Prólogo
Disclaimer - Os personagens de Saint Seiya não nos pertencem, mas ainda podemos brincar com eles.
Autora – Naru L
Saori passou as mãos pelos longos cabelos, em um gesto que demonstrava seu nervosismo interno. Estava sozinha na estéril sala de hospital, podia se dar ao luxo de demonstrar alguma fraqueza, esse era o pior lado de comandar tantos homens. Só existem dois caminhos, ou você se mostra frágil e deixa que eles assumam o comando, ou se mostra alguém mais sem sentimentos do que eles e os supera. Ela escolheu o segundo.
Não houvera muito tempo para pensar no que fazer, mal tinha completado a maioridade e seu avô a informara de que tinha que fazer parte da 'grupo', na época não entendera as várias instruções complicadas, os teste repetitivo, a rotina. Parecera tão fácil, mas era apenas uma ilusão de que fazendo aquilo que o homem que a criara queria ficaria mais próxima dele. Puro engano, não importa quão competente se mostrasse ele sempre exigia mais, o trabalho exigia mais, seus subordinados exigiam mais... E o preço a pagar era esse.
Shiryu... – Murmurou o nome do rapaz, perdida nas lembranças da discussão com ele antes que partisse naquela missão. Ela insistira em dizer que era algo simples que podia ser facilmente realizado por um homem sozinho... Uma bomba explodir no meio da cena não estava em seus planos... Ou a possível cegueira de um de seus melhores homens... Fechou os olhos com força imaginando o que o avô falaria quando soubesse do ocorrido. ' Ou como os outros vão reagir... Nunca mais vão me obedecer novamente...'
"Mas, quando foi que eles fizeram isso?" A voz em sua mente perguntou sarcástica e a garota sorriu.
'Eles nunca me obedeceram sem reclamar mesmo...'
Bom ver que está sorrindo mesmo quando um de seus subordinados está a ponto de morrer, Saori.
Ele está fora de perigo... – O sorriso havia se apagado ao ouvir aquela voz odiosa, não conseguia entender o que era aquilo que sentia pelo rapa a sua frente. Os cabelos e olhos castanhos eram comuns, e sua presença era sempre um estorvo... " Que rapidamente se transforma em desejo quando não há ninguém por perto..." Maldita voz que não a deixava se enganar nem por um minuto – Estão tratando dos...Ferimentos agora... – Sua voz, normalmente confiante e graciosa, parecia o de uma criança tímida no momento. 'Odeio ter que admitir erros'
Quais ferimentos? – Seyia sentou displicentemente em uma das desconfortáveis cadeiras da sala de espera deixando algumas vazias entre os dois – Ele vai ficar bem?
Depende da sua definição de bem – Foi a resposta calma que ecoou do rapaz loiro que entrava – Ele corre o risco de ficar cego... – Fixou os olhos claros e acusadores na garota – Para sempre.
O que exatamente aconteceu? – Seyia estreitou os olhos, fixando-os alternadamente em Hyoga e na garota a seu lado. – Não consigo acreditar que Shiryu tenha sido tão descuidado...
Ele não foi descuidado. – Hyoga cruzou os braços na frente do peito, olhou com raiva mal disfarçada para a garota antes de voltar sua atenção ao companheiro de equipe –Esse não era um trabalho para um só homem, mas a 'senhorita sabe-tudo' achou que podia apostar a vida dos outros...
Não foi isso o que aconteceu!
Prove, senhorita sabe-tudo... Negue que Shiryu lhe avisou que não podia ser feito sem uma equipe e que você disse que a menos que ele fosse completamente incompetente poderia ser feito até por 'meio-homem'.
Saori enfrentou os olhos azuis em silencio, não podia negar suas palavras, ou melhor, gritos daquele dia. A verdade é que estava chegando a seu limite, as constantes insubordinações estavam mexendo com seus nervos à meses e aquela fora a gota d'água... Se ao menos não tivesse dado tudo errado...
Não é lindo como a vida nos faz encarar a dura realidade? – Hyoga sorriu desdenhoso – A Senhorita sabe-tudo não é perfeita afinal...
Já chega, Hyoga. – O rapaz moreno disse, observando disfarçadamente e expressão da garota.
Qual o problema, Seyia? – Hyoga estreitou os olhos desconfiado – Você também não gosta dela, por que...?
Agora não é o momento, estamos aqui por causa de Shiryu não por uma bobagem qualquer...
' Maravilha! Agora sou uma 'bobagem qualquer'...' Saori afundou na cadeira desanimada, ' Como se não bastasse falarem de mim dessa maneira pretensiosa e como se eu não estivesse aqui...' tentando ignorar a expressão insatisfeita de Hyoga e os olhares de Seyia.Quando um médico se aproximou deles, quase pulou da cadeira agradecendo aos deuses por a terem salvo daquele momento embaraçoso.
Como ele est�, Doutor?
Fora de perigo, mas a visão parece estar realmente comprometida... – A voz calma do médico ao afirmar aquilo de maneira tão corriqueira fazia com que Saori quisesse estrangulá-lo. Será que não sabia como aquilo faria mal a todos ali? ' Principalmente a minha reputação...'
Quando poderemos ter certeza? – Perguntou, tentando soar calma apesar do tremor interno.
Daqui a algumas horas, ainda está inconsciente... – O médico sorriu calmamente, fazendo um sinal para que ela o seguisse – Venha até a minha sala, vou explicar melhor das condições do senhor Shiryu Suyama.
Claro... – Apressou-se a seguir o médico, depois de dar um olhar de aviso aos dois rapazes ' Esperem aqui' era o que queria dizer, mas não podia agir como um comandante naquele local. Ignorou o girar de olhos de Seyia e a postura de ' Dane-se' de Hyoga e correu atrás do médico.
A propósito...- O médico perguntou sem olhar para trás – Você conhecem alguma garota chamada Atena?
Saori congelou, parando por alguns segundos no meio do corredor. Podia sentir os pares de olhos as suas costas, ao ouvirem o codinome 'Atena', respirou fundo antes de começar a andar calmamente.
Não... Por que pergunta isso? – Forçou seu melhor tom de pouco caso.
O Senhor Suyama está repetindo esse nome desde que saiu da cirurgia... – O médico abriu a porta e sorriu – Provavelmente uma antiga namorada...
É... É possível... – Saori sorriu sem graça antes de correr para dentro do consultório ' Você não faz a menor idéia do que isso quer dizer...'
oOoOoOoOoOoOo
A porta do consultório mal acabou de ser fechada antes que os dois rapazes se encarassem, espanto não era em o que demonstravam, era quase medo o que podia se ver tanto nos olhos castanhos como nos azuis.
Espero que Atena tenha sido a única coisa que ele disse. – Hyoga murmurou, observando os corredores para se certificar que estavam sozinhos. – Talvez fosse melhor que ele tivesse morrido.
Sua preocupação com um 'amigo' é tocante, Cisne. – Seyia falou sarcástico. – Se algum dia ocorrer o mesmo comigo, por favor me mate.
Será um prazer. – O rapaz loiro falou friamente – Eu já avisei para não me chamar assim.
Também amo você. – Seyia girou os olhos novamente. – Poderei ter a honra de fazer o mesmo por sua adorável pessoa?
Poupem-me dessas demonstrações duvidosas de afeto – A voz grave e levemente divertida soou as costas dos dois, o rapaz mais velho sorriu vendo-os pularem em suas cadeiras – Eu mato os dois, não se preocupem.
Ikky... Por favor... – O rapaz de cabelos castanhos disse, parando ao lado do irmão. – Está estragando o 'efeito surpresa' da coisa...
Mas, eu não disse quando ia matá-los...
Tem razão – O irmão deu de ombros, sentando em uma cadeira afastada dos dois em que podia observar a chegada de alguém pelo corredor as costas dos outros – Vá em frente.
Obrigado, Shun... – Hyouga lançou um olhar fulminante na direção do rapaz mais novo que não percebeu concentrado demais em 'ler' uma revista médica esquecida ali.
Não é para nos matar sem razão! – Hyoga protestou indignado com aquela conversa sem sentido.
Por que vocês estão discutindo sobre isso? – Ikky, ignorou os comentários enquanto bebericava seu café. – Pensei que Shiryu estava fora de perigo.
Ele esteve falando quando saiu da cirurgia... – Seyia falou calmamente, ignorando as tentativas frustradas de Hyoga de irritar, ou ao menos chamar a atenção, de Shun – Parece que chamou por Atena.
O que mais ele disse? – Shun perguntou, subitamente interessado na conversa.- Chamou por mais... – viu uma enfermeira se aproximando e fez uma pausa antes de continuar – Algum parente?
Não sabemos. Acho que só pela 'irmã'
Menos mal... – O rapaz deu de ombros e fixou os olhos no rapaz loiro. – Está com algum problema nos olhos?
Não. – Hyouga murmurou entre dentes.
Então, pare de franzi-los desse modo. – Jogou a revista na direção dele – Distraia-se com algo.
Idiota. – Hyoga pegou a revista antes que esta atingisse seu rosto, murmurando um palavrão – por que não...?
Rapazes? – Saori chamou discretamente, desviou os olhos ao notar a atmosfera hostil do lugar e continuou calmamente –Convenci o médico a nos deixar visitar Shiryu... dois de cada vez... – Completou quando os viu levantar em um só movimento. – Ele ainda não acordou.
Podem ir, eu espero aqui. – Ikky acomodou-se na cadeira o mais confortavelmente possível, depois de fazer um gesto enfático com a mão para que os outros se afastassem.
Vou conversar com a enfermeira que cuidou dele. – Shun começou a se afastar. – Tentar descobrir algo.
Não sabe quem... – Saori falou tentando impedi-lo de se separar do grupo.
Eu descubro... – Sorriu displicentemente – é o meu trabalho afinal.
'Eu não mereço...' A garota suspirou, percebendo que não tinha como impedi-lo. Olhou para os outros rapazes, sem demonstrar nenhuma emoção. ' A melhor defesa é ignorá-los...'
" Olhe onde ignorar o que eles dizem a trouxe"
' Cale-se!'
Vamos? – Virou de costas, caminhando na direção do quarto de Shiryu sem se importar se estava sendo seguida ou não. Era horrível ter que encarar todos aqueles homens, mas superar aquela situação sem eles seria mil vezes pior. Abriu a porta lentamente e encarou o rapaz adormecido na cama hospitalar, ele parecia tão frágil naquele momento. ' Onde está aquele homem que discutiu comigo há menos de uma semana?'
Tem certeza de que ele está bem? – Seyia perguntou observando as bandagens brancas que envolviam a cabeça do amigo.
Sim. – Saori murmurou ' Só não vai mais poder enxergar...' completou em pensamento. As chances eram de menos de cinco por cento o médico lhe dissera. Aquilo era tudo o que faltava para completar seu dia, não apenas era a responsável pela quase morte de um dos membros de sua equipe como agora teria que lidar com a cegueira, não sabia qual seria a reação do 'Dragão' ao ser informado disso. ' Provavelmente vai tentar me matar...ao menos conseguirei fugir dele mais facilmente...' Fechou os olhos desgostosa com seus pensamentos ' Hora perfeita para fazer piadas...'
Está se sentindo mal? – A voz de Seyia soou próxima a seu rosto o que a fez abrir os olhos novamente e chacoalhar a cabeça em negativa. – Parece cansada, por que não volta para a central e espera por noticias?
E deixar vocês sem um alvo para descarregar a raiva? – Sorriu sarcástica, não podia se mostrar vulnerável. Não agora. – Obrigada, mas prefiro ficar para a diversão principal.
Faça como quiser. – O rapaz moreno desviou os olhos dela com raiva, toda a gentileza desaparecendo de sua voz. – Só não desmaie ou vou deixá-la cair no chão.
Não precisa se preocupar com isso. – Suspirou internamente e virou para sair do quarto – Sua vez. – Falou calmamente ao passar pelo rapaz loiro que a olhou com desdém.
Pensei que tinha esquecido de mim. – Ele respondeu como agradecimento enquanto entrava no quarto.
' Eu queria poder esquecer...' A garota encostou-se a parede, fechando os olhos novamente enquanto tentava se acalmar. ' Isso é demais para mim... Posso descansar agora?'
" Sua missão ainda não terminou, Atena" A voz do avô ressoou em suas lembranças.
Eu sei, vovô... – Ela murmurou para si mesma – Mas, quando isso vai ter fim?
