei de ser deixado de lado por causa daquele loirinho...
– Mas eu...ah!
A tentativa de replicar foi interrompida por um choque percorrendo todo seu corpo, o grego havia descido as mãos, enchendo-as com a carne macia daquelas duas protuberâncias. O lábio deslizou para baixo, beijando o volume do baixo ventre por sobre o shorts. Kraken soltou um longo gemido, tentando empurrar os ombros de Julian para afastá-lo, em vão. Não tinha forças para resistir àquele ataque a seu corpo, só restava recorrer a voz, pedindo para que parasse. Pedidos ignorados pelo milionário e intercalados de suspiros.
Julian parou para pegar seu braço e o puxar para seu colo, aninhando-o em seus braços. Circulou a cintura para mantê-lo firme junto a si, e com a outra mão segurou o rosto do finlandês, traçando as linhas dos lábios cheios antes de beijá-los com fome. Vasculhou rudemente o interior úmido com a língua, os gemidos de protesto abafados pelo ataque feroz. A mão livre fez um passei do pescoço para o peito, sentindo os músculos tensos em resposta. Por sob a camisa, beliscou um dos pequenos botões rosados túrgidos, Isaac fechou os olhos sentindo a dor fina.
Remexeu-se tentando se soltar, empurrando os ombros do grego, não sabia porque não tinha forças para sair daquela situação, era um cavaleiro afinal das contas! Com seus movimentos, o robe se abriu mais ainda, revelando ao Kraken que usava nada embaixo da vestimenta. Sua perna nua esbarrou no membro pulsante e quente de Julian, este apartou o beijo de súbito e gemeu com o toque não intencional.
Encarou o rosto marcado do seu pobre amante, a visão das faces coradas, o olhar lânguido e a respiração ofegante o excitou mais ainda. Sabia que devia estar na mesma condição. Lançou-lhe um sorriso de satisfação, antes de descer a mão do peito arfante para o baixo ventre, agarrando e começando a massagear a intimidade dolorida de Kraken, passando o polegar pela ponta já úmida. Com a boca explorava os mamilos duros, mordiscando e lambendo, deixando marcas vermelhas e molhadas pela saliva.
Os gemidos agora saíam livres e incontroláveis pela garganta, que soavam para si como uma melodia tão bela quanto a flauta de Sorento. O russo estava no seu limite, podia sentir. Sua boca subiu, beijando a pele quente no caminho, até chegar na orelha, mordiscando o lóbulo. Apertou a ponta com os dedos, fazendo-o gritar e estremecer de dor. Lágrimas caíram do único olho cerrado, pedindo para parar.
– Uma vez que entregado seu corpo e sua vida para seu deus, Isaac, não há mais volta.
Kraken arregalou o olho gelando de medo, a voz de Julian era dura, as palavras cortaram sua pele como aço. O grego não deveria ter consciência de que era a reencarnação de Poseidon. Segurou seu rosto com delicadeza e o obrigou a encará-lo, o finlandês viu as duas safiras brilharem ameaçadoras, só vira aquele olhar quando estavam em luta contra Athena. Sua face molhada foi beijada gentilmente, enquanto a cicatriz na outra face era acariciada.
– A você só resta me servir pela eternidade.
Apertou ainda mais a ponta da ereção dolorida, fazendo com que choramingasse de dor.
– Está doendo, Isaac? – viu o marina acenar com a cabeça – Implore para que eu o alivie...
Sentindo-o hesitar, apertou mais uma vez, arrancando o que queria.
– Aaah...ah...por...por favor...por favor, Julian...
Ao ouvir seu nome sussurrado pela voz rouca, perdeu qualquer razão. Levantou Isaac, colocando-o de joelhos na sua frente, as pernas nas laterais da poltrona. Libertou a ereção do shorts e o abocanhou, começando a sugá-lo com vontade. Kraken se apoiava nos ombros nus do grego, o roupão havia deslizado. Apertava a carne sob seus dedos tentando agüentar firme. Na sala ecoava sua respiração pesada e seus gemidos roucos.
Sentiu sua entrada ser invadida por um dedo longo, tocando-o no ponto mais sensível. Veio rapidamente na boca de Julian, que sorveu toda a semente com gosto, lambendo as gotas que escapavam pelos cantos da boca. Isaac deslizou cansado, sentando no colo do outro, abraçando os ombros marcados pelos dedos desesperados.
O grego massageou as costas do jovem, distribuindo beijos pelas faces e então beijando os lábios salgados pelas lágrimas, fazendo-o provar seu próprio êxtase. Mas não havia acabado ainda, estava tão excitado quanto antes, tinha que experimentar o interior de Isaac mais uma vez. Deslizou o dedo para dentro mais uma vez, tocando-o intimamente, colocando até mais dois dedos depois.
O finlandês abriu a boca exasperado, rebolando instintivamente. Segurou seu queixo trêmulo, olhando direto para aquele rosto mortal, fremente de desejo, o olho entreaberto. Quem estava na sua frente, era Julian? Ou Poseidon usando-o para seu prazer, manipulando como uma marionete seus sentimentos confusos?
– Eu quero você, Isaac...
Num lampejo, viu Julian na sua frente, a expressão suave e gentil que sempre admirou. Pedindo por ele, acariciando sua cicatriz com ternura. Apenas acenou com a cabeça levemente.
O grego sorriu e se levantou, puxando o outro pelo braço até uma mesa. Passou o braço em cima dela, atirando todo o conteúdo para o chão de qualquer jeito. Fez Kraken encostar nela de costas para si e se inclinar sobre ela, se apoiando, de forma que tivesse visão do traseiro tentador. Abriu o roupão, que deslizou pelos ombros, mas ficando preso nos braços, cobrindo parcialmente o seu corpo e o de Isaac, quando se inclinou sobre ele.
Gritou de dor ao sentir um volume maior que os dedos invadir seu interior, Julian tentou acalmá-lo beijando suas costas e massageando seu membro novamente ereto. Estando completamente dentro do canal apertado, esperou um pouco para que se adaptasse ao seu tamanho, antes de começar lentos movimentos de vai e vem. Por instinto, o marina se jogava contra o baixo ventre do grego, querendo mais.
Podia se acostumar àquilo, ao corpo receptivo, que podia ser frio, mas era quente quando o tocava. Não queria que fosse outro o alvo de suas afeições, faria esquecer o passado por fim. De repente ficara surpreso, o que estava pensando, não era por vingança que queria Isaac? Socou para dentro do jovem mais forte, com raiva dos próprios pensamentos, machucando um pouco o outro.
Seus olhos se elevaram, visando a porta. Sorriu malicioso, penetrando o corpo abaixo de si com mais vontade, passando a língua pelos lábios. Os gemidos de Kraken e a visão que tinha na sua frente não podiam ser acompanhamentos melhores para seu prazer. Parou um pouco de estoca-lo, se inclinando sobre ele e passando a mão pelo seu rosto, levantando-o.
Isaac finalmente viu o mesmo que Julian, mas ao contrário do que o outro achava, era péssimo. Seu coração se apertou dentro do peito. Kanon estava parado na porta, olhando para a cena chocado. Recomeçou as estocadas fortes e rápidas, fazendo Kraken soltar gemidos incontroláveis, enquanto lágrimas de vergonha desciam pela face.
"Não olhe, por favor!", escondeu o rosto entre os braços. Julian chegou no seu limite, despejando seu néctar no interior de Issac, o líquido viscoso deslizando pelas coxas alvas. Ainda bombeava o membro do outro, quando sentiu sua mão completamente banhada pelo mesmo líquido. Ergueu Isaac fraco e o encostou contra si, levando a mão à sua boca, para que lambesse os dedos melados ante os olhares penetrantes e raivosos de Kanon.
Tinha certeza de que havia quebrado o coração daqueles dois de vez.
Kraken foi ao chão semi inconsciente sem conseguir olhar para os dois, apenas viu o Dragão marinho avançar contra Julian antes de desmaiar.
Março / 2004
N.A.: Ow lemon horrenda, faz um ano que não escrevo algo desse estilo --'
