Dilema
Autora- Bella Lamounier
Revisão - Naru L
Entrei em minha sala naquela manhã, decidida a descobrir o que pudesse sobre a situação. Eu sabia o que significava aquelas 'férias' que o departamento estava sofrendo. 'Agente ferido em uma missão simples? Espião'. Não receberíamos mais missões até que isso fosse esclarecido. Eu precisava ser rápida e descobrir o que exatamente tinha acontecido para que tudo desse errado daquele modo.
Ainda com esses pensamentos cruzando minha mente, depositei meus pertences na mesa enquanto meus olhos examinavam os papéis deixados ali. Como um imã, meus olhos foram atraídos por uma folha com o timbre da central. 'Comunicado Urgente...' Peguei o papel e comecei a ler. Meus olhos foram se arregalando à medida as palavras faziam sentido. 'O QUÊ? Novo agente? 'Cobra'... Nunca ouvi falar... Mandariam um novato para o serviço?'
Precisava descobrir o máximo de informações o mais rápido possível, antes que a tal agente chegasse. Isso seria um perigo para mim... Enviar alguém de fora da equipe para investigar significava que eu era suspeita. Além de ameaçar minha posição, essa 'Cobra' poderia trazer problemas... Nenhum dos agentes sequer olhava em minha direção mais do que o necessário, com a chegada de um outro integrante a situação só iria piorar. Provavelmente criariam problemas. Alguém enviado para substituir Shiryu era sinal de que os superiores tinham perdido as esperanças de que o 'Dragão' voltaria. 'Eu não preciso disso agora'.
Parada diante do armário de arquivos, eu remexia alguns papéis. Meus olhos percorriam os nomes de cada um deles enquanto pensava quem teria motivos para me trair. 'Ogawara Seiya...' A razão das equipes serem tão pequenas era justamente evitar coisas desse tipo 'Amamiya Shun...' Na realidade apenas facilitar as coisas caso algo desse tipo acontecesse 'Amamiya Ikky...' No momento que houvesse alguma prova real de que havia um traidor entre nós e eles não conseguissem identificá–lo 'Suyama Shiryu...' Todos seriam considerados suspeitos em potencial e caçados. 'Hyoga Alexei...'
Talvez o problema não estivesse em minha equipe, talvez tivéssemos feito algo para irritar algum dos chefões? 'Seriam capazes de forjar provas apenas para nos eliminar? Estou ficando paranóica... Melhor me concentrar nos mais próximos' Seiya? Ele podia ter ficado sabendo depois... Hyoga agiu um tanto suspeito... Como ele sabia da nossa discussão? E ele me odeia o suficiente para tentar me prejudicar...
– Droga... Estou me sentindo frustrada... Pode ser qualquer um! – Eu resmunguei para o nada.
– O que pode ser qualquer um? – Escutei aquela voz abominável vindo da entrada. 'Droga!' Eu não tinha trancado a porta? Como aquele chato tinha entrado?
– Hyoga. O que está fazendo aqui? – Eu perguntei cautelosamente. Se ele não sabia o que eu estava fazendo, era melhor mantê–lo na escuridão. Afinal, todos são suspeitos.
– Não respondeu minha pergunta. – Ele retrucou friamente. Tive vontade de girar os olhos. 'Será que ele nunca cansa?'
– Informação confidencial. Agora, o que faz aqui? – Repeti a pergunta com a mesma frieza. Não podia dar abertura para aquele homem... Afinal, ele sempre estava com uma pedra na mão... E eu sempre era o alvo.
– Informação confidencial. – Ele zombou, cruzando os braços. Eu estreitei os olhos, ligeiramente irritada.
– Fale logo o que quer ou saia. Não tenho tempo para suas implicâncias sem fundamento. – Ordenei, tentando colocar um pouco de autoridade. Eu era a chefe afinal de contas! Um mínimo de respeito seria bem vindo. Já estava cansada da antipatia inexplicável de Hyoga. Bem... Inexplicável não... Eu sabia muito bem que o machista odiava o fato de eu ter sido a líder em vez dele, mas não precisava ser tão irritante.
– Você sabe muito bem que estou aqui por causa do Shiryu. Quero saber porque você o mandou naquela missão. – Ele respondeu com a voz elevada, fazendo com que eu arqueasse a sobrancelha, largasse os papéis sobre uma mesa e me virasse completamente para ele. Se ele queria discussão, era isso que teria. – Ele lhe disse que precisava de apoio.
– Pois saiba você, Cisne, que a falha na missão de Shiryu não teve nada a ver com o fato de ele ter ido sozinho! Mas se isso for muito para sua mente machista e simplória entender, não sou eu que vou explicar! – Falei asperamente, vendo a raiva nos olhos azuis. Eu sabia que meu rosto devia estar vermelho e meus orbes esverdeados, brilhando com a ira que sentia. Sem que eu pudesse controlar, as palavras deixaram meus lábios. – Você parece saber demais sobre assuntos que não lhe dizem respeito.
Notei os olhos azuis estreitando–se quando ele compreendeu a insinuação por trás de minhas palavras. 'Dane–se, estou cansada!' Quem disse que eu precisava ser sempre fria e superior enquanto recebia ataques infundados?
A postura dele mudou, o que fez um alarme soar em minha mente, mas como sempre eu ignorei. Contendo o instinto de chamar por alguém, continuei a encará–lo enquanto sentia como se farpas de gelo penetrassem meu corpo saindo dos olhos extremamente azuis que me encaravam.
– Você fala demais, Atena. – Ele finalmente falou em tom baixo, raiva misturada com algo que não identifiquei a princípio.
– Isso é simples de resolver. – Desviei minha atenção para os papéis em cima da mesa, como se a presença dele fosse desnecessária. – Dê meia volta e deixe–me sozinha... Vai resolver seus problemas quanto a me ouvir falando demais.
Silêncio... 'Finalmente alguma paz.' Pensei em ocupar–me com algo até que ele fosse embora, mas sabia que isso apenas o irritaria ainda mais. Uma parte de mim dizia que Hyoga, assim como os outros e até eu mesma, estava apenas querendo saber o que levara ao estado de Shiryu, pois os dois eram grandes amigos... Mas então, como eu poderia desconfiar que ele faria algo assim? 'Mesmo que não goste de mim, não acho que Hyoga faria isso com o 'Dragão'. Será que estou julgando mal? Ai... É tudo tão confuso...' Pensei, irritada comigo mesma. Por quê tudo que eu deduzia acabava sendo tão contraditório no final?
–Então me diga, senhorita sabe tudo! – Aquela odiosa voz, carregada com o sarcasmo e desrespeito habitual soou novamente, provando que aquela pequena batalha não havia terminado – Qual foi o motivo da falha de Shiryu? – Ele perguntou, tentando conter a raiva.
– Informação confidencial. – Não pude conter a vontade de devolver as provocações que Hyoga havia feito. 'Por que ele não podia simplesmente me deixar em paz?' Mas não esperava a reação rápida que me pegou desprevenida...
Ele segurou meu braço com força e levantou a mão, não duvido nada que fosse para me acertar no rosto. No entanto, Cisne era um homem honrado, apesar de tudo. Não bateria em uma mulher. Acho que foi isso que segurou sua mão no meio do caminho. Na verdade, há poucos centímetros do meu rosto. Talvez fosse a minha expressão assustada... Não sei dizer ao certo.
Ele abriu a boca para falar algo, mas naquele momento Seiya adentrou a sala. Parou com os olhos arregalados ao ver a maneira que ele me segurava e a mão no ar. Realmente deve ter sido um choque para quem visse a cena... Ainda mais pelo meu rosto vermelho de raiva e os olhos dele, brilhando com o mesmo sentimento.
Hyoga me soltou antes que Seiya pudesse dizer algo e passou pelo companheiro sem nem olhar em sua direção. Seria vergonha? Medo de perder o controle e começar a discutir novamente? Hyoga era tão imprevisível... Não entendia o que se passava por sua cabeça.
Quando Cisne bateu a porta, Seiya veio em minha direção com os olhos preocupados. Não falei nada quando ele segurou meu braço e examinou a marca que Hyoga deixara.
– Isso vai ficar roxo... – Ele comentou, tirando de mim um suspiro. No momento, eu estava mais preocupada evitar que meus agentes fossem assassinados do que com um hematoma qualquer. 'Sim, eu sou fraca. Eles podem me odiar e ainda assim eu me preocupo com sua segurança.' – Sobre o que discutiam?
– Não é nada, Seiya. – Eu respondi vagamente. Não queria que palavra nenhuma do que falávamos escapasse daquela sala. Não podia deixar o traidor descobrir sobre minhas desconfianças.
–Não pode ser 'nada'! Hyoga ia te bater! Eu vou lá falar com ele e... – Ele começou a tagarelar e eu girei os olhos. 'Síndrome de herói não, por favor! Eu sei cuidar de mim mesma.' Tirei meu braço das mãos dele.
– Esqueça, Seiya. Não vale a pena. – Com isso ele se calou, mas pude ver pela expressão em seu rosto que a última coisa que Pégasus pretendia fazer era 'esquecer'. Suspirei e deixei para lá. Não ia adiantar tentar coagi–lo a desistir do assunto.
Preciso me concentrar nos suspeitos, nas razões que levariam alguém ligado à fundação de traí–la desse modo. O novo agente que chegaria em pouco tempo para me seguir, avaliando cada passo em falso que eu pudesse dar. Eu já tinha problemas demais para me preocupar com um súbito ataque de machismo e proteção.
'Preciso me concentrar na investigação.' Repeti para mim mesma. ' Mas por onde começar quando todos são suspeitos?'
Nota - Obrigada pelas reviews, pessoas.
Ficamos felizes por ter pessoas lendo e gostando.
O Ikky não sumiu não, o próximo capítulo é dele e vocês poderão saber o que ele esteve fazendo.
Beijos,
Naru
