Uma tristeza bate em mim. Eu não quero acreditar que os meus dias naquela vida estavam acabando. Eu era feliz com a minha familia. Eu amanha minha mulher e meus filhos. Julie era um amor de criança, a filha que eu sempre sonhei ter. Eu saio da porta e começo a passear pela casa vendo se tudo estava trancado, antes de ir dormir. Eu queria me certificar que eu estava trancado, tentando ficar protegido da minha vida. Da minha vida sozinha, da minha vida sem ela. Eu desço os degraus indo até a cozinha me certificando que não havia deixado nada ligado. Eu ando olhando algumas fotos as quais eu nunca pude presenciar, mas que eu deveria estar presente. Eu sorrio segurando o porta-retrato imaginando como foi o primeiro aniversario de Julie. Nós deviamos estar babando pela nossa pequena. Eu ando mais um pouco e vejo fotos de quando nós eramos apenas namorados. Como eu tenho saudades daquela epoca. Tudo foi tão maravilhoso. Apesar das coisas que aconteceram. Eu vou até o meio da sala escura, e dou uma última olhada em tudo, antes de subir as escadas novamente. Eu passo os degraus calmamente, até chegar a porta do quarto, onde entro e a vejo na mesma posição. Tadinha. Eu tinha acabado com ela. Sem fazer barulho, eu vou até o banheiro e me encaro no espelho grande. É incrível como ali tudo se encaixa perfeitamente. A minha escova ao lado da dela, meu creme de barbear, dosodorante e perfumes de um lado da pia, e do outro, os vários cremes e potes dela. O armário em frente ao espelho é corretamente divido ente nós dois. Eu abro a torneira e dou um leve banho de água fria no meu rosto. Eu não aguento mais essa sensação. Eu precisava chorar, eu precisava falar com Gamma. Sem saída, eu deito na cama, me aproximando do corpo dela. Eu a cubro com o lençol e a abraço sentindo ainda o cheiro de shampoo no seu cabelo. Ela se acomoda em meus braços, mas sem acordar. Eu estava com medo de dormir e acordar onde eu não queria estar. Eu precisava daquela vida, ela era perfeita, tinha tudo o que sempre sonhei. Meus olhos começaram a ficar pesados de sono mais eu buscava forças. Lutava contra esse sono, tentando de alguma forma me manter acordado pra não despertar do meu sonho. Mas de repente eu sinto o meu corpo se entregar entrando no mais profundo sono. Minha noite é agitada, e eu me movo pela cama a todo momento, mas não acordo completamente em nenhum instante. Quando eu finalmente abro os meus olhos, incomodado pela luz do sol e por um som ensurdecedor eu logo entro em desespero. Eu fecho os olhso mais uma vez, piscando pra ver se aquilo era mesmo um sonho. Eu coloco minha mão do lado e percebo que ela não eta mais lá. Me levanto rapidamente, ficando sentado na cama e vejo que estou mais uma vez no meu quarto, na minha cama, mais uma vez só. Eu sinto meus olhos marejarem de lagrimos, a minha bochecha arder, meu corpo começa a tremer involuntariamente, eu estou entrando em desespero. Busco na minha mente alguma forma de tentar voltar ao futuro, mas não encontro nenhuma solução. Ainda imóvel e perplexo, apoiando os braços na minha própria cama, eu olho ao redor e me vejo desesperado. Será que acabou mesmo? Eu levanto da cama e dou uma rápida volta pela casa, sem perder a esperança de encontrar uma daquelas criaturas que eu amava tanto. Em vão. No fundo, no fundo eu sabia que ali era o fim da linha. Havia acabado o meu sonho, acabado o meu desejo e com tudo isso, acabado também a minha felicidade. Eu voltei pro meu quarto e involuntariamente comecei a chorar. Chorava como uma criança. Como uma das minhas crianças. Chorava como Brad chorava de fome, ou como Julie, quando queria sorvete. Chorava como Abby quando tinha medo. Eu trouxe minhas mãos até o rosto, querendo esconder de mim mesmo aquele sentimento. Eu sinto um vento entrar pela janela do meu quarto e eu abro meus olhos tentando ver o que era. Uma luz ficava mais forte e o vento não parava, bagunçando todo o meu quarto. Eu me seguro na cama até que instantaneamente tudo aquilo para. Eu olho pra minha cama e vejo na minha frente um papel dobrado. Seria algum sinal! Pego o papel com cuidado, abrindo e examinando o que estava escrito nele.
John, não esqueça que hoje às 10 horas vamos ao hospital ir falar com a obstetra e fazer a primeira ultra-sonografia do nosso bebê
Te amo
Abby
Hoje? 10 horas? Onde? Como? Eu me desespero por saber que não vou poder estar ao lado dela. Ela estava com tanto medo. Eu prometi que ia ficar do lado dela. Eu precisava ir pra lá, precisava conseguir voltar, nem que fosse apenas por alguns minutos.
Eu liguei a TV para me situar no tempo e percebi que nada mudara. Eu estava na manhã seguinte do dia em que dormi pensando nela. As coisas por aqui estão como antes, meu apartamento uma bagunça como sempre. Eu vou até o banheiro da minha suíte e lavo o meu rosto, assim como tinha feito na noite anterior, quando ainda estava na presença dela. O meu armário já não é mais divido. É todo meu. Eu nem tenho muitas coisas para colocar nele, e por isso, numa parte dele não existe nada. Na pia, apenas a minha escova de dentes e a pasta com a tampa aberta. Não há mais o seu perfume, o cheiro de seu shampoo. Não vejo mais brinquedo espalhado pelo chão da casa, muito menor o barulho da risada da minha filha. Tudo está muito calmo e silencioso. Eu saio do banheiro e volto ao meu quarto, tentando colocar minhas idéias no lugar, mas quanto mais eu pensava, mais batia uma saudade no meu peito da vida que eu experimentei por tão pouco tempo. Vou até um armário e procuro por alguma coisa pra vestir, afinal eu ja deveria estar no trabalho, caso não me falhe a memória. Porem, quando eu torno a me virar, vejo na minha cama a imagem de minha avó segurando em seus braços o meu pequeno bebê. Eu vou me aproximando pra tocar nele. Mas ela me impede.
"John.. fique aonde está! Não se aproxime!"
"Mas.."- eu tento dizer algo, mas ela faz aquela expressão e eu sinto que tenho que me calar.
"Apenas, me escute. Seu tempo acabou, minha missão acabou. Eu sei que é difícil dizer adeus a uma vida que eu sei que você percebeu que é o que quer. Só que você não poderá voltar a ela..."- enquanto ela ia despejando aquele sermão em cima de mim, eu só pensava em chorar. As lágrimas quentes escorriam pelo meus rosto, meus olhos fixos num ponto da janela. Minha atenção era poucas vezes desviada por algum som que Brad fazia.
Eu precisava. Ela iria me ajudar, iria me atender.
"Gamma" - eu disse, interrompendo-a , enxugando as minhas lágrimas.
" Diga"- ela ajeitou Brad no colo, olhando-me firmemente.
" Gamma, eu preciso voltar- eu mostro-lhe que há pouco tinha encontrado sobre minha cama." - Ela o pega, lendo sem dar muita importância.
"Filho, eu não preciso saber disso por um papel..."
"Eu sei, Gamma, eu sei...mas- eu soava desesperado- eu preciso voltar, eu preciso estar com ela nessa momento, eu prometi a ela."
" Você sabia, John, você sabia todo o tempo que a qualquer momento teria de voltar pra cá..."- ela me repreendeu.
"Eu sei, Gamma, mas...- eu voltei a chorar compulsivamente- eu prometi. Ela está com medo, eu preciso ficar do lado dela."
"Não se preocupe quanto a isso. Aquela Abby grávida, que estava assustada com o nascimento de seu bebê não existe mais. "
Eu senti um arrepio no meu corpo. Eu não gostava nem de pensar naquela possibilidade de que tudo não passava de um sonho.
"Eu sei... eu sei.. – eu falei soluçando. – Mas é uma coisa que eu preciso cumprir, por mim, por nós. Eu estou sentindo um vazio enorme no meu peito, uma coisa que eu não consigo nem explicar. Pra mim aquela vida ainda existe em algum lugar..."
"Eu lhe avisei que o seu tempo estava acabando. Você experimentou todas as emoções possíveis. Eu até lhe deixei mais tempo do que você realmente teria."
"Mas não poderia me conceder só uma exceção? Eu preciso segurar na sua mão mais uma vez e dizer que eu a amo mais que tudo. Eu preciso me despedir dos meus filhos..."
"Hum... me dê um minuto."
Minha vó fica calada, pensativa, como se estivesse conversando com alguém que não estava no meu quarto. Enquanto eu espero, eu vejo Brad olhando pra mim sorrindo. Ele estava me reconhecendo.
"Por favor, Gamma, nem que seja a última coisa que eu faça na vida. Eu preciso tê-la como minha novamente."
"Carter..."- ela se levantou da cadeira, vindo em minha direção.
"Por favor, Gamma. É a única coisa que eu lhe peço. Eu preciso estar com ela. Ela precisa de mim e eu preciso dela."- eu deixei uma última lágrima cair antes que finalmente falasse.
"Certo - um sorriso instantaneamente plantou-se no meu rosto- vou abrir uma exceção eu deixá-lo fazer isso. Mas escute bem- ela me encarou- você só terá uma hora, Carter. Uma hora! Nada mais do que isso. E depois, nunca mais a verá novamente, nem as crianças. Isso tem que acabar."
"Então.. como vou fazer pra voltar lá!"
"Não se preocupe quanto a isso. Quando você menos esperar você estará ao lado de sua mulher e poderá se despedir dela. Mas lembre-se, nunca revele que você nunca ais vai ve-la, ou algo do gênero."
"Não se preocupe quanto a isso... eu não falarei nada."
"Se aproxime de mim... "
Eu me levanto da cama e vou ate onde ela estava sentada.
"Você tem certeza que quer fazer isso?"
"Sim, claro."
"Segure Brad.." – ela fala me estendendo o meu filho.,
Eu o ajeitei no meu colo, dando um leve beijo em sua testa. Ele parecia normal, como antes. Não era nenhum espírito ou coisa assim. Ele me mandou mais um sorriso e eu encostei o meu nariz no dele, arrancando mais um sorriso daquele rostinho.
"Ele adora quando você faz isso..."- eu escutei ela me dizer.
Não pode ser! Foi tão rápido. Mais nenhum vestígio da minha avó. Eu estava de volta aquela vida. Eu estava com ela, estava com meus filhos. Meus olhos contiveram as lágrimas e eu a abracei forte.
Pelo que eu podia ver nós estávamos no hospital, eu estava na porta, parecendo um recém chegado.
"Achei que você não vinha mais...Colocou a Julie direitinho na escola?- ela me perguntou, segurando uma ficha, perto de uma porta, que indicava seu obstetra."
"É lógico...eu não sou tão irresponsável..."- eu lhe mandei um sorriso irônico.
"Não, magina. Quase perde o meu ultrassom..."- ela fez um biquinho e eu não resisti em me aproximar dela, mesmo com Brad no colo.
"Não faz assim que eu não respondo pelos meus atos..." – eu falo baixinho no seu ouvido.
"Noosssa! Ja esta assim? Não bastou ontem a noite! "– ela falou envergonhada.
"Com você eu nunca me canso. E o suficiente não é o bastante."
"Abigail Carter? Ja pode entrar, a Dra. Campbell ja esta te esperando."
"Obrigada" – ela fala se levantando. Eu a abraço e nós entramos juntos no consultório.
"Olha quem esta aqui – a medica fala levantando-se pra nos cumprimentar. – Se não é o Brad! – ela fala fazendo gracinha pra ele. – Ele ja esta enorme!"
"Ei, Carter "- ela vem até mim e me dá um beijo no rosto, deve me conhecer há algum tempo. Eu retribui e até dei Brad para ela segurar um pouco. "Como você está forte, garoto!" - ela parecia ter muita intimidade com ele.
Agora eu percebi que era um rosto familiar e lembrei da fita. Ela tinha feito o parto de Brad. Quem sabe o de Julie também? Eu estava muito feliz para ver quem era a médica. Ela me devolveu o menino, sentado em sua cadeira.
"Quer dizer então que a fábrica ainda não fechou?"- ela me olhou com um sorriso, pegando das mãos de Abby o resultado de um exame.
"Acidentes acontecem..."- Abby disse, sentando-se também.
"Então.. das duas ultimas vezes o pai acertou o sexo do bebê. Quando a gente for olhar isso a gente vê se você vai estar certo.Alguma opinião Carter?"
Uma sensação triste invadiu meu corpo, eu sabia que não poderia saber nunca qual seria o sexo do bebê, muito menos coloca-lo em meus braços. Eu olho pra Brad e ele esta brincando com o meu celular. Eu sorrio à aquela imagem.
"Acho que vai ser outro menino..." – eu falo ao ver meu filho sorrir pra mim.
"Dois meninos Abby. Você agüenta isso!"
"Claro, claro.. é bom ter homens nos quais a gente possa mandar." – ela fala rindo.
"Bom, vamos logo com isso, não?- ela fez algumas anotações da ficha- sua pressão, como está?"- ela perguntou, olhando para mim.
"A minha?"- eu perguntei confuso. O que minha pressão tinha a ver com isso. Logo eu vi as duas caírem na gargalhada.
"Não, ao menos que você queira ter esse bebê."- a Dra. zombou de mim- a sua, Abby- ela perguntou, agora sim olhando para ela.
"Boa" - ela respondeu, descruzando as pernas.
"Certeza?"- a médica pergunta desconfiada
"Sim, sim, está ótima" -ela atestou com mais convicção dessa vez.
"Então vamos dar uma checada.."
Ela se levantam e eu a vejo sentar na maca, enquanto a médica vai pegar o aparelho pra medir sua pressão. Eu viro a cadeira ficando de frente pra ela, eu não queria perder mais nenhum segundo nesta vida.
"Hum... 12 por 8."
"Não falei? Igual a de uma criança.. esta perfeita." – Abby fala sorrindo.
"Vamos ao que interessa!" – a medica falou indo ao telefone chamar uma enfermeira pra ajuda-la.
Eu me levanto e vou até onde Abby esta, lhe dando um beijo e ficando ao seu lado. Ela se deita e a enfermeira entra pegando um gel e subindo a roupa da Abby para passar o produto na sua barriga.
"Gelado!" – eu falo vendo sua careta.
"Pode apostar..deveriam passar isso em você"- ela diz, apertando a minha mão, enquanto a médica começa a rolar o aparelho pelo abdômen dela e eu posso começar a ver algumas manchas na tela.
Devagar, eu começo escutar um barulhinho suave. Eu olho para Brad, que está incrivelmente com os olhos presos na tela. baixando um pouco meu olhar, eu já posso ver Abby caindo em lágrimas.
"Está aí...- a enfermeira pára o aparelho num ponto baixo da barriga de Abby e finalmente a médica confirma- está aí o coraçãozinho do mais novo Carter."
Eu vejo Abby apertar mais a minha mão. Isso me aperta mais o coração. Eu quero ficar ali, eu quero estar com ela.
"Quem sabe, Carter? Quem sabe dessa vez você não consegue finalmente fazer o parto do seu filho?"
"Eu? - eu nem tinha imaginado essa possibilidade. - Seria.. perfeito!" - eu falo ainda com os olhos fixos naquela imagem.
"Nós vamos trabalhar nisso. Você me pediu da ultima vez, mas não deu certo. Dessa vez você vai fazer o pre-natal junto com ela."
"Obrigado" - eu falo sorrindo só com a possibilidade de fazer aquilo alguma vez na minha vida.
Ela se senta na cama e o Brad vai pro seu colo.
"Vocês vão querer que eu arranje a primeira foto do bebe de vocês?"
"Claro que sim!" - eu falo num impulso.
Abby sorri pra mim um pouco assustada, mas ela logo relaxa e sorri novamente.
Nós esperamos alguns minutos. Eu já estava impaciente. Me faltavam um pouco mais de 40 minutos sair daquela vida. Eu não queria, não podia perder tempo. Finalmente ela volta com o envelope e o dá a Abby que já tinha se posto em ordem.
Aqui está. Vejo vocês em uma semna, para o começo do pré-natal, certo?- ela agora tem uma expressão séria e olha novamente para mim- E vamos ficar de olho nessa pressão, ok?
Na minha, antes que você pergunte- Abby riu com a médica, do meu "fora" anterior.
Certo... - eu falo pegando no meu cabelo envergonhado.
Ela se aproxima de mim e me da um beijo.
"Fica assim não.. eu entendo a sua preocupação." - ela me fala sorrindo. A cada segundo que eu passava com ela eu sentia que estava ficando cada vez mais apaixonado. Como podia acontecer aquilo?
"Vamos!" - eu falo segurando seu braço.
"Pra onde!" - ela fala pegando sua bolsa.
"Você verá... Tchau Dra." - eu falo me aproximando da medica e cumprimentado-a
"Foi bom revê-la."
Nós saímos rapidamente da sala e do hospital. Eu estava visivelmente apressado. Logo achei o carro no estacionamento, pus Brad na cadeirinha para a escola de Julie.
"O que você vai fazer, seu maluco?"- ela perguntou, confusa, quando eu parei no portão da escola.
"Pegar a Julie..."- eu disse, saindo do carro apressadamente.
"Pra que? Ela está na aula!" - ela ficou gritando confusa no carro e eu sai correndo, pegando Julie sem demora.
"Julie! – eu apareço na porta da sala dela. Ela vem correndo até os meus braços". – Pegue sua mochila, nós vamos fazer um programa diferente hoje.
"Sr. Carter?" – a professora se aproxima de mim assustada.
"Desculpe interromper sua aula, mas eu preciso pegar minha filha... "
"Tudo bem..." – ela se afasta de mim.
"Estou pronta pai! – ela fala pulando nos meus braços. – Você é o melhor pai do mundo!" – ela fala me dando um beijo. Eu não posso deixar de sorrir coma quela afirmação.
Eu me aproximo do carro, abrindo a porta pra ela entrar.
"Oi mãe. – ela fala dando um beijo em Abby – Oi bebê! Onde nós estamos indo?" – ela pergunta pulando no meu pescoço.
"Nem eu sei.." – Abby fala olhando pra Julie.
Eu olho sorrindo para aquelas duas que estão nas minhas mãos. Eu as decepcionaria se as levasse para lugar algum? Era uma necessidade minha, não delas. O que eu faria?
Não me importei com isso. Não importava o que elas iriam pensar. Eu fui pegando o caminho de casa, arrancando mais algumas feições confusas das meninas.
Abby começa a passar uma mão na outra nervosamente, olhando de vez em quando pra mim. Ela praguejava algo em relação ao que fazer durante o dia, mas eu só ficava ouvindo o que ela conversava com Julie. Eu chego em casa, estaciono o carro, abro a porta pra Abby sair, tiro Julie do banco de trás, colocando Brad no meu colo.
"John...!" – Abby fala ainda parada ao lado do carro.
"Não temos tempo a perder " - eu falo lhe dando um abraço e a conduzindo pra dentro da casa. Eu olhei pro relógio angustiado e vi que faltava um pouco mais de vinte minutos pro meu sonho acabar.
"Me esperem aqui!" – eu falo deixando-as na sala.
"O que o papai esta fazendo!" – eu ouço Julie perguntar curiosa pra Abby.
"Não sei meu anjo... "
Eu vou até meu quarto pegar o que eu não sei. Eu olho uma última vez pra aquele quarto, os móveis, a textura da parede. A cama. A cama onde tantas noites eu fui feliz. Onde eu dormir ao lado dela, onde eu fiz amor com ela. Passo pelo banheiro, vendo uma última vez o "box", onde eu passei os primeiros momentos hilários daquela vida. Eu vou até o criado-mudo e abro a gaveta, eu não sei o que estou procurando. Eu olho, remexo nas coisas, nos papéis. Eu estou perdido. De repente eu avisto uma caixa pequena dentro da gaveta. Minha curiosidade quase me mata então eu a tiro de dentro e subo até a altura do meu rosto, para poder examina-la. A caixa pesa muito, parece que tem chumbo. Eu me preparo para abri-la e quando estou quase abrindo, escuto um barulho na porta e me assusto, deixando a cair sobre o assoalho de madeira.
"John!" – Abby fala se aproximando.
"Abby? Eu pedi pra vocês me esperarem.."
"Eu sei.. – ela fala se aproximando e recolhendo a caixa – É que você demorou muito..." – ela fala olhando pro chão que estava marcado pela queda da caixa.
"Depois eu mando consertar isso "– eu falo olhando pra ela abraçando a caixa.
"Não tem problema não.. mas, o que você fazia com isso!" – ela fala abrindo a caixa e olhando pro que tinha dentro dela.
"Eu estava olhando..." – eu falo tentando ver o que tinha dentro. Ela olhou pra mim sorrindo, fechou a caixa e me entregou.
"Isso eu percebi -ela me deu um sorriso maroto- guarde isso antes que as crianças vejam!"
"Sim, sim" - eu devolvi a caixa dentro da gaveta, furioso por não ter conseguido ver o que tinha dentro. O que seria de tão misterioso?
"A Julie está louca da vida, não entendendo nada. Aliás, eu também estou. Afinal por que tudo isso?"
Eu estava sem saída. Que desculpa eu daria. Eu pensei um pouco, mas a cada olhar, ela me fuzilava mais ainda. Eu resolvi soltar qualquer coisa.
"Eu..." - a voz de Jule me interrompe lá de baixo.
"Mãããããããããe! O Brad tá chorando!"- salvo pelo gongo!
Abby virou os olhos e saiu do quarto. Eu fiquei na dúvida se ficava mais um pouco e finalmente descobria o que tinha dentro daquela caixa, mas resolvi descer atrás dela para evitar mais problemas. Abby correu, colocando Brad nos braços, enquanto eu percebia que ele se acalmava lentamente. Eu corri pra escadas, subindo de novo e indo pegar a caixa, colocando-a debaixo do meu braço. Do lado dela tinha um canivete e eu o coloco no bolso, eu só tinha mais quinze minutos, precisava me despedir da minha familia. Eu vou ate as escadas e olho que Abby estava pegando agua na geladeira. Eu aproveito pra abrir a caixa. Eu não acredito no que vejo e a coloco rapidamente dentro do meu bolso. Eu desço as escadas correndo, puxo o braço de Julie e chamo Abby pra ela vir até o jardim. Eu me aproximo de uma arvore, onde meu cachorro dormia ao lado com a barriga pra cima. Eu sorrio a aquela cena. Abby chega no quintal, com Brad no colo e para na minha frente com mil duvidas na sua cabeça.
"Bom.. – eu começo passando a mãos pelos cabelos de Julie. – Eu estive pensando nos últimos tempos, e hoje me bateu uma vontade de fazer uma coisa que eu quero que seja inesquecível para o resto de nossas vidas."
"O que pai?"- Julie pergunta, sem me olhar muito, observando o cachorro quase roncando.
"Diga, John..."- ela percebeu que eu não estava bem. Aquele olhar de compreensão que tantas vezes ela já tinha me dado. Ela colou um braço nas minhas costas, se aconchegando nos meus braços. O bebê parecia sonolento eu eu soube que aquilo estava chegando realmente ao fim. Eu tinha de falar, eu tinha de fazer.
Eu não pude conter as lágrimas nos meus olhos. A cena a minha frente, a minha vida perfeita. A minha vida com amor. Eu queria tanto poder ficar ali pra sempre.
Julie sentou na grama, e Abby colocou Brad perto dela, se abaixando perto deles. Eu aproveitei e também sentei na grama. Eu pego nas mãos de Abby que senta Brad na grama, ele cambaleia de um lado pro outro, mas finalmente fica firme. Ele olha pra mim sorrindo e começa a brincar com sua roupa. Eu olho pra Julie que esta pegando na grama e procurando pelas formigas, ela levanta seu rosto e olha pra mim soltando um sorriso. Abby ainda esta seria olhando pra mim. Eu seguro sua mão mais firme, lhe dando um beijo e ela passa a mão na minha bochecha, ela estava preocupada comigo.
"Hoje eu acordei com uma vontade de reunir toda a minha família. Não sei explicar bem o porque.. eu precisava conversar com cada um de vocês... – a expressão de Abby melhorou mais ela ainda olha fixamente pra mim. - Sabe quando a gente olha pra trás e não acredita ate onde conseguimos chegar? Alguns dizem que é imponível conseguirmos realizar todos os nossos sonhos durante a vida. Mas eu acho que consegui essa proeza... "
"Papai está querendo alguma coisa..."- Abby sussurrou num tom alto para Julie e ela sorriu. Eu fechei um pouco a cara e ela percebeu que eu tinha ficado meio chateado com o comentário.
"To brincando, amor!"- ela sorriu e me deu um beijo, tirando sons estranhos de Julie.
"Eca!"
Brad começou a se mexer muito na grama até que caiu e começou a engatinhar. Ele foi ficando cada vez mais afastado de nós e Abby já não estava tão concentrada em mim como no início. Um olho em mim, vinte em Brad.
"Abby, presta atenção."- eu olhei firmemente nos olhos dela e ela me encarou. Brad instantaneamente volta a ficar do nosso lado, me fazendo sentir um alivio enorme. Eu o coloco no meu colo, evitando que ele fuja de novo.
"Você pode achar banal, o que eu vou falar, que eu estou querendo algo, ou qualquer outra coisa. Mas eu estou com esse necessidade de lhes falar. Quando eu acordei e me dei conta de que minha vida não é nada sem vocês, me fez ver o quão sortudo eu sou por ter uma familia assim..."
"Eu não quis falar pra te magoar..."
"Shhhh.. – eu toco nos seus labios, sorrindo. – Eu sei... Quando eu acordo e sei que vou ter a sua presença ao meu lado, que eu vou ter minha filha pra brincar e ve-la sorrindo, que eu vou ter o meu bebê engatinhando pela casa, me da mais vontade de viver por vocês.. Eu não posso mais me imaginar vivendo sem uma família como essas."
"John, você sabe que nós te amamos muito. Eu te amo mais do que tudo e é por isso que nós temos essa família linda, nossos filhos saudáveis, felizes. Eu também sei que não viveria sem isso. E se hoje eu não tivesse isso, eu correria atrás. Você imaginou se você nunca tivesse corrido atrás e se nós não tivéssemos tido aquelas loooongas conversas, se não tivéssemos nos perdoado. O que seria a nossa vida hoje? Sozinhos, infelizes..."
Eu estremeci aquelas palavras. Ela descreveu tudo o que eu vinham passando aqueles meses. Mas ela me alertou. " Eu correria atrás". Era isso que eu deveria fazer, correr atrás. Julie acompanha com a cabeça todas as nossas palavras sem interromper um so instante.
"Eu acho que seria a pessoa mais infeliz do mundo" – eu disse deixando escapar uma lagrima.
"Papai.. – Julie fala levantando-se – Você sabe que nós te amamos muito né! – ela fala sentando-se no meu colo ao lado de Brad e enxugando com seus pequenos dedos minha lagrima. – Nós estaremos sempre aqui pro que você precisar." – eu abraço minha filha. Como ela podia ser tão incrível. Eu olho pra Abby,que toca mau braço, sorrindo. Eu olho pro meu relógio que faltavam um pouco mais de cinco minutos pra eu ir embora.
"Eu nem preciso falar o quanto eu te amo" – eu falo dando um beijo em Julie e colocando no chão antes de me levantar. Abby se levanta em seguida, indo até arvore onde eu estava me dando um abraço.
"Porque você esta tão pensativo hoje!" – ela fala me dando um beijo. Eu não posso mais aguentar. As lágrimas começam a explodir nos meus olhos.
"John" - ela me conforta num abraço e por trás dela, eu vejo Julie ajudando Brad a dar quase seu primeiro passo- "Não fica assim, nada vai acontecer com a gente."
Eu encaro os olhos delas, cheios de esperança, colocando a mão sobre o próprio abdômen. Eu junto a minha mão a dela, acariciando aquele novo ser. Por um momento eu jogo a minha atenção aqueles dois novamente e vejo Brad cair sentado, começando a coçar os olhos. Ele estava com sono, meu tempo estava acabando. Sem pensar muito, eu dou um último beijo nela. É um beijo triste, pesado. Um beijo de saudade. A minha língua batalha com a dela, como se com isso eu pudesse mudar meu destino. Eu sinto as nossas lágrimas se juntarem, molhando nossos rostos.
"Eu te amo, eu te amo, eu te amo"- eu tive tempo de dizer, abraçando tão forte quando eu nunca tinha feito. Julie agarra minha perna tentando nos abraçar.eu olho pra baixo e ela esta olhando pra nós sorrindo. Ela coloca a mão no meu bolso e tira a caixa que estava dentro dele. Ela olha intrigada pra aquilo, e eu pego de suas mãos. Abby olha pra mim como se não entendesse o que eu ainda fazia com aquela caixa. Eu olho mais uma vez ao meu redor, percebo que Brad esta quase caindo no sono profundo. Então eu agarro Abby, lhe abraçando fortemente, na esperança de que ela fosse me "salvar" de tudo aquilo.
"Nunca esqueça que não importa o que aconteça, onde eu estarei, eu sempre vou amar você."– eu falo antes de lhe dar um outro beijo.
Então eu vou até Brad que já parece adorcemecido e o pego nos meus braços. Eu sei que Abby está assustada. Ela chorando, pegando nos ombros de Julie que me olha daquela maneira divertida de sempre. Eu começo a caminhar até a cozinha com Brad em meus braços.
"Vou pegar alguma coisa pra eu comer..."- eu me desesperei. Sabia que não tinha mais volta. Aquele era o fim. Quando eu passasse daquela porta, nada jamais seria daquela maneira perfeita. Era um passo para a minha infelicidade.
Continua….
