Parte 3

Eles entram na grande loja de bonecos, perto do bosque. Era sábado, e àquela hora as crianças já haviam saído para brincar um último minuto no parque. Meiling acena para Tomoyo, que corre até ela e Sayoran.
"Que bom que vieram! Sakura está ali, com os ursinhos. Está lá parada desde que chegamos... Estou tão preocupada!"
"Acha que eu devia falar com ela?" – diz Sayoran, embaraçado.
"Sim! Isso pode animá-la um pouco!"
Os três se dirigem até a cardcaptor, que permanece estática frente a estante de ursinhos. Kero está aflito, andando entre os bichinhos.
"Sakura... por favor! Pare!"
"Sakura, veja quem..."
Mas antes que Tomoyo chame sua atenção, ela vê a figura de um dos ursinhos se distorcer a sua frente. Depois outro, e outro... Sayoran vê uma energia púrpura se misturar à de Sakura, a envolvendo com força até tocar os brinquedos. Ele tenta chamar por Sakura, pegando em seu braço, mas é jogado contra a mesa de jogos. A energia se expande ao máximo e Sakura se vira a Sayoran, os olhos opacos e cheios de ódio. - Sakura... - Sayoran a fita com confiança, se levantando. Ele não tinha medo, mas muita tristeza.
As luzes da loja piscam, explodindo.
A energia negra se lança contra Sayoran, mas Kero, em sua forma natural, a detém com um escudo mágico. Uma bolha rosa e negra envolve Sakura, a levitando. Ela parece gritar, mas nenhum som sai. Uma figura aparece por trás de Sakura, murmurando:
"Não me deixe viver em seu coração."
Sakura cai ao chão, desacordada. As luzes voltam ao normal, assim, como todo o resto da loja. Parece que nada aconteceu. Mas Sayoran sente uma angustia. Ele viu a sombra. Ele ouviu a voz dentro de Sakura.
"Vácuo... Não..."

oOo

"Aconteceu de novo, Yuki!"
"Eu senti, Toya. Mas como você sentiu?"
"Eu não sei... Eu não vejo mais espíritos no bosque, nem sinto mais energia em outras pessoas, mas quando é relacionado à minha irmã, eu sinto, eu vejo."
"De alguma forma você está despertando algum poder que tinha escondido. Não pôde me oferecer quando estive a desaparecer, pois não o sabia! Mas agora que Sakura está em apuros, você está o encontrando para ajudá-la! Isso significa que você é tão poderoso quanto Eriol acreditava."
"Eriol?"
"Sim, ele me explicou o que pode estar havendo... Sakura não devia ter trazido a carta Vácuo para perto dela num momento em que... bem... que ela."
"Estava se sentindo sozinha, não é?"
Toya olha para a porta, aflito. Nesse momento, ouve Sayoran chamar-lhe, junto a Kero. Ele olha Yukito, e abre a porta:
"O que você fez com a minha irmã, moleque!"

oOo

Toya olha para Sakura, estendida na cama. Todos se foram, a deixando sobre seus cuidados. Por sorte seu pai ainda não havia voltado de um seminário. Ele fecha a janela, pensando na imagem da sua mãe. Queria tanto que ela o ajudasse.
"Você ainda está aí, moleque?"
"Ela está bem?" - Sayoran está sentado na árvore que fica em frente à janela de Sakura.
"Está dormindo ainda. Vá embora!"
"Deixe, Toya." - diz Kero.
Sayoran permanece ali, olhando a janela. Toya parece se enfurecer e bate a janela. Não entende, mas sabe que aquele moleque pode ser a doença e a cura de Sakura. Ele sai do quarto, com um olhar obscuro para Kero.
A noite chega, e Sayoran fica ali, pensativo, angustiado. Seria tudo culpa sua? O que teria feito Sakura se sentir tão mal assim?
De repente ele ouve o som da janela se abrir, e vê Sakura olhando em vão para fora.
"Eu sei que me olhas, filho dos filhos de Clow. E sei que me tens na alma. Sei que me sentes, e teu sentido será tua espada."
Ela fita Sayoran meio às escuras folhagens. Sayoran se mostra a ela, entregue, indefeso. Sakura o olha com tamanha ternura, como antes, e murmura:
"Morra, meu amor..."