Parte 4

"Morra, meu amor."
Sakura fecha os olhos, a energia negra lhe envolvendo até suas mãos, formando um arco. Ela aponta para Sayoran, que continua estático.
Sayoran vê a figura de Vácuo atrás da garota, a abraçando.
"Eu não quero mais ficar sozinha..." murmurava Vácuo, enquanto Sakura apontava a de energia contra o garoto."Minha mãe... A frieza do meu irmão... Meu pai sempre tão distante... Tudo vai embora... Eu sei que não é culpa deles... Não é culpa de ninguém."
"Sakura."
Mas a garota continuava a apontar a flecha de energia contra Sayoran. Vácuo a abraça ainda mais forte, dizendo:
"Eu não quero mais nada disso. Eu pensei que poderia amar apenas... Em silêncio, sozinha... Mas eu não posso, não posso!"
De repente, Sayoran percebe que Vácuo está na verdade tentando evitar que Sakura atire contra ele! Ele salta para a janela, a flecha de energia quase encostada em seu peito.
"Sakura, você não está sozinha."
"Sayoran... Nenhum amor vive sozinho... Sakura se prendeu a mim quando chorava calada em seu quarto... Por medo de atormentar os outros, ela se atormentava em silencio... Ela gritava... Por todos aqueles que ela ama, e que afasta de seu coração tão triste... Então..." Vácuo se desprende de Sakura, que cai no chão, inconsciente. Ela tinha asas negras e um coração vermelho em seu peito. Então a carta Amor não havia fugido! Mas se fundido à carta Vácuo!
"Por quê!" – Sayoran grita, se ajoelhando ao lado de Sakura, que desmaia no chão.
"Todos queriam sorrisos, risos. O coração alegre de Sakura. Não importava se ele estava morrendo por dentro. E ela sorriu para cada um que desejasse... ela selou em si mesma toda a tristeza dentro dela... E só eu pude ouvir... Mas eu não posso! Eu não posso ficar aqui trancada sozinha! Faça parar... Oneigay, eu imploro... Essa dor... FAÇA PARAR!"
A energia negra de Vácuo se expande, tomando todo o quarto. Sayoran ouve Toya gritar, tentando arrombar a porta. Mas é em vão.
"Então se é assim... Pode me matar, se quiser! Mas não machuque mais a minha Sakura!"
A carta se aproxima do chinês, agarrando seu pescoço. -Sente como é não poder gritar? Não sentir a própria voz na garganta? Pode sentir como dói quando não se pode respirar!
"Chega! Vácuo solta Sayoran, olhando para Sakura. A menina se levanta com dificuldade, olhando fixo para a carta, seus olhos e todo o rosto mareados de lágrimas."
"Não vou deixar que machuque ninguém!"
"Sakura... Você está chorando... Ah, que bom."
A energia da carta diminui, por vontade da mesma. Ela sorri, num alívio. Fecha seus olhos e deixa cair lágrimas também.
"Espada!" – invoca Sakura, se lançando contra Vácuo, seus olhos apertados cheios de lágrima e rancor... Contra si mesma.
"Não!"
Sakura abre os olhos, trêmula.
"Sayoran!"
O garoto havia se colocado em defesa de Vácuo, tomando o golpe de Sakura em si mesmo. O abdome dele sangra, mas ele se mantém em pé, olhando firme para a cardcaptor.
"Já chega, Sakura... Não seja injusta... "
"Sayoran... !"
"Mesmo alguém como você se machuca de vez em quando... Ele cai aos pés da garota, inconsciente."
Sobre ele, uma nova carta: The Feeling, O Sentimento.

oOo

"Eu não quis admitir... Quando você se foi pela primeira vez, eu me senti perdida. Mas sabia que podia esperar por você. Eu tinha que lhe confessar meus sentimentos. Então veio a carta Vácuo, e ela te trouxe para perto de mim de novo. Eu arrisquei tudo, não me importava em não ter seu amor, mas eu te amava. E te amo. Quando me lancei em direção a você não me importava em morrer se ao menos tivesse certeza de tudo isso... Mas você teve que ir embora pela segunda vez. E eu não me senti perdida, porque já tinha encontrado você. Mas me senti partida ao meio. Vazia... Por que? Você me amava... Mesmo longe, sentia seus pensamentos nos meus... Mas isso não adiantava! Não bastava! Eu fui tão egoísta! Porque eu quis que o mundo se danasse sim, eu estava me sentindo sozinha e queria você perto de mim de novo... Mas eu tinha medo de admitir que sentia coisas assim. Parecem tão feias... Tão sem sentido. Então eu resolvi esconder isso, de tudo e de todos, a qualquer custo. Até de você. Foi quando ouvi Vácuo chorando... chorando sem parar. E quando perguntei o que ela sentia, ela, a carta vazia, disse que chorava por mim..." Sakura acaricia a carta entre suas mãos, sem tirar os olhos do rapaz que adormecia ao seu lado. Já estava em seu apartamento, sendo bem cuidado por Meiling e pelo criado. O ferimento não fora sério.
Mas ela não saía dali.
Há três dias velava Sayoran. Contava mil coisas em seu sono. Mas permanecia muda nas poucas horas em que ele acordava.
Agora entendia tudo, mas não sabia explicar. Tudo que seu coração fizera explodir em um golpe que quase levara ele embora de sua vida, para sempre.
"Ah, estou chorando de novo... Desculpe Sayoran... Me perdoa... Eu tive que... Ah... Tudo isso só para entender meu próprio coração. Quando a carta Amor nasceu, era o que meu coração gritava dentro de mim. Mas ele é feito de tantos pedaços de mim... Que não sente só amor. Ele quebra de vez em quando. Agora eu sei. Eu tenho raiva quando o Toya não se deixa aproximar mais de mim. Fico magoada quando meu pai se esquece de tudo pelo trabalho. Sinto saudades da minha mãe... E eu sei que me sinto longe de mim mesma quando não estou com você."
Sakura sente sua mão ser segurada pela de Sayoran, que a olha calmamente.
"Eu... Sayoran... Eu... Eu não sou como devia ser, Sayoran! Eu tenho um coração confuso demais! Com sentimentos demais! E nem todos são bons."
"Que bom que seja assim, Sakura."
"Nani?"
"Se você não tivesse sentido minha falta, não estaria aqui."
"Sayoran, você?"
"E se não ficasse com raiva da frieza do seu irmão, ou magoada com a distancia de seu pai, jamais tentaria mudar nada disso. E você jamais seria feliz. Então não teria nem sentimentos ruins, e nem bons. E você seria apenas vazia."
Ele se senta na cama, ainda olhando para os olhos verdes cansados ao seu lado. Aperta com força sua mão, sorrindo.
Sakura deixa cair a carta no chão, se jogando no colo de Sayoran. Logo seus soluços e lágrimas inundam o quarto, apoiados entre os braços ainda fracos que a seguram como podem.
Sayoran acaricia os cabelos dela, deixando um leve sorriso sair.
Sakura estava deixando seu coração gritar para ele. Sem medos nem embaraços. Apenas gritos, sussurros, sentimentos.
Perto da janela, a carta irradia uma sombra fraca no vidro. Sayoran encara a serena figura que se apresenta, com um suspiro aliviado entre os lábios.
"Obrigada por nos ouvir..."

OWARI