Cap 4- Adeus solidão (23/07/04)

daisuki to omou kara ne kizutsu ittari

tomadottari

É porque eu te amo demais que eu te machuco,

estou tão perdido.

-Kurama, acorde.

O youko espreguiçou-se vagarosamente e abriu os olhos dourados. Sentou-se e observou Otoyo de braços cruzados, com o semblante sério. Arqueou uma sobrancelha, era raro não ver o tão costumeiro sorriso em seu rosto ou o brilho divertido naqueles olhos. Mesmo que aquelas expressões fossem no mínimo irritantes, a seriedade era sinal de problemas. Sorriu laconicamente, definitivamente não precisava de mais problemas, os seus já eram o suficiente.

Otoyo estreitou os olhos em sua direção. Parecia estar controlando-se, os punhos cerrados, o lábio inferior sendo mordido... Não era coisa boa.

Desencostou-se da árvore e sacudiu as vestes brancas, então, cruzou os braços em frente ao tórax e indagou:

-O que quer? –Falou com um tom indiferente.

O youkai suspirou, revirando os olhos. O youko não tinha mais jeito... Pensava que era trouxa, ninguém o enganava, muito menos uma raposa metida a esperta.

-Ele veio, não é?

-Do que está falando?

Otoyo prendeu a respiração por alguns segundos e apertou mais os punhos. Começou a andar de um lado para o outro nervosamente, sendo seguido pelo olhar curioso de Kurama. Precisava manter a calma, não poderia se descontrolar na frente dele. Engoliu seco e inspirou longamente.

-Alguém invadiu meu território.

-SEU território? –Retrucou ironicamente –Que eu saiba todo esse espaço é MEU.

-Que seja! Alguém invadiu esse espaço! E eu sei exatamente quem foi...

-É mesmo? Então diga, gostaria muito de saber também.

O youkai deu um meio sorriso e ficou em frente a Kurama, segurou seu queixo com a mão e começou a falar.

-Hummm... Que tal: Um metro e trinta, aproximadamente. Cabelos negros e rebeldes, com uma pequena "estrela" composta de fios cinzas na franja, perto na testa. Pele alva, olhos rubros e penetrantes... Oh sim! Um jagan no meio da testa. Será que fui claro o bastante?

A raposa deu um esboço de sorriso. É claro que sabia... Mas era imprudente demonstrar, já que nem ele mesmo estava certo de alguma coisa. Somente continuou olhando com desprezo para o homem em sua frente e suspirou, voltando-se a sentar.

-Não sei do que está falando.

-Pare de bancar o tolo!

-Eu não imito sua pessoa para ser tolo. Quer parar de gritar? Mesmo se estivesse sussurrando, conseguiria ouvi-lo.

Otoyo trincou os dentes e se afastou. Sabia que Hiei tinha invadido aquele território de alguma maneira, mas não podia provar. Contentou-se observar Kurama apreciando o céu com um descaso extremamente sedutor. Riu, tudo nele poderia ser considerado atraente, até mesmo o pequeno movimento de olhar para o lado ou afastar o cabelo do rosto. Queria tanto ter sua afeição... Mas isso era impossível, pelo menos no método da conquista, pois alguém já morava naquele coração.

-O que tem de tão interessante na paisagem, Kurama?

O Kitsune se limitou a responder "nada" e continuou admirando o céu. Estava recordando-se de sua infância. Seus amáveis "irmãos". Na verdade, tudo isso só reforçava a idéia de que na maioria de seus dias fora sozinho, quando esteve com sua família nunca podia contar com ninguém além de si.

"Já devia ter me conformado com isso..." Pensou.

tsumetai hoho wo yose atte kokoro ga umareta

Ficando próximo do seu rosto gelado,

minha alma nasceu

-a-a-a-a-a-a-

itsumo ima sugu ni aitai

Eu sempre quero ver você bem em cada momento

-Não quero comprar nada. –Falou pela milésima vez, enquanto desviava-se da multidão naquela feira.

Tanto fazia, feira de humanos ou youkais, eram praticamente a mesma coisa. Amontoado de gente atropelando todos, empurrando, esbarrando. Vozes altas, gritos estridentes. Claro, na feira do makai tinha algumas exibições mais interessantes, porém isso não a tornava menos maçante.

Nada poderia ser pior... O dia estava terrivelmente quente, estava no meio da massa youkai mais nojenta do makai e todo seu bom humor havia desaparecido. A experiência com Kurama fora muito proveitosa, conseguira exatamente o que queria. Agora era só continuar com seu plano e tudo iria dar certo, mas toda a massa de pessoas impedia-o de pensar.

Saltou para uma árvore, saindo daquele lugar. Esperava que aquela estrada estivesse deserta, mas se enganara. "Tudo bem" Suspirou "Vou mais rápido pelo mato".

Com a Katana em mãos, cortava tudo que obstruía seu caminho numa velocidade surpreendente. Não precisava de estradas nem rotas prontas, poderia construir as suas com as próprias mãos.

Acelerou o ritmo enquanto sentia que entrava em um campo aberto. Não gostava daqueles lugares, sempre ficava visível demais para os outros por mais rápido que fosse. Além do mais, o céu estava carregado de nuvens acinzentadas, indicando que haveria uma enorme precipitação por ali. Trincou os dentes, realmente não estava muito disposto a ficar totalmente molhado... Chuva nunca fora uma de suas coisas favoritas, sua percepção diminuía consideravelmente e o cheiro que mais gostava do makai não poderia ser sentido.

Chuva...

O jovem ruivo andava distraidamente pela rua deserta com as mãos no bolso. Seus olhos semi-abertos fechados, sua pele clara e o sorriso doce tornavam seu rosto similar ao de um anjo com mexas rubras dançando delicadamente ao vento, moldando a face suave. Mesmo que relutasse em admitir, estava apreciando-o, assim como aquelas humanas idiotas faziam.

O vento soprou levemente, levando de seus cabelos um delicioso aroma de rosas, capaz de deixá-lo estonteado. Aproximou-se, empurrando alguns galhos da árvore onde se escondia. Estava errado! Como poderia ficar olhando-no por tanto tempo? Quer dizer... Esse sentimento que teimava em alojar-se no seu peito, comprimindo-lhe a alma, desejando aproximar-se, tocar... Nunca havia sentido isso antes, era novo... Era delicioso.

De repente, o objeto de sua atenção parou, deixando um sorriso largo dominar-lhe a face enquanto olhava para o horizonte, novamente o vento acariciou seus cabelos, fazendo a sua pele corar. Logo, algumas gotas d'água caíram, tornando-se mais fortes e freqüentes. Não demorou para ele estar emoldurado com respingos, enquanto sorria docemente de olhos fechados.

Vê-lo entregue para a chuva era encantador. Não conseguia despregar os olhos da figura angelical que Kurama se tornara. Os cabelos molhados envolvendo parte de seu rosto, o sorriso, os olhos fechados, os ombros relaxados... Nem percebia que estava sendo molhado também, tudo que queria era observar.

-Apareça, Hiei. –Ele disse enquanto abria os orbes verdes.

O korime ficou estático, havia sido descoberto. Devagar, saiu de seu esconderijo, encarando a raposa com um olhar indiferente.

-Vai ficar nessa chuva?

O demônio de fogo olhou de esgueira para o outro e respondeu.

-Faço a mesma pergunta a você.

Kurama sorriu, aproximando-se do companheiro enquanto falava gentilmente:

-Vamos para casa.

Casa...

Aquelas palavras eram tão vivas em sua mente que poderia tocá-las.

Andou mais um pouco e viu uma caverna. Entrou. Era a caverna que habitara enquanto estava aperfeiçoando o jagan após tê-lo colocado. Andou mais um pouco, até que encontrou um embrulho. Sorriu satisfeito.

Era daquilo que precisava.

-a-a-a-a-a-a-

mukuchi ni naruhodo suki yo yasashi

sa doushitara mieru no

Eu te amo tanto que não posso expressar Então, como você vai ver minha doçura?

-Está quase no dia... –Kurama sussurrou enquanto olhava para o alto.

As estrelas surgiam levemente por todo o céu, fazendo um calafrio correr por sua espinha. Estava quase no dia do ritual se concretizar. Por isso Otoyo andava tão nervoso, andando de um lado para o outro sem parar. Idiota, tinha esperanças de que se tornaria seu escravo.

Grunhiu. Claro que sabia que Otoyo era mais forte... Era por isso que andava tão absorto em pensamentos, tentando achar um modo com que pudesse superá-lo. De qualquer jeito, se perdesse, ainda poderia optar pela morte, uma alternativa infinitamente melhor que se tornar servo daquele estúpido. Porém tudo seria em vão se perdesse no final... Não queria jogar todo o seu esforço fora.

Levantou-se enquanto sentia que era observado. Aquela energia de novo... Era Hiei. Então ele continuava tentando se aproximar. Sorriu, ele sempre tivera a mania de olhá-lo escondido. Apesar de nunca mencionar, todas as vezes que o pequeno demônio estava por perto, ele sabia. Até apreciava sentir o you-ki do outro, era tranqüilizante. Fazia uma paz instalar-se em seu peito junto a um calor reconfortante.

Sabia muito bem o que causava isso. Tinha conhecimento que Hiei nunca fora um "amiguinho", mas... Para mantê-lo por perto precisava alimentar aquela mentira, ou ele fugiria dos sentimentos arrebatadores que possuía. Pegou uma capa, colocando-a nos ombros.

dakishimete motto tsuyoku atataka na mune wo shinjiru yo Abrace-me apertado, acredito no seu coração aconchegante

Deu alguns passos e se espreguiçou levantando os braços. A brisa noturna estava agradável e calma, balançando a cabeleira prateada. A noite era perfeita para dar uma das suas "escapadas". Olhou para ver se Otoyo não o vigiava de longe e um sorriso tomou seus lábios rapidamente. Estava livre. Começou a correr, embrenhando-se entre as árvores enquanto o vento gostoso batia em seu rosto de leve.

Respirou fundo, aspirando todo o ar em sua volta. Como era bom poder se sentir totalmente solto. Se olhasse o futuro com pessimismo, essa poderia ser uma das últimas vezes em que iria passear daquele modo. Entretanto, não estragaria a maravilhosa noite que poderia estar por vir por um simples pensamento. Sorriu malicioso com seus planos, naquela noite iria se saciar do modo que gostava. Não com o Otoyo estúpido e idiota, que era delicado demais. Precisa de ação, de experiências renovadoras.

Procurou uma trilha qualquer que levasse a qualquer lugar em que pudesse beber e fazer sexo com dois, três, quatro youkais ao mesmo tempo, como costumava fazer nos anos em que tinha o bando de ladrões mais temido do makai. Seguiu até encontrar um lugar mais ou menos iluminado, com um movimento mediano, mas deveria melhorar ao avançar da noite.

Puxou o capuz para esconder o rosto e entrou. Assim que pisou no recinto, o chão de madeira velha rangeu, fazendo com que alguns poucos rostos se virassem para ver quem era. Foi até o balcão e sentou no canto, escondido do movimento. Pediu uma bebida e observou tudo ao seu redor discretamente. Deu um gole rápido enquanto acompanhava o movimento crescer lentamente ao passar de duas horas, até que sentiu uma mão em seu ombro. Virou-se, encontrando um rapaz sorridente.

O garoto apontou para o lugar vago ao seu lado e perguntou:

-Posso sentar?

Kurama ergueu uma sobrancelha, segurando um sorriso. Seu passeio estava quase feito.

-Claro. –Respondeu enquanto analisava melhor o rapaz que se sentava rapidamente.

Olhos castanhos claros e penetrantes. Cabelo de um tom roxo bem escuro e longo. Os lábios eram bem torneados. Pela sua estatura e ombros ligeiramente estreitos, não deveria passar dos dezesseis anos. O que uma criança bela como aquela estaria fazendo em um lugar como aquele?

-Uma bebida, por favor. –Falou o rapaz numa voz suave, fazendo com que as orelhas do kitsune se mexessem levemente. Como aquela voz era macia...

O menino bebeu tudo em gole só. Suas bochechas se avermelharam quase instantaneamente. Pousou o copo na mesa com certa violência enquanto suspirou pesadamente. Ergueu a mão pedindo mais uma, o youko sorriu, quer dizer que o garoto apreciava tanto assim beber? Olhou melhor em seus olhos e viu um monte de sentimentos misturados. De certo estava se embebedando para esquecer algo.

-Você parece frustrado.

sayonara solitia, ashita he

Adeus solidão, até algum amanh

O garoto deu um meio sorriso.

-Totalmente –Disse tomando um pouco do segundo copo –Como não tenho coragem suficiente para me matar... Pelo menos tento esquecer –Debruçou-se no balcão, balançando o líquido dentro do recipiente –Mas parece que isso só me faz lembrar mais e mais –Gemeu e deu um último gole.

-Depende da combinação. –Respondeu divertido, olhando para o próprio copo.

-Combinação?

-Yuuhi! –Exclamou um terceiro Youkai –O que está fazendo aqui?

-Bah! MAIS UM! –Gritou para o garçom –Nada do seu interesse, Akito.

O youkai de olhos amendoados, azuis e berrantes deu os ombros, sentando do lado do amigo enquanto passava os dedos pelos fios curtos e negros. Suas orelhas eram pontiagudas. Havia dois traços uniformes que iam de suas temporas até o meio das bochechas, similares a cicatrizes negras.

-Seu pai te enxotou de novo, provavelmente. –Riu com gosto –Idiota, tem que aprender a ficar quieto.

-Vai cuidar da sua vida. –Disse Yuuhi fechando os olhos com força.

Kurama estreitou os olhos na direção da direção dos dois. Figuras bastante interessantes. Teria que aproveitar. Discretamente, pediu duas doses de vinho enquanto os youkais ao seu lado discutiam. Quando os copos chegaram, pegou uma semente de seu cabelo, espremeu-a entre seus dedos, transformando-a em pó. Jogou um pouco daquilo em cada porção e estendeu aos amigos enquanto sorria gentilmente.

-Não é educado beber sozinho, não acham?

Akito franziu o cenho, mas aceitou a bebida, seguido por um hesitante Yuuhi. Beberam de uma vez só e pareceram ficar mais dispostos. Passaram a hora seguinte rindo e enchendo a cara. O movimento aumentava cada vez mais, até que o garoto de olhos azuis virou-se para o Youko, perguntando sobre qualquer coisa que conversavam.

-Não acha, ...? –Ele cerrou os olhos –Qual é seu nome mesmo?

-Haku. –Respondeu Kurama.

Estava sentindo a energia de Hiei havia algum tempo.

Resmungou qualquer coisa enquanto se vestiu rapidamente. O koorime tinha se intrometido afinal. Suspirou pesadamente, justo na melhor parte...

Saiu pelos fundos, rastreando a energia dele. Não demorou a encontrá-lo, encostado em uma árvore.

-Quando tempo, Hiei. –Falou enquanto cruzava os braços em frente ao tórax.

O pequeno youkai moveu a cabeça na direção de Kurama e respondeu:

-Digo o mesmo.

A raposa revirou os olhos, aproximando-se um pouco mais do tronco.

-O que está fazendo aqui?

-Nada que não saiba. Mas por quê? Algo o aflige?

mada shiroi yoake wo miokutte

Nós continuamos tendo que ver fora do claro amanhecer

Kurama cerrou os punhos, respirando fundo antes de prosseguir.

-Como se sua presença não fosse perturbadora o suficiente... Vamos direto ao ponto. É muito gentil da sua parte me vigiar vinte e quatro horas por dia, mas acho que posso me cuidar... Principalmente na cama. –Sorriu malicioso.

-Brincadeiras à parte. –Respondeu enquanto pulava para o chão –Isso é só uma advertência para deixar de ser tão inconseqüente.

-Inconseqüente? –Balançou a cabeça –Fiz isso a vida toda e nunca me prejudiquei.

-Mas vai se prejudicar agora... Ou quer virar um escravinho medíocre daquele seu mentor?

O youko fechou os olhos, visivelmente irritado. Jogou o cabelo prateado para trás e disse:

-Primeiro, ele não é meu mentor, nem nunca será. Segundo, se for para me tornar um reles escravo, vou escolher a morte... E por último; o que isso tem a ver com o que estava fazendo?

-O que estava fazendo... –Começou Hiei lentamente –Chama-se desperdício de energia.

Kurama sorriu cinicamente, se aproximando do demônio de fogo. Ajoelhou-se em sua frente e entoou:

konnani daiji na hito ni doushite meguri aetano to

Por que eu estava pronto para correr na direção de alguém importante?

-Desperdicei energia durante todos esses anos então. –Moveu sua mão lentamente até o peito de Hiei –Deve saber que isso é uma forma de aliviar as tensões... Não têm motivos para você ter feito o que fez, Hiei. –Estreitou os olhos –Ao menos que esteja com ciúme.

O koorime sacou a Katana , impondo uma distancia entre ele e o belo kitsune. Porém o que viu foi o sorriso se alargar nos lábios finos daquele demônio prateado.

-Ora... Se foi ciúme, posso fazer com você também...

O youkai grunhiu, desferindo um golpe com sua arma, mas o outro se desviou habilmente.

-Não seja tolo, raposa idiota!

-Então ao que devo essa atitude tão brusca? –Murmurou enquanto tirava uma rosa branca do cabelo, levando-a próxima ao nariz.

O demônio de fogo trincou os dentes, olhando com fúria para o indiferente Youko. Será que ele não podia entender no que o seu descaso levaria! Se agisse assim tudo que tinha feito seria em vão, além de todo sofrimento que fizera todos passar.

-Você é ridículo e burro, youko.

-Obrigado pelos elogios.

-Mas não vou permitir que morra.

Kurama ergueu uma sobrancelha e sua expressão tomou a forma de desprezo. Tudo aquilo o irritava, ter alguém mandando em sua vida. Lutara para ser livre, não para ser aprisionado novamente.

"Ninguém estava te aprisionando..." Disse uma voz em sua cabeça "Era só sua mente te col-".

itai hodo tsunagu yubi de sabishi sa

kieme yume wo miru no

Segurando esses dedos quase machucados, eu vejo esse sonho que desaparecera na tristeza

-PARE COM ESSAS BRINCADEIRAS MENTAIS! –Urrou o Kitsune –Estou cansado disso!

-Ouvir a verdade é sempre duro... –Sorriu Hiei –Eu não vou permitir que morra. –Repetiu –Nem que para isso tenha que te acordar usando a força bruta. –Pegou a espada novamente.

O koorime investiu rapidamente, mas foi repelido pelo chicote de espinhos, que envolveu sua arma.

-Quer brincar mais um pouco! –Gritou Kurama puxando o chicote.

-Não estou aqui para jogar. –Foi a resposta seca e curta que recebeu.

-VÁ PRO INFERNO!

O youko retirou rapidamente algumas sementes venenosas do cabelo, jogando-as em Hiei. O koorime cortou-as em dois rapidamente, entretanto de dentro delas saiu uma espécie de líquido que respingou em sua face. Ele não ligou a primeiro momento, mas sua pele começou a arder, como se estivesse correndo. Então, parou. Suas pernas ficaram bambas e sua cabeça rodava, fazendo com que sua visão ficasse levemente turva.

sayonara solitia

Adeus solidão

-Isso é bom, não é!

A voz...

-Pouco a pouco vai perdendo os sentidos...

A voz de Kurama penetrava em sua mente... Mesmo que as palavras chegassem desconexas aos seus ouvidos, ele podia sentir...

-Provar o gosto da agonia é bom, não é Hiei?

Podia sentir o seu calor... Ele estava cada vez mais perto... Suas mãos estavam se aproximando de seu corpo...

-Vai se desmanchar...

Sua katana... Precisava da katana... Ela ainda estava firme nas suas mãos, então poderia...

-Vai pagar por todo o seu egoísmo.

mou hitori jyanai kara ashita

mezameru no anata to

Porque eu não estou tão longe sozinho,

no despertar do amanhã estou com você.

Num movimento rápido, Hiei pegou a katana, a enfiando no abdômen do Kitsune.

Kurama arqueou para frente caindo de joelhos no chão enquanto cuspia sangue. Seus olhos se arregalaram em dor enquanto sua boca se abria, deixando escapar um murmúrio surdo quando a espada foi tirada de dentro do seu corpo. Tossiu mais do liquido rubro enquanto ouvia a respiração arfante do koorime.

Seu corpo caiu para frente, bem no colo no demônio de fogo. Tentou se arrastar para longe, mas os braços fortes o envolveram, acariciando suas costas. Abriu e fechou a boca várias vezes, tentando pronunciar algo, mas as palavras não saiam. A mão do outro subiu para sua cabeça e começou a levemente roçar em suas orelhas. Suspirou fechando os olhos, cansado. Reuniu toda sua energia e olhou para o companheiro com uma expressão confusa no rosto.

-Por... Que... Hiei?

O youkai abriu seus olhos rubros e tateou algo com os dedos trêmulos dentro da roupa de Kurama. Logo, tirou uma correntinha com sua jóia de lágrima.

-Você pegou... Não é? –Sussurrou.

-Sim... –Respondeu Kurama –É sua..?

-Não... Foram por você... Por isso, pertencem a você.

O kitsune enlaçou o outro também e respirou fundo para falar.

-Mas... Por que? Por... Que não me m-mata agora?

-Tolo... –Foi tudo que saiu de seus lábios –Nunca exija que as outras pessoas correspondam o que deseja, se nunca pede. Nunca se mostre de um modo, sendo que é de outro e deseje que os outros o aceitem da maneira que não conhecem. Seu sofrimento... O egoísmo de todos... É sua culpa, Kurama. Você criou um personagem, ofereceu a todos e recebeu um retorno. Não pode exigir que procurem o Youko, se o que mostra é Shuuichi.

daisuki na hito dakara ne sobani iru

mamotteru

Porque eu tenho alguém que amo tanto, estou aqui ao seu lado, te protegendo

A raposa levantou os olhos cerrados enquanto algumas lágrimas corriam por sua face. Todas as palavras caiam em sua cabeça como pedras. Elevou a mão até o rosto pálido do koorime e mordeu o lábio inferior. Ele estava certo...

-Gomen nansai... Gomen nansai... –Murmurava sem parar, até sentir Hiei fincar suas presas em seu pescoço –O que...?

Ele não respondeu de imediato, levantando a cabeça um pouco depois com um filete de sangue escorrendo por seu queixo. Mordeu seu pulso, fazendo jogar mais daquele elixir e aproximou dos lábios de Kurama.

-Beba. Esse é um pacto.

Incerto, o Kitsune abriu a boca, lambendo um pouco daquilo. Depois de alguns segundos, o sangue foi afastado bruscamente, deixando-o com o mesmo filete correndo pela face. Os cabelos prateados cobriam parcialmente sua face. O demônio de fogo repousou a cabeça em seu ombro e falou:

-Agora estamos ligados... Não adianta fugir nem negar, você é realmente meu, Kurama. Eu disse que seria.

O Youko sorriu docemente, fechando os olhos.

-Youko Kurama só pertence a ele mesmo...

-Idiota...Agora... Eu sou você.

E caíram no chão, dormindo, sendo banhados pela luz do luar.

anata he tsunagaru daichi ni

umerete yokatta

estou muito feliz que eu nasci nesta terra,

que me ligou a voc

Continua...

N/a: (kiki chega e curva-se, pedindo perdão) GOMEN NANSAIIII! Eu sei que demorei bastante dessa vez... Mas esse foi um capítulo muito difícil de escrever compreendam essa pobre alma ;;

Bom ' Eu sei que o capítulo é R, mas como estou enviando as instruções por telefone para minha prima... Eu não sei se ela vai conseguir colocar ' (Minha conecção está com sérios problemas). De qualquer forma, coloco depois o, então no próximo cap a fic já estará R.

Foi um cap um tanto agitado, eu sei. Porém gostei bastante do resultado, espero que tenham apreciado também.

Não vou responder as reviews dessa vez, gomen.

Deixem review para está autora se animar!

Ah sim, a música deste cap se chama "sayonara solitia", é do anime Chrno Crusade, serve tanto para o Hiei quanto para o Kurama, independente dos versos.

Obrigada a quem está apoiando com as reviews o/

Até o próximo cap o/