Cap 11 – Quando Tudo Começa a Dar Errado

Dizem que as coisas pioram antes de melhorar. Mas quem disse que elas iriam melhorar? Droga. Droga. Droga.

Eu tenho que começar contando que hoje eu vi o Malfoy duas vezes. A primeira vez foi no café da manhã. Eu estava explicando pra Kel, Liv e Jenn que havia comido algo que não me fez bem no outro dia e por isso fui parar na Ala Hospitalar. Elas acabaram engolindo a minha história (não sei como!).

Foi aí que meus olhos se voltaram em direção a mesa da Sonserina. E não é difícil você encontrar o Malfoy, principalmente com todo aquele cabelo platinado-chamativo, e quando ele naturalmente já chama a atenção.

Eu não sei o que me fez ficar observando-o (eu nunca tinha feito isso antes! Quer dizer, só aquela vez, no Lago, mas aquilo foi puro acaso), mas eu fiquei e bem, aconteceu uma coisa que inexplicavelmente me tirou a fome. Uma garota se pendurou no pescoço dele. A Parkinson, pelo que Mione me disse uma vez. E quando eu digo 'se pendurou no pescoço', eu quero dizer issoÉ uma cena que eu não vou esquecer, porque ela estava lá se jogando em cima dele e o Malfoy nem se mexeu. Ele não parecia querer ser abraçado. E não estava abraçando de volta. De longe, eu pude notar que ele parecia irritado, mas a garota parecia nem ligar, ela falava e falava e falava. Por Merlin. Aquela asquerosa não poderia ser um pouco menos chamativa? O que ela tinha feito com a saia da escola? Quero dizer, quando eles se levantaram pra sair da mesa eu pude ver que a saia mais parecia um cinto. Argh. Nojenta.

A segunda vez que o vi, foi depois da aula de Poções. Hum, eu disse que estava com saudades do Snape, não disse? Esqueça aquilo. Eu realmente consegui me concentrar na aula dele e a minha poção saiu perfeitamente aceitável, mas aquilo sobre sentir saudade é puro exagero. Você não consegue sentir saudade de um ser que anda por aí humilhando e tratando mal quem chega perto. Bem, eu estou desviando do assunto, pra variar.

Eu estava lá, terminando de copiar a lista de ingredientes da poção, quando a sineta tocou e as meninas simplesmente sumiram. Desapareceram. Certo, se ninguém ia esperar por mim, eu podia demorar um pouco mais ali. Então não tive pressa em copiar, embora soubesse que em vinte minutos eu tinha que ir pros jardins, pra aula de Trato das Criaturas Mágicas.

Então, depois que havia terminado de copiar, eu fiquei pensando que talvez o Malfoy estivesse naquela sala (a que é tremendamente iluminada) que eu acabei, sem querer, me encontrando com ele, quando estava procurando a Câmara Secreta.

Eu não sentia mais medo, sabe? Quero dizer, eu tinha minha varinha e dessa vez sabia o que me esperava lá. Pra quê o medo? Eu realmente queria agradecer ao Malfoy por ter me ajudado quando eu estive inconsciente. Veja bem, ele não tinha obrigação nenhuma com aquilo, mas me ajudou, não foi? Não custava agradecer.

O caminho eu, possivelmente, podia me lembrar e não seria tão difícil já que eu não estava assustada como no dia em que descobri aquele lugar. Quando passei pela bifurcação, fiquei procurando a porta que deixasse passar raios de sol. Ela ainda estava lì afinal. Não que ela pudesse se mexer e sair de lì mas as janelas continuavam abertas, foi o que eu quis dizer.

Eu disse mais a cima que 'sabia o que me esperava por lá'? Risque isso. Eu não fazia idéia. Quando eu abri a porta (que rangia tanto que me dá nos nervos só de lembrar) eu realmente vi o Malfoy lá, mas vi outra pessoa dentro daquela sala – a asquerosa. Eu percebi no mesmo instante o quão estúpida eu devia estar parecendo. Quero dizer, se aquilo fosse realmente o que ele tinha dito (um ponto de encontro dos sonserinos), eu estava atrapalhando...algo.

Mas na verdade eles pareciam ter estado conversando, porque estavam relativamente perto; mas não pareciam ter estado...você sabe...porque estavam relativamente longe. Eu senti meu rosto arder furiosamente. Deveria estar com cara de boba, estúpida, idiota.

A asquerosa olhou pra mim como se eu fosse um inseto e perguntou, com uma cara de surpresa "O que essa grifinória está fazendo aqui? Está perdida?", e ela parecia estar se divertindo muito, porque completou, irônica "Você não sabe o que acontece nessa Ala, meu bem?", e deu uma risada horrível. Como eu queria ter tirado minha varinha do bolso, e tê-la atacado ali mesmo. ARGH.

Mas se eu achava que já tinha sido muita humilhação, veio mais, pro meu desespero. Porque o Malfoy falou, com seu já clássico conjunto de ironia, frieza e uma pitada de deboche "Ainda há inocência no mundo". A Parkinson riu ainda mais alto. Meu rosto ficou três vezes mais vermelho, se é que isso é possível e eu não quis nem saber o que ele quis dizer com aquilo.

Eu estava com raiva. Estava brava com ele. Brava por algo que não tenho muita noção do que é. Fora o fato, é claro, de que eu tinha ido lá agradece-lo e de repente o encontro lá com aquela garota horrível. E não havia mais dúvidas, agora, de aquilo lá era realmente um ponto de encontro.

'O velho Malfoy de sempre', eu pensei, meio surpresa por um minuto. Mas porque eu estava surpresa com aquilo? Eu realmente não acreditava que ele tinha mudado, não é?

(grande suspiro)

Sim, acho que eu acreditava naquilo. E o pior é que ele estava extremamente certo com o que tinha dito. Eu devia ser mesmo muito inocente, burra, ingênua pra achar que ele poderia mudar, que ele poderia me tratar de uma maneira...sei lì civilizada.

Eu não consegui articular uma resposta. Tudo o que eu fiz foi sair correndo dali, o mais rápido possível. Mas de repente eu fiquei pensando: o que ele quis dizer com aquilo? E a forma como disse! Quero dizer, eu realmente não esperava que ele me tratasse bem quando alguém do grupinho dele estivesse por perto, esperava? Esperava? Deus, eu acho que sim, porque aquilo meio que...machucou.

Eu não sabia que ele tinha poder para tanto. Pra machucar, quero dizer. Ele não me tratava com tanta frieza e sarcasmo há tanto tempo que, talvez, no meu subconsciente, eu achasse que era realmente possível ter algum tipo de relação com o Malfoy. De amizade, quero dizer. Por mais que ele me irritasse, eu gostava de conversar com ele. Mas depois do que aconteceu hoje, eu não quero vê-lo nunca mais. Ele que não ouse falar comigo. Olhar pra mim. Ele que não se atreva a chegar perto.

Argh. Eu estou fervilhando de raiva. Eu o odeio. Eu ODEIO você, Draco Malfoy! Porque você tem esse poder de machucar? Quem te deu esse direito? Como você consegue fazer isso com uma frase, um tom de voz, um olhar? ARGH.

Merlin, como me sinto estúpida. Estou decidida a me trancar nesse dormitório e não sair nunca mais daqui. E não vou chorar por causa disso! Não mesmo. Chorar por causa do Malfoy? Quero dizer...ele é um Malfoy, é o que eles fazem, é o que eles são. São maus e te tratam mal. Porque diabos eu estou tão surpresa, afinal de contas?

(pausa)

Eu disse que não ia chorar? Tarde demais.


Já se passaram três dias desde o acontecido e eu, infelizmente, fui arrancada de dentro desse dormitório, no primeiro dia de exílio, antes mesmo de perceber que estava sendo. Quero dizer, era sério aquilo de não sair daqui nunca mais, mas quando se tem três amigas como as que eu tenho, não adianta se você tem força de vontade – elas são três. Elas têm mais força do que você.

Eu sei que tenho ignorado totalmente meu irmão esses dias. Estou tentando ficar longe dele o máximo possível (só não consigo evita-lo durante os treinos de Quadribol. Aliás, Harry está pegando pesado com a gente), mas não tenho muita certeza do porque. No começo era aquela coisa de ter infringido regras e com a ajuda do...do...dele. Então, eu achava que era remorso, por estar omitindo algo dele, mas remorso pode durar tanto tempo assim? Eu não sei. E tem a coisa da enfermaria, também. Eu também não contei aquilo a ele.

No entanto, eu tenho a nítida impressão de que não sou a única por aqui que está mentindo sobre/omitindo algo. Ele parece muito menos disposto a falar ultimamente (ele e Harry, na verdade) e embora Mione tenha tentado me convencer que é toda essa coisa de N.I.E.M.'s, que a ficha dele finalmente caiu e blábláblá...não dá pra acreditar. Quero dizer, eu sou a irmã dele aqui. Sou eu que o conheço melhor do que ninguém. A ficha dele não cai pra essas coisas. Mione mente tão bem quanto eu.

Tenho ignorado também minhas amigas. Nesses três dias, por mais que eu tentasse, elas não deixaram que eu me isolasse e eu acabei me dando conta de quão por fora eu estou, das novidades. Jenn começou a namorar um cara chamado Terêncio Boot, da Corvinal. Pobre garoto, que nome lhe deram, mas é um felizardo por estar saindo com a Jenn, sem dúvida. E Kel continua escrevendo cartas gigantes para seu 'amigo' na França, Sam Rutledge. Ela não aceitou meu conselho, no final das contas. Eu ainda tenho fé, já que ainda não passou nem um mês.

Outra coisa de que elas não param de falar é sobre a tal Festa do Dia das Bruxas. Já é semana que vem (e no dia seguinte temos partida de Quadribol. Entre me excluir numa festa e me divertir voando, é claro que eu ficava com o Quadribol). Quando eu disse, durante um almoço, que não tinha planos de ir, Liv me ameaçou com a faca que estava usando, enquanto Kel e Jenn apontavam suas varinhas pra mim. Aterrorizante.

"Lembrar de nunca mais contrariar alguém durante uma refeição. Você fica sujeito a ter que concordar com qualquer coisa".

(suspiro)

Eu tenho plena consciência de que estou tentando não pensar no Malfoy. Mas isso não significa que estou obtendo sucesso. Eu passei por ele umas duas vezes, mas fingi que não vi. Aposto que ele não faz muita questão mesmo. Porque faria?

O problema é que aquela frase fica ressoando nos meus ouvidos "Ainda há inocência no mundo". E eu fiquei pensando: a frase em si não tem problema nenhum, mas a maneira como ele falou, como se ser inocente fosse algo ruim. E depois aquela asquerosa rindo da minha cara. Eu queria poder apagar essa cena da minha vida, da minha memória.

A propósito, eu não tenho tido mais sonhos. Quando eu durmo, é como um clarão. Nada. Zero...Isso é preocupante ou devo somente comemorar e não ser uma chata-desmancha-prazeres comigo mesma? Ainda estou decidindo.

Estou indo estudar na biblioteca agora, mas o problema não é mais Poções. É Feitiços. Merlin, como alguém pode ser ruim em Feitiços? Quero dizer, eu sou uma bruxa, e bruxos nascem para isso. Para fazer feitiços. O meu problema é toda essa coisa de posicionar a varinha de maneira x e dizer com intensidade y. Mione me sugeriu um livro e vou lá dar uma olhada. A pior parte de Feitiços realmente é a teoria. (Ficou bastante claro o quanto estou feliz por ter que ir estudar Feitiços, não ficou?).


Eu disse uma vez para o Malfoy que era boa em Adivinhação, não disse? Bem, eu sou, só que eu não sabia que eu era excepcional. Na verdade, estou me referindo ao fato de não querer ter ido estudar. Foi um pressentimento, acho. Porque estou muito arrependida de ter ido.

Quero dizer, eu achei o livro que Mione falou e fiquei passando algumas anotações dele para o meu caderno, tudo muito tranqüilo. Já estava lá há mais de uma hora, quando vi alguém sentando na minha mesa, a umas duas cadeiras de distância. Era o Malfoy.

Primeiro de tudo: havia uma dezena de mesas vazias. O que ele estava fazendo na minha? Segundo: Deus não é muito piedoso comigo. Quero dizer, manda-lo ali, quando tudo o que eu queria era esquecer aquela humilhação. Não é muito fácil de se fazer isso quando a pessoa que te humilhou está sentada ao seu lado.

Eu tentei fingir que não o tinha visto, mas eu não conseguia me concentrar de modo algum, então quando eu decidi ir embora, vi o Malfoy fazer um ligeiro movimento para a frente, como se fosse falar algo comigo. Aquilo era o fim! Eu não queria vê-lo, não queria escuta-lo e muito menos ficar perto dele. Alô? Alguém no céu, por favor, poderia prestar mais atenção com a quantidade de desgraças que têm enviado para mim? Acho que a dose tá passando do ponto por aqui. Acho que sou a garota de dezesseis anos mais estressada que conheço.

Na verdade eu não esperei para ver se ele realmente ia falar comigo, eu juntei meu material, joguei tudo na mochila e saí em disparada de lá. Tenho certeza de que fiz o meu tempo recorde, da biblioteca até o meu dormitório.

(pausa do tipo 'Eu Quero Minha Mãe')

Certo. Vou tentar parar de reclamar.

"...E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando

Que eu vou aturar.

E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar..."


N/A:

'Dizem que as coisas pioram antes de melhorar. Mas quem disse que elas iriam melhorar?'. Acho que é uma lei de Murphy. Não é?

'Ainda há inocência no mundo'. Gilmore Girls.