Cap 15 – Fantasmas e Problemas
Por Merlin! Já se passou quase duas semanas, desde a última vez que escrevi. Daí dá pra perceber o quão atribulada eu estive. Quero dizer, além dos treinos quase diários de Quadribol e das intermináveis tarefas, eu tenho um namorado que necessita e EXIGE atenção.
Nos vemos sempre que dá. E é realmente agradável, exceto quando brigamos. Quero dizer, nós não brigamos realmente...apenas discutimos em demasia. Os nossos encontros foram bem tranqüilos, essa semana, com exceção do dia em que ele descobriu que eu tenho um diário.
Quero dizer, ele estava me ajudando com uma lição de Transfiguração (ele realmente começou a me ajudar, sempre que eu precisava, depois daquela breve discussão) e todo o meu material estava espalhado pela mesa, inclusive meu diário. Eu, que estava distraída escrevendo no meu caderno, nem percebi quando ele pegou isso e abriu. SEM MINHA PERMISSÃO.
Eu soltei um pequeno gritinho quando vi. "Como OUSA?", eu disse, muito brava, tomando o diário das mãos dele.
"Você tem um diário?", ele perguntou, incrédulo. "Um diário?".
"Sim, eu tenho! E a idéia básica de um diário, é a de que ele é feito para uma pessoa só. E no caso, essa pessoa sou EU. Ou seja, você não pode lê-lo!", eu disse, irritada.
"Então você tem um diário...", ele repetiu, ignorando todo o meu discurso. "O que você escreve sobre mim, aí?". Ora, mas que garoto mais arrogante!
"Que pretensão!" eu disse, chocada "Em primeiro lugar, quem disse que eu falo de você nele?", eu perguntei, sem olhar pra ele, completamente aborrecida com o rumo daquela conversa.
"Ah...como você mente mal" ele disse, com um largo sorriso "Você deve falar MUITO de mim aí".
O que se seguiu, foi uma discussão que durou bem mais de meia hora. Uma coisa que eu aprendi, é que você simplesmente não ganha uma discussão do Malfoy. Você pode empatar, mas ganhar... jamais. Mas isso também não significa que ele vai ler o meu diário! Oras!
A maioria das nossas conversas são na base do 'Vamos ver quem se irrita primeiro' e é claro que eu sempre ganho. Ou será que eu sempre perco? Bem, fato é que outro dia rolou uma conversa que eu preciso registrar. Eu não fiquei realmente irritada porque estava de muito bom humor, pra minha própria surpresa. E Draco provavelmente estava doente, porque ele meio que falou sobre os 'sentimentos' dele.
Não que eu ache que ele estava falando REALMENTE sério, quero deixar isso bem claro. Mas quem sabe tinha uma pontinha de verdade? De qualquer forma, você acaba se acostumando com esse jeito 'provocativo' que Draco possui (veja bem, eu disse provocativo e não provocante...!) em uma simples conversa.
Bem, a conversa começou porque, um dia, estávamos na nossa sala, apenas sentados no sofàquietos, sem conversar. Pensando sobre nossas próprias coisas, imagino. O problema é que eu sou terrivelmente curiosa. E por acaso eu lancei um olhar furtivo pra ele, e percebi que ele estava com um olhar diferente (pensativo demais para o meu gosto), mas...pior: ele estava sorrindo. Isso era tão estranho. Quero dizer, não tinha acontecido nada de engraçado e vê-lo sorrindo sem um motivo plausível era algo fora do comum. Draco Malfoy sorrindo sem mais nem menos? Ah, não. Isso tinha um motivo. E eu queria saber qual era, é lógico.
"Se eu fizer uma pergunta de menina, você promete não rir de mim?", eu perguntei, já imaginando a resposta.
"Não", ele respondeu. Ele é sempre muito sincero.
"No que exatamente você estava pensando?", eu perguntei.
"Quando?", ele arqueou as sobrancelhas.
"Cinco segundos atrás", eu disse e depois completei "Você estava com um olhar...".
"Cinco segundos atrás?", ele repetiu, em descrença.
"Dez segundos, agora. Antes que eu perguntasse no que você estava pensando".
"Honestamente?", ele perguntou, depois de um tempo.
"Não", eu disse, sarcástica "Eu quero que você minta e diga que estava pensando em mim, e faça isto soar terrivelmente romântico", eu completei, mas não estava sendo inteiramente irônica, eu acho.
"Eu estava pensando na quantidade de bombas de bosta que alguns sonserinos compraram. Acho que eles planejam assustar alguns lufa-lufas, esta noite. Pela quantidade, eles têm que ter gasto uma pequena fortuna", ele disse e com isso olhou diretamente pra mim. Para ver minha reação, acho.
E qual foi ela? Nenhuma. Quero dizer, depois de um segundo, eu consegui dizer algo como "Oh".
"Você ficou chateada", ele disse, depois de analisar minha expressão. Alguém duvida que ele estava se divertindo?
"Não, eu não fiquei", me apressei em dizer.
"Sim, você ficou", ele disse, com aquele ar de quem sabe das coisas "Você ficou chateada porque eu não estava pensando em você".
"Não, eu não fiquei", eu afirmei novamente, levemente irritada.
"Eu não posso pensar em você em cada segundo de cada dia, ruivinha. Às vezes eu tenho que pensar em coisas que caras normais pensam, como quadribol, bebidas...e Fleur Delacour", ele acrescentou, desnecessariamente, ao meu ver. Aparentemente essa Fleur se tornou modelo e vive saindo em revistas de moda. Argh. E ele me chama de 'ruivinha', quando quer me provocar.
"Eu peguei a idéia", eu disse, antes que ele começasse uma lista das garotas que ele acha atraente, ou qualquer coisa do tipo. Depois de um tempo, ele pareceu intrigado com uma coisa e perguntou:
"Você disse que eu estava com um... olhar?". Eu suspirei.
"Bem, você estava sorrindo. Para você mesmo. Eu nunca o vi fazer isso. Então, eu quis saber o que cruzou sua mente. Eu deveria ter imaginado que era uma dessas armações dos sonserinos".
Eu estava sendo sincera, quando respondi isso. Ele me lançou um olhar meio de lado, como se estivesse calculando minhas palavras e depois disse:
"Talvez eu não estivesse pensando só em bombas de bosta".
A isso, eu fiquei realmente animada. Quero dizer, ele ia me contar o que estava REALMENTE pensando. Quando é que ele fez isso antes? NUNCA. Basta se lembrar do fracasso do meu Top 5.
"Vá em frente", eu o encorajei.
"Eu estava pensando em algumas coisas que aconteceram conosco", ele disse, cautelosamente, mas eu pude notar os seus olhos brilhando. O que traduzia o quanto ele estava se divertindo. Eu já disse isso, não disse?
"E...?", eu o encorajei novamente. Estava ficando interessante.
"E no quão óbvio era o quanto você sempre gostou de mim. Esperando ver onde eu costumava ficar depois das aulas, para me seguir até lá e iniciar uma conversa casual comigo". O quê? Ele estava insinuando que eu o segui até aquela Ala proibida? Que pretensioso!
"Eu nunca segui você até lá. E eu nunca iniciei uma conversa casual com você!", eu disse, na defensiva.
"Hum rum...", ele disse, cético.
"Eu NÃO o segui", eu reafirmei.
"Vai dizer que você não tinha uma enorme queda por mim?", ele perguntou, como se fosse impossível eu não estar a fim dele, na época em que ele era um completo imbecil.
"Você está confuso", eu disse "Eu tinha uma enorme vontade de acabar com você. Mas eu não tive uma queda por você".
"Isso é muito ruim", ele disse, franzindo a testa, mas eu acho que ele não estava levando a sério tudo aquilo, já que ele disse "Porque eu tive uma queda por você". Agora, isso era algo realmente novo. Malfoy falando assim livremente sobre seus sentimentos? Tudo bem, tinha um tom de deboche, mas não era assim tãããão grande. Acho que é possível que ele estivesse sendo um pouco sincero.
"Você teve?", eu perguntei, meio surpresa. Tàtotalmente surpresa.
"Sim", ele disse, meio sorrindo, meio sério "Eu fui intimidado psicologicamente. Então, quando você entrou naquela sala, eu sequer notei o quão era estranho estarmos conversando ou que você era uma grifinória", ele disse.
Então ele também achava aquilo tudo surreal? Ótimo, ele é tão lúcido quanto eu! Mas que papo é esse de que ele não se ligou que eu era uma grifinória, se no momento em que eu cheguei lá ele se lembrou do meu acidente na partida de quadribol e tudo o mais? Eu hein...
"Não notou?", eu perguntei, ainda meio incrédula.
"Não", ele disse e soou muito sincero. "Tudo no que eu conseguia pensar era no quanto seus lábios ansiavam serem beijados...por mim", ele disse, muito presunçoso, com um terrível tom de Don Juan.
Eu fiquei surpresa com o que ele disse, mas agora que eu paro pra me lembrar, nós já tínhamos tido uma conversa sobre isso, quando eu fiz o Top 5. Mas eu não acreditei naquele papo de 'eu fiz de caso pensado' e 'você cresceu'. Qual é? É do Malfoy que eu estou falando.
Eu sei também que a gente já conversou sobre isso umas duas ou três vezes, mas eu não me canso. Quero dizer, aquele momento na Ala Proibida, foi praticamente o marco inicial da nossa 'história' juntos. Bem, mas eu desviei completamente a linha do meu pensamento. Eu estava falando sobre o quanto ele era presunçoso em achar que eu estava precisando de um beijo dele.
"E aí você decidiu que deveria me fazer esse favor", eu concluí, irônica.
"Viu só? Você teve uma queda por mim", ele disse, com um sorriso de vitória. Aparentemente ele ignorou a minha ironia de propósito, como se a parte em que eu disse 'favor' tivesse sido interpretada ao pé da letra.
"Ah, claro. Porque o pisão que eu dei no seu pé foi uma incrível prova de amor", eu disse, e agora não era possível que ele ignorasse meu sarcasmo.
"Ora, convenhamos Virgínia, você poderia ter ido embora a qualquer momento, mas ficou lá conversando comigo. E poderia ter se libertado de mim facilmente, a qualquer momento, mas ficou la, me beijando", ele disse, muito presunçoso, novamente.
Anh? Como assim?
"Você está brincando, não estÿ Primeiro de tudo, eu não podia ir embora dali porque...porque...bem, porque eu estava tentando me lembrar do caminho e tinha certeza de que iria me perder ainda mais, quando saísse de la. Depois, eu não podia simplesmente me libertar de você, já que eu tinha um braço enfaixado e o outro você estava segurando. Tudo o que me restou foram minhas pernas, e mais precisamente meus pés. Aquele pisão, DEFINITIVAMENTE, prova o tamanho da 'queda' que eu tinha por você!", eu concluí, num fôlego só. Ufa.
Ele ficou uns segundos em silêncio e depois disse, teatralmente "Certo. Você acaba de ferir meu ego, sem compaixão alguma". Hum. Eu não acho que ele estava falando sério sobre eu ter realmente ferido o seu ego, mas... bem, acho que ele gosta de pensar que eu sempre fui completamente louca por ele. É estranho pensar que ele teve uma queda por mim, antes de eu sequer nota-lo. Por isso que eu ainda não acredito nessa ladainha toda.
"Sem compaixão não é o termo apropriado. É mais como um senso indefinível de aborrecimento", eu disse, totalmente sincera. Mas acho que tenho que ser justa e explicar melhor uma coisa. Quero dizer, ele estava certo numa coisa. Eu poderia ter realmente ido embora a qualquer momento. Mas não fui. De certa forma eu 'dei corda' pra conversa dele.
Depois do que eu disse, o clima se foi e o assunto se esgotou. Mas eu fiquei pensando sobre ele ter dito que sentia uma queda por mim. Será que ele estava falando a verdade? Mas como isso seria possível, se, no último ano, eu o ataquei (aquela história da Brigada Inquisitorial e tudo o mais)?
Se isso tudo é realmente verdade, quando começou? Não pode ter sido ano passado. É meio improvável que tenha sido durante a nossa pequena discussão no Expresso, já que mais nos ofendemos do que qualquer outra coisa. Na biblioteca...bem, eu falei aquilo sobre 'sentir muito' por ele mas eu realmente acho que estava louca. Ele não pode ter acreditado. Ou pode? Estado momentâneo de confusão. Ou seria permanente?
(suspiro)
Quando meu ânimo voltar, eu continuo a escrever.
Estou um pouco mais animada, eu acho.
Amanhã tem jogo da Sonserina e Corvinal. Eu passei a semana inteira irritando Draco, dizendo que ia torcer ardorosamente para a Corvinal, mas acho que eu estava mentindo. Quero dizer, eu simplesmente não consigo ser como ele e separar uma coisa da outra. Digo, eu sei que uma vitória o deixaria feliz. Certo? Certo. Então porque não desejar que ele vença? Eu quero vê-lo feliz, afinal de contas. Mas isso não significa que vou torcer a favor dele, num dos jogos da Grifinória! Isso já seria insanidade!
Hoje não vamos nos ver, porque ele tem treino mais tarde. Ah, outra coisa. Agora parece que eu conheço o horário dele melhor do que o meu. Quero dizer, com toda essa coisa de 'Será que vai dar pra gente se ver hoje?', você acaba aprendendo que 'Não, eu tenho aula até tantas horas e depois Quadribol' ou 'Sim, a minha tarde estará livre'.
Acho que as meninas parecem definitivamente chateadas com esses meus repentinos sumiços. Quero dizer, quando eu não me encontro com Draco, eu vou para a biblioteca com a Kel, ou fico estudando na sala comunal com Jenn. Liv estàsempre que pode, com Macmillan. Mas ainda assim, é lógico que elas percebem que eu dou uma sumida, de vez em quando. E eu nunca sei o que dizer a elas e fico dando uma desculpa mais esfarrapada que a outra. Isso é um saco.
Eu penso nisso depois. Eu realmente tenho que resolver essa situação. Mas agora tenho que ir tomar o café da manhã. Já estou atrasada!
Eu não acredito que isso esteja acontecendo. Um misto de raiva e cólera domina o meu corpo. Tudo aconteceu tão rápido. Mas parece que o mundo fez questão de girar um pouco mais devagar naqueles segundos, só para tornar as coisas ainda piores.
O dia já começou ruim, porque na aula do Snape eu fiz tudo errado. Quero dizer, eu estava la tentando me concentrar, e parar de sorrir como uma boba, por estar me lembrando de qualquer coisa idiota que Draco tinha me contado, quando o meu caldeirão simplesmente começou a derreter.
Eu não sei, acho que misturei alguma coisa que não devia, porque ele começou a se deteriorar, e aquilo estava criando um cheiro horrível e não é como se não chamasse a atenção da sala inteira. E é claro que o Snape não perdeu a oportunidade de me passar um sermão incrível, tirar VINTE pontos da Grifinória e me humilhar na frente de todos. Ele teve que, contra a sua própria vontade, liberar toda a turma, porque o cheiro daquilo estava mesmo insuportável. Mas é claro que ele me fez ficar la, limpando tudo. Desgraçado.
Como se não bastasse toda aquela humilhação, a coisa só piorou. Depois da última aula do dia, as meninas decidiram ir para o Lago – 'Estudar la é realmente mais agradável, talvez o meu humor melhore', foi o que eu pensei. Discordo totalmente disso, agora. Quando chegamos la, Kel estava estranhamente quieta. Eu perguntei a ela se tinha acontecido alguma coisa e ela ficou calada por alguns segundos, decidindo se deveria ou não me falar o que estava pensando. O fato foi que ela falou.
"Eu estava só pensando...você não vai dar sua voltinha diária, hoje?", ela perguntou, com um tom que deixava claro que ela estava chateada comigo.
"O quê?", eu perguntei, surpresa.
E dessa vez foi Jenn quem disse "Quase todos os dias você some. Diz que vai dar uma voltinha, ou procurar a Luna, mas Ginny...você não engana a ninguém".
"Você até tenta nos enganar..." Liv disse "Mas não é como se nós fôssemos idiotas". Ela parecia brava. Todas elas pareciam bravas comigo, embora Kel tivesse passado o resto da conversa apenas encarando o chão. Ela parecia mais chateada do que realmente brava.
"Se você não confia em nós" Jenn disse, sentida "Talvez não devêssemos confiar em você também". Eu não podia estar mais chocada naquele minuto. O que era aquilo? Elas tinham ensaiado aquela conversa? Droga, droga, droga. Eu me senti um monstro.
"Vamos. Não vou conseguir estudar aqui", Liv disse. E todas elas se levantaram e foram embora, me deixando ali, chocada, apenas com um terrível sentimento de remorso e culpa me fazendo companhia.
Eu já tinha decidido me levantar, pra ir embora atrás delas, quando (como se já não bastasse aquela desgraça), me aparece um fantasma na minha frente. Miguel Corner.
"Ei, Ginny" ele disse, sorrindo largamente "Tudo bem?".
"Oi Miguel" eu disse, me sentindo completamente arrasada. Mas de duas, uma: ou ele é péssimo em decifrar expressões ou ignorou de propósito. "Há quanto tempo...", eu disse, pra não parecer mal educada.
"Pois é! Podemos conversar?", ele disse, parecendo ansioso.
"Agora? Quero dizer, acho que não é uma boa hora, eu...".
"Não vai demorar. Eu prometo", ele disse.
"Tudo bem. Pode falar". O que exatamente a gente ainda tinha pra conversar? Quero dizer, há séculos nós não conversávamos e de repente, aquilo. Eu estava péssima por toda aquela história na aula de Poções, mas o pior é que eu estava chocada com a atitude das meninas e, depois, com a aparição do Miguel eu estava chocada ao cubo.
"Bem...é que eu estive reparando em você", ele disse. Merlin, de novo essa história? Quero dizer, eu era totalmente distraída pra não perceber esse tipo de coisa? "E notei que você não está saindo com ninguém". Oh, não...
Na verdade, eu não estava mais prestando atenção no que ele estava falando. Eu tinha acabado de olhar para o outro lado do Lago e via Draco parado, vindo aparentemente do campo de Quadribol, segurando sua vassoura e olhando claramente para nós. Quero dizer, eu não sei o que devia estar parecendo aquela cena, já que eu e Miguel estávamos apenas conversando, mas a cara de Draco não era muito boa, na verdade.
"Desculpe, Miguel, o que você disse?", eu perguntei, tentando voltar a me focar na conversa.
"Disse que reparei que você não está saindo com ninguém e eu fiquei pensando que talvez nós pudéssemos, você sabe, tentar de novo", ele disse, ansioso e depois completou, se aproximando mais do que o permitido, de mim "Eu sinto sua falta, Ginny" e fez a coisa mais improvável do mundo. Quero dizer, improvável para mim, porque ele parecia terrivelmente confiante, quando me beijou.
Eu lembro de ter ficado completamente imóvel, com os braços grudados ao lado do corpo, sem conseguir esboçar uma reação. 'NÃO! NÃO!', gritava meu cérebro. Quando eu consegui me mexer, eu o empurrei com força.
"Você pirou, Corner?", eu gritei e depois me lembrei de uma coisa. Draco. Por Merlin! Eu olhei em volta, desesperada e notei que ele não estava mais por perto. Será que ele tinha visto aquilo? Droga, droga, droga. O que faltava me acontecer hoje? "NUNCA mais faça isso, está entendendo?", eu gritei, fazendo várias pessoas olharem pra nossa direção. E eu saí correndo de la.
Eu estava pensando que tinha que falar urgentemente com Draco, para explicar-lhe a situação. Quero dizer, eu já o conheço bem agora. Sei que ele não tolera essas coisas com facilidade. Mas como eu ia falar com ele? Nós não tínhamos um encontro marcado e eu não podia simplesmente aparecer na Sala Comunal da Sonserina.
Eu ainda estava tentando recuperar a razão, quando me encaminhei para o Corujal. Quero dizer, era a única coisa que eu podia fazer, no momento. Eu escrevi um curto bilhete: "Draco,
Nós precisamos conversar.
Te espero na nossa sala, sim?
V.W.".
Eu mandei e me dirigi para la. Ele não devia ter tido tempo de mudar a senha, porque quando eu disse 'robe de seda', ela se abriu prontamente.
Não sei quanto tempo aquela coruja demorou a encontrar Draco, só sei que deve ter demorado muito. Ou então ele devia estar considerando a possibilidade de não me ver nunca mais.
Dez minutos de espera: nada. Vinte: nada... Meia hora: nada..., quando estava próximo de dar quarenta e tantos minutos, eu comecei a ficar terrivelmente arrasada, achando que ele não apareceria. Quero dizer, depois de brigar com as minhas melhores amigas (mea culpa, confesso!), tudo o que eu não precisava era de um empecilho do tamanho de Miguel Corner esmagando meu namoro.
Mas então ele apareceu. Ele tinha tomado banho, pelo que eu pude notar, mas o que mais chamou a minha atenção foi sua expressão. Era tão séria, que eu me perguntei quando teria sido a última vez que ele tinha me tratado tão friamente.
"Draco", eu disse, sentindo uma onda de alívio percorrer meu corpo "Eu achei que você não vinha mais". Ele não respondeu, então eu continuei "Olha, eu não sei o que exatamente você viu, mas...". Aqui, ele me interrompeu.
"Vi o suficiente. Por isso, seja breve com essa sua...explicação", ele disse, totalmente cético a meu respeito. Aqui, eu parei de me sentir aliviada e comecei a me sentir um pouco alterada. Indignada, eu diria. Quero dizer, ele estava me tratando daquela forma e EU nem tinha feito nada! Não era minha culpa, droga.
"Eu acho que é redundante dizer que eu não tive culp...", eu estava dizendo, mas uma risada, sem humor, me interrompeu.
"Virgínia...que parte de sua lembrança é seletiva e tende a esquecer?", ele perguntou, depois que parou de rir "Eu estava la. Eu vi. Ninguém me contou", ele disse, e aqui, os olhos dele estavam completamente negros. Depois ele completou, totalmente irônico "Ou você quer que eu acredite que vocês simplesmente tropeçaram um no outro e...pronto! Estava feito. É isso?". Eu custei a acreditar que ele tinha dito aquilo. Eu fiquei chocada com aquela atitude. Ele estava me ofendendo!
"Eu não acredito no que estou ouvindo...", eu disse, enojada. Ele não respondeu e quando eu consegui recuperar minha voz, eu disse "Às vezes eu acho que você está tão habituado a obter suas pequenas vitórias a qualquer preço que deixou de dar valor à verdade", eu desabafei, com raiva da atitude dele "Você não pode insistir no que acredita e transformar as suas verdades particulares em fatos, Draco" eu continuei e tentando me acalmar, eu completei "Portanto, em vez de ser um completo imbecil, porque você não me pergunta, simplesmente, o que aconteceu?", eu finalizei, desafiando-o.
"Já formulou uma mentira assim tão depressa?", ele perguntou, com os olhos faiscando.
"Argh. Você não ouviu NADA do que eu disse?", eu perguntei. Eu estava realmente alterada "Qual é o seu problema, Malfoy? Você sofre de insegurança extrema, ou o quê?", eu gritei e acabo de me dar conta de que talvez não devesse ter feito aquilo. Mas não era como se eu tivesse muita opção. Primeiro o idiota do Snape, depois a porcaria da briga com minhas amigas e agora ele! Ninguém conseguiria manter a tranqüilidade num dia como esse.
"Então agora o problema sou eu?", ele perguntou, com um sorriso de deboche que há tempos ele tinha deixado de usar comigo.
"Sim, o problema é você, sim! Desde o começo o problema é você. Eu estou aqui, tentando explicar que Miguel Corner renasceu das cinzas e me beijou sem minha permissão e você fica aqui dando ataques de ciúmes! Me desculpe, mas eu não vou tolerar isso, não depois do dia que eu tive!", eu descontei tudo nele. TUDO, tudo.
Eu estava me virando pra ir embora, totalmente irritada, brava e inexplicavelmente magoada, quando ele me segurou pelo braço, me puxou mais para perto e me beijou, tudo isso muito rápido.
Estranhamente, o beijo dele era tremendamente agressivo e não tinha um pingo da suavidade a que eu já estava acostumada. Isso me fez pensar por uma fração de segundo: o que aquilo significava? Ele estava me beijando, não estava? Ele teria me 'desculpado'? Mas...porque ele estava tão agressivo?
Depois, tão repentinamente quanto ele me puxou, ele me soltou. Eu estava olhando ansiosa e assustada para ele (que parecia estar tão sem fôlego quanto eu), quando ele disse, parecendo esticar-se até o máximo de sua altura, frio e reservado "Me diga...foi assim que o Corner te beijou?". Oh.
Eu não sei o que se passou pela minha cabeça naquela hora. Não sei no que RAIOS ele estava pensando quando disse aquilo, eu só sei que não pude controlar o impulso e então eu lhe dei um tapa em cheio no rosto. Eu juntei toda a raiva e frustração que senti no dia, todos os problemas num só e descontei ali, naquele tapa. Mas não me arrependo. Espero que tenha doído horrores. Espero que fique inchado, roxo, e que de preferência deforme o rosto dele!
Ele não esboçou reação alguma. Apenas ficou la parado, com a face vermelha ainda virada para o outro lado. Não sei se ele ficou surpreso, bravo, ferido...não faço a mínima idéia do que ele sentiu. Mas eu é que não ia ficar ali para descobrir. Depois daquilo, eu não tinha mais condições de ficar la e saí em disparada, sem olhar para trás. Quando cheguei no Salão Principal, já sentia lágrimas quentes rolando pelo meu rosto, mas nem me importei. Acho que passei pelas meninas na Sala Comunal, mas isso também não me importa agora.
Eu subi para o dormitório e me tranquei no banheiro. Entrei no chuveiro de roupa e tudo. Não tenho certeza de quanto tempo fiquei la, tentando parar de chorar, tentando não me sentir tão estúpida, tentando arrumar um motivo pra minha vida ter voltado a virar de cabeça pra baixo, mas não encontrei resposta para nenhuma das minhas perguntas.
Quando eu saí do chuveiro, notei o quão inchado o meu rosto estava. Mas é algo incontrolável. Quando você se sente tão mal assim, parece que chorar alivia alguma coisa, bem la no fundo. Mamãe sempre dizia que um banho frio ajuda também, mas eu não estava vendo o efeito.
Troquei de roupa e me enterrei na minha cama. Uma das meninas subiu até aqui, agora a pouco, mas eu continuei 'escondida' debaixo do meu cobertor. Depois, eu decidi desabafar tudo isso aqui, pra ver se me sentia melhor, mas acabo de descobrir que não mudou nada. Continuo esperando o efeito do banho, do choro e do desabafo.
Já é de manhã e eu tenho certeza que só consegui dormir um pouco porque estava terrivelmente cansada. Mas mesmo assim, eu acordei no meio da noite, e fiquei pensando 'Deus, porque eu me importo? Será que eu sou louca?'. Um pouco, talvez.
Mas pelo menos eu consegui dormir uma parte da noite, caso contrário, teria passado a madrugada inteira, escrevendo mais uma lista inútil do tipo 'Porque Diabos Isso Teve Que Acontecer Comigo – Parte VIII'.
Quando eu acordei, vi uma certa movimentação e me dei conta de que provavelmente as meninas iam assistir ao jogo da Sonserina e da Corvinal. É claro que eu não fui. Não tinha condições física e emocionais para tanto. Reparei que quando eu me sentei na cama, elas trocaram olhares entre si. Certo. Estava na hora de acabar com aquilo.
"Eu queria falar com vocês um minuto", eu disse, antes que elas saíssem do quarto "Não vai demorar". Todas estavam muito quietas, esperando pelo o que eu ia dizer. Mas o que eu ia dizer?
"Eu só queria pedir desculpas. Vocês estão totalmente certas sobre a maneira horrível com que eu tenho tratado vocês. Eu não me orgulho disso", eu disse, e achando que ainda não estava bom o bastante, tentei me explicar melhor "O que estava acontecendo...bem, acabou. Não tem mais importância", eu disse, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
Kel se aproximou e sentou na minha cama, dizendo "Tem algo a ver com Miguel Corner? Porque ouvimos uma história totalmente absurda de que ele atacou você perto do Lago e que você teve grandes dificuldades para escapar dele". Meu Deus. Hogwarts tinha uma central de fofoca muito antenada.
"Não vou mentir. Ele é o menor dos meus problemas, agora", eu disse, grata por ela pelo menos demonstrar que não estava assim tão chateada comigo.
"Tudo bem, Ginny. Não precisa nos contar toda história. Apenas..." Liv disse e suspirou "Bem, eu acho que você deve saber o que é melhor pra você", completou, simplesmente.
"Eu também achei que soubesse. Mas, como eu disse, não importa agora".
O quarto ficou novamente em silêncio, então Jenn foi até o seu criado-mudo e pegou uma barra de chocolate, que atirou para mim, dizendo "Toma. Come isso. Vai fazer você se sentir um pouco melhor", ela disse, sorrindo timidamente.
"Obrigada, meninas. Por tudo", eu disse, muito, muito grata por elas terem me perdoado. Meu coração ficou um pouquinho mais leve.
Isso me animou um pouco e, mais tarde, eu desci para tomar café, encontrando o Salão Principal terrivelmente vazio. Todos deviam estar assistindo àquele jogo. Inclusive, eu estou tentando não olhar pela janela, já que posso ver alguns vultos daqui.
Foi um alívio imenso ter resolvido o problema com as meninas. Mas não estou certa de que o meu problema com o Malfoy tenha uma solução. Quero dizer, é ele quem está errado! Eu só me defendi, da única maneira que pude, já que ele apareceu praquela conversa com uma idéia (totalmente absurda) pré-concebida. Ele mal se deu ao trabalho de me ouvir! Quero dizer, se ele não confiava em mim, porque é que estava comigo, afinal de contas? Droga.
Essas coisas ficam se passando pela minha cabeça, mas eu não vou obter nenhuma resposta, então vou tentar me ocupar com outras coisas.
Está nevando. Um frio adorável se instalou por toda Hogwarts.
(suspiro)
Já se passaram duas semanas, desde aquele dia e eu já me sinto um pouco melhor. Conformada, eu diria. Quero dizer, eu sei que Draco é terrivelmente orgulhoso, mais do que eu, provavelmente, e não viria falar comigo para pedir desculpas, ou qualquer coisa do tipo. Nos esbarramos duas ou três vezes, mas é como se não nos conhecêssemos. Como se nada tivesse acontecido entre nós.
Nunca mais voltei àquela sala em que nos encontrávamos. Mas morro de curiosidade. Quero dizer, em saber se ele voltou la, se a senha mudou...mas eu não quero realmente esbarrar com ele, acho.
Eu estive olhando a tabela de jogos e não teremos que jogar contra a Sonserina (eles perderam para a Corvinal! Isso foi algo realmente significativo. Para a Grifinória, sem dúvida. Mas para Draco, deve ter sido o fim) até depois das férias de Natal. Ótimo. Vou ter mais um tempo para esquecer tudo isso e me concentrar mais nos treinos. Nossa próxima partida é contra a Corvinal, que deve estar tremendamente animada, já que ganharam da Sonserina, que, depois de nós, tem o melhor time.
Sabe, Harry tem reclamado muito comigo! Diz que não pareço concentrada o suficiente. Puxa, mas quem é que conseguiria, no meu lugar? O problema é que eu não posso falar isso pra ele. Aliás, isso me faz lembrar de Rony, que estranhamente passou a me defender quando Harry briga comigo. Mas acho que sei porque.
Dois dias depois de toda aquela confusão, Ron veio falar comigo, quando eu estava estudando na Sala Comunal, esperando Kel voltar da biblioteca com alguns livros.
"Oi, Gin" ele disse, cauteloso "Tudo bem?". Eu murmurei algo como 'Hum rum', em resposta. "Escuta...eu queria te perguntar uma coisa". Oh, não. 'Não pergunte isso que eu acho que você vai perguntar', eu me peguei pensando.
"Ron, olha, não é um bom momento. Eu to indo estudar", eu disse, tentando, na verdade, fugir.
"Tá, eu não vou demorar. Eu só queria saber se..." ele parecia muito constrangido "Se aqueles seus sumiços eram por causa do Corner. De novo", ele completou. Deus, até ele ouviu aquela história?
"Eu não quero falar sobre isso", eu respondi, desesperada.
"Tudo bem", ele disse, mas deu um suspiro de alívio, como se aquilo significasse que o meu problema era Miguel Corner. E, aparentemente, estava resolvido, já que Miguel Corner não tentaria se aproximar de mim tão cedo.
Depois dessa conversa, ele tem se mostrado totalmente protetor comigo, me perguntando se eu já almocei, se já fiz meus deveres e coisas do tipo. Isso só faz com que eu me sinta pior, infelizmente.
As meninas não tocaram mais nesse assunto e eu fico infinitamente grata, porque pelo menos eu não sinto como se estivesse mentindo para elas.
Estranhamente, meu rendimento escolar não caiu, já que todo o meu tempo livre está realmente dividido em estudar e treinar. Eu quase não me divirto mais. Não sei o que é rir há muito tempo e isso é péssimo pro meu humor. Não que eu esteja de mau humor...é como se eu nem conseguisse mais sentir, sabe? Rir pra quê? E chorar? Não vai adiantar, vai?...
(um grande, enorme, gigantesco, colossal... suspiro)
Eu só quero um pouquinho de paz. Seria pedir demais?
"Acostumado"
"Não faz sentido lutar comigo,
Porque eu já perdi.
Esta vida é apenas uma batalha
Que eu já lutei.
Todos os dias eu abaixo a cabeça
Me entrego a mim mesmo.
Eu costumava ser forte.
Eu costumava não precisar de ajuda.
Eu costumava ser um menino...
Tornei-me um homem.
Mas nem estou vivendo.
Não sei o que sou.
Uma vida que se passa morrendo
Não é vida nenhuma.
Andando pela vida
E por este inferno
Realmente não pode durar muito mais.
Perdi tudo o que um dia tive.
Sei que poderia ser pior
Mas assim mesmo é bem ruim".
(Nick Traina)
N/A:
Todo o diálogo começando em 'Se eu fizer uma pergunta de menina...', até 'Sem compaixão não é o termo apropriado..', foi adaptado de um diálogo de Everwood.
'Deus, porque eu me importo? Será que eu sou louca?. Um pouco, talvez.'. A legítima Codell. Uma professora fora de série.
