Cap 10 – Os Efeitos

Eu não morri, mas acho que cheguei muito próximo disso. Quero dizer, a poção – e essa é a melhor parte da história – funcionou perfeitamente. Tanto que eu só fui acordar às 15h40 de ontem. E isso significa que eu dormi durante todo o domingo e mais umas horas da segunda, o que somam umas 35 horas seguidas! Isso não pode ser normal. Eu dormi muito, realmente. E não tive sonho algum. Deus, como fiquei feliz.

Quando levantei e me dei conta de que tinha perdido todas as aulas do dia, me senti ligeiramente culpada, mas como não dava mais tempo de ir pra aula, eu me dirigi para a cozinha e consegui pegar alguma comida. Depois fui para o Salão Comunal, para esperar as meninas. Fiquei lì ainda meio entorpecida pelo sono, quando elas finalmente voltaram das aulas. Eu não estava realmente reclamando, mas fiquei curiosa e perguntei "Porque nenhuma de vocês me acordou? Eu perdi várias aulas!".

"Nós e que Exército?", Liv perguntou, irônica. Ah, ela devia estar exagerando. Meu sono nem é tão profundo assim...ou é? "Nós tentamos. Mas sabíamos que você não dormia há vários dias, então achamos melhor você simplesmente descansar".

Eu suspirei e disse "Vocês não têm NOÇÃO do quanto é bom dormir".

"É claro que temos" Kel disse "Nós dormimos todas as noites". Ela estava me provocando, é claro. Agora... isso é realmente muito injusto, porque elas estavam minimizando uma coisa que era tão importante para mim?...Certo, eu não estou realmente falando sério. Elas estavam só tirando uma com a minha cara e eu não me importo. Não muito.

Eu ia responder alguma coisa, mas senti uma forte dor no estômago. Parecia que eu tinha levado um soco ou algo equivalente, e eu fiquei sem ar, por uns segundos. Eu procurei ficar parada e apenas tentar recuperar minha respiração, quando comecei a sentir uma dor de cabeça infernal. Isso não era...ah, isso não podia ser...Que ótimo. Os efeitos colaterais.

Eu levantei apressada (sem nem me justificar com as meninas) e ainda sentindo muita dor no estômago, eu corri para o dormitório, onde peguei a tal lista de ingredientes que Jorge tinha escrito para mim. Eu estava começando a sentir meu estômago se revirando dentro de mim. Oh, Deus. Foi horrível.

Desci o mais rápido que consegui, e segui diretamente para a Ala Hospitalar. Só que isso parecia estar sendo particularmente muito mais difícil do que costumava ser. Eu não podia me lembrar exatamente do caminho, com aquela dor de cabeça. Eu estava simplesmente me arrastando pelos corredores de Hogwarts – eu não estou exagerando, quero deixar claro. Foi realmente assustador. Pelo menos as partes que eu consigo me lembrar.

Quando eu, ainda meio que me apoiando pelas paredes, senti que tinha tropeçado em algo, nem me dei conta de que alguém me amparou. Certo, foi muita sorte ele está passando por ali. Eu estava só meio consciente de que não eram as minhas pernas que estavam me sustentando, quando o Malfoy perguntou, incerto "Weasley?...Você está bêbada?".

Como ele podia perguntar uma coisa como aquela numa hora tão imprópria? Eu estava quase tendo um derrame cerebral e ele ainda conseguia fazer piadas? Que mundo injusto.

Na hora eu não estava realmente consciente de que ele estava fazendo piada, quero deixar claro. Eu não tinha realmente noção de nada por ali. Lembro de ter balbuciado algo como "A poção...efeitos colaterais", ou algo que equivalha.

O bom do Malfoy é que ele parece saber agir sob pressão. E tem o raciocínio muito rápido também. Quero dizer, não estou querendo ofender ninguém, mas se fosse o Rony, ele teria ficado lá parado, olhando aterrorizado para mim e até tomar uma atitude eu já estaria, provavelmente, muito pior.

Eu me lembro do Malfoy tentando me fazer andar até a Ala Hospitalar, porque eu tive um momento de lucidez, detrás de todo aquele entorpecimento. Só que eu não estava realmente lúcida. Eu podia falar normalmente e tudo o mais, mas eu não estava sendo coerente, acho. Eu disse, lentamente "De onde saíram esses... vaga-lumes?". Tinha uma centena deles naquele corredor. Eu podia vê-los piscando.

Malfoy olhou estranhamente para mim e perguntou "Que vaga-lumes?".

"Ali", eu disse, enquanto apontava "Olha, ali também", e o mais estranho é que eu lembro de ter olhado para ele e ter notado que ele estava com a testa franzida e uma ruga de (acho) preocupação. Isso significava que ele não estava acreditando em mim? Eu estava vendo, oras! "Não é possível que você não esteja enxerg...", eu estava meio brava, naquele instante. Mas não consegui terminar aquela frase, porque eu...apaguei, naquele momento.

Tudo o que me lembro é de ter acordado, quando alguém me colocava sobre uma das camas da Ala Hospitalar. Como eu tinha chegado até ali? Eu não fazia idéia. Aí eu notei que o Malfoy ainda estava lì olhando com a testa franzida para mim.

A dor de cabeça estava sumindo, o que ajudava a me fazer pensar mais claramente, mas o meu estômago estava decididamente pior. Estava dando voltas e pulos e todo o tipo de coisa que lhe dá a certeza de que você vai vomitar.

"De que modo eu cheguei aqui?", eu perguntei, com a voz meio estrangulada. Eu realmente não lembrava. E tinha um bolo se formando na minha garganta. Argh.

"Eu trouxe você pra cá", ele respondeu, não prestando muita atenção em mim. Ele estava olhando para a porta.

"Como você fez isso?", eu perguntei, surpresa. Quer dizer, eu não lembrava, então ninguém pode me culpar por eu ter ficado surpresa. Certo?

"Eu arrastei você pelo cabelo", ele disse soando meio aborrecido, meio apreensivo. E depois completou "Madame Pomfrey não está aqui. Eu vou atrás dela", ele disse e se virou para sair, mas eu segurei seu braço para impedi-lo de ir e lembro que eu ia dizer alguma coisa, alguma coisa que eu precisava realmente falar, mas tudo que eu disse foi "Malfoy..." e depois, me virei para o outro lado e vomitei. Muito.

A sensação era horrível. Eu nunca tinha sentido todos aqueles sintomas juntos, de uma vez só. Malfoy tinha sumido, quando eu voltei a me deitar normalmente. E depois daí, eu lembro que meus sentidos pareceram ficar muito mais aguçados.

Eu podia ouvir claramente o relógio de parede da Madame Pomfrey, que ficava em seu consultório, e podia sentir um forte cheiro de material de limpeza por ali. Minhas pálpebras pareciam pesar uma tonelada e eu não conseguia abrir os olhos, mas, estranhamente, eu ainda podia ver os vaga-lumes, mesmo com os olhos fechados. Em seguida, eu lembro de ter ouvido passos e vozes, e depois...bem, eu realmente desmaiei.

Quando eu acordei, senti um terrível gosto de maçaneta na boca (ah, eu sei que isso não faz muito sentido, mas não dá pra explicar. Só quem já sentiu sabe como é ruim). Me virei e dei de cara com o Rony, sentado numa cadeira, olhando pra mim com olhos vidrados. Acho que ele estava ali há muito tempo. Isso já era hoje de manhã. E novamente eu não tive sonho algum! O que significaria aquilo? A poção teria efeito permanente?

"Ginny!" Ron se assustou ao ver que eu estava acordando "Puxa, Gin, o que aconteceu com você? O que diabos você fez? Você está se sentindo melhor? Eu passei a noite toda aqui e você não se mexeu um único minuto...eu achei que você tinha, eu pensei que você podia...O que diabos aconteceu, afinal de contas?" ele repetiu.

"Oi pra você também", eu disse. Torpor era a palavra do momento. Eu estava, provavelmente, drogada demais pra pensar em qualquer coisa. Nesse momento, Madame Pomfrey veio se aproximando da minha cama, com uma cara severa.

"Ah, criança. Você não devia ter tentado fazer aquela poção por conta própria! E tudo porque eu não pude lhe dar, naquele dia", ela disse, mas parecia estar falando com ela mesma. Então ela achava que eu tinha tentado preparar a poção? Ótimo, pelo menos a culpa não cairia nos gêmeos. "E misturar Alécio com Salvinia! Onde já se viu?". Ah. Então ela tinha visto o papel com os ingredientes. Eu lembrava de ter levado comigo, mas não lembrava de tê-lo segurado o tempo todo. Sei lì talvez o Malfoy tenha visto e tenha dado a ela. Puxa, o Malfoy! Quer dizer, se eu estava ali e Madame Pomfrey tinha cuidado de mim, ela sabia que tinha sido o Malfoy que tinha me ajudado. E se Rony estava ali, talvez ele...

"Eu ainda não entendo como a Ginny chegou aqui. Quero dizer, se ela estava com todos aqueles efeitos colaterais, como ela pode ter andando até aqui, de qualquer forma?", Ron estava perguntando. Parecia que ele tinha escutado o que eu estava pensando.

"Acho que isso não é o mais importante, no momento" eu ouvi Madame Pomfrey dizendo e meu queixo caiu, em surpresa. O que significava aquilo?...Será que o Malfoy tinha, sabiamente, pedido a ela que não falasse nada a ninguém? Mas com que justificativa ele teria pedido isso? E porque Madame Pomfrey teria concordado em entrar nessa conversa toda? Deus, eu preciso lembrar de fazer uma lista com todas as perguntas que um dia ainda vou fazer para o Malfoy. As atitudes dele me chocam, me surpreendem. Ele, definitivamente, não é previsível.

Madame Pomfrey continuou a me passar um sabão depois disso e disse que eu ficaria lá até a hora do almoço. Eu estava passando muito mais tempo na Ala Hospitalar do que necessariamente nas aulas. Ron tentou me fazer várias perguntas, mas eu fiz cara de cansaço e Madame Pomfrey o expulsou de lá. Bem, estou me sentindo um pouco culpada. Eu não vou contar a Rony o que aconteceu, porque não posso explicar pra ele como eu fui parar em Londres.

Bem, à tarde eu fui assistir as aulas de Adivinhação e Feitiços normalmente, e agora estou indo ao corujal mandar uma carta para Fred e Jorge. Ela diz o seguinte "Oi rapazes. Eu agradeço muitíssimo pela ajuda e agradecerei ainda mais se vocês não contarem, em hipótese alguma, pra ninguém (e isso quer dizer: principalmente a mamãe) que eu estive aí. A poção funcionou perfeitamente bem, eu não tive sonhos nas últimas duas noites. Mas senti os efeitos colaterais e bem, tudo o que tenho a dizer é: nunca misturem Alécio e Salvinia. Não me perguntem porque! Com amor, Ginny".

Eu preciso voltar a ter uma vida normal, sabe? Sem toda essa maluquice de Ala Hospitalar, poções e tudo o mais. Sinto saudade da época em que eu simplesmente comparecia às aulas, fazia minhas tarefas e conversava com as meninas. Na verdade, eu sinto saudades até das aulas do Snape. E é sério.


N/A:

'Nós e que exército?', adaptado de Gilmore Girls.