Saori
Autora – Bella-chan
Revisão – Naru L
Sentei-me na mesa do meu escritório naquela noite, depois de ter deixado o hospital, tentando imaginar o que tinha dado errado. Não era possível! Eu tinha certeza que o plano daria certo, era simples demais para que algo errado acontecesse. Ignorei as palavras de Shiryu naquela tarde, mandei que ele fosse sozinho e... Agora isso.
Descansei o rosto nos braços, sentindo-me derrotada. Saori Kido não erra. Não posso me dar ao luxo de errar. Se cometesse uma falha não seria respeitada pelos agentes da Fundação, meu avô me alertara quanto a isso. Já não gostavam do fato de serem comandados por uma mulher... E uma que comete erros, pior ainda!
Era um plano simples... Ele já tinha a confiança de alguns caras influentes da outra organização, tudo o que tinha que fazer era ir até lá, descobrir o lugar do atentado e voltar. Nada de complicações. Bem, teoricamente. Afinal, eu nunca esperava uma bomba... Não naquele momento.
Levantei da cadeira com um suspiro. Talvez fosse minha culpa. Se eu não tivesse mandado Shiryu sozinho naquela missão... Talvez isso não tivesse acontecido. Balancei a cabeça tentando afastar tal pensamento. Admitir erros é algo tão difícil, assumir a responsabilidade por eles muito mais.
Saí da sala, frustrada. Além de não conseguir encontrar a falha no meu plano, tinha que agüentar as reclamações dos agentes... Depois de suportar o mais bravamente possível os olhares indagadores e sussurros às minhas costas, tinha saído do hospital sem falar com nenhum deles. Eu sabia que era culpada, tinha a sensação de que merecia cada insulto. Eu colocara a vida de um agente em perigo e para isso não havia perdão.
Desci as escadas apressadamente, precisava de ar, espaço. Caminhar ajudaria a esfriar a minha cabeça... Então, talvez eu pudesse pensar melhor.
Parei repentinamente no ultimo degrau, não esperava o rapaz no andar de baixo, encostado à parede, os braços cruzados na frente do peito, os olhos que me davam um arrepio na espinha... Sexy como sempre... Seiya... Esperando por mim.
- O que quer? Veio me insultar também? Pode dizer como eu sou precipitada, arrogante e imatura... Sussurros às minhas costas e olhares gelados não foram o suficiente? – As palavras saíram de minha boca com a rapidez das balas de um revolver, rápido demais para que eu pudesse controlá-las. Ele deu um sorriso calmo e irritante antes de responder.
- Na verdade, vou deixar esta parte para depois. – Ele fez uma pausa, o sorriso morrendo em seus lábios enquanto sua voz adquiria um tom sério -Quero saber o que você tinha na cabeça quando mandou Shiryu para aquela missão sozinho. É perfeccionista demais para agir por impulso e cometer erros. - Ele pediu como se fosse a coisa mais natural do mundo e, sentindo-me extremamente cansada, joguei-me no sofá, escondendo o rosto nas mãos.
- Não entendo como isso aconteceu, o plano era simples demais para que ele saísse ferido. – Respirei fundo, tentando diminuir o ritmo da enxurrada de palavras. Não funcionou. - Não havia possibilidade de algo assim acontecer. Encurralado com uma bomba. Shiryu está ferido e todos vão me culpar por ser imprudente! Droga! –Mordi os lábios com força impedindo-me de continuar. 'Ai... Eu queria me matar! Por que estou contando tudo para Seiya dessa forma?' Demonstrar fraquezas não faz parte da minha natureza. 'O que há de errado comigo?'
Senti uma lágrima solitária percorrer meu rosto, levantei uma mão para enxugá-la e assustei-me com a proximidade de Seiya, estremeci sentindo o dedo macio percorrer minha pele, aparando a lágrima e eliminando o caminho feito em minha bochecha. 'Provavelmente está com pena de mim...' Odeio quando isso acontece. Às vezes tenho vontade de gritar "Não sou fraca! Não preciso de misericórdia!", mas sei que no fim sempre termino calada.
Quando ele encostou os lábios nos meus, todos os pensamentos pareceram desaparecer. O beijo dele era doce e tinha o poder de me acalmar... Sim, eu já o tinha provado antes... Mais de uma vez. Ninguém imaginaria... Seiya Ogawara e Saori Kido. Inimigos mortais... E amantes.
Ele afastou o rosto do meu e acariciou a minha face. Só entre quatro paredes e sozinhos para Seiya ser tão carinhoso comigo... Mas não posso reclamar, ajo da mesma forma.
- Nunca imaginei ver Saori Kido chorando. - Ele comentou com um sorriso maroto, fazendo com que eu fechasse a cara.
- E você adora me ver assim, não é? - Eu acusei com a voz amarga. - Afinal, quem não gostaria de ver a grande e perfeita Saori Kido encurralada como um animal indefeso?
- Você sabe que não é isso... A última coisa que quero é te ver chorar... Não seja injusta. - Seiya respondeu com a voz séria. Não sei por quê me senti culpada... Acho que ele tem esse efeito em mim. Fechei os olhos por alguns momentos enquanto ele continuava a falar. – Apesar de nossas diferenças, vê-la desse modo não é um de meus desejos.
- Desculpe... Estou nervosa por causa do Shiryu. - Eu expliquei, desvencilhando-me de seus braços. Pude ver um brilho impaciente nos olhos de Seiya, mas que logo desapareceu e por isso resolvi ignorá-lo. – Preciso descobrir o que aconteceu de errado.
- Não adianta você se martirizar agora... Shiryu se machucou e não há nada que você possa fazer para modificar a situação. - Ele comentou, espreguiçando-se no sofá. Ah, homens...
- Eu sei, mas ainda posso tentar descobrir o que aconteceu, não é? E encontrar o culpado. - Eu repliquei, colocando a mente para funcionar novamente. Difícil depois de um beijo daqueles...
- Culpado? - Ele me fitou, arqueando uma sobrancelha. Provavelmente não acreditava no que estava ouvindo... Mas era a única explicação! – Está querendo dizer que não foi um 'acidente'?
- Sim... Acredito que temos um traidor entre nós... Alguém que contou o que sabíamos, contou sobre o plano... - Pude ver pela expressão em seu rosto que ele não acreditava.- Expôs a verdadeira identidade de Shiryu.
- Um espião inimigo? Não pode haver um traidor entre nós! Isso é impossível! – Afastei-me disfarçadamente ao ouvir a indignação em sua voz, entendo que ele não queira admitir, eu mesma tinha minhas dúvidas... Mas, no momento, era a única opção!
- Não sei mais o que pensar Seiya... – Minha voz não passou de um sussurro e voltei a me aproximar do corpo quente e confortador, deitei a cabeça em seu ombro, fechando os olhos, vencida pelo cansaço. – No momento, não tenho mais certeza de nada.
