O sol estava alto no céu, onde finas nuvens passavam levadas por uma brisa morna, que balançava um balanço vazio e os cabelos castanhos e compridos de uma garota que, sentada na grama verde, observava as nuvens branquinhas passando.
Ouvia os sons da festa na casa. Decidiu se afastar um pouco mais e, numa caminhada de meio-dia, tomou a trilha que levava ao rio. Fazia alguns dias que não se banhava, afinal as termas eram apenas para o uso dos turistas e quando não havia nenhum, somente aqueles com autorização do patriarca poderiam usufruir as águas mornas saídas da terra. Permissão que só recebera no aniversário de dez anos, e já haviam passado cinco anos desde então, deixando o rio como única opção. Começou a lembrar de quando seus irmãos passavam um tempo na estância. Quando eles iam, pagavam pra ela poder brincar nas termas, brincavam juntos no rio...Mas, quando chegava a hora deles partirem, ela sentia um aperto tão grande no coração, dizendo-lhe que precisava ir com eles.
A caminhada continuava, passando por colinas arredondadas onde o verde esmeralda pintava a paisagem. Ouviu um som parecido com o de chuva, mas, ao perceber que já estava perto do rio, imaginou que o som seria da água descendo pelas pequenas cascatas que produzia a melodia.
Desceu por uma íngreme passagem, os galhos atrapalhavam a passagem e a visão. Assim que chegou mais perto pôde ver as margens com grama e algo mais. Lá estavam seus irmãos.
Banhavam-se no rio enquanto alguns elfos descansavam ou comiam lembas, aproveitando a sombra das árvores. Sorriu. Começou a entrar, deixando as pequenas sapatilhas de cetim e algodão na margem. O vestido branco começou a boiar e ela encontrou alguma dificuldade em chegar até eles. Virou-se para tentar afundar o vestido, a água chegava até seus ombros, o que não era muito, pois a garota era pequena, apesar da idade, porém isso dificultava o trabalho que ela desajeitadamente tentava executar. Dan Sorriu. O elfo moreno, percebendo que sua pequena criança não estava conseguindo prosseguir, nadou até ela.
- Deixe-me ajudá-la, minha menina. – disse, facilmente afundando a saia e estendendo os braços.- venha.
Perto dele a jovem parecia ainda menor mas aceitou a ajuda oferecida pelo elfo que puxou a menina para fora da água e aninhou-a em seu peito. Desajeitadamente ela colocou seus braços em volta do pescoço dele enquanto ele avançava sem problemas até onde seus outros irmãos estavam.
- Mae govannem, pequena.- Sussurrou ele para a garota.
- Mae govannem, mestre Elladan. – Ele riu ao ouvir a vozinha fina dela pronunciando o 'mestre'.
- Mae govannem, minha querida irmã. - Sorriu brincalhão Elrohir.
- Mae govannem, Elrohir, Legolas, Estel. – disse sorrindo.
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Acordara cedo e passara a maior parte da manhã ajudando nos afazeres da casa. A festa de aniversário da mulher mais velha do clã era, afinal, algo muito importante e, apesar de tudo estar quase pronto, sempre havia detalhes de última hora. Assim, a menina só começou a se arrumar perto da hora do almoço.
Não sabia por que a mãe ainda insistia em vesti-la com vestidos, afinal, todos diziam que ela parecia um garoto. Ela era pequena e muito magra, os traços, apesar de finos, eram característicos de meninos antes da puberdade, e, apenas os cabelos, longos e castanhos, podiam dar a certeza de seu sexo. Pelo menos para os edains. Sorriu. Quando mais nova possuía os cabelos curtos e despenteados, somente seus irmãos conseguiam dizer o que ela era realmente.
Vestiu as sapatilhas de cetim que havia ganhado de Elladan, em seu aniversário de quatorze anos. Eram, de fato, as únicas coisas de mulher que ela apreciava. As sapatilhas e uma escova de prata, presente de Estel, seu irmão mais novo. Desceu as escadas do quarto e caminhou pelos corredores brancos da ala dos hóspedes.
Todos já se serviam das maravilhas culinárias presentes na sala e a garota imaginou se haveria comida o bastante. Porém logo em seguida percebeu que era estupidez imaginar que a avó, preocupada com as aparências, deixaria faltar algo na sua festa de aniversário. Procurou, com os olhos a mesa onde a família estava e deixou-se guiar pelo olhar severo da mãe até um lugar perto do pai. A sensação que teve, ao ouvir o começo da conversa foi, a de possuir borboletas na barriga, pois o pai, falava agora, para a família, sobre os elfos.
Desde muito pequena sentia uma mágoa em relação ao pai que, sendo o patriarca da família e já tendo um filho mais velho a quem ensinar, a tratava como nada. A tratava como a mulher que ela era. Sua mágoa por ele se misturou ao ódio quando o ouviu ofender aqueles que a tratavam com carinho. Ignorando todos os anos de educação rigorosa imposta pela mãe ela gritou. Gritou para que ele parasse, para que, só uma vez, a ouvisse...
Algumas vezes atos de coragem são recompensados... Infelizmente essa não foi uma delas e Idril Númenessë só voltou a ouvir quando um tapa atingiu sua bochecha. Para sua surpresa a mão do pai estava pousada na porta enquanto a outra mantinha a jovem parada. A mãe a atingira no rosto pela primeira vez na vida. O verdadeiro irmão ficara parado, com olhar concentrado em um ponto qualquer e, para piorar, esse ponto era a face rosada da irmã.
Os sons, as palavras saídas da boca do pai foram sumindo e por alguns segundos tudo ficou em silêncio. Tudo em que Idril poderia pensar era que, pela primeira vez na sua vida, ela desafiara o pai. Pela primeira vez na sua vida ela conseguiu exprimir o desejo de seu coração com alguém que possuía, realmente, o mesmo sangue dela... Aos poucos as palavras se fizeram audíveis e a bochecha latejou. Duas lágrimas caíram abrindo um caminho na bochecha marcada da menina.
- Como ousa levantar a voz para mim, criança dos infernos? - Praguejou o pai, sua calma a deixava nervosa. - Não vai voltar pra debaixo desse teto até ser ordenada. Suma da minha frente!- Ele empurrou a garota e trancou a porta.
Ela sabia que, assim que a festa acabasse e os convidados se recolhessem, seria castigada. Resolveu sumir por uns dias, mas a sua vontade era sumir para sempre. Caminhou a passos largos até um pequeno bosque que pertencia à estância.
Lá, passou horas lembrando de sua infância, olhou para o lado e viu o balanço de seu irmão, no qual, sempre que não tinha ninguém olhando ela se sentava e, talvez, se quisesse arriscar uma briga com ele se balançava um pouco. Subiu, sem muita dificuldade e apoiou a cabeça na corda velha. Olhou a grama verde e as estranhas sombras que as nuvens faziam. Desceu do balanço e se deitou no chão, onde o verde dos galhos das arvores ajudavam a imaginar lugares diferentes daquele. Ela via nas nuvens brancas, lugares em que ela poderia sentir, finalmente, seu coração menos agoniado.
Sentiu saudades daqueles seres tão gentis e graciosos que, sempre que podiam, ficavam pelo menos um pouco na estância da família.
N/A. Hum, minha primeira fic de Senhor dos Anéis...inspirada pela Sadie e pelos elfos fofos. Esse capítulo apenas para apresentação da personagem e a relação que ela tem com os nossos queridos-.-
Vou tentar escrever um capítulo por semana...
Agradecimentos especiais:
Miaka minha momi e beta que leu a fic pra ver se tinha algum erro.
Sadie que me incentivou a escrever essa fic e que leu o começo do capítulo e ainda sim, continuou me incentivando...(O.o)
Bjus Soi
