Livre para Voar
Por: Rukia Sohma
Esse é o primeiro romance/suspense que escrevo, espero que gostem! Mas... vou logo avisando aos menores de idade que essa trama envolve cenas de violência, sexo e linguagem forte. Por isso, se você tem menos de dezoito anos eu não aconselho a leitura.
Logo no começo da fanfic já temos cenas bastante fortes. Mas logo a trama ganha um pouco de calor humano, não se preocupem, admito que eu seja má, mas nem tanto. Podem esperar S&S!
Se você leu e achar que a história é digna de um comentário, eu ficarei muito feliz ao recebê-lo.
Disclaimer: todo mundo sabe que os personagens originais pertencem a Clamp, e não a mim, mas é melhor mencionar de qualquer forma...
Vamos a trama...
Já estava no segundo copo de vodka com soda. Não possuía o costume de beber, mas queria ficar propositalmente embriagada. Estava infeliz e tudo que queria no momento era esquecer a droga de vida que levava. Pediu mais uma dose para o barman e entornou-a de uma só vez. O líquido descia queimando-lhe a garganta de forma muito desagradável.
"Como que alguém consegue beber uma porcaria dessas?" – ela disse fazendo uma careta.
Decidira parar naquele barzinho ao voltar para casa, após um tempestuoso dia. Quanto mais tempo ficasse longe de casa, seria melhor. Já estava ficando com uma leve dor de cabeça e os seus problemas não desapareciam de sua mente. Fechou os olhos e as lágrimas escorreram de seus olhos pela face. Estava cansada demais, sentia-se derrotada e triste. Começou a se lembrar de quando todos os seus sonhos começaram a desmoronar.
Tudo começou ao conhecer Naota Sato. Um homem dez anos mais velho do que ela. Logo se apaixonou pela sua gentileza. Ele era tudo que ela esperava do homem de seus sonhos: educado, carinhoso e atraente. Sua família, entretanto, foi contra a união entre os dois, mas aos vinte e cinco anos, ela decidira se casar com ou sem aprovação. Fora uma linda cerimônia, com muitos convidados ilustres devido à posição importante de Naota que trabalhava para o governo. A lua de mel havia sido escolhida por ela e seu marido a levou para passear nas lindas ilhas gregas. Tudo era perfeito. Porém logo que voltaram para o Japão os problemas começaram...
"O que vai fazer hoje, Sakura?" – Naota perguntou após o banho.
"Vou até a universidade e depois vou até a casa do papai! Ainda não o vi desde que chegamos!"
"Não!" – ele respondeu enxugando os cabelos com a tolha.
"Não o que?" – ela não compreendia.
"Você não vai à casa de seu pai!"
"Como assim, querido?"
"Eu te proíbo de ver sua família novamente entendeu?"
"Naota... querido... isso só pode ser uma brincadeira, não é mesmo?"
Ele olhou para ela sério e não parecia estar brincando. Um medo se apossou de todo o seu ser, pois seu amado esposo parecia de repente muito ameaçador. Ele foi até ela e a segurando firmemente pela nuca, disse pausadamente:
"Eu não estou brincando! Sua família não aprovou nossa união e eu não quero que você volte a vê-los. Não me desobedeça, Sakura! Você está entendendo?"
Ela não queria acreditar. Seu marido parecia estar possuído por um espírito maligno. Seu olhar era frio e seu tom de voz ameaçador a ponto de deixa-la completamente amedrontada.
"S-sim..."
"Boa menina!"
Ele sorriu para ela e a beijou. Jogou-a sobre a cama e começou a acaracia-la fortemente, chegando a ser bruto. Ela estava assustada, dolorida. Mal reconhecia o marido. Ele era muito forte e estava sobre ela a beijando enquanto restringia seus movimentos segurando seus braços pelos pulsos. Ela sentiu que ele já demonstrava sinais de excitação e assustou-se com a idéia de que ele a tomasse a força.
"Solte-me! Está me machucando!" – ela pediu tentando empurra-lo.
Ele não deu atenção aos seus apelos e continuou a beija-la cheio de desejo. Sakura não conseguia acreditar que ele estava fazendo isso com ela. Estava prestes a ser possuída a força pelo próprio marido. Começou a chorar e pedir para que ele parasse, mas ele foi até o fim.
Os dias foram passando e Naota continuou a tratando cheio de gentileza, como se nada tivesse acontecido. Porém, toda vez que ele a procurava para fazer amor, ela não sentia mais desejo, sentia-se suja, desrespeitada. Chegava a sentir nojo de ser tocada pelo esposo. Não sentia prazer algum.
Sakura trabalhava na universidade como professora de literatura. Todos os dias ela ensinava aos seus alunos coisas relacionadas com o amor e romance, porém, tudo aquilo parecia-lhe um monte de mentiras, enquanto antes a fazia sonhar.
Numa tarde, estava corrigindo provas em seu gabinete, quando bateram à porta. Ao atender ela deparou-se com seu pai.
"Boa tarde, querida! Seu velho pai estava com muitas saudades!"
"Papai!" – ela jogou-se num abraço apertado ao pai e começou a chorar.
"O que houve, meu bem? Por que está chorando?"
"Eu estava com saudades! Só isso!"
"Então por que não foi lá em casa me ver?"
Como explicar ao pai que tinha medo do marido? Como explicar que se fosse vê-lo, tinha certeza de que seu marido faria algo muito ruim a ela? O pai notou preocupado que havia algo errado com ela, mas não sabia como ajuda-la, caso ela não lhe dissesse o que se passava.
Após o trabalho, Sakura foi para casa e sentia-se mais leve por ter visto o pai. Foi para sua suíte e entrou no banho. Ao voltar para o quarto, assustou-se ao encontrar o marido parado em pé, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Parecia que ele a estava esperando.
"Boa noite, Naota! Como foi seu dia?"
"Eu acho que fui bem claro quando a proibi de ter contato com sua família..." – ele disse nervoso.
"Eu não fui ver o meu pai. Ele apareceu lá na universidade e..."
"Não interessa!" – ele a cortou.
"Isso é um absurdo! Você não pode me dizer quem eu posso ver ou não!" – ela resolveu enfrenta-lo.
Ele foi até ela e virou um violento tapa em sua face, machucando-lhe o canto da boca que sangrou imediatamente.
"Nunca mais me desobedeça! Entendeu, Sakura?" – ele disse cheio de ira.
"Eu não te reconheço!" – ela respondeu chorando – "Você não é o homem com quem eu me casei! Você mandou alguém me espionar? Quem é você?"
"Como assim, querida? Sou o seu amado!" – ele disse com falsa gentileza, enquanto limpava o sangue do ferimento de Sakura com um lenço.
Sakura estava assustada. Ele segurava sua face com força e parecia estar louco. Seu marido era um homem bruto e violento e jamais havia se dado conta até estar casada. Agora podia se lembrar claramente o quanto seus pai e irmão haviam pedido para que ela não se casasse com ele. Mais uma vez, teve seu corpo possuído com brutalidade, pelo homem a quem chamava de marido.
O tempo foi passando e ela continuava vivendo em constante medo. Naota continuava a agredindo, por ciúme, por loucura, ou sempre que ela ousasse enfrenta-lo. Ela vivia escondendo as marcas que ele lhe deixava pelo corpo. Sentia vergonha e não contava para ninguém o que realmente acontecia e mentia sempre que alguém conseguisse perceber algum hematoma.
Um dia, seu pai, haviam ido até sua casa para vê-la, mas seu marido não havia permitido que ele entrasse, deixando bem claro para ele de que se ele queria o bem de sua filha, era bom que se afastasse dela. Depois disso, Sakura não voltou a vê-lo e nem a falar com ele pelo telefone, pois não queria lhe dizer o que estava acontecendo.
Cada vez mais sentia-se triste e estava cansada demais para brigar e discutir com o marido. Sempre que discutia a possibilidade de divorciar-se, ela apanhava a ponto de precisar ver um médico e ficava com tantas marcas que a impediam de ir trabalhar no dia seguinte. Ameaçara ir a policia, mas o marido dizia, com razão, de que ninguém acreditaria, já que ele tinha muitas amizades no governo que poderiam abafar o caso. Seria a palavra dela contra a dele.
Um ano depois, encontrou com o irmão num restaurante. Estava com uma amiga, professora de poesia da universidade, quando o irmão se aproximou, causando-lhe grande surpresa.
"Touya!" – ela levantou para abraça-lo.
"O que é essa marca em seu rosto? Aquele canalha que fez isso?" – ele perguntou segurando a sua face pelo queixo – "Ele te bateu, Sakura? Responda!"
Sakura tinha certeza de que havia escondido bem a marca com ajuda de um corretivo e maquiagem, mas seu irmão percebeu. Ele sempre fora excessivamente cuidadoso com ela, e nunca havia se metido em seus assuntos devido à intervenção do seu pai.
"Não é nada! Foi só um pequeno acidente!" – mentiu. – "Como está o papai?"
"Está internado! Tem quase um ano que ele passou um nervoso muito grande e teve um infarto! Ele havia se recuperado, mas o coração nunca mais foi o mesmo! Voltou ontem para o hospital!"
"Por que você não me avisou?"
"Eu tentei, mas parece que você não recebeu meu recado!"
Sakura começou a passar mal na mesma hora. Um ano! Que tipo de filha ela era? Como ela podia deixar aquela situação chegar a tal ponto, de que ela não sabia o que acontecia com o próprio pai? Além disso, tinha certeza de que o pai se encontrava nessa situação por preocupar-se com ela. Ela foi amparada pelo irmão e começou a chorar.
"Leve-me até ele!" – ela pediu aos prantos.
Enquanto o irmão dirigia para o hospital, ela prometia a si mesma que daria um fim ao inferno que estava vivendo. Já havia passado da hora de dar um fim ao seu pesadelo.
"Antes de vê-lo, devo avisa-la de que ele mudou muito! Está envelhecido e muito debilitado!" – Touya falou de maneira suave.
"Preciso vê-lo!" – ela disse rompendo em lágrimas novamente.
No hospital, tiveram um problema por não ser o dia de visitas. A recepcionista havia dito que eles não poderiam ver o paciente, sem que o médico autorizasse e por esse motivo eles foram procurar o médico responsável pelo pai. Chegando até o lugar mencionado pela atendente, Touya ajudou a irmã a sentar-se num sofá que havia no corredor e avistou o cardiologista que cuidava de seu pai desde o primeiro ataque do coração.
"Boa tarde, Kinomoto! Posso ajudar em alguma coisa?" – perguntou o médico.
"Boa tarde, Dr. Li! Preciso que autorize uma visita ao meu pai. Minha irmã soube agora o que aconteceu e deseja vê-lo."
"Entendo! Hoje não é dia de visitas. Seu pai está muito fraco, acredito que visitas em excesso possam ser prejudiciais, já que ele está na terapia intensiva."
"Por favor..." – Sakura levantou-se com lágrimas em seus olhos – "Deixe-me vê-lo, eu preciso ver o meu pai!" – as lágrimas caiam molhando-lhe a face.
O médico ficou muito surpreso. Aquela jovem finalmente havia levantado o seu rosto, revelando a bela face. Os olhos tristes e nervosos, incrivelmente verdes. Ele não teve dúvidas, era Sakura Kinomoto. Há quanto tempo não à via? Quatro anos ou mais?
"Sakura?" – ele perguntou, tentando confirmar o que ele não tinha dúvida alguma.
"Syaoran!" – ela o reconheceu - "Não sabia que trabalhava nesse hospital..." – ela disse, tentando acalmar as lágrimas.
"Não sabia que era filha do senhor Fujitaka, é a primeira vez que a vejo aqui..."
Ele percebeu que havia dito algo errado, pois, assim que ele terminou a frase ela rompeu novamente em lágrimas. Touya a amparou e a fez sentar-se novamente no sofá.
"Acalme-se, Sakura! Não é bom que o papai a veja triste assim..."
"Eu sou uma péssima filha... nem sei se posso ser digna de ser chamada assim..." – disse passando o lenço na face para secar as lágrimas.
Nesse momento, Touya percebeu que a marca roxa no rosto de Sakura havia se intensificado. Devido ao choro, Sakura acabou por retirar com o lenço, a maquiagem que disfarçava o hematoma. Ele novamente segurou a face da irmã delicadamente, e afastou os cabelos dela que caiam sobre, e ficou evidente a marca da agressão. Tanto Touya quanto Syaoran podiam ver claramente. Ela percebeu o que se passava e escondeu a região com a mão, adquirindo um olhar assustado.
"Sato te agride? Há quanto tempo isso vem acontecendo?" – ele perguntou nervoso.
Ela nada respondeu. Abaixou o rosto, envergonhada e ficou completamente muda. Porém, seu silêncio só confirmava que as palavras de seu irmão estavam corretas. Touya abraçou a irmã, sentindo-se culpado por deixar seu orgulho falar mais alto, e por ter virado as costas para ela após o seu casamento. Imaginou que se ele a procurasse antes, poderia ter evitado que ela sofresse esse tipo de abuso. Ele deu um beijo no alto da cabeça da irmã e depois se levantou bruscamente ficando de frente para Syaoran.
"Dr. Li, faça um exame de corpo e delito na minha irmã, por favor!" – falou estreitando os olhos, angustiado.
"Não, Touya! Eu vim aqui para ver o papai!" – ela levantou nervosa e segurou o irmão pelo braço de modo que ele se voltasse para ela – "Tudo que eu preciso nesse momento é vê-lo." – ela disse quase que suplicando.
"Mas Sakura... como você não veio me pedir ajuda? Como permitiu ele fazer isso com você?" – ele perguntava inconformado.
"Vocês estão muito nervosos!" – Syaoran pronunciou-se – "Venham até o meu consultório e poderão ter mais privacidade."
Touya e Sakura seguiram o médico pelos corredores brancos do hospital, até que finalmente chegaram à frente de uma porta onde havia gravado "Consultório do Dr. Li Syaoran". Era um consultório pequeno, com uma escrivaninha, três poltronas, uma estante repleta de livros, uma maca de exames, e diversos diplomas, em belas molduras, pendurados nas paredes. Ao lado da escrivaninha havia um pequeno gabinete repleto de instrumentos metálicos e medicações. Syaoran indicou o pequeno sofá de dois lugares para que Sakura se sentasse. Touya sentou-se numa poltrona que ficava em frente à escrivaninha e escondeu a face com as mãos tentando colocar seus pensamentos em ordem.
"Deseja que eu faça um exame de corpo e delito?" – Syaoran perguntou para Sakura.
Ela se assustou com a pergunta, pois não imaginou que aquilo seria levado a sério. Syaoran percebeu e tentou acalma-la dizendo que seria discreto, porém ela teria que realizar uma queixa na delegacia contra o seu agressor.
"Eu apenas quero ver o meu pai!" – ela pediu sem encara-lo.
"Faça o exame, Sakura!" – Touya pediu.
"Vocês não entendem que a única coisa que importa para mim no momento é ver o meu pai?"
"Tudo bem!" – Syaoran respondeu - "Eu vou autorizar, Sakura... mas só cinco minutos. Seu pai não pode sofrer grandes emoções e acredito que sua presença aqui já será emoção demais para ele." – ele sorriu para a conhecida, porém, ela continuou indiferente - "Por isso, tenha apenas atitudes positivas, não diga nada que possa fazer com que ele se altere e nada de contar novidades, informação demais pode ser prejudicial."
No começo da noite ela dirigia de volta para casa. Estava vivendo um carrossel de emoções. Havia visto o seu pai no hospital e mal o reconheceu, magro, abatido e sem vida. Havia uma diversidade de fios o monitorando e uma máscara de oxigênio o ajudando a respirar. Ele dormia serenamente e nem chegou a perceber de sua presença ali. Depois havia conversado com o Dr. Li que a deixou a par do que estava acontecendo com o pai. Apesar do fato do médico ter dado boas notícias sobre a recuperação de seu pai, ela achava que ele não estava sendo totalmente ético e tentava camuflar a realidade um pouco mais grave. Ainda no final daquela tarde ela voltara a discutir com o irmão tentando convencê-lo de que não havia motivos para se preocupar com ela e a marca era de um pequeno acidente doméstico. Ele somente sossegou com a promessa feita por ela, de que manteria contato e que o avisaria se algo estivesse acontecendo.
Passando em frente a um barzinho que parecia ser um lugar bastante discreto, decidiu parar um pouco, já que era hora do rush e dirigir para casa estava insuportável. O ambiente era bastante refinado, cheio de executivos e universitários que aparentemente curtiam o happy hour. Sentou-se num banco em frente ao balcão e começou a decidir o que beber. Um suco, ou talvez um coquetel leve, seriam excelentes, já que dirigiria novamente. Começou a pensar no que fazer, caso Naota já soubesse onde ela estivera o período da tarde. Ela descobrira que ele não mandava mais espiona-la, pois por um ano inteiro ela havia obedecido as suas ordens absurdas.
"O que deseja beber, senhora?" – o barman a atendeu.
Novamente ela desceu os olhos para a carta de bebidas e percebeu que o balcão era todo espelhado. Foi então que seu reflexo chamou sua atenção. Olhava para sua imagem com tristeza, pois seus olhos eram melancólicos e sua feição era tão pesada que parecia ter envelhecido dez anos. Não reconhecia mais a garota de vinte e seis anos que era. Fechou a carta de bebidas e olhou para o barman que aguardava ela realizar o pedido.
"Quero algo que faça esquecer a droga de vida que levo."
O atendente a olhou com cara de que não havia entendido nada. Então ela sorriu fazendo o rapaz relaxar e tornou a fazer o pedido.
"Hoje quero esquecer minhas preocupações, por isso me dê algo forte e que me deixe entorpecida, tudo bem?" – ela completou com outro sorriso que deixou o rapaz mais tranqüilo.
"Se a senhora quer apagar, sugiro vodca! Pode ser com soda?"
"Claro! Adoro soda!"
Foi assim que ela começou a beber naquele inicio de noite. Porém, a falta de hábito só tornava a experiência altamente desagradável. Ela concluiu após a terceira dose de que não estava ficando bêbada e sim com uma baita dor de cabeça. Além disso, ela não esquecia os problemas e sim lembrava deles com mais clareza. Talvez não houvesse remédio para sua dor, talvez não houvesse saída para fugir de sua triste realidade. Não havia nenhuma luz no fim do túnel e não havia esperança para o seu futuro.
Estava fadada a sofrer até o fim de seus dias, Naota jamais se divorciaria e jamais seria um bom marido. Não que ela quisesse, pois não sentia nenhum sentimento por ele que não fosse medo ou ódio. Não havia outra coisa a fazer para tudo aquilo acabar a não ser: dar um basta em sua própria vida. Só isso poderia liberta-la do reinado de sofrimento que ela habitava.
Por um momento, lembrou-se de tudo que Naota a fazia passar. Pedidos absurdos, torturas psicológicas, agressões físicas, lesões corporais e após tudo isso ele dizia estar arrependido, jurava amor eterno e a possuía como se fosse um animal selvagem. Porém, toda essa situação estava próxima do fim, pois naquela noite ela não seria vítima dele novamente, ela não voltaria a olhar para a fúria daquele homem, nunca mais.
Pagou o barman e agradeceu por ele ter sido tão gentil. Voltou para seu luxuoso carro, presente de seu esposo, e começo a planejar como poderia acabar com sua sofrida vida. Não queria nada dolorido, pois ela já havia sentido dor o suficiente nas mãos de seu marido monstro. Também queria algo que fosse instantâneo para não ter tempo de se arrepender ou sofrer. Descartou várias possibilidades, até avistar a torre de Tóquio. Era perfeito. Lá com certeza haveria algum lugar de onde pudesse pular para sua liberdade.
Chegando ao local, foi informada de que a atração se encerraria em menos de uma hora, mas ela não precisaria de todo esse tempo mesmo. Sua dor de cabeça crescia cada vez mais e parecia que explodiria a qualquer momento. Sentia-se tonta e agradeceu ter bebido algo para dar coragem no seu plano. Chegou através do elevador, a uma plataforma de observação e percebeu que ali havia um grande sistema de segurança e que seria impossível concluir sua vontade, porém estudou cada lugar do local e como imaginou, encontrou uma brecha na segurança. Ali estava seu passaporte para a liberdade. Era o fim de seus sofrimentos, o fim de sua droga de vida.
Apoiou-se sobre a grade de proteção e observou a altura em que estava. Teve a certeza de que morreria na mesma hora que alcançasse o solo de concreto. Pensou em seu pai e em seu irmão. Não queria dar esse sofrimento a eles, mas ela não tinha mais forças para continuar a lutar contra Naota. Estava derrotada e não havia mais o que fazer.
Com alguma dificuldade ela subiu e ficou de pé sobre a grade de proteção. Naquele horário quase não havia pessoas ali e as poucas que restavam estavam afastadas. Ela olhou mais uma vez para o seu destino: o chão. Sentiu uma leve vertigem devido à altura, mas nada que a desequilibrasse. Seria aquele o seu fim? Seu futuro realmente não havia reservado nada de bom para sua vida? Ela abriu os braços como se preparasse para voar e fechou os olhos. Não havia mais nada a se fazer. Seu último pensamento: "Se houver realmente a chance de eu voltar a ser feliz, Deus me salvará..." e ela inclinou lentamente o corpo para frente.
Foi tudo tão rápido. Num momento ela sentiu o corpo começar a inclinar e no outro ela sentiu alguém a puxar pela cintura, trazendo seu corpo de volta para a segurança da plataforma. Assustada, ela demorou um tempo para perceber que havia caído sobre a pessoa que havia a impedido de pular. Olhou então para o rosto conhecido. Ele estava com o olhar assustado e respirava de forma nervosa, como se houvesse corrido até ali.
"Sy... Syaoran? Por quê?"
"Meu Deus, Sakura! O que estava fazendo? Você realmente pretendia pular?" – ele perguntou muito alterado.
Foi então que ela caiu em si do que pretendia fazer. Ela havia escolhido o caminho da covardia para se livrar de seus problemas. Mas ela estava tão cansada e não enxergava mais solução a não ser... o fim definitivo.
"Por que você me impediu!" – ela perguntou caindo num pranto desesperado – "Por que..."
Ele a abraçou e tentou acalma-la como quem tenta acalmar um bebê. Naquela noite havia marcado de encontrar no térreo da torre de Tóquio com uma garota e depois iram jantar e ir ao teatro, mas ao ver Sakura chegar no local reconheceu que havia algo errado. Ela andava com passos inseguros, parecia que estava... bêbada. Após procura-la por toda a plataforma de observação, a encontrou a ponto de se jogar da torre e numa corrida frenética ele a alcançou no último minuto.
"Calma... vamos embora daqui!" – ele então a ajudou a caminhar devido a falta de forças que ela apresentava.
Ele a conduziu até o seu próprio automóvel e a colocou no banco do carona. Deu a volta e ao entrar percebeu que ela evitava olhar diretamente para ele. O que deveria fazer? Leva-la ao hospital, para que uma equipe médica especializada, pudesse ajuda-la seria o correto, mas estranhamente sentia pena por ela ter que ser submetida a um rigoroso tratamento psiquiátrico, além disso, já sabia o inferno que a esperava. Talvez devesse tentar conversar com ela...
"O que devo fazer, Sakura? Leva-la pra sua casa?"
Finalmente ela olhou para ele. Seu olhar estava cheio de terror e ele percebeu que a simples idéia de leva-la para casa a transtornava. Ela começou a chorar novamente e ele teve certeza de que não deveria leva-la para sua fonte de preocupações.
"Tudo bem se eu te levar para a minha casa?" – ele perguntou meio incerto. Ela concordou fazendo um gesto positivo com a cabeça.
Continua no próximo capítulo!
Olá pessoal! É isso aí! Aguardem que a Sakura parece que recebeu uma ajudinha especial de Deus!
Será que ela vai conseguir achar novamente a felicidade?
Até o próximo...
Ah... comentem, por favor! Mas não judiem de mim porque a história é um romance, então podem aguardar um andamento mais leve! Também peço desculpas pelos erros, pois não tenho alguém pra revisar!
