Cap 16 – Reconciliação
Eu estou na Toca. Férias de Natal. Estão todos aqui: Gui, Carlinhos, Percy, os gêmeos, Ron e até mesmo o Harry veio. Mione vem também, mas primeiro ela vai passar uns dias com os pais. Acho que vem depois de amanhã. No dia do Natal, Kel e seus pais virão nos visitar, como eles fazem desde que somos crianças (eu já mencionei que nos conhecemos antes de Hogwarts?). É tão legal ter a casa com garotas, pra variar um pouco.
(suspiro)
Estou um pouco triste, mas em parte estou muito feliz. Na verdade, eu não sei qual adjetivo usar. Uma porção deles serviria nesse momento.
Estou me referindo, basicamente, ao que aconteceu no sábado, no dia da partida contra a Corvinal. Bem, o fato foi que nós perdemos. Dá pra acreditar? Isso é péssimo. Foi mais um motivo pra me enterrar na lama de vez. Eu que já estava tão feliz...
Bem, depois do jogo eu achei que Harry ia passar um sabão na gente (me refiro a nós, artilheiros. Sabe quantos gols eu marquei durante toda a partida? Quatro. Só quatro. Está muito abaixo dos meus padrões!), mas ele realmente não podia falar muito, porque ele não pegou o pomo! Isso é tão incomum, que quando o jogo acabou ninguém soube realmente o que dizer. Aquela derrota parecia não ter uma explicação (Hum. Isso soou um pouco arrogante, não?).
Bem, quando fomos para a Sala Comunal, todos na Grifinória pararam e olharam pra nós. Argh. Obviamente não haveria festa, naquela tarde, e como eu não ia agüentar ficar ali, eu resolvi dar uma volta. Sei la, eu não sabia nem se seria boa companhia para alguém, no meu estado. Primeiro porque eu havia jogado muito mal. Não era o meu normal, pelo menos. Segundo porque eu estava tentando não lembrar que, depois da última partida da Grifinória, eu tinha passado uma tarde inteira com Draco.
(pausa)
Eu disse que estava tentando e não que estava conseguindo.
Bateu novamente aquela curiosidade sobre a 'nossa sala'. Mas eu não tive coragem de ir até la. Talvez eu devesse ter ido la dar uma olhada, mas então não teria acontecido o que aconteceu.
O fato é que eu acabei indo caminhar perto do Lago, num frio de rachar, mas que parecia estranhamente acolhedor, já que, quando você SE isola do resto do mundo, a última coisa que você quer é se sentir confortável, acolhida, amada. Sei lì parece masoquismo, mas não é. Você só quer ficar ali, curtindo sua fossa, sua tristeza, até que ela passe sozinha. É horrível ver as pessoas a sua volta com 'pena' por você estar assim, meio triste, e elas se sentem ainda piores porque não podem fazer nada. Com isso eu me sinto duas vezes pior. Argh, que confusão.
Quando eu me dei conta, estava atrás do Castelo, próxima do local em que tinha conversado com Draco uma vez, sobre teorias da evolução e um monte de bobagens. Meu coração deu um nó, é claro. Quero dizer, eu estava tentando fugir de tudo aquilo e de repente vou parar num local que me enche de lembranças dele? Terrível.
Mas, estranhamente, eu não consegui (nem quis) sair de la. Acho que aquela coisa de masoquismo que eu falei existe mesmo. Uh. Bem, fato é que eu fiquei la, sentada, olhando pro nada e sem pensar em nada. Eu estava tão distraída que nem vi quando ele chegou. Sim, Draco apareceu la, minutos depois de eu ter chegado. Isso foi, no mínimo, muita coincidência.
Eu fiquei imóvel, contra a minha vontade. Quero dizer, eu queria sair correndo de la, queria desaparecer, queria fazer qualquer coisa, menos ter aquela conversa com ele, naquele momento. Mas eu não fiz nada disso. Eu continuei parada, quando ele se sentou à minha direita e deu um grande suspiro. Por um momento, nenhum dos dois falou nada, mas depois eu realmente não me segurei mais.
"O que você veio fazer aqui?", eu perguntei, baixinho. Ele ficou um tempo calado, antes de me responder, então eu acho que ele estava escolhendo bem as palavras.
"Bem...o fato é que...eu tenho que pedir desculpas para uma garota", ele disse. Certo...claro.
"E como você pretende fazer isso?", eu perguntei, sem olhar pra ele, porque eu não estava gostando muito daquela conversa.
"Esse é o grande problema", ele disse e deu outro suspiro "Lembro-me de quando ela disse que eu nunca havia feito isso. Pedir desculpas, eu quero dizer. E ela realmente estava certa. Eu nunca fiz isso antes", ele explicou. Bem, ele estava sendo sincero. Aquilo significava alguma coisa, não?
E naquele momento eu me lembrei de quando ele tinha ido até a mim, no baile, e me falou que não deveria ter dito aquilo sobre ainda haver inocência no mundo e tal. Em nenhum momento ele disse 'me desculpe', 'sinto muito' ou afins. E só agora eu me toquei! Ele me enrolou, ele realmente não pediu desculpas. Como eu não percebi? Indignação total!
"E onde eu entro nisso tudo?", eu perguntei, confusa. "Você quer que eu te ensine? É isso?", eu perguntei.
"Você faria isso?", ele perguntou, olhando para mim.
"Depende. É o que você realmente quer?", eu perguntei, ainda sem olhar pra ele.
"É o que eu realmente quero", ele repetiu, sério.
"Bem...primeiro, eu suponho que você tem que admitir para ela o quão errado você estava. E o quão estúpido você foi", eu disse, me aproveitando da situação para falar umas boas verdades pra ele. Qual é, ele estava merecendo!
"Certo, me redimir", ele disse e eu pude vê-lo franzindo a testa. "Isso vai ser difícil... E depois?", ele perguntou, parecendo interessado.
"Depois você tem que dizer o quanto lamenta. Mas isso, só se você realmente lamentar, é claro. Sinceridade é a chave da questão", eu disse, mexendo no meu cadarço.
"Me redimir, dizer que eu sinto muito", ele disse, como se estivesse anotando mentalmente. "Porque tem que ser tão difícil?", ele perguntou, acho que pra ele mesmo, com uma ruga na testa. Mas eu fiz questão de responder.
"Suponho que o grau de dificuldade disso pra você, esteja no mesmo graude decepção que tudo isso foi, pra ela", eu disse, absolutamente sincera.
"Acha que ela se decepcionou muito?", ele perguntou, depois de um tempo.
"Eu não sei", eu disse e então olhei pra ele pela primeira vez "Acho que sim".
Ficamos nos olhando por algum tempo, sem dizer nada. Acho que foram minutos, mas pareceram horas. Eu não consegui formular nada para dizer, então continuei la, apenas olhando para ele, vendo seu cabelo platinado e seus olhos cinzas, tão incomuns, e que faziam tanta falta aos meus próprios olhos.
Eu fiquei pensando...eu estava fazendo drama? Eu estava certa? Eu não sei. Acho que ele precisava aprender que eu não vou aceitar qualquer tipo de atitude dele. Ele tem que saber que eu não sou igual às outras garotas que ele conheceu. Elas podem beijar o chão em que ele pisa, mas eu não faria isso. Porque eu não sou fanática por ele. Eu apenas...bem, eu simplesmente...er, eu só acho que não me submeteria a esse tipo de coisa. Sem contar que eu nunca o trairia!
Mas eu não sei, tem alguma coisa em Draco que me faz querer ficar perto dele, só que eu não sei o que é. Mas acho que esse foi o grande agravante de tudo isso. Acho que por isso eu me decepcionei tanto com aquela atitude estúpida dele.
"Ginny", ele disse, meio tenso "Me desculpe". E só aquilo me bastaria, porque ele soou dolorosamente sincero. E aquilo me tocou. É claro que eu o perdoava. Era o que eu estava esperando todo esse tempo, não era?
"Eu errei em agir impulsivamente. Eu deveria ter dado a chance de você se explicar, ou deveria ter acreditado quando você tentou", ele disse, olhando pra mim com os olhos semicerrados, por causa da claridade nos olhos dele. Eu teria aceitado qualquer coisa vinda dele, naquele momento. Até insultos. Ele parecia tão sincero naquele momento que, no caso dele, partiria o coração de qualquer um.
"Tem uma coisa errada", eu disse e acho que o assustei.
"O quê?", ele perguntou, confuso.
"A ordem", eu disse, soando mais clara, eu acho "Se redimir, se desculpar. Era a ordem, não era?", eu completei. Eu vi os olhos dele faiscarem; ele percebeu que eu estava brincando com ele. Ele falando sério e eu brincando. O mundo dá voltas...
"Você quer que eu faça de novo?", ele perguntou, fingindo preocupação.
"Sim, mas tente mudar as palavras agora. E mencione aquela coisa de estupidez que eu sugeri. É importante", eu disse, gesticulando e me fingindo de séria.
Ele suspirou profundamente e eu acho que ele ia começar a falar, mas eu coloquei uma mão sobre o braço dele e disse, sorrindo "Ei, eu estava brincando".
"Eu sei que estava", ele disse, sem tirar os olhos de mim.
"Bem, você teria feito de novo?", eu perguntei, surpresa. Ele mesmo havia dito que aquilo era difícil pra ele. Fazer uma vez deve ter sido mesmo, mas duas?
"Se você não estivesse brincando agora, provavelmente eu teria. Não sei", ele disse, dando de ombros. Bem, de qualquer forma era bom saber daquilo. E então, do nada, eu me lembrei de uma coisa.
"Olha, sobre aquele tapa...", eu estava dizendo, mas ele se apressou em me interromper.
"Não precisa se desculpar".
Eu olhei pra ele, surpresa. "Eu não ia", eu disse "Eu ia dizer que você fez por merecer", eu completei e então eu vi aqueles dentes brancos aparecerem num sorriso lindo para mim. Ele havia entendido tudo aquilo. Significava que ele estava perdoado. Eu já disse que ele é perito em ler nas entrelinhas?
"Senti sua falta, ruivinha", ele disse, depois de um tempo. Ele foi se aproximando de mim, devagarzinho, como se ainda não estivesse muito certo de que podia fazer o que estava querendo fazer.
"Eu senti desesperadamente a sua falta" eu disse, quando nossos rostos já estavam a meio centímetro de distância e, depois, só lembro de tê-lo beijado de uma forma completamente diferente. Era como se nunca mais fossemos nos beijar e eu tinha que ter a certeza de que me lembraria daquele momento para sempre. Que me lembraria do seu gosto, seu cheiro...
(suspiro bobo)
Ficamos lá a tarde inteira, mas o problema foi na hora de ir embora. Esse sempre era o problema, na verdade. Mas agora era um pouco diferente, já que no dia seguinte, eu estaria indo para a Toca para as férias de Natal. Toda minha família estaria la (aqui, eu quero dizer), e mamãe não permitiu que eu e Rony ficássemos em Hogwarts. E ela convenceu Dumbledore a levar Harry também. Não me pergunte como.
Draco disse que ia ver sua mãe na noite do Natal, mas que voltaria para Hogwarts, no dia seguinte. Foi um pouco engraçado vê-lo falando da mãe dele. Ele falou num tom quase carinhoso e eu acho que ele nem se deu conta. Quero dizer, ele raramente demonstra carinho. Até comigo é um pouco difícil. Bem, normalmente os gestos de 'carinho' dele vêm cheios de malícia, então não é o tipo de 'carinho' a que eu estou me referindo. Falo do tipo de carinho que você tem por alguém e não exige, nem espera nada em troca. Foi realmente confortante vê-lo falando assim de alguém, pra variar.
"Você vai me escrever?", eu perguntei, manhosa.
"Sim, se tiver tempo", ele respondeu, se fingindo de sério.
"Como assim, 'se tiver tempo'?" eu perguntei, indignada "Que tipo de distração você vai ter aqui em Hogwarts, posso saber?".
"Não muitas...", ele disse, soando vago.
"Espero que não usem saias, essas distrações!". Eu não sabia que podia sentir ciúmes de Draco Malfoy. Certo, na hora eu estava exagerando, só por brincadeira, mas agora que estou longe fico pensando o que ele estará fazendo la.
Ele me mandou uma carta ontem, falando que é realmente tedioso ficar la quando eu estou longe (ooooonn! Isso foi o mais próximo que ele chegou de soar 'romântico' e eu tenho quase certeza de que foi proposital. É o tipo de coisa que ele não deixa simplesmente 'escapar'. Ele sempre tem um motivo...mesmo que seja só para me deixar vermelha) e reclamou pela milésima vez o fato de Harry ter vindo junto. Ele não chega a falar mal dele o tempo todo, mas nota-se a inimizade que ele ainda sente por ele. Às vezes acho Draco tão confuso.
Bem, aquela foi a última vez que nos vimos e já faz mais de uma semana! Amanhã já é Natal e...
(pausa)
Gui acaba de bater na minha porta, vou descer para jantar.
Voltei. Fiquei um tempão conversando com os meninos, la embaixo, e todos estavam falando sobre presentes, Quadribol e presentes. Parecem crianças, juro! Dei boa noite a todos e vim pro meu quarto. Mas aí eu fiquei pensando...eu não comprei nada para Draco. Eu até tenho algum ouro guardado, mas o primeiro problema foi o tempo. Afinal de contas, há uma semana, eu nem ousava imaginar que iríamos voltar. E o segundo problema foi: o que eu daria para ele? Quero dizer, ele já tem tudo o que o dinheiro pode comprar. Mas se eu não der nada, fica parecendo que eu nem me dei ao trabalho de comprar algo. Ai, que dilema.
Então, decidi fazer uma coisa que nunca fiz antes. Vou escrever uma carta pra ele. Quero dizer, uma carta de "amor". Não faço nem idéia do que escrever. Também não faço idéia do que ele vai achar, mas vou escrever mesmo assim.
(pausa)
Demorou, mas o primeiro parágrafo ficou pronto, se bem que ele nem é realmente uma coisa romântica.
"Draco,
Estou há horas tentando escrever alguma coisa que sirva para a ocasião. Quero dizer, eu não estou a fim de brincadeiras, ou de irritá-lo (e muito menos de me irritar com você), então isso é algo completamente novo para mim".
Eu sei, não está nada romântico, mas estou me esforçando! Vou continuar a faze-la agora.
(outra pausa)
Pronto, terminei. Agora vou fechar e...
(pausa absurdamente incrédula)
Eu estava aqui, fechando a carta que escrevi para Draco, calmamente sentada na bancada da minha janela, olhando de vez em quando a neve cair, quando... 'Oh, não. Quero dizer, OH, SIM'.
