Capítulo 22. Interrogatórios
Após o desaparecimento de Voldemort, as fichas de "adeptos da purificação", ou mesmo de simples simpatizantes da causa, haviam sido convertidas em mandatos de prisão, quase sempre precedida de muita violência desnecessária. Qualquer um que um dia já tivesse defendido a causa purificadora era alvo de investigações.
Os agitadores mais notórios, bem como aqueles identificados como militantes ativos, já haviam sido julgados formalmente e levados para a milenar prisão bruxa de Azkaban, onde não poderiam ter mais sórdidos carcereiros. Embora grande parte dos Dementadores tivesse se aliado a Voldemort durante a guerra, um número substancial passara para o lado do Ministério após o 31 de outubro de 1981 e se tornara responsáveis pelos presos de Azkaban.
Em pouco tempo, a simples menção do nome da prisão já causava arrepios às pessoas. A obstinação de Bellatrix em manter silêncio absoluto, ainda que repetidamente torturada e agredida física e mentalmente, não era regra entre os Comensais presos com a queda de Lord Voldemort. A ameaça de acabar em Azkaban era o argumento mais suficiente para fazer os presos falarem e confessarem qualquer coisa. Como um novelo de lã que era aos poucos desenrolado, cada preso levava os aurores a outros tantos. Mas o que Bartolomeu Crouch exigia era que chegassem à ponta final: os líderes.
Entre os vários bruxos acusados, estava Severo Snape. Muita gente não conseguiu acreditar quando Dumbledore se pronunciou em sua defesa. A verdade é que, embora fosse bruxo da mais alta confiança de Lord Voldemort, Snape era espião a serviço da Ordem da Fênix.
A comprovação disso surgira meses antes da queda de Voldemort, quando Snape fora preso na Inglaterra tentando ir ilegalmente para o exterior e Dumbledore viera em sua defesa para impedir que ele fosse julgado pelo Departamento de Execução das Leis da Magia. Cuidadoso como agente duplo, Snape conseguiria confundir até mesmo membros da Ordem da Fênix e os aurores ingleses. Acabou sendo libertado em segredo para poder "continuar suas atividades", como dizia o documento de soltura. O que seriam essas atividades, no entanto, nunca foi totalmente esclarecido e nenhum dos dois - Ordem ou Ministério - jamais revelaria.
O certo era que, solto, Snape tivera a oportunidade de preparar a emboscada que quase resultara na prisão de Rodolfo e Bellatrix em Munique. Graças ao feitiço de lacre da maleta de Karkaroff que Snape nunca fizera, aurores ingleses e alemães tiveram acesso desimpedido à mais evidências contra Comensais que jamais haviam sonhado em ter. Durante os julgamentos de dezembro de 1981, Severo Snape foi repetidamente chamado para prestar depoimentos sobre os Comensais presos, sem nunca ter sido acusado de coisa alguma.
Ao fim do ano de 1981, quase dois mil cidadãos bruxos, ingleses e estrangeiros, estavam presos no subterrâneo do Ministério da Magia.
Nunca ficou claro se Régulo Black tinha algo de desequilibrado ou, como atribuíra a cúpula do Movimento Comensal, queria sair do Movimento tirando vantagem das informações que podia passar aos aurores. Para muitos dos ativistas que conviveram com Régulo quando assumiu a função de Bellatrix, após o destacamento da jovem para organizar o assassinato de Ernest Brown, tratava-se apenas de apenas um adolescente inconseqüente e deslumbrado com o posto que a que seu nome o levara a ascender. Régulo nunca teve a menor idéia do que um coordenador de propaganda deveria fazer.
Desequilibrado, despreparado ou traidor em potencial, Régulo acabou sendo preso em meados de 1980 e os aurores trataram de tirar proveito do pânico que o rapaz tinha de ser condenado. O jovem foi solto muitas vezes, para voltar a ser capturado poucos dias depois, sempre trazendo consigo uma dúzia de ativistas. Mesmo que lhe dissessem que só era solto para que o aurores vigiassem seus movimentos e descobrissem outros Comensais, Régulo pouco ligava para as recomendações de usar feitiços anti-rastreamento e anti-escuta.
Ainda durante o período em que Bellatrix e Rodolfo estavam na Alemanha, a cúpula do movimento decidira tirar a dúvida a limpo. Régulo foi capturado e Rabastan Lestrange ficou encarregado de mantê-lo escondido num porão em Surrey. Elise Malfoy foi escolhida para redigir relatórios dos depoimentos que foram tomados dele e remeter tudo a várias autoridades do Movimento, que incluíam Bellatrix Black. Mal um relatório era enviado por Elise, voltavam para ela dezenas de corujas com novas perguntas. Após semanas dessa troca de mensagens, os dirigentes do Movimento decidiram por unanimidade que Régulo os traíra e a conclusão foi reportada a Voldemort.
Na mesma época, chegara às mãos do Lord das Trevas um bilhete que tinha por destinatário Bellatrix, em que a mãe de Régulo pedia notícias do filho, que não se comunicava com ela há vários dias. Na dúvida, o bilhete foi considerado falso, uma tentativa dos aurores de confundi-los para que revelassem o que acontecera. Voldemort simplesmente ordenou que seus subordinados fizessem o que deveria ser feito a um traidor. Entretanto, ninguém estava muito à vontade com a idéia de condenar um bruxo sangue puro de família nobre como os Black.
O empurrão final acabou vindo da Alemanha, de onde Bellatrix Black escrevera reclamando da falta de resolução dos Comensais. Afinal, aquele não era um tipo de compromisso que permitia hesitação e, se estava comprovado que Régulo os traíra, não havia mais nada a fazer além de lhe aplicar a pena reservada a um traidor – pouco importava seu sobrenome.
A decisão de executar a sentença fora finalmente tomada unilateralmente por Rabastan, no fim do ano de 1980. O bruxo inexperiente não conseguira impedir Régulo de se defender e o que deveria ser um assassinato limpo e rápido se tornara um duelo sangrento, que terminara com o corpo de Régulo Black sendo abandonado num terreno baldio, tão deformado que estava irreconhecível. Elise ficara tão transtornada na ocasião que pedira para fazer trabalho administrativo por um tempo e fora morar na Travessa do Tranco. Rabastan ficara de tal modo mal-visto que na prática foi rebaixado a simples militante, sem que lhe fosse confiada nenhuma missão realmente importante desde então.
Se a suspeita de que Régulo Black fora condenado por um tribunal clandestino e depois assassinado a mando dos Comensais da morte foi quase gritada pelos jornais quando levada à imprensa por Crouch, a morte suspeita de Elise Malfoy acabou sendo rapidamente esquecida e ninguém mais questionou uma única sílaba da versão oficial de que a jovem de 22 anos cometera suicídio.
Em dezembro de 1981, a questão foi formalmente encerrada quando Lúcio Malfoy declarou que a irmã estivera sendo vítima da Maldição Imperius – o que, na verdade, havia sido a mesma alegação que ele próprio usara para justificar suas ações contra trouxas durante a guerra. Depois disso, as acusações contra ele foram misteriosamente consideradas inconsistentes e arquivadas, e Fudge se tornou uma figura influente dentro do Ministério. Crouch foi definitivamente descartado e Ígnea foi efetivada no cargo, mesmo contra a vontade da bruxa.
Restava apenas a Crouch levar o que descobrira para o que seria o julgamento símbolo de toda a repressão que sucedeu a queda de Voldemort, e tentar sair do escândalo de ter um filho Comensal com um mínimo de dignidade.
Bellatrix estava sendo acusada de uma extensa lista de assassinatos – nenhum deles com provas substanciais – e de ser a mandante da morte do primo. Rabastan era comprovadamente autor da morte de Régulo e contra isso não havia muito o que argumentar. Na falta de uma boa acusação, Rodolfo foi considerado o chefe do grupo e indiciado por associação para prática de artes das trevas, coordenação de tortura e seqüestro.
Bartô Crouch Jr. não tinha uma acusação real, seu crime se resumia a estar no lugar errado na hora errada – pelo menos era o que os aurores insistiam em dizer. Mas o chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia deu um jeito de enquadrar o próprio filho por prática de maldições imperdoáveis, já que sua varinha acusava o último feitiço praticado como a Maldição Cruciatus. Não havia qualquer prova de que o jovem Bartô tivesse empunhado a varinha no momento do feitiço, mas isso pouco importava para a opinião pública, sedenta de culpados em quem despejar a frustração de mais de uma década de guerra.
O anúncio da data em que as audiências preliminares começariam causou grande sensação na imprensa sensacionalista, que, ainda assim, ignorava sumariamente as denúncias de Verônica Lestrange de que estaria sendo impedida de providenciar a defesa dos filhos. Todos – inclusive a Sra. Lestrange – sabiam que não havia qualquer possibilidade de defesa, fosse para os irmãos Lestrange, fosse para Bellatrix ou para Bartolomeu Crouch Jr.
— Quem é esta mulher? —indagou Moody, que caminhava vagarosamente em torno de uma ampla mesa, numa sala de depoimentos.
As paredes eram lisas e cinzentas, a porta quase invisível. Um espelho que cobria completamente a parede oposta mostrava uma sala onde Crouch estava reunido com o Conselho das Leis da Magia.
Rodolfo inclinou a cabeça, concentrado em olhar para frente e ignorar as perguntas. Bellatrix estava na outra extremidade da mesa, com os olhos negros voltados para o teto e os longos dedos titubeando sobre o tampo da mesa de mogno. Tinha alguns hematomas no rosto pálido e profundas olheiras sob os olhos.
— Responda, senhor Lestrange —ordenou a imagem de Crouch no espelho.
— Já disse aos senhores que é minha esposa, não vou ficar repetindo —resmungou, impertinente.
Bellatrix revirou os olhos e ele teve a impressão de que ela fazia aquilo para olhar para ele sem chamar a atenção dos aurores. Estavam sendo interrogados há pelo menos duas horas e Bartô Jr. e Rabastan já haviam passado por ali. Bella e Rodolfo haviam se recusado mesmo a reconhecer os ex-colegas de Movimento. O depoimento de Bartô tinha se resumido a chorar e gemer, na tentativa de comover o pai. Rabastan, por outro lado, ficara de tal modo apavorado com a perspectiva de ir para Azkaban que parecia ter entrado em estado psicótico. Ria sem parar das perguntas e dizia ter coisas muito importantes a dizer e precisava de silêncio, só para murmurar qualquer coisa sem sentido e voltar a rir como um maluco.
— E a senhora?
— Não tenho nada a declarar sobre isso — repetiu Bellatrix.
Moody suspirou de frustração e esfregou as mãos como se quisesse torcer o pescoço da mulher. Então fez um sinal para que trouxessem outro prisioneiro e Rodolfo não conseguiu disfarçar um olhar apreensivo para a esposa quando reconheceu Igor Karkaroff, magro e maltrapilho, como próxima testemunha a ser confrontada com eles na audiência preliminar.
— Sim, eu os conheço. Vi os dois muitas vezes agindo em nome de Você-Sabe-Quem —falou Karkaroff, antes mesmo de se sentar na cadeira trazida para ele. —Bellatrix Black e Rodolfo Lestrange. Podem encontrar mais informações sobre eles em meus outros depoimentos.
N/A: Penultimo capítulo... já já vocês se veem livres de mim u.ú
Lily Dragon, obrigada pela review n.n A Bella e essa insistência, eu gosto disso nela tbm! Seria interessante, principalmente a parte da "ressureição" do movimento comensal o.o Outra coisa que seria interessante era fazer a Bella e o Rodolfo terem que resgatar toda a velha química após 14 anos o.o
Ei, eu comecei a amar R/B também escrevendo essa fic, o que na verdade é um problema, porque eu também adoro S/B...
bjos o/
Bel.
