Capítulo 20. Desmoronamento

Nos dois meses em que estivera preso na Alemanha, ninguém fizera a Karkaroff nenhuma pergunta. Fora simplesmente abordado na estação quando tentava pegar o trem para a suíça. Pegaram sua maleta e prenderam-no sem nenhuma explicação.

Não se preocupara muito com a maleta. Em sua cabeça, nem os mais habilidosos aurores conseguiriam abri-la - um feitiço fora feito nela por Snape para que apenas o próprio Lord Voldemort pudesse fazê-lo. O que realmente o preocupava naqueles dias era que ninguém ali parecia ligar muito para ele. Isso, concluiu, poderia indicar duas coisas.

Ou os aurores alemães sabiam quem tinham pegado — um importante integrante do Movimento Comensal, que fazia parte do círculo íntimo de Lord Voldemort — e estavam tentando ganhar tempo para tirar dele tudo o que pudessem antes de entregá-lo ao Ministério inglês para que fosse julgado; ou não tinham conseguido ligá-lo ao Movimento e estavam aceitando a fachada de professor búlgaro viajando em férias até conseguirem encontrar algo para incriminá-lo.

Que tivesse participado da revolta em Munique não era tão grave — provavelmente isso lhe renderia apenas uma deportação para a Inglaterra, já que seus documentos falsos o identificavam com inglês. Mesmo que acabasse sendo deportado para seu país natal, a Bulgária, e fosse preso, sabia que seus superiores dariam um jeito de libertá-lo. O grande problema seria se descobrissem que ele, o cidadão búlgaro Igor Karkaroff, estava agindo sob ordens do Movimento Comensal.

Karkaroff chegou a ter a esperança de que nenhuma ligação sua com Voldemort tivesse sido comprovada quando anunciaram sua deportação para o Reino Unido — afinal, ele não cometera nenhum crime no Reino Unido. Mas, naquele dia na cela, esperando pela chegada dos agentes que o levariam, sua expectativa se desfez exatamente no momento em que a porta se abriu e por ela entrou uma figura encapuzada, o corpo indefinido parecendo não ocupar volume algum debaixo da capa puída, que flutuava em ondulações como se sob a ação de uma leve brisa.

Um auror, aparentemente alemão, entrou logo depois do ser encapuzado, sorrindo inexplicavelmente. Karkaroff sentiu sua mente se anuviar, como se o sangue tivesse subitamente parado no interior dos vasos. Sentiu vontade de nunca ter nascido. Por um momento, pareceu que nada em sua vida tinha sido menos que angustiante.

Mas Karkaroff teve tempo de tomar consciência do que estava acontecendo: haviam trazido um dementador para levá-lo. Isso queria dizer que seria levado direto a Azkaban!

Tentou por tudo se agarrar a essa certeza e manter aquela única coisa clara em sua mente: tinha que resistir, por lealdade a seu Mestre e a o que acreditava, tinha que se manter lúcido para... para nada... Nada havia lá fora além de agonia... Por que resistir?


Na noite do dia oito de novembro, sob uma chuva torrencial, trinta agentes do Departamento de Mistérios e mais uma dezena de aurores começaram a revirar Hogsmeade. Uma informação arrancada de um Comensal preso dava conta de que existia um esconderijo de Comensais na vila —e esse poderia ser o esconderijo onde eram mantidos reféns Alice e Frank Longbottom e seu filho pequeno.

Entraram pela rua principal revistando loja por loja enquanto as saídas da cidade eram fechadas. Todas as casas tinham sido desligadas da rede de Flu e um feitiço anti-aparatação temporário fora feito.

Já era madrugada quando os agentes passaram nas casas revistando cada quarto, cozinha, banheiro e quintal, acordando todos os moradores, inclusive as crianças, para que cada um fosse submetido a um feitiço de identificação.

Às quatro da manhã, o grupo entrou numa rua íngreme, na periferia do povoado. Não havia calçamento e a enxurrada formava uma perigosa correnteza de barro que descia em direção à uma depressão no fim da rua, onde a cidade se encontrava com um campo deserto.

Foi necessário esperar que vassouras fossem arranjadas (emprestadas dos moradores) para que os agentes pudessem transpor um enorme sulco aberto no caminho. Às cinco horas o grupo chegou ao número 13. Sob as instruções do auror Alastor Moody, o pequeno casebre foi cercado e todas as janelas e portas —com exceção da dianteira —foram lacradas por fora com "Colloportus" ditos aos sussurros. O próprio Moody tomou a dianteira e bateu à porta.

Passaram-se vários minutos até que alguém viesse abrir - um rapaz magricela de feições sonolentas.

— Quem é? — perguntou, com a voz embargada de sono.

Abra, somos do Ministério.


O rapaz que dormia encolhido no sofá da sala foi acordado por uma batida. Achando que se tratava do som de Bellatrix ou Rodolfo descendo as escadas, Crouch não se preocupou.

O casarão de Elise Malfoy em Hogsmeade dera um ótimo refúgio para o grupo. Os vizinhos era poucos, e não estranhavam que da chaminé de uma casa abandonada saísse fumaça. O interior da casa era um esconderijo perfeito, com as janelas cobertas por grossas cortinas. Os quartos do andar de cima haviam sido ocupados por Bellatrix, Rodolfo e Rabastan. O sótão fora adaptado para guardar o casal Longbottom, que, por sinal, agora se resignava a ficar mirando o vazio com um ar demente. Crouch fora incumbido de dormir na sala, embora ainda houvesse quartos desocupados, para vigiar qualquer movimentação estranha em torno da construção.

O som de batidas se repetiu e ele se virou levantado a cabeça por cima do travesseiro, na esperança de surpreender Bella numa camisola mais ousada num passeio noturno. Mas não havia nada lá e o barulho insistiu. Percebendo que se tratava de alguém à porta, o garoto se levantou bocejando largamente, imaginando que se tratava de um dos vizinhos precisando de algo emprestado para fazer uma poção ou algo assim, mal reparando que cinco horas da madrugada não era um horário apropriado para qualquer pedido.

Dirigiu-se ao vestíbulo arrastando os pés e abriu uma fresta na porta, sentindo uma lufada de vento frio penetrar a casa.

— Quem é? —perguntou, sonolento.

— Abra, somos do Ministério.

O raciocínio lento do rapaz foi rapidamente substituído por uma explosão de pensamentos e ele percebeu, assustado, a quantidade de pessoas com as varinhas em punho paradas junto à porta. Um grito foi ouvido da parte de trás da casa:

— Tem alguém tentando forçar uma janela!


Bellatrix, ainda de pijamas, tentava ver o que estava acontecendo. Um sobressalto estranho fizera-a despertar e agora ela tinha a certeza de ter ouvido batidas estranhas vindas do andar debaixo. Ela tentou abrir a janela, mas estava lacrada, o que era muito estranho. Não se lembrava de ter lacrado a casa e nem pedira a Rodolfo, Rabastan ou Bartô que o fizessem.

Olhou para Rodolfo, perdido em sonhos. Sua expressão, normalmente tensa e concentrada, estava relaxada, parecia uma criança dormindo abraçada ao travesseiro. Ela sorriu, lembrando-se de que ele estava abraçado a ela quando adormecera e que ela mesma colocara o travesseiro ali quando se levantara para a ronda mais cedo.

Bella ouviu uma nova batida e, em seguida, pôde distinguir o som das molas enferrujadas do sofá rangendo, indicando que Bartô se levantara.

— Rodolfo... —ela o sacudiu levemente pelo ombro até que seus olhos começassem a abrir. —Foi você que lacrou a janela?

Rodolfo emergiu do travesseiro muito sonolento. Ele pareceu ficar contente por acordar com a visão de Bellatrix e ela precisou repetir a pergunte três vezes até que ele pudesse assimilá-la.

— Elas estão lacradas?— perguntou ele, erguendo as sobrancelhas.

— Estão.

De um salto, Rodolfo levantou da cama, atirando o travesseiro no chão e andando em passos largos em direção à janela, só para confirmar que realmente estava lacrada. Antes que Bellatrix pudesse impedi-lo, o rapaz apanhou a varinha sobre a cômoda e apontou para a janela fechada dizendo:

— Alorromora!


— Entrem atacando, pegamos aqueles desgraçados - ordenou Moody. —Eu os quero mortos!

Em instantes, Bartô estava imóvel no chão do vestíbulo e era chutado para fora do caminho enquanto dezenas de agentes do Departamento de Execução das Leis da Magia entravam na casa e corriam para o andar de cima. Rabastan foi preso ao abrir a porta do quarto, curioso com a movimentação fora de hora.

Um a um, os quartos do casarão foram sendo invadidos e revirados.

Quando ouviu o grito vindo do lado de fora da casa, Rodolfo recuou de olhos arregalados, deixando a varinha escorregar dos dedos de susto. A janela escancarada mostrava o quintal cercado de silhuetas sombrias que se moviam na grama mal-cuidada.

Antes que ele ou Bellatrix tivessem a chance de dizer qualquer coisa, o quarto foi invadido por um número incontável de bruxos em posição de duelo, todas as varinhas apontadas diretamente para o peito de Rodolfo.

Foi então que aconteceu o inesperado. Bellatrix, vestida apenas com uma fina camisola branca, saltou na frente dos agentes gritando:

— Não ataquem! Ele está desarmado —não era um pedido. O tom usado pela jovem Comensal não foi de súplica. Foi de ordem.

Talvez por causa da maneira autoritária com que Bellatrix falou, talvez pela surpresa de ver a jovem protegendo Rodolfo com o próprio corpo, ou talvez pelo olhar desafiador com que ela os encarou, os bruxos abaixaram as varinhas, perdendo a chance de cumprir as ordens de Moody.

Cercados e sem qualquer possibilidade de resistência, Rodolfo apenas abaixou a cabeça e pediu que os deixassem trocar de roupa antes de serem levados presos. Os agentes não permitiram e, recolhendo suas varinhas, prenderam Bellatrix e Rodolfo com pesadas algemas incrementadas com feitiços defletores.

Percebendo que ainda havia a chance de tentarem matar Rodolfo na ida para a prisão, Bellatrix agarrou-se a ele com tamanha força que nem os feitiços de estuporação usados para desacordá-la conseguiram afrouxar seu abraço.

E foi com Bellatrix quase completamente inconsciente em seus braços que Rodolfo foi empurrado para dentro de uma espécie de carruagem negra, sem nenhuma abertura a não ser por um quadrado gradeado na parte traseira. Seguro de que ela não percebia nada ao seu redor, Rodolfo puxou a esposa para junto do peito enquanto via Hogsmeade desaparecer rapidamente à medida que a carruagem corria com velocidade numa direção que ele não sabia qual era.

A viagem durou todo o restante da madrugada e várias horas da manhã seguinte —tudo sob uma temperatura no interior da carruagem que beirava dez graus nada confortáveis para pessoas em simples roupas de dormir. Na escuridão do cubículo, as únicas imagens que os olhos de Rodolfo distinguiam eram os reflexos da luz da lua nos cabelos negros de Bellatrix. Seus pés haviam sido presos por pesadas correntes a uma argola soldada ao chão e era impossível mudar de posição, de modo que as câimbras se espalharam por seu corpo.

Pouco depois das dez da manhã, Rodolfo sentiu a esposa se mexer sob seus braços e viu o brilho de seus olhos sonolentos se abrindo. Mas, antes que tivessem tempo de trocar quaisquer palavras, a carruagem parou com um solavanco súbito, que fez Rodolfo deslizar e as correntes cortaram seus tornozelos. Logo em seguida, as portas traseiras foram abertas e a luz ofuscante os cegou momentaneamente enquanto eram forçosamente puxados para fora. Não houve maneira de se manterem juntos ao adentrarem o Ministério por uma entrada especial que os conduzia direto para os níveis inferiores, cercados de bruxos armados.


N/A:

Bom, faz mto tempo que eu não falo algumas bobagens aqui e como hoje eu estou com tempo, vou abusar da paciencia de vocês n.n'

Nha, primeiro: eu passei um tempo sem atualizar porque tenho uma beta muito boa que percebe todas as coisas que eu esqueço e me chamou a atenção para o fato de que eu tinha esquecido de colocar o Rabastan da história o.O Por isso tive que reler tudo umas vinte vezese reescrever algumas partes para incluí-lo... mas daí eu fiquei subitamente inspirada para colocar algumas peripércias políticas no meio e a fic cresceu um capítulo (e ela já tinha 2 capítulos a mais do que o planejado inicialmente o.o).

Bom, agora que já está quase terminando, tenho que admitir que já estou com saudades desse pessoal. A Bella ficando assustadoramente parecida comigo em seu jeito grosseiramente sincero, o Rodolfo com seus conceitos contraditórios e seu charme de dizer as coisas sem realmente colocá-las em palavras, o Moody completamente cruel, o Snape, que ficou só na surdina mas ainda vai causar alguns problemas, a Elise, uma P.O. meio apagadinha que depois cresceu e ainda vai crescer mais, enfim, toda essa gente "du-mal" que eu não estava acostumada a levar dentro da minha cabeça e de repente se tornaram tão palpáveis. E sim, eu acho que os aurores dessa fic são tão errados quanto os comensais.

Bom, tudo isso foi apenas para dizer que eu provavelmente vou escrever uma fic que precede OS. Não é para logo, estou começando uma faculdade então as coisas estão meio que corridas para mim. Mas assim que eu tiver uma folga, vou começar a montar um esqueleto (Bel olha para DF e pensa que não tem idéia de como continuar, prefere ficar pensando numa nova fic mesmo...). Sobre essa nova fic só o que está certo é que, por causa da Jub's, eu vou ter que colocar a noiva que o Rodolfo abandonou o.o

Agora as reviews, que faz tempo que não respondo:

Ju: Obrigada o/ Sabe, eu gosto quando essa paixonite é mostrada comoapenasplatônica. Meu espírito R/B recem-convertido grita quando isso evolui a ponto de tornar o Rodolfo um corno manso u.u Eu penso no Rabastan como um moleque, alguém que subiu às custas do bom trabalho do irmão e não tem nem idéia do que significa ser um comensal...

Lily Dragon: Nha, obrigada n.n Bom, como eu disse, estou mais inclinada a escrever uma fic anterior a OS do que uma continuação. Uma continuação seria uma carnificina só, sinto dizer u.u Porque eu jamais conseguiria colocar esses dois morando numa casinha de campo com o jardim cheio de margaridas e filhinhos, felizes para sempre... não sei, acho que a situação de guerra e tensão é a única em que eles podem sobreviver, eu teria que matá-los, entende? Mas, bem, desde que essa fic começou não estou lá muito normal, então tudo é possível o.O

Bjos o/

Bel.