Cap 13 – Top 5

Nossa, o jogo foi demais. Pra ser sincera, o time da Lufa-Lufa não tem realmente muita técnica e o goleiro deles é horrível. Quero dizer, acho que eu nunca marquei tantos gols num partida só. Lufa-Lufa só tem um artilheiro realmente bom, e ele foi o único empecilho de Rony o jogo inteiro, mas de resto, nós arrasamos o time deles. Especialmente quando Harry pegou o pomo: 230 a 40. Massacre.

Ainda posso ouvir o barulho na Sala Comunal. Quadribol parece ser uma ótima desculpa para se organizar uma festinha, porque estamos sempre envolvidos em uma, após os jogos (quer dizer, pelo menos quando a gente ganha). Mas eu dei um jeito de escapar de lá e vir tomar um banho tranqüilo.

Antes de começar a escrever aqui no diário há alguns minutos, eu estava fazendo a lista com perguntas para o Malfoy. Deu uns trinta centímetros de pergaminho, então transformei em um Top 5. Excluí as perguntas que envolviam o pai dele, porque realmente não sei se ele teria disposição para falar sobre isso. Afinal de contas ainda estamos aprendendo a...confiar um no outro. 'Perdão, você disse confiar em um Malfoy?...E seu juízo, cadê?, grita a minha consciência. Estou ignorando-a, no momento.

Agora acabei de me dar conta de que, novamente, não combinei nenhum lugar para me encontrar com o Malfoy. Quero dizer, se ele pensa que eu vou me encontrar com ele naquele lugar sórdido, sombrio e pecaminoso (eu pareço minha mãe falando, por Merlin!) na Masmorra, ele está muito enganado.

(pausa – que susto!)

Parece que alguém anda lendo meus pensamentos, porque a coruja do Malfoy acaba de pousar na minha janela, com um bilhete que dizia simplesmente:

"Siga as instruções.

D. M."

E abaixo disso, ele parecia ter descrito um caminho. Mas eu definitivamente não acho que isso vai ser muito útil. Na verdade, tenho quase a certeza de que eu não vou acertar o caminho.

Vou só terminar de me arrumar e então vou tentar acha-lo.


Quase uma missão impossível. Quero dizer, eu fui seguindo as instruções, mas elas eram decididamente mais estranhas (e engraçadas) do que realmente funcionais. Em cima tinha escrito 'Siga a partir do Salão Principal'.

E depois tinha esse pequeno texto 'Vire à esquerda e procure o quadro de um velho com um cachorro. Provavelmente você irá encontrar uma média de doze quadros, mas atenha-se ao fato de que o cachorro é preto. A média cai para quatro. Quando você achar o quadro em que o velho usa kilt, cumprimente-o. É o velho Mack 'Uso Saias' Warwick. Dobre à esquerda novamente e, então, ao passar por uma armadura de bronze, conte cinco portas e diga a senha 'Cockroach'. Você vai me encontrar lá".

Eu estava rindo, quando entrei naquela sala. Quero dizer, ele podia simplesmente ter dito 'Desça até o Salão Principal, então vire à esquerda, siga até o final, dobre à esquerda novamente e blábláblá', mas não. Ele tornava uma coisa simples, como aquela, em uma coisa engraçada. Isso é uma coisa bem típica dele. Eu, definitivamente, gosto do humor dele. Não sempre, claro.

Bem, ele realmente estava lì todo charmoso, sentado preguiçosamente em um sofá azul. Meu coração deu um pequeno salto e de repente eu me senti muito tímida. O que eu devia dizer? O que eu devia fazer? ...Como eu não tinha a resposta para essas perguntas, eu só consegui pensar em dizer "Oi".

Ele se levantou e andou até mim, com um sorriso torcendo sua boca para baixo. Eu queria saber o que ele estava pensando naquele momento. Ah, como queria. Ele segurou minha mão direita (na esquerda eu ainda segurava o bilhete dele) e me puxou lentamente mais pra perto. Depois, ele se inclinou e me beijou docemente. Aquilo me deixou um pouco mais segura, eu acho, porque não me importei quando ele debochou de mim e me imitou dizendo "Oi".

"Porque você parece tão satisfeito? Parece que viu um passarinho verde", eu disse, completamente curiosa. Ele realmente parecia satisfeito com alguma coisa.

"Eu pareço satisfeito?", ele perguntou, enquanto voltava a se sentar, me conduzindo pra sentar ao lado dele.

"Sim. Extremamente".

"Deve ser impressão sua. Eu estou muito aborrecido, na verdade. Vocês não deveriam ter vencido aquela partida, hoje", ele disse, tentando me enrolar. Eu não ia cair nessa.

"Porque você está TÃO satisfeito com alguma coisa? E que coisa é essa?", eu perguntei de novo.

"Sabe, você tem uma imaginação muito fértil", ele disse, franzindo a testa. Eu suspirei, derrotada.

"Porque eu tenho a certeza de que você não vai me contar?", perguntei mais pra mim mesma, do que pra ele, realmente.

"Isso foi uma pergunta retórica?", ele perguntou e eu quase o bati. Ele estava me irritando deliberadamente e eu não estava ali há nem três minutos! Era um recorde, sem dúvida.

"Ótimo. Me aborreça. Eu não ligo", eu disse, fechando a cara e cruzando os braços.

Ele puxou a ponta da minha trança e disse, muito sabiamente "Não sou eu que aborreço você. É você quem se aborrece comigo". Aquilo me fez lembrar de uma coisa. O Top 5.

"Ah, eu ia me esquecendo", eu disse, puxando um pedaço de pergaminho do bolso da minha calça, e guardando o bilhete dele "Eu fiz a lista com coisas que quero te perguntar".

"Você fez?", ele perguntou, meio incrédulo, acho.

"Sim. E ela ficou gigante", eu expliquei "Mas então eu a reduzi para um total de cinco perguntas. Importa-se?", eu perguntei, dando a entender que ia começar a ler.

"Fique a vontade", ele disse, olhando pra mim, divertido.

"1- Porque você é tão irritante?", eu perguntei e olhei pra ele, pra depois acrescentar "Esse é o dilema que tenho enfrentado nos últimos seis anos da minha vida. Seja bondoso e me dê uma resposta plausível".

Ele pareceu pensar por um momento e depois disse "Primeiro você tem que entender que você é um caso particular. Quero dizer, eu irrito você porque eu gosto de fazer isso. Não é como se tivesse uma real explicação para isso. Mas a cara que você faz quando está brava, já é um ótimo motivo", ele disse, terrivelmente sincero, ao meu ver.

"Porque eu sou um caso particular? Porque você gosta tanto de me irritar?".

"Porque você me dá tantas oportunidades para isso?", ele perguntou, se fingindo de sério. Eu suspirei. Eu não estava sendo levada a sério.

"E quanto ao resto das pessoas?", eu perguntei.

"Essa pergunta também faz parte desse seu Top 5?", ele perguntou.

"Na verdade sim. Ela é a minha pergunta n° 3: 'Porque você tratava as pessoas tão mal?". Eu usei a palavra 'tratava' no passado, porque eu sabia que ele tinha deixado, por algum motivo, de irritar Harry, Mione e Rony. Eu queria saber qual seria esse motivo.

"Eu 'tratava'? Agora não trato mais?", ele perguntou, se divertindo claramente com aquilo.

"Você sabe que não", eu disse, olhando em seus olhos. "Você simplesmente as ignora, agora".

"Você tem andando me observando, imaginando coisas ou o quê?", ele perguntou, agora com um tom mais sério. Hum, acho que toquei numa ferida, ali.

"É algo para se notar, quando um Malfoy pára de maltratar as pessoas a sua volta. Você fazia isso o tempo todo com Rony e principalmente com Mione e Harry". A isso, ele pareceu pensar por um minuto antes de responder:

"Conhece aquela citação? 'O inimigo do meu inimigo é meu amigo'? Era mais ou menos isso".

"O que você quer dizer?", eu perguntei com a testa franzida.

"Quero dizer exatamente o que eu disse. Próxima pergunta, por favor", ele disse, com ar de quem encerra a questão.

Do que adiantaria discutir? Eu pensaria naquilo, mais tarde. Então eu respirei fundo e disse:

"2- 'Você gosta de ser Monitor?'. É que eu tenho reparado que você não parece muito feliz com o cargo, embora antes, você adorasse tirar pontos da Grifinória, por pura diversão", eu disse. Aquilo não era assim tão importante, é verdade, mas me intrigava. E já que eu tive que tirar da minha lista as perguntas que realmente me importavam, aquela teria que servir.

"Na verdade você está certa. Eu não gosto mais de ser Monitor", ele respondeu simplesmente.

"Porque?".

"Gastar o meu tempo observando os outros e me certificando de que tudo saia como a escola quer, não é realmente o que eu entendo por 'diversão'".

"Mas era divertido antes? Me refiro principalmente a aquela coisa de Brigada Inquisitorial. Você parecia se divertir tanto com aquilo", eu disse, não me contendo.

"Ah, isso. Bem, eu tinha direito a fazer coisas que, hoje em dia, sendo apenas Monitor, eu não posso fazer mais", ele disse e seus olhos faiscaram. Ele se ressentia com aquilo? Não ligava? Porque ele não respondia, claramente, as minhas perguntas?

"E era só isso que importava pra você? O fato de Dumbledore ter tido que se afastar por causa da Umbridge não te fazia pensar sobre o quão horrível ela era?".

"Ela me deu alguns privilégios, do que exatamente eu posso reclamar?", ele disse, dando de ombros, mas eu não sei se falou sério.

"Porque você mesmo não me responde essa pergunta? Aliás, porque você não pode parar de me responder com perguntas?".

"Eu não consigo. Isso está fora do meu controle", ele disse, e eu pude notar que ele estava tentando segurar um sorriso.

Eu respirei fundo. Aquilo não estava seguindo bem os meus planos. Quero dizer, o objetivo de fazer aquela lista era obter algumas respostas sobre ele e seu comportamento e eu, definitivamente, não estava tendo sucesso.

"Ok, eu desisto dessa pergunta" eu suspirei novamente e continuei a lista. "4- 'Porque exatamente você me beijou, quando eu por acaso, encontrei você na Masmorra?' Quero dizer, não havia sentido. Eu estava lì perdida, e do nada...aquilo foi totalmente inesperado!".

"Nós já não passamos por essa pergunta antes?", ele disse, franzindo a testa. Era verdade, eu tinha comentado uma vez, mas, pra variar, ele não tinha respondido claramente. Tudo o que ele fez foi uma piada e depois, ele simplesmente ignorou a questão.

"Você pode me responder objetivamente, agora? Ou eu fiz essa lista à toa?", eu perguntei, exasperada.

Ele pareceu estar considerando aquela questão, porque depois respondeu "Eu fiz de caso pensado, agora que você me pergunta".

"Você o que?".

"Eu estou observando você, já há um tempo", Draco disse, como se aquilo respondesse alguma coisa.

"Porque?", eu perguntei, chocada.

"Bem...você cresceu", ele respondeu, simplesmente. Eu me recuso a acreditar que ele tenha falado sério.

"E...? Isso te dá o direito de simplesmente me atacar?", eu perguntei, com as sobrancelhas arqueadas em descrença.

"Eu acho que já fui punido por aquilo, você não concorda?", ele perguntou, parecendo enfadado. Mas algo na forma como os olhos dele brilharam, me fez pensar que talvez ele tivesse gostado daquilo tudo. Mas não a parte do pisão, é claro.

"Certo", murmurei. Ele não estava respondendo minhas perguntas de uma forma aceitável e eu tinha acabado de desistir de continuar com aquilo, quando ele perguntou:

"E a 5º pergunta?".

"Pra quê? Você não vai responder essa também", eu disse, emburrada.

"Como você pode ter certeza?", ele disse e pegou o pergaminho das minhas mãos. Eu fiquei chocada com tal atitude, porque a 5° pergunta era exatamente a que eu estava hesitando fazer, e só a tinha deixado na lista para decidir na hora, dependendo do clima, se ia pergunta-la ou não. Mas ele acabara de tirar esse poder de escolha de mim. Antes que eu pudesse tomar o pergaminho dele, ele leu, em voz alta "5- O que exatamente nós dois somos?". Ele ergueu uma sobrancelha e me perguntou, com um sorriso arrogante, mas tentando parecer inocente "Bruxos?".

Eu bufei, irritada, e arranquei o pergaminho das mãos dele. Ótimo, ele já estava zombando de mim novamente.

"É séria essa pergunta?", ele disse, quando viu que eu não ia entrar na brincadeira dele.

"Era, até você transformar em piada", eu disse, aborrecida, cruzando os braços.

"Isso significa que você quer ouvir um pedido oficial? Talvez eu deva pedir permissão ao seu pai, também?", ele disse, se divertindo abertamente com tudo aquilo.

"Porque você tem que debochar de TUDO, Malfoy? Você não pode levar nada a sério?", eu perguntei, me sentindo um pouco cansada.

Ele ficou calado por alguns segundos, olhando pra mim, enquanto eu tentava não encara-lo, e depois disse "Você está certa" e fez uma pausa. "Então...quer namorar comigo, Virgínia Weasley?".

Isso me fez virar, para olha-lo melhor. E eu fiquei, lì olhando pra ele, incerta. Afinal, ele podia estar fazendo piada de novo. E que tipo de pedido era aquele? Em que século nós vivemos, afinal de contas? Não era exatamente nisso que eu estava pensando, quando escrevi a pergunta. Eu só estava pensando se o nosso (muito recente) relacionamento teria alguma definição específica. Tipo, se a intenção dele era só me irritar, o máximo possível, e depois me amolecer com um beijo (a velha técnica do 'Morde e assopra'), ou se teríamos um relacionamento um pouco mais saudável que isso. Mas acho que 'relacionamento', 'saudável' e 'Malfoy', não cabem na mesma frase.

Todas essas coisas passaram pela minha cabeça, naquele momento, e por isso, eu fiquei um bom tempo calada, olhando pra ele.

"Apenas diga que sim", ele disse baixinho, se aproximando mais de mim, como se soubesse o que eu estava pensando e estivesse me encorajando a dar uma chance para toda aquela loucura.

"Quanto tempo eu tenho para decidir?", eu perguntei, baixinho.

"Um segundo", ele respondeu.

"Então eu digo sim", eu murmurei e ele, sem nem mesmo hesitar, me beijou.

Quando nos separamos, ele disse "Ótimo. Agora que já resolvemos esse pequeno impasse" e aqui ele estava me provocando "Você poderia começar a me chamar de Draco". Ele estava se divertindo MUITO com aquilo, eu pude ver em seus olhos.

"Draco", eu repeti, para ouvir como aquilo soava. Era, definitivamente, muito estranho de repente estar ali, naquela sala, sendo a namorada dele e chamando-o de Draco. Mas eu nunca disse que o estranho era ruim. "Tudo bem. Chame-me de Ginny, então. Ouvir você me chamando de Virgínia, faz com que eu lembre do meu pai e fique esperando ouvir uma bronca", eu disse, sorrindo.

"Ginny?", ele perguntou. "Não é muito infantil?". ARGH. Meu sorriso desapareceu.

"No meu planeta chamamos isso de 'apelido carinhoso', mas já que você tem um jeito todo próprio de fazer pilhéria com tudo, não me chame de NADA, simplesmente me ignore!", eu disse, irritada.

"Ignorar você?", ele perguntou, olhando claramente para a minha boca "Acho que não será possível", disse isso e me beijou. Eu ia afasta-lo para protestar, pensando na, agora oficial, Política de Relacionamento adotada por ele (a do 'Morde e Assopra'), mas não pude. Não pude porque perdi a linha do meu raciocínio enquanto nos beijávamos e acabei não me lembrando de nada disso, depois que nos separamos. Eu já disse que ele sabe me enrolar direitinho?

Ele passou o braço sobre os meus ombros e eu encostei a cabeça em seu peito. Aquilo era realmente acolhedor, por mais estranho e impensável que isso possa parecer.

Ficamos um tempo em silêncio, e eu estava quase caindo no sono, quando ele disse "Eu já ia me esquecendo de perguntar. E sobre os pesadelos? A poção funcionou, apesar dos efeitos?".

"Funcionou. Eu não tenho tido mais pesadelos. Na verdade, eu não tenho nem mesmo sonhado. Quando eu durmo, é como um clarão e, se eu sonho com alguma coisa, eu não consigo me lembrar de nada", eu disse, muito mais satisfeita do que realmente preocupada com o fato de não sonhar com NADA, mas ele perguntou:

"E isso é saudável?".

"Talvez não seja. Mas lhe garanto que ter pesadelos era muito mais preocupante, para mim". E então, me lembrando de quando ele tinha me ajudado a chegar na Ala Hospitalar, eu disse "E obrigada pelo o que você fez, no outro dia. Não era sua obrigação, me ajudar, já que você já tinha, hum, me ajudado a ir até Londres e tudo mais".

"Não era minha obrigação? Você diz isso como se eu fosse capaz de te deixar sozinha, naquela situação", ele disse e se mexeu para olhar-me nos olhos. "Então é isso? Você acha que eu seria capaz?".

"Não acho mais", eu murmurei. Era só o que eu precisava saber. Quero dizer, ele ficou indignado com o que eu disse e aquilo servia pra provar que ele não era aquele crápula que eu pintava, antes.

Eu não conseguia imagina-lo realmente ajudando Harry, ou meu irmão, mas eu passei a confiar mais nele, a partir dali. Contrariando todas as chances, ele tinha escrúpulos, afinal de contas. Acho que ele pôde ler os meus olhos e entendeu o que eu estava pensando, porque ele não ficou chateado com minha reação.

Ficamos conversando por mais um tempo e quando o assunto, por acaso, voltou a ser Quadribol, eu me lembrei da pequena festinha que estavam fazendo na sala comunal, e fiquei chocada, quando olhei no relógio dele e vi que já eram quase 19h.

Quero dizer, nós tínhamos passado uma tarde inteira juntos! E eu não tinha dito a ninguém aonde ia, e se, de repetente, Ron me procurasse? O que eu ia dizer a ele? Eu não queria mentir, mas acabei percebendo que se eu quisesse mesmo continuar com Draco, ainda iria mentir muito para Rony e as meninas. Eu não podia simplesmente contar a elas, e estava fora de cogitação contar a Rony. Ele tinha odiado Draco desde a primeira vez em que se viram, e Harry sentia um ódio ainda mais profundo (se possível), por Draco. Isso influenciaria o pensamento de Ron, em relação a esse namoro.

Acho que Draco percebeu que eu murchei um pouco, enquanto pensava nessas coisas. Ele tentou me animar, me fazendo rir com uma história boba sobre duendes bêbados e uma charrete quebrada, mas eu voltei a ficar séria, quando decidi que estava na hora de ir.

"Agora? Porque?", ele perguntou, erguendo as sobrancelhas.

"Meu irmão. É possível que ele tenha sentido minha falta na reunião que estavam fazendo lá na Grifinória e vai me encher de perguntas, quando eu voltar", eu disse, suspirando.

"Francamente, seu irmão não tem nada melhor para fazer?", ele perguntou, aborrecido.

"Tem, mas ele é o último dos meus irmãos que ainda está em Hogwarts para me vigiar e tenho quase certeza que os outros recebem informativos mensais sobre tudo o que eu faço e mais especificamente, sobre o 'meu estado civil'", eu disse, pensando a respeito "Ou isso, ou eu ainda não descobri como eles sempre sabem quem me convidou pra sair, com quem eu aceitei sair e coisas do tipo", eu disse, vendo a expressão dele mudar quando eu mencionei, indiretamente, outros garotos.

"Certo. E com quem você já saiu, agora que mencionou esse assunto?", ele perguntou, com a expressão de quem está incomodado (assemelha-se a uma careta, eu diria).

"Você não disse que andou me observando? Como pode não saber esse tipo de coisa?", eu perguntei, me divertindo às custas dele, FINALMENTE.

"Isso não significa que eu tenha parado para ouvir fofocas a seu respeito". Fofocas? E elas haviam, eu me peguei pensando.

"Então, acho que você vai ficar na curiosidade", eu disse, me sentindo um pouco vingada.

"Entendi. É uma vingança, não é?", ele perguntou, e eu tenho certeza que vi seus olhos faiscarem "Você não perde por esperar, Ginny". Ginny. Eu tive que rir. Ainda era estranho ouvi-lo me chamando pelo meu apelido.

"Tudo bem, Draco", eu disse e me levantei "Mas eu realmente preciso ir agora".

Ele confirmou com a cabeça e se levantou também. De repente, eu me peguei pensando quando íamos nos ver novamente e se seria naquela sala. E me perguntei se ela seria segura para isso, quero dizer, talvez ela fosse usada por várias outras pessoas, embora eu nunca tivesse estado lá.

"Quando vamos nos ver novamente?", eu perguntei, afinal.

Ele pensou por um minuto e disse "Amanhã teremos treino de Quadribol após as aulas e não tenho certeza se dará tempo de nos vermos a noite, já que você parece estar sob constante vigia do seu irmão. Mas eu te aviso", ele disse, com a mão na minha cintura.

"Nos encontraremos aqui?", eu perguntei e ele confirmou com um aceno de cabeça "Mas é seguro?".

"Sim. Eu pus um feitiço nessa sala e agora tenho como mudar a senha dela semanalmente. Avisarei a você, é lógico", ele acrescentou.

"Certo", eu disse.

Meu coração ficou um pouquinho apertado, enquanto ele se aproximava mais de mim e me beijava suavemente. Durante o tempo em que nos beijamos, eu senti como se nada de mau pudesse me acontecer. Quero dizer, era algo próprio do Draco. Ele me passava uma segurança, que não fazia muito sentido. Talvez fosse porque ele me ajudou, quando eu realmente precisei e isso me fazia pensar que ele sempre fosse estar por perto quando eu precisasse de ajuda, ou precisasse dele.

"Boa noite", ele disse, depois que nos separamos. Eu assenti e saí de lì em direção ao Salão Principal. Não seria difícil de memorizar aquele caminho, depois de toda aquela brincadeira sobre os quadros. Eu lembro de ter sorrido, quando passei em frente ao quadro do velho usando kilt.

Quando cheguei na sala comunal, encontrei Jenn, Liv e Kel, sentadas a uma mesa, fazendo os deveres. Aquilo me deu uma dor na consciência, eu não tinha feito nenhum ainda. Mas eu me animei, pensando que no dia seguinte não tinha nada marcado com Draco então poderia ir pra biblioteca, estudar.

"Onde você se meteu a tarde inteira?", Jenn perguntou.

"Seu irmão já nos perguntou umas cinco vezes por você", Kel disse.

"E nem pra deixar um bilhete avisando! Quanta consideração!", Liv brincou, vendo toda aquela pressão em cima de uma coisa tão simples. "Qual é, meninas? Vocês não estão vendo? Aposto que ela estava muito bem acompanhada...", completou, maliciosamente.

"O quê?", nós três perguntamos a ela.

"Primeiro você desaparece em Hogsmeade; depois, no baile, você sumiu num piscar de olhos e agora...passou uma tarde inteira fora. E não me diga que estava estudando, porque Kel acabou de voltar da biblioteca", completou, com um sorriso vitorioso.

"Eu estava...estava dando uma volta", eu disse, incerta, olhando pra elas.

"Por onde?", Kel perguntou.

"Com quem?", foi a vez da Jenn.

"Ih gente, qual é a de vocês? Eu estava só andando e pensando em algumas coisas...acabei me distraindo, foi só isso". Eu já disse que minto muito mal? Pois é, eu minto muito, MUITO mal.

"Mas, afinal de contas, essa distração tem um nome?", Liv perguntou.

Eu ia responder alguma coisa, mas nesse momento, eu ouvi, do outro lado da sala um "Virgínia Weasley! Por onde você se meteu?". Era o Ron. Oh, Merlin.

"Ron", eu disse "Quer parar de gritar?".

"E então? Onde você esteve o dia inteiro?", ele me olhou, com os braços cruzados.

"Eu estava dando uma volta por aí, Rony".

"Por aí, onde?".

"Desde quando eu tenho que te dar satisfação do que eu faço? Você não é meu pai!", eu disse, me enchendo daquilo. Alôoo, onde ficava a minha privacidade nisso tudo?

"Mas sou seu irmão mais velho", ele disse "Pelo menos, o mais velho que está aqui".

"Ron", eu disse, tentando não me alterar muito "Eu não fico no seu pé, quando você fica de segredinhos por aí com o Harry e a Mione. Então, você pode, POR FAVOR, não se meter na minha vida?", eu disse e me levantei para ir embora "OBRIGADA", eu acrescentei enquanto subia a escada.

E agora eu estou aqui, no dormitório, pensando em o quanto eu odeio essa coisa de não poder assumir que estou namorando Draco. Depois de um dia tão divertido...droga.

Eu agora estou pensando em toda essa coisa com o Malfoy. E acabo de perceber que ainda não sei porque ele parecia tão satisfeito. E com o quê. Por Merlin, ele sabe me enrolar direitinho.

(pausa)

Não sei o que é isso que está acontecendo entre a gente (nem creio que possa haver um futuro, na verdade), mas Draco - por algum motivo que eu não sei explicar - me enche de coragem para viver a vida sem tanto medo. Eu sinto meu coração mais leve quando ele está por perto. Eu tento me lembrar como era a minha vida antes dele fazer parte dela, e eu sinto dificuldades em lembrar. Sei que faz apenas alguns dias que a coisa toda aconteceu – mas parecem séculos. E eu adoro essa sensação de pensar que posso estar completa, ao lado dele.

"Como diz o poeta:

'Transforma-se o amador...

Na coisa amada.

Por virtude do muito imaginar.

Não tenho, logo, mais que desejar...

Pois já tenho em mim

A parte desejada".

Lisbela e o Prisioneiro


N/A:

'O inimigo do meu inimigo é meu amigo'. Everwood.