Capítulo 3: Preocupação

Kaoru abriu os olhos rapidamente. Apesar do frio de congelar, ela estava molhada de suor. Devagar se sentou no futon e mais uma vez veio aquela tontura irritante mas ignorou-a. Levantou e olhou a hora; 5:34 da madrugada. Através da porta percebeu que o sol já estava nascendo. Isso queria dizer que logo, logo Kenshin estaria levantando.

Decidiu que ia visitar umas pessoas que não via a bastante tempo. Vestiu-se rapidamente e saiu do quarto devagarinho, sem fazer barulho. Estava realmente muito frio essa manhã. Tinha que ser muito silenciosa, Kenshin tinha ouvidos apuradíssimos. Finalmente conseguiu atravessar o portão. Não queria preocupar o espadachim, mas isso era uma prioridade no momento.

A porta do quarto se abriu e dela saiu um homem de inconfundível cabeleira vermelha. Eram 6:04hs da manhã e o resto dos habitantes do dojo ainda estavam dormindo. Isto é, Yahiko e Kaoru. Por que Sanosuke ainda deveria estar na gandaia. Deu um leve suspiro e após lavar o rosto dirigiu-se para cozinha, já era hora de preparar o café da manhã. Ao chegar lá encontrou um amiguinho seu.

"Olá, bom dia. Está com fome?"

"Miauuu..." O gatinho respondeu com um miado.

"Certo então." Kenshin pegou um pote em um dos armários. Dentro dele continha o que parecia ser restos de refeições. O espadachim colocou a comida na chão, o felino aproximou-se devagar, cheirou a comida e logo depois começou a come-la com vontade. O homem ruivo acariciou uma das orelhas do animal e depois voltou ao seu trabalho.

"Enquanto você come este servo irá preparar o café." Pegou então alguns legumes, tofu e outros ingredientes e começou a prepará-los. Enquanto fazia isso pensava no comportamento de Kaoru. Ela tinha estado muito estranha ontem, principalmente de noite. Não estava convencido daquela história e ia tirá-la a limpo. Hoje terminaria os afazeres mais cedo e iria até o Akabeko conversar com Tae Sekihara e saber de toda a verdade, saber se ao menos ela esteve lá.

Kaoru nunca lhe havia escondido nada, talvez alguém a estivesse ameaçando, talvez corresse perigo, talvez fosse mais um de seus inimigos querendo vingança, talvez, talvez, talvez... Milhares de possibilidades passaram em sua cabeça, sentia-se culpado. Seus inimigos sempre tentaram atingi-lo pelo seu ponto mais débil.

A kendoka de 17 anos havia se tornado a pessoa mais importante em sua vida. Por ela, era capaz de morrer, ou até mesmo matar.

Durante os últimos 15 anos tinha se mantido afastado do resto do mundo, mas quando encontrou Kaoru tudo aconteceu de tal forma que não pôde evitar. 'Não pôde ou não QUIS evitar?' Uma vozinha falou de repente dentro da sua cabeça. Tentou ignorar mas essa era a verdade. Quando se despediu para lutar contra Shishio cada passo que se afastava seu coração gritava para que desse meia volta, abraçasse-a de novo e dissesse que tudo aquilo era uma mentira, que ele era um grande idiota e que nunca iria abandoná-la. Mas mesmo assim ele foi. E ele lutou e voltou por ela, sobreviveu por ela e ali percebeu que simplesmente nunca poderia viver longe dela.

"Oi Kenshin." Seu devaneio foi interrompido por um Yahiko sonolento que apareceu na porta da cozinha esfregando os olhos.

"Ahn... Ah, bom dia Yahiko." Estivera tão absorto que nem tinha percebido a presença do menino. Nem o tempo passando. Olhou para seu relógio de bolso: 6:56hs.

"E o café?"

Destampou a panela e deu uma olhada. "Está quase pronto, só mais uns dez minutos. Que tal você ir lavando o rosto enquanto isso?"

"Tá." E lá foi Yahiko arrestando-se até o banheiro.

Kenshin começou a arrumar a mesa, eram 7:07hs.

"Nossa. A Busu tá dormindo muito hoje." Disse o menino. Kaoru era uma preguiçosa de marca maior.

"Kaoru-dono deve estar cansada."

"Ha! É uma dorminhoca, isso sim! Eu vou acordar ela!" E saiu em disparada para o quarto de sua mestra.

"Espere, Yahi..." Mas não adiantou, o garoto já tinha ido. Ficou ouvindo, esperando o grito furioso de Kaoru e o barulho dela lançando seu pupilo a distancia. Porém, ao invés disso, ouviu a voz de Yahiko.

"Kenshin! Kenshin!" O menino veio correndo o mais rápido que pôde.

"O que houve Yahiko?!?!?" Perguntou. A preocupação estampada em seu rosto.

"A Kaoru não tá no quarto!"

"O quê?" E foi a toda a velocidade para o quarto de Kaoru. Lá viu o futon desarrumado, mas não havia nenhum bilhete, nenhum sinal de luta ou resistência. Decidiu olhar no resto da casa, a preocupação sufocando-o. Olhou em seu próprio quarto, no dojo, na sala de visitas, na cozinha, no banheiro, no depósito. Nada.

"Yahiko, você fica aqui caso Kaoru-dono retorne. Este servo vai atrás dela. Se Sanosuke chegar avise o que ocorreu e diga a ele para tentar de alguma forma encontrar este servo." Falou com urgência e em seguida, usando sua velociade divina, saiu pelas ruas a procura de Kaoru.

Andando devagar Kaoru olhava para trás toda hora. De vez em quando aparecia alguma pessoa indo trabalhar ou um viajante, a rua era estreita e quase não passavam carruagens por ali.

Entrou numa ruela ainda mais estreita onde não havia absolutamente ninguém.

Depois de caminhar cinco minutos chegou ao seu destino. Um cemitério. Ele ficava na beira da nascente de um riacho e tinha uma aparência de abandono. O mato crescia livremente, nos túmulos flores secas e pedacinhos de incenso queimados espalhados.

Foi até o final e parou em frente a duas lápides muito próximas uma da outra. Numa lia-se com dificuldade o nome Sakura Kamiya, e na outra Koshijiro Kamiya. Ela se ajoelhou em frente as duas e orou.

"Bom dia papai, bom dia mamãe. Há muito não venho visita-los e peço desculpas por ter ficado tanto tempo longe." Isso era verdade. Desde a morte do seu pai, há mais de um ano atrás, não vinha visitá-los. Tinha tanta coisa para lhes falar.

"Sabe, desde que o senhor se foi aconteceram várias coisas. Eu conheci uma pessoa, ela é muito especial." Tomou fôlego para continuar. "O nome dessa pessoa é Kenshin Himura. Ele no passado foi um assassino que lutou pela nova era mas agora, ele fez um voto de não matar e está me ajudando a reerguer o dojo."

Ali apenas podia-se ouvir o barulho da água correndo e a voz calma de Kaoru. O lugar transmitia tranqüilidade e era um tanto afastado da cidade, quase ninguém mais vinha aqui desde que um novo cemitério havia sido construído mais próximo do centro de Shitamachi.

Poucas pessoas ainda se lembravam do caminho, agora praticamente coberto pela vegetação. Seu pai havia sido o último a ser enterrado ali, mesmo quando já tinha sido abandonado. Koshijiro sempre dizia que quando morresse queria ser enterrado ao lado de sua esposa.

"Eu estou apaixonada por ele mas não tenho certeza do que ele sente por mim!" A voz dela soou mais alta, um tom de angústia a preenchia. Estava desabafando com os duas pessoas mais capazes de entende-la no momento, mesmo que estas não pudessem responder.

"Ele é bem mais velho. Uns onze anos para ser exata. E já foi casado com uma mulher que simplesmente era tudo o que eu nunca vou ser." Ficava difícil de falar com aquele nó na garganta.

"Kami, eu sou tão idiota de ter chegado a pensar que algum dia poderia ser algo mais na vida dele!" Levantando os olhos para o céu as lágrimas escorreram contra a sua vontade. "Como eu vou ocupar o lugar da Tomoe se nem ao menos sei cozinhar algo decente?" Ao dizer isso não pôde suprimir uma risada sarcástica.

"Ele nunca vai olhar pra mim de outra forma além de como olha para uma pobre coitada."

Kenshin corria o mais depressa que sua velocidade de ex-retalhador permitia. Passou na Clínica do Dr. Gensai onde no momento quem atendia era Megumi. Ela lhe disse que não tinha visto Kaoru há dois dias. A doutora tentou perguntar o que estava acontecendo mas Kenshin nem lhe deu atenção, saiu correndo. Desta vez em direção ao Akabeko. Chegando lá encontrou Tae.

"Himura-san, o que houve?" A mulher se assustou com a atitude e a aparência do espadachim. Estava suado e notava-se que tinha corrido um longo percurso. Seus olhos tinham uma expressão séria e impaciente, tão diferente do amável Himura que conhecia.

"Onde está Kaoru-dono?"

Olhares curiosos eram dirigidos ao espadachim. Muitos cochichavam e apontavam para a espada ou então para a cicatriz em forma de cruz que tinha na face esquerda.

"Kaoru?"

"Sim, onde está Kaoru-dono?" Estava começando a perder a paciência.

"Desculpe mas eu não vi Kaoru hoje, ela não esteve aqui."

"E ontem?"

"Ahn, sim. Ontem ela esteve aqui." Tae estava se sentindo extremamente desconfortável com aquela situação.

"E, este servo poderia saber qual o tema da conversa que tiveram? Porque ontem Kaoru-dono estava muito tensa, e ficou ainda mais quando voltou daqui. O que a senhorita disse à ela?" De uma vez iria tirar essa história a limpo.

"Eu? Eu... Bom, nós tivemos uma conversa sim e..." Aquilo já estava deixando-a mais do que nervosa.

"E o quê?"

"Isso é uma coisa que só a Kaoru pode te falar." E assim finalmente tomou coragem para levantar o olhar.

"Como?"

"Olha, não é nada que esteja pondo ela em risco. Só que é um assunto pessoal que é ela mesma quem deve lhe contar."

"Entendo." Tentou se acalmar. Afinal, ela não corria perigo de vida. "E a senhorita não faz idéia de onde ela poderia estar? Ela não lhe disse nada sobre ir em algum lugar hoje?" Tentava ao máximo ignorar o comentário que Sano havia feito antes sobre um suposto 'amante' que na verdade era 'namorado'. 'Deixe de ser baka Kenshin!' Mais uma vez a pequena voz falou lá de dentro. 'Oro?'

"Não, nada." 'Peraí!' "Mas..."

"Mas o quê, Tae-dono?"

"Acho que faço alguma idéia de onde ela pode ter ido. Escute Himura-san, você tem que ir pela..."

Kenshin escutava atentamente a todas as instruções de Tae. Depois de ouvir tudo disse um breve 'obrigado' e saiu correndo.

"Alô? Kenshin, Jou-chan?" Sanosuke tinha entrado no dojo e estranhou que tido estivesse vazio. Estava tudo muito silencioso, Kenshin não estava lavando roupa e nem cozinhando e Kaoru não estava nem treinando, nem surrando e nem correndo atrás de Yahiko.

A falta daquilo tudo era muito, muito estranho.

"Caramba, não tem ninguém aqui?" Disse, ou melhor, gritou.

"Tem sim, não precisa gritar!"

"Até que enfim alguém aparece!"

"Humpf..."

"Fala aí, cadê Kenshin e Jou-chan."

"He, você não faz a mínima idéia do que aconteceu."

"Hã? Que história é essa?"

Então Yahiko explicou tudo o que tinha acontecido e deu o recado que Kenshin havia deixado.

"Escuta, eu vou procurar o Kenshin, você faz o que ele disse antes, entendeu?"

"Tá legal." Falou de um jeito entediado. Já estava cansado de ficar parado, mas sabia que precisavam que ele ficasse caso Kaoru voltasse ou alguém aparecesse com notícias.

"Ai, ai. Bem, vamos ver se dessa vez eles se casam."

"O que você disse?"

"Esquece. Fui!" E foi embora correndo. O primeiro lugar onde iria procurar uma pista de Kenshin ou Kaoru seria na Clínica. Dessa forma teria um pretexto para visitar uma certa doutora.

Já estava ficando um pouco tarde e uma brisa fria soprava ao mesmo tempo que algumas nuvens carregadas começaram a cobrir o azul celeste do céu. Kaoru decidiu que era hora de ir embora, levantou-se e se despediu de seus pais.

"Eu vou embora. Prometo que não vou demorar a visitá-los novamente." Novamente uma brisa fria soprou e Kaoru foi pega por uma pequena tosse. "Preciso me apressar se não acabo pegando uma gripe, adeus." E depois de uma breve reverência partiu.

Enquanto passava pela estreita estradinha refletiu sobre as coisas que havia conversado com seus pais. Quantas noites tinha chorado de frustração e raiva? Raiva, sim. Raiva de Kenshin que não a notava e que continuava a manter de pé aquela barreira entre ele e o resto do mundo. E frustração por não ser bonita ou educada o suficiente para ele notá-la.

De repente parou. Lá na frente uma pessoa vinha correndo em sua direção, naquela estradinha que deveria ter sido esquecida por completo. Aparentemente alguém além dela ainda se lembrava do tal cemitério. 'E se for um ladrão? Ou pior, um assassino?' Olhou para os lados procurando algo que servisse como arma.

Na medida em que a tal pessoa se aproximava percebeu que era um homem, estatura baixa, cabelo vermelho... 'Hã? Cabelo vermelho? Kenshin!'

Kenshin corria sem parar, seguiu pelo caminho indicado por Tae e encontrou a estrada que ela havia lhe falado. Assim que virou a curva pôde perceber que uma pessoa vinha caminhando lentamente. Kaoru. 'Só pode ser.' Aumentou a velocidade e viu que a pessoa tinha parado. Ao se aproximar mais observou que era uma mulher com cabelos negros. Sim, era Kaoru.

Foi diminuindo o ritmo até estar parado na frente dela. Tinha uma expressão de surpresa no rosto.

"Kenshin? Não esperava te ver aqui. Como..." Não terminou a frase, Kenshin se aproximou mais. Agora estavam apenas a quatro palmos de distância.

Continua...

Papo Furado:

E então, sou muito má? Hehehe... Sempre termino o cap. na hora "h". Ele saiu maior do que eu imaginava, mas foi o que eu mais gostei dos três que fiz até agora. Espero que vcs também tenham gostado, digam o q acharam.

Aaaaaaaiiiiiiiiii!!! (Mila surtando de felicidade) Deixaram review, não acredito! Nunca imaginei que chegaria a receber mais de 2 na primeira semana! Obrigada, obrigada, obrigada!!! Estou me sentindo extremamente honrada pela ilustre presença de vcs.

Aí vão as respostas:

Lere: Obrigada pela crítica e pelas dicas, são extremamente úteis para mim.

Desculpe pelos erros, estou usando ao máximo os meus conhecimentos em língua portuguesa e em redação. Mas eles não são muito vastos, por isso espero que vc tenha paciência comigo.

Peço desculpas tbm por algum erro futuro, sou muito inexperiente como escritora e essa é a primeira fic que passo pro 'papel'.

Quanto ao problema da Kao, acho que só vou começar a revelá-lo no próximo cap. Bom, vcs já vão poder ter uma boa idéia do que está acontecendo, mas o que é o problema exatamente, ahn, isso eu ainda não tenho previsão.

Obrigada pelo bendito nome do pai da Kaoru! Tava na ponta da língua só que ñ saía.

Espero mais reviews seus, são muito bons!

Lan Ayath: Que bom que gostou da fic! Fico extremamente lisonjeada (Mila vermelha).

Sobre a frequência das atualizações: o máximo que posso chegar a demorar é 2 semanas. Mais do que isso, nem pensar! Se algum dia eu tiver que me ausentar vou avisar previamente, ok?

Tomara que esse cap. tenha ficado do seu agrado.

Jou-chanHimura: Repito: Que bom que gostou da fic! Fico extremamente lisonjeada.

Obrigada pela diquinha! ;-) Eu até tinha reparado isso antes, mas acabei esquecendo de fazer. Diga o que achou do novo cap., espero ansiosa pela sua review. Obrigada tbm por me oferecer sua ajuda!

Até o próximo! Bye, bye.