Cap 12 – A Festa do Dia das Bruxas

O que me alegra a vida é pensar que amanhã tem jogo contra a Lufa-Lufa. Eu estava lá embaixo, conversando com o time (Harry nos reuniu na Sala Comunal) e todo mundo parecia muito confiante, o que por um lado é bom. Mas por outro é ruim, porque quando você tem certeza de que vai ter uma coisa e não a consegue, você se sente duas vezes pior. Eu estou filosofando aqui sobre Quadribol ou sobre algo mais sério? Eu não me reconheço mais. Nada faz sentido. Onde foi parar aquele pedaço de mim mesma, aquele pedaço que está faltando?

(suspiro)

Ah, essa semana eu notei uma coisa. Harry e Luna estão conversando mais do que o normal. Quero dizer, toda vez que eu cruzo um corredor eu os vejo juntos. E eu não estou exagerando, eles parecem positivamente estarem se dando bem. Ele está sempre rindo de alguma coisa, quando está perto dela. E eu acho isso fantástico.

Queria encontrar alguém que me fizesse rir o tempo inteiro. Isso é uma coisa que eu prezo em um garoto: o bom humor. Quero dizer, eu cresci ouvindo piadas, elas são quase parte da minha vida. Diariamente eu preciso de uma dose de piadas e brincadeiras, uma dose de algo que me faça rir. Pena que o meu estoque esteja acabando. Às vezes sinto como se estivesse murchando lentamente.

Sem melodrama, acho que não é só a coisa com o Malfoy. Sendo bem sincera...é tudo. Quero dizer, começou com a coisa dos pesadelos (eu me recuso a acreditar que meus pesadelos mostrem alguma mensagem. Eu nunca identifiquei nenhuma! Eu queria entender como meu subconsciente funciona), depois começou toda essa história com o Malfoy e se parecia o maior absurdo do mundo que nós estivéssemos tendo conversas civilizadas, agora parece ainda mais absurda a idéia de que eu sinto falta delas.

E eu confesso que sinto, mas é um absurdo. Quero dizer, eu ainda estou brava com ele, é claro. Mas é que eu não entendo. Esse é o problema. Eu não entendo as atitudes dele, não entendo o que ele diz. Porque ele cruzou o meu caminho, afinal? Pra complicar ainda mais a minha cabeça? Que ótimo.

Estou me lembrando que jurei fazer uma lista com todas as perguntas que eu ainda vou fazer para o Malfoy e estou pensando seriamente em começa-la hoje (pensando melhor, não. Eu tenho jogo de Quadribol amanhã. Essa lista só terminaria daqui a três dias. Fica pra depois) e além de tudo isso, tem o fato de que estou começando a pensar que vou explodir com tanta informação (quero dizer, eu não contei nada sobre nada para ninguém (?). Nem para as minhas amigas e eu não acredito que isso seja saudável. A pessoa pode explodir sentindo tanta coisa ao mesmo tempo).

Ainda são 18h25 e Liv e Jenn estão se arrumando há horas. O barulho aqui dentro está impossível. Parece que Kel concorda comigo, porque ela acabou de me lançar um olhar, do outro lado do quarto, que diz 'Elas piraram. Definitivamente'. Eu concordo. Alguém acaba de gritar, desesperada 'Quem viu meus sapatos?'. Hum, acho melhor ir ajudar.


Ainda não sei o que aconteceu. Alguém no céu me ouviu, não foi? Eu agradecerei eternamente. Começando a partir de agora: obrigada, obrigada, obrigada...

A impressão que eu tenho é a de que um peso enorme saiu de cima do meu peito. Esse peso estava amassando meu coração, tadinho. Talvez por isso eu me sentisse tão mal. E eu falei 'sentisse' no passado, porque estou me sentindo bem neste exato momento. Vou contar porque.

Depois de rolar todo um estresse na hora de se vestir, estávamos (todas quatro) nos admirando (cof cof) no espelho, cada uma procurando um defeito na roupa, no cabelo, na sandália. Até eu, que vivo criticando as meninas, estava me preocupando com isso. Quero dizer, não muito. Só um pouquinho.

Jenn, que tem mãos de fada, me ajudou a fazer um tipo de coque bem simples no cabelo, e eu deixei minha franja solta, de lado. Eu não tenho realmente milhares de opções, mas gosto muito do vestido que os gêmeos deixaram eu comprar verão passado. Ele tem um tom de verde escuro, e o decote é tomara que caia (a principio os gêmeos não queriam deixar eu comprar esse vestido, mas fizemos um trato: eu mandava aumentar a barra da saia e eles aceitavam o tomara que caia. Não que eles entendam alguma coisa de vestidos, é claro, mas eram eles que estavam pagando, afinal de contas). Eu até mandei arrumar a barra da saia, mas só um pouquinho. A sandália, Liv me emprestou de bom grado, já que ela pegou meus brincos emprestados.

Eu parecia a mais sóbria ali, no que diz respeito a cor. Liv usava um tom de rosa choque (mas nela ficava incrivelmente bonito e não brega). Jenn usava vermelho e Kel amarelo.

Às 20h55, estávamos ainda nos olhando no espelho, todas prontas. Um milagre ninguém estar atrasada, devo acrescentar. Não que eu e Kel tivéssemos um par, mas a festa estava marcada pra começar às 21h, como é de praxe.

Decidimos descer antes, enquanto Liv e Jenn esperavam seus respectivos namorados. Eu sempre adorei ficar olhando para a decoração das festas em Hogwarts. Os elfos tinham, definitivamente, muito trabalho porque sempre ficava tudo perfeito. Eu gostava, particularmente, do fato de ter uma abóbora flutuando em cada lugar que você fosse.

O jantar ia começar, mas eu não estava com fome. Normalmente, é a melhor parte da festa, mas eu não estava ali pra me divertir (nem pra comer, pelo visto). Eu nem conseguia me lembrar porque realmente eu estava ali. Ah, claro. Eu fui ameaçada de morte.

Fiquei andando pelo Salão, sozinha, já que Kel resolveu ir jantar. Na verdade, todos pareciam estar muito mais interessados na comida, do que na música que tocava, por exemplo. Era raro tocar música por lá. Só em dias de festas mesmo.

Eu ainda estava andando, quando vi o Malfoy, parado não muito longe, olhando para mim. E como eu estava me sentindo um pouquinho melhor, não queria estragar aquele presente divino (também conhecido como bom humor) com pensamentos sobre o Malfoy. Eu fui saindo do Salão, em direção as escadas quando me dei conta de que ele estava vindo atrás! Quero dizer, o que ele pensava que estava fazendo?

"Weasley", eu o ouvi chamar.

No entanto, eu não me virei e continuei a subir a escada, e já estava quase alcançando o corredor quando ele me alcançou (isso é bem fácil de entender, na verdade. Malfoy tem pernas muito compridas – não que eu tenha ficado olhando, você percebe isso por ele ser muito alto – e eu sou muitos centímetros mais baixa do que ele).

De repente eu me senti muito irritada. Que direito ele tinha de simplesmente aparecer do nada, depois de vários dias, e destruir o pouco de alegria que eu consegui reunir? Ele não tinha esse direito!

Malfoy segurou meu braço, pra me fazer parar de andar. E isso foi um erro, porque me deixou ainda mais brava. Ele tinha acabado de quebrar todas as regras que eu mesma tinha estabelecido para o novo tipo de relação que nós tínhamos e ele nem sabia: "Ele que não ouse falar comigo. Olhar pra mim. Ele que não se atreva a chegar perto", era o que diziam as leis.

"Largue-me", eu falei, tentando manter minha voz calma, mas já deixando claro todo meu aborrecimento com aquela situação.

"Weasley", ele disse, ainda segurando meu braço "Nós precisamos conversar sobre...". Eu o interrompi.

"Não precisamos conversar sobre nada. E quer fazer o favor de soltar o meu braço?", eu pedi novamente, com a noite já completamente destruída por causa daquilo.

Ele pareceu considerar o que eu tinha dito, porque ficou um tempo em silêncio, com a expressão meio brava, mas ainda segurando meu pulso, e depois disse "Você tem razão. Conversar com você seria distração". Ah, que oportuno, agora ele começava a me insultar? O que mais faltava para fechar aquela noite?

"Ótimo! Eu já entendi, agora quer me deixar em paz, por favor?", eu disse, ríspida, tentando me soltar novamente. A isso, ele me deixou ir, o que me deixou absolutamente surpresa. Eu olhei para ele como se esperasse que ele fosse se justificar, mas ele disse uma coisa que eu não estava esperando ouvir.

"Mas não conversar com você se tornou impossível", ele falou e por um momento eu achei que não tinha escutado direito. O tom de voz dele era diferente: era uma mistura de cansaço com um pouco de...não sei, talvez esperança?

Eu não consegui articular uma frase, naquele momento. Na verdade, eu esqueci até mesmo como se respirava. Quero dizer, eu sentia o meu coração bater muito rápido, mas não sentia ar nos meus pulmões. O que se faz numa hora dessas, especificamente?

Eu ainda estava olhando para ele, assustada, tentando voltar a respirar normalmente, quando ele se aproximou ainda mais de mim. Estranhamente, eu não fiz nada para impedi-lo de se aproximar. Na verdade, parecia crucial que ele ficasse mais perto.

Tudo o que eu via era aquele par de olhos cinzas, que olhavam pra mim, parecendo ansiosos, mas deixando escapar um pouco de tristeza. Ele tocou lentamente, com a ponta dos dedos, minha franja e depois meu rosto. Ele parecia estar fotografando na mente cada detalhe do meu rosto e só de pensar isso, eu fico vermelha.

Ele ficou ali, me olhando, mas não tomou nenhuma iniciativa. Eu queria que ele me beijasse. Eu pensei que tinha deixado isso bem claro, quando não tinha tentado afasta-lo.

"Você não vai me beijar?", eu perguntei, baixinho, enquanto sentia uma mão gigante esmagando meu coração. A resposta dele podia ser simplesmente 'Não'. Ele era o Malfoy, afinal de contas, e você nunca pode prever o que ele vai fazer, ou falar.

"Acho melhor não arriscar", ele disse "Uma vez você me falou que se eu tentasse beija-la novamente, eu seria um homem morto", ele explicou, arqueando uma sobrancelha e soando levemente divertido. E, bem, era verdade, eu havia dito aquilo, mas eu não acredito que ele estava debochando de mim num momento como aquele!

"Ah, cala a boca, Malfoy", eu murmurei e o beijei. No começo ele pareceu decididamente surpreso, mas depois eu pude senti-lo sorrindo contra os meus lábios e foi uma sensação realmente muito engraçada.

Ele pousou suas mãos na minha cintura e eu apoiei minhas mãos em seu peito (já que eu tinha que ficar na ponta dos pés e precisava de algum apoio), podendo sentir seu coração batendo tão rápido quanto o meu. Felizmente eu não era a única prestes a ter uma taquicardia, ali. Era estranho como o beijo dele podia ser doce. É a última coisa que você espera de um Malfoy.

O beijo foi lento e positivamente demorado e quando nossos lábios se separaram, eu permaneci com meus olhos fechados. Quando os abri, ele estava olhando para mim, e seus olhos pareciam dançar. Eu senti uma coisa engraçada no estômago.

"Diga-me apenas... diga-me se está saindo com a Parkinson", eu lhe pedi, baixinho, hesitando em tocar naquele assunto.

"Você acreditaria se eu negasse?", ele perguntou e eu tenho certeza de que ele estava se divertindo.

"Você ainda não negou", eu observei.

"Bem, eu não estou saindo com ela", ele disse, firmemente.

Eu murmurei algo parecido com 'Ótimo' e o abracei carinhosamente.

Eu não sei o que estava se passando comigo, para que eu agisse daquela forma. Afinal de contas tinha sido apenas um beijo e não um pedido de casamento. Não havia compromisso entre nós. Mas eu só estava fazendo o que achava certo, o que eu achava que devia fazer. A principio ele não retribuiu o abraço, mas depois passou seus braços ao meu redor e me abraçou suavemente.

Ele estava tão próximo, que eu podia sentir o cheiro do seu perfume. E aquilo me deixou ligeiramente tonta. Eu estava só meio consciente de que ele estava tentando dizer algo – não é como se eu pudesse me controlar muito bem, quando estava quase entorpecida com o cheiro dele.

"Olhe para mim, Virginia", ele disse e sobre essa ter sido a primeira vez que ele me chamou pelo meu primeiro nome, nada pareceu mais apropriado. Aquilo me fez sorrir e eu levantei o queixo, para olha-lo melhor. "Eu não devia ter dito aquilo, no outro dia", ele disse e isso fez meu sorriso desaparecer. Ele tinha mesmo que me lembrar daquilo, naquele momento?

Eu ia falar alguma coisa, mas ele continuou. "Provavelmente você interpretou da maneira errada o que eu quis dizer, mas eu não a culpo. O modo como eu disse - e eu tenho consciência disso – não pareceu lhe deixar dúvidas, não foi?", ele perguntou suavemente. Aquela foi uma pergunta retórica, portanto fiquei calada. Não entendia aonde ele queria chegar.

"Quando eu disse, ao olhar pra você, que 'ainda havia inocência no mundo' eu realmente quis dizer aquilo. Mas não do modo como pareceu, não do modo como você interpretou. Eu disse aquilo porque...eu não sei, é um dos motivos de eu querer estar aqui agora, com você", ele disse lentamente e parecia estar sendo tão franco, que aquelas palavras aceleraram novamente os batimentos do meu coração.

Eu fiquei absolutamente em choque, por alguns (vários) segundos. Então apenas fiquei lì olhando para ele, com cara de boba provavelmente, porque ele deu um pequeno sorriso e disse "Pode falar agora".

Eu não fazia idéia do que falar. Tinha tanta coisa pipocando na minha mente, que na hora de organizar as idéias, eu não conseguia dizer nada.

"Eu tenho tanta coisa a dizer, que nem sei por onde começar", eu disse.

"Ótimo. Faça uma lista e me traga amanhã", ele brincou. Engraçado ele dizer isso – visto que hoje mesmo eu tinha pensado em fazer aquela lista. Eu só não esperava que fosse faze-la sob aquelas...novas condições. Ah, mas eu ia MESMO fazer aquela lista.

"Amanhã eu não posso. Tenho jogo de Quadribol", eu disse, entrando na brincadeira. Quero dizer, aquele 'traga amanhã' significava que ele estava marcando um encontro comigo? E íamos nos encontrar onde exatamente? No meio do corredor? Eu acho que não.

Eu ia perguntar onde e quando íamos nos ver novamente, quando comecei a ouvir um burburinho e me dei conta de que a festa (ou pelo menos o jantar) devia estar acabando. Ele pareceu notar também, porque disse "Vá. E boa sorte amanhã".

Eu, muito ingenuamente, perguntei "Você vai torcer por mim?".

"Não posso", ele disse, com um sorriso meio culpado, para o meu absoluto horror. COMO ASSIM 'Não podia'?. "A derrota de vocês favorece a Sonserina", ele explicou, maliciosamente. Merlin, ele estava falando sério? Quero dizer, ele era o Malfoy, eu não podia nunca esquecer daquilo. Ele tinha toda a razão quando disse que eu era 'ingênua'. Que boba eu fui de perguntar aquilo. E o pior é que ele estava certo.

O burburinho parecia aumentar, e a qualquer minuto as pessoas iam começar a subir as escadas, então ele me deu um leve beijo nos lábios e disse "A propósito ...você está linda" e então se afastou.

Como ele me diz uma coisa dessas e simplesmente vai embora? Tá, eu não posso exatamente reclamar, porque fiquei satisfeitíssima por ele não ter visto meu rosto ficar excessivamente vermelho.

Acabo de me dar conta que ainda estou sonhando com o sorriso que ele me deu. E o beijo. E o abraço. Merlin, eu sei que é loucura...mas eu estou me sentindo realmente muito bem.

Eu sinto uma estranha – mas muito agradável – sensação de paz dentro de mim. Ela não me invadiu e sim entrou furtivamente. Eu quase me vi desejando ainda poder sonhar, para que eu tivesse a chance de sonhar com ele, com aquela noite... Muito possivelmente isso não vai acontecer, mas não tem importância. Eu ainda tenho a cena gravada a ferro na memória.

Só mais um comentário: eu não sei se realmente existia, mas caso, algum dia, tenha existido algum 'limite da razão' em toda essa história do Malfoy, eu tenho plena consciência de que havia acabado de atravessa-lo. E quase à velocidade da luz.

(suspiro de satisfação)

De qualquer forma, é melhor eu ir dormir, porque tem jogo amanhã cedo e eu não quero dar o gostinho da vitória para o Malfoy (mesmo que indiretamente). Vai soar como sadismo (e vai parecer absurdo também, já que eu acabo de falar todas essas coisas meio bobas sobre o Malfoy), mas seguindo aquele ditado 'Se com ferro, feres; com ferro serás ferido', eu estou disposta a não perder o jogo amanhã, para que ele não comece a achar que pode nos vencer no Quadribol. Porque ele não pode (não com aquele time!).

"I've found a reason for me

To change who I used to be

A reason to start over new

and the reason is you..."

Hoobastank – The Reason


N/A:

'Você tem razão. Conversar com você seria distração.

Ótimo! Eu já entendi, agora quer me deixar em paz, por favor?

Mas não conversar com você se tornou impossível'. Adaptado de Gilmore Girls.

'Eu não sei se realmente existia, mas caso, algum dia, tenha existido algum 'limite da razão' em toda essa história do Malfoy, eu tenho plena consciência de que havia acabado de atravessa-lo. E quase à velocidade da luz'. Código Da Vinci. Adaptado, também.