Capítulo 15. Farsa e verdade

Bellatrix se olhou no espelho do banheiro do quarto de hotel, sem conseguir acreditar no que Rodolfo tinha feito. Após meses sem deixar transparecer qualquer interesse, por mínimo que fosse, nela, ele a agarrara no elevador do hotel!

Mas isso não era nem de longe o pior. O objetivo do plano era os dois usarem suas antigas identidades falsas (Marjory Berkley e Edward Muldoon) para passarem incógnitos como um simples casal de trouxas pelos investigadores da Assembléia Internacional dos Bruxos até que conseguissem chegar à Espanha, onde esperavam conseguir fazer contato com os Comensais do Reino Unido. Ela sabia que as prisões na Inglaterra se multiplicavam, por isso estava fazendo tudo em sigilo quase que absoluto. Pouquíssimas pessoas sabiam de seu roteiro de fuga.

E isso significava que os dois teriam que ficar trancados naquele quarto, juntos, até que a poeira na Alemanha baixasse. Ela mesma usara discretamente a varinha na recepção do hotel para adicionar os nomes falsos dos dois à lista de reservas do hotel. A invenção de que eram recém-casados em lua-de-mel fora arquitetada especialmente para que ninguém estranhasse que os dois jamais saíssem do quarto, nem mesmo para fazer as refeições no restaurante.

E ela nem podia imaginar como ia olhar para ele quando saísse do banheiro. E também não sabia se aquela ansiedade (ou seria medo?), aquele sentimento que era totalmente estranho para ela, era boa ou ruim.

Decidida a não pensar mais nisso, Bella saiu do banheiro e encontrou Rodolfo sentado numa poltrona, lendo sob a luz de um abajur. Por algum motivo, não parecia a mesma pessoa cujo beijo ela retribuíra no elevador. Parecia ter voltado a ser o velho e enfadonho Rodolfo Lestrange, que estava sempre tentando mandar nela.

Ainda assim, em algum lugar daqueles olhos que agora se moviam como um pêndulo percorrendo as linhas em uma leitura concentrada, ela teve a impressão de distinguir o mesmo brilho que a fizera perder a razão minutos atrás.

Subitamente, ele pareceu adivinhar que estava sendo observado e ergueu o rosto. Seus olhos se cruzaram e Bellatrix sentiu, como há muito tempo não sentia, que sua face estava ficando vermelha. E sua mente pareceu ter saído completamente do ar enquanto se aproximava de Rodolfo em passos rápidos e se debruçava sobre ele, empurrando o livro para longe. Antes que tivesse a chance de pensar no que estava acontecendo, já estava procurando os lábios dele.

Ela o beijou com força, empurrando-o contra o encosto da poltrona, e mantendo os olhos bem abertos fixados nas feições inexpressivas de Rodolfo. Inexpressiva também foi a reação dele. Não, ele não ficou indiferente, correspondeu totalmente ao beijo. Mas foi só. Nenhuma iniciativa de pousar as mãos na cintura dela sequer. Os braços de Rodolfo mal se mexeram dos apoios da poltrona.

Dividida entre ficar furiosa e rir, Bellatrix preferiu se afastar. Ficou em pé no meio do quarto correndo os olhos pelas paredes brancas, tentando entender o que estava acontecendo.

"É uma armadilha", disse mentalmente para si mesma. Mais uma tentativa de Rodolfo de mostrar que era ele quem dava as ordens, quem decidia quando e como as coisas deveriam acontecer. E, de uma forma estranha, essa constatação não a incomodou. Nem um pouco. Pensamentos sentimentais. Aquela repentina benevolência com a prepotência de Rodolfo. Tudo muito estranho.

Ela abaixou os olhos e percebeu que Rodolfo ainda a estava observando. Atentamente. Inquisidoramente. Insistentemente.

— O que foi? - ela perguntou, áspera.

— Não serei mais um dos seus brinquedinhos, Black — falou ele num tom ameno, mas muito firme.

— Me dá um tempo, Lestrange, eu não pedi nada a você — Bella colocou as duas mãos na cintura e aproximou o rosto de Rodolfo. —Se não se lembra, foi você que me agarrou no elevador, então pare de bancar a vítima de assédio que isso não tem nada a ver com você.

Rodolfo recuou até ficar completamente colado no encosto. Os cabelos negros de Bellatrix oscilavam a poucos centímetros dele, refletindo a luz do abajur. Ele os tinha visto por tanto tempo transfigurados em outras cores que quase esquecera de como podiam brilhar.

— Está certo — ele falou, finalmente. — Nenhum de nós está em condições de brincar, não é mesmo?

Bella não respondeu. Apenas puxou os braços de Rodolfo dos apoios laterais e os trouxe para si, ao mesmo tempo em que sentava numa ponta livre da poltrona. Rodolfo descansou por alguns momentos as mãos posicionadas bem na curva da cintura de Bellatrix. Depois começou a subir lentamente para os botões de seu casaco. Ela ficou o encarando, impassível, enquanto ele abria botão por botão, até ver o vestido brando que havia embaixo.

Bella então se aproximou mais dele, beijando-o com força, como fizera antes. Sem perceber, ela já tinha entrelaçado o pescoço de Rodolfo com os braços alvos e as mãos dele corriam em suas pernas, puxando para cima a saia do vestido. Ela jogou a cabeça para trás quando os dedos de Rodolfo encontraram a parte interna de suas pernas, começando a descer a meia grossa de lã que ela usava.

Bella balançou os pés, se livrando dos sapatos de cetim, e começou a desabotoar a camisa de Rodolfo pelo colarinho. Num dado momento, ela se cansou daquela lentidão e puxou a abertura da camisa de uma só vez, espalhando meia dúzia de botões que rolaram pelo chão com estrépito. Rodolfo a mirou divertido e ela o advertiu:

— Se fizer isso com o meu vestido pode ter certeza que vai ser a última coisa que fará na vida.

Ele não fez. Puxou o vestido por cima da cabeça de Bella, um segundo antes de atirar para longe o sutiã também branco. Ele a mirou por um momento, como que admirando sua pele e seus seios. Então tomou o rosto dela nas mãos, beijando-a longamente, de uma forma nem um pouco diferente do que Bellatrix já beijara muitos homens. Gostava da maioria deles muito mais do que julgava gostar de Rodolfo - não gostava dele. Apenas o suportava.

Contrariando esse pensamento, suas mãos pressionavam as costas de Rodolfo enquanto ele descia os lábios até os seus seios. Era um prepotente metido a besta que achava que sabia de tudo. Um idiota que parecia saber exatamente onde e como tocá-la. O que havia de diferente nele, afinal? Por que de repente parecia que ela nunca tinha ido tão longe com um homem antes?

Bellatrix abriu os olhos quando sentiu uma textura estranha ir de encontro à sua barriga. Não era a pele das mãos de Rodolfo, parecia mais algo metálico. Ela olhou para baixo para ver o que era. Um brilho dourado no dedo anular direito de Rodolfo. A maldita aliança de noivado que ele usava desde o início da missão. Ela não conseguiu conter uma careta de desgosto e Rodolfo, adivinhando o que ela pensava, começou a rir de um jeito um tanto quanto desafiador.

Bella ergueu os olhos para ele e, decidida a tomar para si o controle da situação, levantou, puxando-o da poltrona. Ela o empurrou com violência para a cama, quase com raiva, tirou suas calças e debruçou sobre ele, pressionando os seios contra seu peito branco.

Com a cortina de cabelos negros cobrindo o rosto de Bella, Rodolfo podia apenas identificar o brilho daqueles olhos. Era o brilho que sempre o fascinara. Um brilho sombrio. Brilho de determinação.
Seus lábios se encontraram novamente e, mais uma vez, Bella não soube o que havia de tão estranho naquele beijo. Era um beijo que a fazia suspirar— patético, parecia até uma adolescente.

Ela ergueu o corpo, ainda com os cabelos caindo no rosto e desceu um pouco. Depois voltou a se debruçar e pressionou os lábios no pescoço de Rodolfo, sabendo que deixaria ali uma marca. Era isso o que queria - marcá-lo, para que nunca mais ele fosse de mais ninguém. Queria que Rodolfo lhe pertencesse.

Quando Rodolfo, num movimento súbito, rolou por cima dela e tirou-lhe o que ainda restava de roupas, esse desejo a tomou completamente, superando a raiva, a vontade de se provar, o orgulho. Ela queria que Rodolfo fosse dela. Por um bom tempo. E, mesmo que nunca, jamais, fosse verbalizar isso uma única vez na vida, quis, naquele momento, que pudesse ser dele também.


— Vamos nos casar na Espanha — Bellatrix ouviu a voz grave de Rodolfo e abriu os olhos.

Ela ergueu a cabeça do peito do rapaz e piscou por alguns segundos como se achasse que estava sonhando.

— Eu disse que vamos nos casar na Espanha — ele insistiu.

— Quando eu disse que queria me casar com você? — ela perguntou asperamente, ficando sentada na cama e puxando o lençol de seda branco para cobrir o corpo nu.

Rodolfo sorriu serenamente, sem se deixar abalar.

— E quem disse que eu quero me casar com você? — ele retrucou, parecendo se divertir com o desconforto da jovem. — Acontece que meu passaporte é inglês, o seu é francês. Precisa se casar comigo para não termos que passar dias esperando que uma embaixada trouxa autorize sua viagem para o Reino Unido.

Bellatrix fez uma careta e fingiu não ligar muito, mas Rodolfo ainda estava disposto a se divertir com a situação:

— Não se preocupe, nossa relação continua sendo a mesma de sempre. Somos Comensais juntos em missão e só.

Bella não se preocupou. Na verdade ela pouco pensou em qualquer coisa nos dias que se sucederam. Quando deixaram Berne, semanas depois, fugindo de aurores que agora faziam batidas pela capital suíça, aqueles dois Comensais não mais interpretavam uma farsa: Bellatrix e Rodolfo estavam efetivamente vivendo como um casal em lua-de-mel.


N/A:

Está aí, depois de um longo tempo sem novos capítulos n.n Estou feliz que os capitulos de Olhos Sombrios não tenham se perdido como tudo o mais que havia no meu hd...

Obrigada pelas reviews:

Ju Black: a Bella é uma boa atriz ué o.o Se ja me sugeriram fazer dela uma domadora de dragões, beijinhos e "amorzinho"s fingidos não são la grandes desafios...

Lily Dragon: gostou da forma como eles lidaram? XD

Deixem reviews.

Bjos,

Bel.