Cap 4 – Pena? Como Assim?
Puxa, a semana correu depressa mesmo. Não tive tempo pra escrever, mas tenho bons motivos: amigas com problemas (não que isso seja 'bom'), treino de Quadribol (êêê), pequenos imprevistos e bem, pra completar tem o Rony e ele sempre dá trabalho, mesmo quando não faz nada.
Primeiro vou contar como foi a conversa que eu, finalmente, tive com Luna. Foi no final do segundo dia de aula, quando eu e Liv estávamos tentando descobrir quando seria o primeiro dia de visita a Hogsmeade.
Luna parece realmente diferente! Quero dizer, ela ainda acredita em coisas absurdas e tudo o mais, mas aquele ar de biruta que ela tinha, desapareceu já que ela consegue, agora, se concentrar perfeitamente em uma conversa. Eu fiquei espantada! O que é que tinha assim de tão poderoso na Escócia? Foi uma mudança muito positiva, na verdade.
Eu contei a ela que quase tentei mata-la por telepatia, depois daquele pesadelo e ela riu. Eu perguntei como realmente era o tal monstro e ela até tentou fazer suspense, dizendo que pra isso eu tinha que ver com meus próprios olhos as fotografias e tal, mas sob ameaça de morte, ela me explicou que ele era gigante, tinha uns 20 metros de comprimento e que mais se assemelhava a uma (pasme!) serpente do que com um dragão, como eu tinha imaginado.
É o meu fim, eu digo. Quero dizer, se eu fosse realmente seguir o conselho de Mione (sobre prestar atenção as mensagens dos sonhos) eu já teria fracassado, antes mesmo de tentar. Eu tive aquela idéia sobre o monstro do sonho ser um basilisco, mas era o outro monstro, o do lago Ness, que se parecia com o basilisco. Sério, eu desisto. Desisto mesmo. Chega.
Mudando de assunto, então, eu mencionei 'amigas com problemas', mas eu apenas exagerei. Kelly continua com a idéia de que está certa e não vai pedir pra que Sam fique lì esperando por ela (er...como eu diria?), sozinho e sem traí-la. Será que é esse o medo dela? Traição? Bem, cada um com seus demônios. Liv e Jenn estão determinadas a arrumarem namorados antes do passeio a Hogsmeade. Não posso culpa-las, deve ser muito mais divertido quando você vai lá acompanhada.
Mas o que me animou mesmo foi o treino de Quadribol. Vamos ter nosso primeiro jogo (contra a Sonserina, infelizmente) esse domingo. Rony está mais confiante e isso é muito, muito bom. Não que ele seja um goleiro muito, muito ruim...bem, com Harry de volta ao time (ele agora é o capitão! Quer dizer, agora que Angelina saiu da escola e depois dos gêmeos terem, deliberadamente, abandonado os estudos, Harry era o jogador mais experiente e eu realmente não imagino ninguém que mereça mais esse cargo do que ele), e com Rony um pouco melhor, a vitória da Taça esse ano é tão certa quanto a Poção do Esquecimento que eu fiz essa semana, na aula de Poções.
Eu nunca fiquei tão feliz na vida ao ter o Snape tão próximo da minha mesa. Ele a examinou durante a aula (certamente querendo me humilhar, pra variar), enquanto vários sonserinos nojentos torciam pelo meu fim. E foi incrível, um momento mágico: ele ergueu uma sobrancelha e disse "Um bom trabalho". Tudo bem, ele não me deu pontos, mas...qual parte do 'bom trabalho' você não entendeu? Ele me elogiou! Snape! Rì mal consigo acreditar (e olha que já se passaram dois dias!).
Já percebeu que depois de um elogio, você se sente mais confiante para 'seguir em frente'? Quero dizer, depois do que Snape disse, eu fiquei determinada a ganhar pelo menos cinco pontos para a Grifinória, numa aula dele.
E isso significava que eu tenho que estudar mais. Então decidi que vou estudar hoje, na biblioteca, depois da aula de Herbologia. Estou indo para as estufas, inclusive.
Estou tentando não me matar, mas não estou tendo absoluto sucesso, então preciso organizar as idéias. Normalmente eu faria isso com alguma das minhas amigas, mas nenhuma delas está presente e eu já desenvolvi o hábito de escrever tudo aqui, então, lá vai...
Como eu programei, depois da aula de Herbologia, me direcionei com as melhores intenções para a biblioteca. Conforme eu disse antes, Jenn e Liv estavam mesmo motivadas a não ficarem sozinhas, naquele passeio, e parece que tinham tudo programado, logo não quiseram me acompanhar.
Kel, por sua vez, estava determinada a terminar todas as lições antes do final de semana, porque segundo ela, era o único tempo que ela teria para ler seus adorados romances (eu acho que esqueci de falar, mas o que ela mais faz nessa vida, depois de dormir, é ler romances).
Eu, como todo mundo que freqüenta aquela biblioteca, tenho minha mesa preferida, e ela fica exatamente em frente à seção de livros de história, que não era, absolutamente, o motivo de eu estar ali.
Fiquei dando uma volta na Seção de Poções, evitando ter que pedir ajuda de Madame Prince – ela não é a pessoa mais simpática do mundo – e acabei achando três livros que poderiam ser úteis. Voltei pra minha mesa, que felizmente estava desocupada, e abri meu caderno, procurando o assunto de Poções.
Comecei a estudar normalmente, mas só não fiquei realmente entediada porque um dos livros que peguei tinha figuras de todas as poções e várias fotos das ervas específicas. Se assemelhava muito a um livro de receitas que minha mãe tem. Eu sorri ao lembrar daquele livro, porque mamãe tentou me ensinar várias vezes a cozinhar, mas o máximo que eu consegui realmente aprender a fazer foi torta de maçã – e isso porque o preparo é extremamente simples. Mas eu acho que estou pegando a prática.
Ainda estava pensando nisso, folheando desatenta o livro de Poções, quando ouvi uma voz fria e calma, às minhas costas:
"Weasley!...Está tentando se alfabetizar?".
Não é como se eu não soubesse quem falou aquilo, mas eu tentei ignorar. Fingi que não tinha ouvido, mas na verdade estava pensando, exasperada 'Certo. Em que ponto Hermione se equivocou? Veja bem, ela disse que o Malfoy tinha deixado de perturbar eles três – porque ele tinha que cismar logo comigo? Porque ele tinha que continuar a ME perturbar? PORQUE, Senhor?'.
Ele pareceu curioso por eu não ter respondido e eu senti que ele estava chegando mais perto. Eu (que estava olhando tanto pra um ponto cego no livro que de repente senti medo dele simplesmente furar) pude perceber que o Malfoy estava atrás de mim, olhando por cima do meu ombro.
"Poções? Que interessante. Essa sobre 'mudar totalmente o visual' pode ser bastante útil pra ajuda-la a esconder essas sardas, Weasley". Nesse ponto eu parei para observar melhor o livro e percebi que era isso mesmo que estava escrito ("Mude totalmente de visual em apenas três passos"). ARGH, como eu odiei minha distração. Mas eu estava decidida a não me aborrecer com ele. Não estou muito certa do porquê.
Levantei da minha mesa preferida, juntei os livros e cadernos de qualquer jeito e me encaminhei pra uma mais atrás, que também estava desocupada. E você acredita que ele me seguiu? Por Merlin, ele não tinha nada melhor pra fazer do que me aborrecer? Provavelmente não, porque ele disse, soando apenas curioso e não mais sarcástico:
"Está fugindo de mim, Weasley?".
E eu que pensei que isso fosse óbvio...resolvi responder, só pra ver se a ficha caía e ele ia embora "Bem, já que você perguntou, SIM".
Dessa feita, ele pareceu divertido quando perguntou "Porquê?".
"Porque eu estou decidida a não me aborrecer com você, Malfoy", eu ainda não consigo entender o que me fez ser sincera com ele. Não que eu fosse mentir, mas normalmente eu diria 'Não é da sua conta!', e iria embora. Deus, eu estou pirando.
"É mesmo? E eu posso saber porquê?", ele perguntou, quase ingenuamente, com um falso sorriso simpático.
Porque ele me aborrecia? Ele estava brincando, não estava? Oh...então era isso. Ele estava me aborrecendo NAQUELE momento, propositalmente. Ah, eu o odiei mais do que nunca naquele momento; queria pegar minha varinha no bolso e ataca-lo ali mesmo, mas alguma coisa, no meu mais profundo inconsciente (se é que isso é possível) me fez apenas responder, calmamente "Porque você não merece".
Por um momento houve apenas silêncio, como se ele estivesse processando a minha resposta. O pior é que, na hora, eu também estava tentando entender porque tinha dito aquilo. Eu achei que tinha querido soar como 'você não merece que eu perca meu tempo com você', mas eu acabei percebendo que não foi isso que eu quis dizer. Ele pareceu, estranhamente, seguir a mesma linha do meu raciocínio.
"O que você quer dizer com isso, Weasley?", ele disse, se aproximando lentamente da minha mesa e soando tão frio quanto um iceberg pode ser.
Eu não iria admitir, é claro! Estava chocada demais comigo mesma, para falar qualquer coisa, mas me apressei em pensar rápido: eu tinha que desviar o assunto. "Desde quando Draco Malfoy se importa com o que eu digo?", eu disse, tentando soar perfeitamente calma, enquanto sentia meu coração bater loucamente dentro do peito. Era como se duas mentes funcionassem, naquele momento, na minha cabeça. Uma me fazia responder a ele e a outra continuava pensando 'Virginia Weasley! Você não quis dizer o que eu acho que você quis dizer...você quis?'. O pior é que o pensamento dele seguia o mesmo caminho que a minha 'segunda mente' e ele não se deixou distrair.
"Você não quis dizer que sente pena de mim, não é, Weasley?", aqui eu pude notar o quanto ele estava furioso, embora sua voz fosse baixa e calma. "Porque você nada sabe sobre quem eu sou. E eu realmente não preciso disso", ele acrescentou, olhando pra mim como se eu fosse menos que nada.
Aquilo me deu um estalo. Eu estava discutindo com o Malfoy? E não tinha nenhuma varinha a mostra (nem minha, nem dele!)? Quero dizer, era absurdo, ele não estava ameaçando me atacar e eu também não tinha tido tempo pra pensar em fazer isso com ele.
Aparentemente estávamos chocados demais, cada um ao seu modo, com o rumo da conversa. Eu tentei novamente, parecer que sabia do que estava falando e respondi, sendo (pra minha própria surpresa) absolutamente sincera "Eu não sinto pena de você, Malfoy. Eu apenas sinto muito por você".
Quando eu disse isso, eu pude ver que ele ficou surpreso e isso o calou por alguns segundos. Depois os olhos dele faiscaram e, tenho certeza, ele ia dizer alguma coisa para contornar a situação, mas eu peguei rapidamente o meu caderno e minha mochila, deixando os livros na mesa e fui embora dali, antes que a 3° Guerra Mundial se anunciasse.
Agora estou aqui, no dormitório, tentando não me matar. Eu disse que queria organizar as idéias? Bem, acabo decidir que não quero ter que pensar a respeito agora. Não quero, não quero mesmo!
Eu desisto. Ou, se preferir, eu me rendo. São duas da manhã e eu não consegui dormir até agora. Vou traçar uma linha de raciocínio pra tentar entender o que eu quis dizer com tudo aquilo, agora.
'Porque Diabos Isso Teve Que Acontecer Comigo'.
1- Eu fui franca com ele. Desde quando ele merece isso?
2- Eu disse que não queria me aborrecer com ele. Fora o fato de que foi exatamente o contrário que aconteceu, eu não sei o que isso significa. Quer dizer, normalmente eu só o ignoraria ou tentaria manter distância, como eu fiz no começo daquela conversa absolutamente sem sentido. Então...porque eu respondi todas as perguntas dele, com sinceridade e, daquela forma?
3- Quando eu percebi que ele estava me irritando de propósito, eu me enraiveci. Aonde foi parar toda aquela raiva? Quando exatamente e porque ela sumiu? O QUE ME FEZ DIZER AQUILO?
4- Eu sinto pena dele, afinal de contas?
5- Como é possível que ele tenha seguido o caminho exato do meu raciocínio? Quero dizer, se ele entendeu de cara que eu, muito possivelmente, estava sentindo pena dele, é porque ele já tinha essa idéia pré-estabelecida nos seus próprios conceitos. Isso significa que ele acha/sabe que tem gente que sente pena dele? Quero dizer, pena do MALFOY?
6- (apenas uma extensão do quarto e quinto ponto) Pena porque, especificamente? Porque o pai dele era, agora publicamente, um Comensal fugitivo? Porque seus 'amigos' o estavam tratando de modo diferente (era comum nota-lo comendo sozinho, e Mione disse que nas aulas que eles tinham junto com a Sonserina, ele passara a se sentar com uma garota Parkinson, acho e não mais com um dos seus capangas particulares)?
7- Será que minha teoria de que a mãe dele tem algo a ver com o fato dele estar absolutamente diferente, está certa? Risque o 'absolutamente', comigo ele parece continuar sendo o mesmo crápula de sempre.
8- Porque eu não tenho controle sobre as coisas que EU faço, digo e penso? Afinal de contas, sou EU que faço essas coisas. Ou uma parte de mim, sei lá.
9- Eu disse, num momento de completa insanidade, que 'sentia muito por ele'. Além do fato de que eu tenho quase certeza de que fui possuída, naquele exato momento, eu não sei de mais nada.Quero dizer, eu nunca realmente tinha parado pra pensar nessa coisa do Malfoy, mas, na hora, eu soube exatamente o que dizer, embora não tenha a certeza de aquilo foi o certo a se dizer.
Certo. Respire, Ginny. Vamos nos ater a esse ponto por um minuto. Você (eu, no caso) sente muito pelo Malfoy?
(pausa de quase cinco minutos e um grande suspiro)
Creio que sim. Quero dizer, imagina só: você, por mais cruel e rabugento que seja, vê o nome da sua família na lama, descobre que seu pai é um Comensal (não que eu ache que ele já não soubesse, mas como todos não estavam acreditando que Você-Sabe-Quem tinha retornado, ele podia achar simplesmente que o pai dele tinha, sei lì se aposentado. Hum, péssima teoria) e se exclui do mundo. Não pode ser bom.
Certo, depois dessa teoria absurda, acabo de decidir que não tenho a mínima idéia do que realmente aconteceu na biblioteca e declaro, em minha defesa, momentâneo estado de insanidade.
"In my place, in my place,
Were lines that I couldn't change, I was lost, oh yeah.
I was lost, I was lost, crossed lines I shouldn't have crossed,
I was lost, oh yeah"
(Coldplay – In my place)
N/A:
'Você nada sabe sobre quem eu sou'. Código Da Vinci.
