Comunicado Urgente


Autora – Naru L


Saori caminhou apressada pelos corredores silenciosos do hospital. Uma semana havia se passado desde que entrara naquele mesmo local pela primeira vez. 'Uma semana que passou rápido demais...' Não conseguia lembrar a ultima vez que tinha conseguido dormir sem ser acordada por pesadelos que se repetiam. Nunca eram iguais, mas sempre levavam ao mesmo desfecho, a 'Poderosa Atena' acabava morta ou destituída de seu cargo, enquanto os outros agentes riam apontando em sua direção. De qualquer modo, aquilo representava a morte, a Fundação era tudo o que existia em sua vida.

Cumprimentou os seguranças que haviam acostumado-se com sua presença quase diária e continuou na direção do consultório do médico que estava cuidando de Shiryu. Levantou a mão batendo na porta antes de abri-la, encarou o rosto sorridente do médico forçando-se a fazer o mesmo.

– Bom dia, doutor.

– Bom dia, Senhorita Kido. – Ele fez um sinal para que ela sentasse – Finalmente temos boas notícias, seu irmão acordou ontem à noite.

– Fico feliz ao saber disso – Um pequeno sorriso curvou seus lábios enquanto sentava-se na cadeira desconfortável em frente à mesa. Só podia imaginar que todas aquelas cadeiras fossem tão ruins para que os pacientes ficassem tentados a deixar a presença dos médicos o mais rápido possível. – Posso falar com ele?

– Não acho que será possível... – O rosto masculino adquiriu uma expressão séria.

'Ótimo, o que m ais pode ter acontecido agora?'

– O senhor Suyama estava um pouco violento quando acordou... Tivemos que colocá-lo para dormir novamente.

– Eu agradeceria se não usasse 'colocá-lo para dormir' no que se refere a Shiryu... – Ela o interrompeu secamente – Faz com que eu tenha a impressão de que vai matá-lo.

– Sinto muito... – O médico a olhou espantado, remexendo-se desconfortável em sua cadeira – Essa não era a minha intenção... De maneira nenhuma eu—

– Tenho certeza que não – Ela sorriu amavelmente – Apenas continue.

O homem pigarreou desconfortável, antes de levantar. Saori baixou a cabeça, deixando que os longos fios encobrissem seu rosto enquanto um sorriso satisfeito iluminava seu rosto.

– Ele deve acordar no começo da tarde, não haverá necessidade de medicá-lo novamente se não estiver violento.

– Meu irmão disse alguma coisa?

– Apenas chamou por Atena novamente, tem certeza que não a conhece?

– Tenho. Continue.

– Ele está estável, não precisa mais dos aparelhos. – O médico sentou novamente, puxando a pasta que continha as informações do paciente – Tínhamos conversado sobre transferi-lo para outro hospital...

– Sim, acha que isso já é possível?

– Se esse ainda for seu desejo, não vejo contra-indicações. – Encarou a garota e sorriu – Embora volte a dizer que somos um dos melhores hospitais do país—

– Ótimo. – Ela levantou, estendendo a mão para o médico – Vou fazer os preparativos agora mesmo.

– Senhorita Kido? – a voz do médico a alcançou pouco antes que pudesse deixar o consultório. – Importa-se que eu pergunte para qual hospital pretende levá-lo?

– O senhor não deve conhecer, é um pequeno e muito conceituado hospital ao norte. – Sorriu inocentemente – Nosso pai trabalhou lá até sua morte, chama-se Santuário.

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Saori desligou o telefone irritada, seu departamento estava 'parado' desde o incidente com Shiryu. Os chefes diziam que estavam apenas querendo dar a todos a chance de se recuperarem, mas ela estava naquilo por tempo suficiente para distinguir uma mentira quando a via. Recostou-se na cadeira macia massageando as têmporas, podia sentir uma grande dor de cabeça se aproximando.

Shiryu permanecia no centro médico e, por enquanto podia ficar tranqüila. Os outros pareciam ficar atrás dela a cada passo, vigiando e investigando uma brecha em sua habitual postura fria para poderem fazer perguntas que ainda não podia responder.

Shun parecia ter se distanciado, não que fossem muito próximos antes, mas agora tinha algo diferente. Os olhares frios, as palavras murmuradas às suas costas. Tudo aquilo estava mexendo com seus nervos.

Ikky havia 'desaparecido' antes mesmo que Shiryu fosse transferido para o Santuário, mas como parecia se comunicar com os outros vez por outra, achava que não precisava se preocupar com sua segurança...

' Apenas com sua potencial traição' Balançou a cabeça, afastando tais pensamentos e suspirou cansada. Estava acostumada a não depender dos outros, mas desconfiar de seus próprios homens era algo completamente diferente.

Hyoga a estava ignorando fazia algum tempo, sem nenhuma missão o agente fazia questão de ficar o mais afastado possível dos outros. Podia sentir-se congelar a cada olhar frio que o rapaz loiro lançava em sua direção, nos poucos encontros casuais que tiveram naquele período.

– Tudo está desmoronando... – Girou a cadeira, encarando a vista do jardim. – Quando não se pode confiar nos que estão a seu redor... – Seu olhar pousou no rapaz moreno cruzando grama bem cuidada à passos rápidos e decididos, até que desaparecesse do seu campo de visão. – Seiya.

'Sim, ainda há ele... O agitado e aparentemente irresponsável agente Pegasus...'

Seiya estava fechado, mais do que o habitual. Distanciara-se dela desde aquela noite em que havia lhe contado suas suspeitas. Talvez a estivesse considerando como a suspeita com potencial mais alto... Ou talvez estivesse escondendo algo.

– O que está fazendo aqui?

Saori girou a cadeira rapidamente para encarar o rapaz moreno, ajeitou-se em seu assento, disfarçando a surpresa que a entrada impulsiva dele havia causado.

– Trabalhando. O que mais?

– Passa das onze horas. - O rapaz fechou a porta atrás de si antes de aproximar-se da mesa.

– Ao contrário do que vocês gostam de dizer pelas minhas costas. – Olhou para ele, a expressão cheia de ressentimento e cansaço. Abriu uma das pastas de um dos casos que estava fechado há meses e voltou sua atenção aos papeis como se aquilo fosse algo de extrema importância. – Sou mais do que capaz de ver as horas sozinha.

– Que bicho te mordeu?

– Dane-se.

– Vim até aqui ver se você estava bem – Os olhos castanhos estreitaram-se em aborrecimento – Já que sua língua parece estar em boas condições, vejo que foi um desperdício do meu tempo.

Saori levantou a cabeça a tempo de vê-lo lhe dar as costas, suspirou cansada e confusa antes de levantar.

– Espere, Seiya.

– Por que? – Ele parou, mão segurando a maçaneta. Não queria encará-la para demonstrar como aquela reação grosseira o tinha atingido. – Mais insultos que quer despejar sobre mim?

– Não, eu só—

– Está entediada com a falta de trabalho? – Virou-se, finalmente encarando-a com olhos frios – Talvez a pressão dos chefões sobre você e a falta de pessoas em quem mandar a esteja deixando mais insuportável do que normalmente é.

– Já chega, Seiya.

– Não, espere. Já sei. – Cruzou os braços na frente do peito, encostando-se a porta de forma displicente e a encarou com um sorriso sarcástico – Falta de sexo.

Saori corou com as palavras dele pegando-a desprevenida, abriu e fechou a boca algumas vezes sem conseguir falar nada. 'Maldito seja você, Seiya' Apoiou as mãos na pilha de documentos sobre sua mesa, quase cedendo a tentação de atirá-los no chão como uma criança contrariada, mas conseguiu controlar-se a tempo.

– Fora!

– Qual o problema? Acertei?

– Eu disse fora daqui! – Deu a volta na mesa, aproximando-se dele com passos duros. – Tenho coisas demais para lidar, não preciso de seus insultos mentirosos.

– Claro, a 'Poderosa Atena' não precisa de nada... Seja um amigo para conversar ou um homem para aquecer sua cama – Continuou sorrindo quando ela parou à sua frente, mais corada do que antes, os olhos brilhando com a raiva por suas palavras – Como pude cometer um erro assim?

Saori fechou os olhos, tentando se controlar. Podia ouvir o riso baixo e zombeteiro de Seiya o que apenas serviu para inflamar ainda mais sua raiva. Instintivamente sua mão levantou, acertando em cheio o lado direito do rosto dele. Abriu os olhos em terror, nunca antes perdera a calma dessa forma. Deu alguns passos para trás em choque enquanto ele esfregava o local atingido.

– Parece que não é tão superior assim já que partiu para a violência física...

– Saia... – Baixou os olhos sem conseguir encará-lo – Já conseguiu o que queria, me insultou e... – Balançou a cabeça, tentando clarear os pensamentos – Apenas me deixe sozinha, Seiya.

– Apanhar de você está longe do que eu vim buscar aqui, Saori – Com poucos passos ele aproximou-se o suficiente para poder abraçá-la, puxando o corpo inerte contra si – Não seja tão inocente, não combina com você.

Saori levantou as mãos, apoiando-as no peito dele em uma tentativa fraca de livrar-se dele.'Por que tem que ser sempre desse modo?' Estremeceu ouvindo o riso por seus esforços não surtirem efeito e cometeu o erro de levantar a cabeça para confrontá-lo. Os olhos encontraram os dele, cheios de um fogo bem diferente de raiva, os lábios baixaram-se sobre os seus calando qualquer protesto que tivesse em mente, e mesmo que por um breve período ela deixou-se levar pela sensação de conforto que apenas ele a fazia experimentar.

Estava cansada demais para pensar nas implicações daquilo, tudo o que precisava era de alguém para ficar a seu lado e confortá-la. Não importava que tudo estaria acabado em pouco tempo.

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– Saori, acorde.

A garota abriu os olhos confusa com a mão que a chacoalhava carinhosamente. Piscou algumas vezes reconhecendo o escritório e gemeu baixo puxando as roupas contra o corpo.

'Não acredito que fiz isso de novo.'

– Precisa se vestir antes que alguém chegue. – Seiya jogou o resto das roupas sobre a garota e se afastou – As câmeras vão ser ligadas novamente em dez minutos.

– O que quer dizer com isso? – Ela o encarou confusa.

– Eu as desliguei antes de entrar. – ele sorriu, observando-a vestir as roupas rapidamente – Preferia que a segurança tivesse a chance de assistir 'isso'?

– Não, é só... – Terminou de arrumar as roupas, deslizando as mãos pelo tecido em uma tentativa de tirar as marcas de amassado – Você tem o costume de desligar as câmeras de segurança?

– Apenas quando tenho intenção de 'conversar' com você.

– Cretino. – Bateu na mão dele quando o telefone sobre sua mesa tocou – Eu atendo. – Fuzilando-o com o olhar, levantou o aparelho – Alô?... Sim, acabei adormecendo enquanto trabalhava – Afastou-o com um empurrão nada gentil, lançando um olhar de aviso quando ele riu. – Não, está tudo bem, estou indo para casa. – Desligou o aparelho, começando a recolher suas coisas sem lhe dar atenção – Já teve o que veio buscar, imagino. Está livre para partir.

– Você não ficaria tão ranzinza se dormisse mais.

– Tenho trabalho a fazer.

– Claro, estou vendo que seu telefone, como de costume, não pára de tocar.

– Boa noite, Seiya. – Saori virou para sair e olhou irritada quando uma mão segurou seu braço – Se você não me soltar imediatamente, vou começar a gritar.

– Só quero lhe fazer algumas perguntas e depois estará livre de mim.

– Tem cinco minutos.

O rapaz moreno girou os olhos antes de concordar com um aceno, baixou o braço, afastando-se alguns passos.

– Como está Shiryu?

– Melhor... e pior.

– Explique.

– Está consciente o que quer dizer que melhorou. – Ela falou calmamente, sentando-se no braço do sofá ao lado da porta. – Recusa-se a falar com qualquer pessoa, o que não é muito bom.

– Entendo.

– Posso ir?

– Ainda não. – Ele levantou os olhos, a expressão livre de qualquer tipo de sorriso. – Tem novas informações sobre o traidor?

– Nada até agora.

– Eu poderia ajudá-la...

– Dispenso. – Levantou, abrindo a porta em um movimento rápido – Você é um dos suspeitos. – Saiu do escritório com passos apressados, sem querer olhar para trás e ver a reação que suas palavras tinham provocado.

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Seiya continuou observando a garota se afastar em silencio, não poderia culpá-la por considerá-lo um suspeito. Respirou fundo quando a viu entrar no elevador e olhou em volta, procurando algo que tivesse ficado fora do lugar.

Arrumou a pilha de documentos que estavam a ponto de cair no chão com um sorriso nos lábios ao se lembrar o que tinha feito com que se movessem daquele modo descuidado. Estava a ponto de deixar o local quando o fax apitou às suas costas, indicando a chegada de um novo documento.

– Não vou olhar... – Estreitou os olhos, ao ler a palavra Comunicado Urgente no topo da página e antes que percebesse o que estava fazendo, seus olhos percorreram o documento rapidamente – Novo agente?


Naru - Peço desculpas pela demora, mas tive que ameçar pessoas por aí para conseguir novos capítulos.

Espero que gostem, se é que alguém lê isso aqui.