Cap 17 – Presente de Natal
Isso não parece real. Não parece mesmo!
Quero dizer, eu estava aqui, quietinha, quando de repente vejo uma cabeleira platinada que conheço tão bem. DRACO. Ele é louco, definitivamente! Eu estava tão certa de que era um delírio, que quase não acreditei enquanto via aquele vulto completamente vestido de preto, andando pela neve.
Da minha janela eu pude ver muito bem, enquanto ele ainda estava longe, que ele estava segurando sua Firebolt. Por Merlin! De onde ele estava vindo? E de vassoura? Ele só podia ser louco mesmo! Mas o problema maior era que se eu podia vê-lo da minha janela, alguém em algum outro lugar poderia vê-lo também! E a casa estava cheia, quase todos ainda estavam acordados.
Eu abri minha janela, desesperada, e fiz um 'psiu' para ele, que olhava incerto, para a minha casa. É provável que ele não tenha me escutado, mas parece que me viu, porque montou em sua vassoura e se dirigiu para minha janela. Eu rezei internamente para que ninguém estivesse perto da janela, naquele instante.
Enquanto esperava Draco entrar, eu peguei minha varinha e tranquei minha porta, mas a verdade é que não sei como consegui sequer raciocinar naquele momento, porque eu estava surpresa/assustada/em pânico demais para tanto.
Depois, ele entrou no meu quarto e desmontou de sua vassoura. Pude notar que ele sorria presunçosamente, todo coberto de neve, e com cara de criança quando sabe que fez algo que não deveria ter feito, mas que está adorando a situação.
Eu ainda estava fechando minha janela, completamente incrédula com tudo aquilo, quando ele disse "Você tem noção de que...", e aqui eu fiz um gesto desesperado para que ele falasse mais baixo "...mora a 50km do vilarejo mais próximo?".
Eu sibilei "É claro que sei".
"Lembre-me de nunca mais vir te visitar", ele falou, baixinho, mas muito animado, como se fosse a coisa mais normal do mundo ele estar ali, no meu quarto, batendo a neve de suas vestes.
"Ah, não vai ser necessário", eu murmurei, sarcástica "Não depois que os meus SEIS irmãos descobrirem que você está aqui. Não vai sobrar um pedacinho de Malfoy para contar a história", eu completei, sombriamente.
"Seis?", ele perguntou, incerto. Ele ainda estava meio rosado, por causa de todo aquele frio la fora, o que me deixava com vontade de rir, a despeito de toda a situação.
"Sim, seis. E eles são grandes e maus. E você é louco, sem dúvida", eu disse, mas tive que me segurar para não rir do que eu tinha dito. Percy...GRANDE? E Gui, mau? Piada, né?
Mas acho que ele interpretou mal o que eu falei, porque ele disse, soando inconformado "Eu ainda posso ir embora se você quiser".
A isso, eu sacudi a cabeça, exasperada "O que exatamente você veio fazer aqui?". Veja bem, eu não estava exatamente reclamando, eu só estava tentando entender a situação.
"Vim ver você, é óbvio. Mas você não parece muito feliz", ele disse, com a boca curvada em desgosto. Acho que o ego dele não suportaria a idéia de que eu não estava completamente feliz em vê-lo.
"Feliz?", eu quase gritei "Draco, eu não vou ficar feliz depois que alguém te vir aqui. Eu estarei perdida e você, MORTO".
Nesse momento, ele espirrou. Meu discurso perdeu todo seu efeito assustador, já que foi ignorado. Eu gemi. Ele devia ter feito de propósito, só para eu me sentir culpada por ele ter estado voando debaixo de neve, com a única intenção de me ver.
Eu toquei a manga de seu casaco e notei que estava completamente úmido. "Tire isso, antes que você pegue uma gripe", eu disse e vi que ele tinha entendido tudo errado.
"Então... não estamos indo rápido demais para você? Que ótimo", ele disse, cheio de malícia. Como é que a mente dele funciona, hein? Eu adoraria saber para não me colocar em situações como essa.
"Argh", foi tudo o que eu consegui pronunciar, enquanto praticamente arrancava aquele casaco. Peguei meu cobertor e joguei para ele, dizendo "Toma. Se aquece com isso".
"Me aquecer com um cobertor?... Quando você está tão perto de mim?", ele perguntou, se aproximando de mim. "Acho que não". E dizendo isso ele me abraçou e me beijou. Olha, eu até tentei, mas não pude resistir.
Mas o principal problema foi quando, do nada, alguém começou a bater na minha porta. Eu me afastei de Draco, assustada e perguntei "Quem é?".
"Rony. E porque diabos essa porta está trancada?". Oh, droga. Isso significava que ele ia querer entrar. Argh. "Já vai", eu gritei, empurrando Draco, para dentro do meu minúsculo banheiro. 'Oh, não. Ele vai mexer em tudo', eu pensei na hora. Abri rapidamente a porta do banheiro e sibilei, brava "E não mexa em nada!".
Abri a porta do meu quarto e perguntei "Que foi?".
"Hum, a mamãe pediu pra eu vir perguntar se você realmente não precisa que um de nós venha passar a noite aqui, só por garantia. Você sabe, caso você tenha um pesadelo". Mamãe tinha feito todos eles virem me perguntar isso, todas as noites, desde que havíamos chegado (isso, porque, obviamente ela não sabia da poção dos gêmeos).
Mas naquela noite, parecia que Deus estava querendo me deixar com remorso. Quero dizer, eu estava com um garoto (e não era qualquer um...era o Malfoy!) trancado no meu banheiro, enquanto, gentilmente minha família se preocupava com os meus pesadelos. Eu sou uma pessoa horrível.
"Não, Ron, não precisa. Eu realmente não tenho tido mais pesadelos", eu disse, soando meio culpada.
"Tem certeza?", ele perguntou, solícito.
"Hum rum", eu respondi.
"Tudo bem. Qualquer coisa...", ele disse e foi saindo, para subir até seu quarto, imagino. Ufa. Eu suspirei de alívio e fechei a porta. Fui até o banheiro e abri a porta. Draco estava encostado na pia, com os braços cruzados (aparentemente ele não tinha mexido em nada, mesmo), olhando para mim.
"Então você ainda está tendo pesadelos?", ele perguntou, calmamente.
"É claro que não. Você não ouviu o que eu disse?", eu perguntei, um pouco indignada.
"Porque se você quiser, eu posso passar a noite aqui com você...Você sabe, caso você tenha pesadelos", ele disse, sorrindo maliciosamente. Então me ocorreu uma coisa.
"Você não está pensando que vai passar a noite aqui, não é?", eu perguntei, surpresa e chocada, ao mesmo tempo.
"Seria tão ruim assim?", ele perguntou, ofendido.
Não faz sentido dizer que algo não faz sentido para alguém que não faz sentido, mas, algumas vezes, o que mais podemos dizer?
"Draco", eu disse, tentando faze-lo voltar ao mundo real "Eu adoraria simplesmente pedir para minha mãe te abrigar aqui essa noite, mas eu NÃO POSSO. É impossível", eu expliquei, porque ele não parecia capaz de entender aquilo.
"Tudo bem", ele disse, se encaminhando para minha janela e pegando sua vassoura "Eu estou indo".
Aí eu olhei pela janela de novo e notei que a tempestade de neve estava consideravelmente mais forte. Eu não ia deixa-lo sair com aquele tempo, é claro.
"Espera", eu disse, segurando seu braço. Dei um grande suspiro, enquanto olhava, inconformada, para ele. "Você não vai sair com esse tempo", eu disse. Mas qual era a solução? Eu tinha uma opção?
"E o que você sugere? Que eu simplesmente desça as escadas e use sua lareira?", ele perguntou, curioso, se encostando na minha escrivaninha, que fica ao lado da janela.
"Claro que não", eu disse, suspirando. "No entanto, você entende que vai totalmente contra os meus princípios permitir que você durma aqui, não é?".
Ele apenas acenou com a cabeça, com uma cara de desgosto, em resposta. Bem, pelo menos ele entendia aquilo. Eu sentei, derrotada, na minha cama. "Só que eu não vejo outra solução", eu murmurei.
Draco ficou lá, olhando para mim, completamente surpreso e depois se sentou calmamente ao meu lado. "O que exatamente você está pensando que eu vou fazer? Eu não vou te atacar", ele disse, baixinho, mas soando ainda um pouco indignado.
"Eu sei que não", eu falei, no mesmo tom de voz dele "O problema é o sentimento de remorso que está se formando dentro de mim. Quero dizer, eu estou mentindo para todos da minha família, bem debaixo do nariz deles!", eu disse, fazendo um esforço descomunal para controlar o tremor na minha voz.
"Olha, Ginny...se isso fizer você se sentir melhor, eu não me importo de seguir até Ottery St. Catchpole...", ele estava dizendo, mas eu o interrompi.
"Não, tudo bem. De verdade". Mas eu ainda podia sentir meu estômago se revirando. Escrúpulos, imagino.
Dava pra perceber que o silêncio na Toca estava aumentando, todos pareciam estar se preparando para dormir.
"Você jantou?", eu perguntei. Isso teria sido um problema, porque é quase impossível descer as escadas sem que elas comecem a ranger furiosamente, mas, para a minha sorte, ele confirmou com a cabeça. "Então vou preparar a sua...cama", eu disse, me levantando.
"Minha o quê?", ele perguntou surpreso.
Eu fui até o meu armário e tirei de la um colchonete meio velho, que os meninos costumavam usar. Peguei vários lençóis e cobertores e comecei a forrar o colchonete. Joguei um travesseiro em cima daquela cama improvisada e disse "Isso vai ter que servir".
Na verdade acho que ele não estava realmente acreditando que ia ter que dormir no chão. Mas ele não reclamou, na verdade ele até murmurou algo muito próximo de 'Obrigado'. Eu o observei tirando os sapatos e ficando de meias, antes de se deitar. Foi uma cena surreal, mas definitivamente engraçada. Eu estava fazendo um esforço assombroso para não rir.
"Eu não queria judiar de você" eu disse "Mas você está terrivelmente engraçado, deitado aí", eu disse, ainda de pé, perto do armário.
Ele colocou as mãos por trás da cabeça, e olhou para mim, antes de murmurar "Que bom que alguém está se divertindo". Oh, tadinho. A isso, eu me abaixei e dei um beijinho na bochecha dele, depois me levantei e disse "Já volto".
Fui me trocar, no banheiro, mas é óbvio que eu não ia usar um dos meus pijamas. Não na frente de Draco. Só de pensar isso eu sinto meu rosto atingir treze tons diferentes de vermelho. Então, coloquei um suéter rosa que mamãe fez pra mim, uma calça e meias, já que fazia um frio espantoso, até mesmo dentro da Toca.
Quando saí do banheiro, ele estava olhando pra mim. Acho que estava levemente decepcionado (eu morro de rir ao imaginar isso). "É assim que você costuma dormir?", ele perguntou, num tom queixoso, enquanto eu apagava as luzes, para, em seguida, subir na minha cama.
"É claro que não", eu respondi, baixinho, tentando não rir. Eu deitei bem próxima à beirada da cama, de modo que pudesse olhar pra ele, la embaixo. Ele tinha fechado os olhos, suas mãos ainda estavam debaixo da cabeça e o seu cabelo estava todo bagunçado sobre o travesseiro. 'Às vezes eu esqueço o quanto ele é bonito', eu pensei, segurando o fôlego.
"Você vai ficar aí, olhando pra mim?", ele perguntou, ainda de olhos fechados. 'Como ele sabia?', eu me perguntei.
"Vou velar o seu sono", eu respondi, simplesmente. A isso ele abriu os olhos, mas ainda não olhava pra mim.
"Não era eu quem devia estar fazendo isso?", ele perguntou, num tom de voz calmo. Agora tínhamos que falar ainda mais baixo, já que o silêncio era quase total, na casa.
"Somos um casal moderno", eu murmurei, de muito bom humor, a despeito de toda aquela situação. Quando eu disse isso, ele finalmente se virou para mim e disse:
"Sim. E a prova disso é que eu estou dormindo no chão". Mas ele parecia estar realmente brincando, portanto não me preocupei.
"Certo, mas de resto, ainda somos um casal moderno", eu disse, sorrindo.
Ele ficou la, me encarando. Eu podia sentir meu rosto começar a arder e quando eu ia perguntar 'O que foi?', ele murmurou "Você é linda, Virginia".
Meu estômago deu uma volta completa. Mas eu tentei disfarçar levando na brincadeira, dizendo "Certo. Apenas me prometa que sequer olhará para mim, amanhã de manhã".
Ele não respondeu, mas se levantou e em seguida se sentou ao meu lado, na cama. Eu também me sentei, num sobressalto, enquanto dizia "O que você pensa que...", mas ele me interrompeu, colocando um dedo sobre os meus lábios, enquanto explicava "Você ainda não me deu um beijo de boa noite", e depois disso, ele me beijou.
Eu sentia meu coração pulando e, de uma forma muito positiva, aquele foi o nosso beijo mais... quente. Quero dizer, acho que era toda aquela intimidade que a situação propiciava. Isso me assustava um pouco, mas era uma sensação muito gostosa, senti-lo assim TÃO próximo. O beijo dele era doce e muito calmo e, por não-sei-quanto-tempo, eu nem me importei com o fato de estar traindo a confiança dos meus pais, assim tão debaixo do nariz deles.
Mas, estranhamente, quando nos separamos...eu não senti remorso. Não senti arrependimento de nenhuma forma e fiquei lá olhando pra ele. Não sei, nada parecia mais certo do que ele estar ali. E antes que eu pudesse me conter, eu disse algo em que eu tinha passado o dia pensando, enquanto escrevia aquela carta "Estou apaixonada por você".
Não me dei conta realmente de que estava falando aquilo em voz alta até que vi a expressão surpresa dele. Afinal de contas, foi a primeira vez que eu admiti aquilo em voz alta. E logo pra ele! Quero dizer, praticamente entramos em estado de choque, os dois. Acho que aqueles segundos em que ficamos nos encarando, ambos um pouco assustados, foram os que mais demoraram pra passar em toda a minha vida. Eu agora podia ouvir as batidas descompassadas do meu coração.
Como se isso fosse possível, Draco chegou ainda mais perto de mim e me beijou avassaladoramente (essa É a palavra, acreditem). Quero dizer, eu não conseguia mais pensar em nada, e ele parecia ter mandado toda a calma que demonstrara antes, para as cucuias. Nos mexíamos sem nem perceber, e quando eu me dei conta, ele estava deitado parcialmente sobre mim e, é claro, eu me assustei com tudo aquilo. "Draco, eu não...", eu estava tentando dizer, totalmente desarticulada, mas ele apenas me beijou de leve e disse "Eu sei".
Depois disso, ele me abraçou e eu deitei minha cabeça sobre seu peito, e apenas ficamos la, praticamente entrelaçados um no outro.
(Obrigada, Deus, por me dar um namorado bonito, inteligente, que gosta de mim como eu sou e que não é um maníaco sexual).
Depois de alguns minutos ele se mexeu para ver se eu estava acordada, acho, e perguntou, "Devo ir para... a minha cama?".
"Fique", eu disse, tão baixo que torcia para que ele não tivesse me escutado, enquanto eu sentia meu rosto corar. Mas é claro que ele ouviu.
"Ótimo. Assim é muito mais confortável", ele disse, me abraçando mais forte. Eu já mencionei o fato do meu estômago ter passado a noite inteira dando voltas? E, estranhamente, era uma situação MUITO boa.
Eu dormi sorrindo, acho.
Quando eu acordei, ainda estava tudo muito escuro e eu não ouvia nenhum barulho vindo la de baixo. Ótimo. Ninguém tinha acordado ainda. Na verdade, nem Draco. Eu fiquei olhando pra ele, que tinha dormindo com um braço me envolvendo e o outro por trás da própria cabeça.
Eu queria ter tirado uma foto, daquele momento. Quero dizer, ele parecia um anjo: aquele cabelo tão claro, contra a minha colcha vermelha e a pele tão branca que parecia a neve la fora. E depois, quando ele acordou, eu acrescentei seus olhos à minha lista. Acho que ele acordou justamente por eu estar olhando tão fixamente pra ele. Mas isso é realmente possível?
"Bom dia", ele murmurou, ainda tentando acordar. Em resposta, eu o beijei na bochecha e notei uma coisa. Normalmente ele era todo gelado, da ponta dos dedos, até a ponta do nariz e com todo o frio que fazia lá fora...porque é que ele não estava gelado?
"Draco? Você está com febre?", eu sussurrei, preocupada, colocando a mão sobre a testa dele.
"Perdão?", ele sibilou, estranhando tudo aquilo. Ele não podia saber o que eu estava pensando, afinal de contas.
"É que você está um pouco quente", eu expliquei e ele colocou a própria mão sobre a face.
Depois ele disse, baixinho "Ah, isso. Acho que você é a culpada. Você é realmente muito quente, ruivinha...", ele estava sorrindo maliciosamente para mim. Ele estava debochando de mim, assim, logo cedo! Que garoto impossível.
Eu peguei meu travesseiro e joguei em cima dele, enquanto dizia "Muito engraçado..." e sentia meu rosto ficar vermelho.
Notei que ele fazia um esforço admirável para não rir. Mas o que eu estava realmente reparando, era o fato de que ele não tinha olheiras, não estava com o rosto todo inchado (como eu deveria estar) e, fora o cabelo meio bagunçado, ele parecia perfeitamente...bonito.
"Você é sempre assim quando acorda?", eu perguntei, meio indignada.
"Sou", ele respondeu, meio confuso, ainda segurando o travesseiro que eu tinha jogado nele. Mas eu não sei se ele entendeu realmente minha súbita pergunta.
"O mundo não é justo comigo", eu disse, suspirando. Depois eu me levantei e disse, baixinho, "Você tem que ir agora. Antes que todos acordem".
A isso, ele concordou com a cabeça e se levantou, ficando estranhamente quieto. Por Merlin, ele realmente tinha presença. Quero dizer, quando ele se levantou eu notei o quão estranho era vê-lo ali. Já era estranho por si só o fato de eu ter um garoto no meu quarto (que não fosse um dos meus irmãos). E ainda mais um garoto assim tão... crescido. Alto. Era meio desproporcional para as medidas do meu quarto.
Provavelmente ele não estava pensando em tantas bobagens quanto eu, enquanto calçava os sapatos. Embora eu não faça nem idéia de em que ele estivesse pensando. Eu abri uma gaveta do meu criado mudo e tirei três barras de chocolate. "Toma. Eu acho que não é muito seguro descer pra pegar algo mais...substancial pra você comer, mas...", dei de ombros. Ele aceitou calado, e colocou dentro de um bolso do seu casaco. Ele parecia estar pensando am algo meio sério, porque não estava fazendo piadas, nem estava me irritando. Muito suspeito, isso.
"Tudo bem?", eu perguntei, enquanto tentava dar um jeito nos meus cabelos rebeldes.
Ele confirmou com a cabeça, mexeu em seu casaco e tirou uma caixinha de um bolso, que me entregou dizendo "Feliz Natal". Feliz Natal. Eu tinha me esquecido! Por Merlin, eu preciso de uma memória nova, porque a minha simplesmente pára de funcionar nas horas em que ela é realmente necessária.
Eu fiquei olhando para ele por alguns segundos, sem esboçar uma reação. Eu não sou boa para reagir com coisas que eu não estou exatamente esperando. Depois, eu baixei meus olhos para a caixinha, que era toda prateada, com uma travinha em forma de serpente. Quando eu toquei nela, a caixinha se abriu e eu tirei de la uma pulseira linda, prateada. Ela tinha duas correntes, na verdade, e na mais fina delas, havia delicadas estrelas, penduradas. Sem dúvida, a pulseira mais linda que já vi na minha vida. E era minha!
Olhei para ele, sem saber o que dizer. "Draco, eu...".
"Gostou?", ele perguntou, modesto demais para seus padrões.
"É claro que eu gostei! É a coisa mais linda que já vi...", eu estava tentando dizer, ainda meio desarticulada, segurando a pulseira.
"Ótimo. Use-a sempre", ele disse, sorrindo levemente, enquanto vestia seu casaco "Agora tenho que ir", ele completou, e veio se aproximando de mim.
"Espera", eu sibilei e suspirei, procurando as palavras certas "Draco, eu não pude realmente encontrar algo para te dar. Quero dizer, eu não faço nem idéia de que coisa você precisa, ou de que coisa você não tem", eu disse, enquanto ele ficava me olhando estranhamente "Mas eu escrevi algo. Algo que é importante para mim e que eu espero que signifique o mesmo para você", eu completei, sentindo meu rosto arder, enquanto ia pegar a carta que tinha escrito pra ele, no dia anterior.
Ele segurou isso e ficou olhando, sem abrir, e depois me perguntou "Devo abri-la agora?".
"Não, não. De forma alguma", eu disse, baixinho, sentindo meu rosto corar significativamente. Ele sorriu ao me ver corando, e então, eu o apressei "Você tem que ir!".
Ele passou um braço pela minha cintura e me beijou. Se eu ganhasse um galeão para cada vez em que sinto minhas pernas ficarem bambas e meus joelhos fraquejarem, quando ele me beija, eu estaria milionária. Mas isso não é algo que eu saio comentando com ele, é claro.
Antes que ele se separasse de mim, eu o abracei fortemente e sussurrei "Foi um ato completamente insano de sua parte, mas...foi maravilhoso você ter vindo", eu disse, esperando não ter soado muito confusa, mas sei que ele entendeu o que eu quis dizer.
Ele não disse nada. Apenas me beijou novamente e, logo em seguida, montou na sua vassoura, enquanto eu abria minha janela. Ele olhou para mim mais uma vez, como se fosse dizer algo, mas como ele não disse, eu movi meus lábios dizendo "Feliz Natal", mas sem deixar sair som. Ele deu um breve aceno com a cabeça e foi embora.
Eu fiquei observando ele ir, até que ele desapareceu debaixo de toda aquela neve. 'Tenha cuidado', eu pensei. Depois olhei para a minha pulseira. 'Use-a sempre', ele tinha dito. E então, eu coloquei a pulseira no meu pulso.
Decidi começar a arrumar meu quarto, já que Mione vem amanhã, passar uns dias aqui, e estava toda aquela bagunça de colchonete e lençóis, no chão. Acho que foi a primeira vez que arrumei meu quarto, feliz.
Ah, eu ia esquecendo! Eis uma cópia da minha carta:
"Draco,
Estou há horas tentando escrever alguma coisa que sirva para a ocasião. Quero dizer, eu não estou a fim de fazer piadas, ou de irritá-lo (e muito menos de me irritar com você), então isso é algo completamente novo para mim.
Dizem que esse espírito de Natal nos deixa meio bobos e muito sentimentais. Eu sou uma prova viva disso, devo dizer. Então, daqui a uns dias, quando você resolver debochar de mim por causa dessa carta, eu tenho um álibi totalmente válido: espírito natalino. Ninguém resiste a ele.
A verdade é que eu resolvi fazer uma análise sobre os meus...verdadeiros sentimentos em relação a você, quero dizer. E, embora eu odeie admitir que você estava certo, o meu diário foi realmente útil para me ajudar nessa análise. Foi útil porque você REALMENTE é mencionado constantemente nele (está satisfeito?).
Desde a época em que eu odiava você, até agora. No começo, eu me deixava irritar muito mais facilmente com você. Por sua causa, eu perdi madrugadas inteiras escrevendo listas intituladas de 'Porque Diabos Isso Teve Que Acontecer Comigo'. E eu nunca encontrei uma resposta. Acho que é a minha maior frustração. E o fato de você não ter respondido o meu Top 5, aquele dia, não ajudou em nada a responder todas as dúvidas que tenho a seu respeito. Mas, estranhamente, eu acho que isso não é realmente tão importante, atualmente. Sinto que posso entende-lo só olhando nos seus olhos. E, enquanto eu ainda puder ver através deles, nada mais me preocupa.
Bem, seguindo a ordem do meu diário, a noite do Dia das Bruxas foi algo realmente marcante. Quero dizer, acho que pude finalmente parar de me martirizar sobre as coisas que você fazia ou deixava de fazer. Eu me senti em paz, naquela noite. Depois, lembro de ter escrito uma coisa no meu diário, que é algo que eu quero que você saiba. Mas não pense que vai ser sempre essa moleza, não! De modo algum o Sr. vai ter permissão para ler o meu diário. Bem, eu escrevi o seguinte:
"Não sei o que é isso que está acontecendo entre a gente (nem creio que possa haver um futuro, na verdade), mas Draco - por algum motivo que eu não sei explicar - me enche de coragem para viver a vida sem tanto medo. Eu sinto meu coração mais leve quando ele está por perto. Eu tento me lembrar como era a minha vida antes dele fazer parte dela, e eu sinto dificuldades em lembrar. Sei que faz apenas alguns dias que a coisa toda aconteceu – mas parecem séculos. E eu adoro essa sensação de pensar que posso estar completa, ao lado dele".
Acho que o principal motivo que me faz gostar de você é esse sentimento de segurança que você me passa, contrariando todas as expectativas (você entende o que eu quero dizer, não é?). Talvez você não entenda a parte de não sentir medo quando estou ao seu lado, já que é algo que eu nunca conversei abertamente com você, antes.
Bem, no dia em que, sem querer, eu encontrei você na Masmorra, eu estava tentando vencer um antigo medo. Se bem que, depois, não foi mais necessário, já que o problema com os pesadelos terminou. Mas você realmente me ajuda a não sentir medo. Faz algum sentido, pra você? Pra mim não faz nenhum, mas eu simplesmente aceito o fato e procuro não reclamar.
E a outra coisa que eu comentei, sobre ter essa sensação de que você pode me completar, é totalmente real, agora.(Eu espero já ter deixado claro que não estou no meu estado normal, e que toda essa pieguice é algo que nunca mais vai se repetir, eu espero). Não se vanglorie demais por isso, ok? Mas o que eu estou demorando tanto para admitir, mas que estou desesperadamente querendo dizer é que estou apaixonada por você.
E eu realmente não me importo se você não estiver. Porque eu nunca senti isso antes, com tal intensidade e, pra mim, isso já basta. É algo que eu vou guardar pra sempre, dentro de mim.
Obrigada por ser o único no mundo que é capaz de me fazer sentir como se... eu pudesse fazer qualquer coisa que eu realmente quisesse. Você é o único que sabe exatamente o que eu preciso (e eu sei que você vai concordar comigo).
Bem...antes que eu me esqueça: Feliz Natal!
P.S.: Gostaria que você estivesse aqui.
Com carinho,
Ginny".
O p.s. foi realmente poderoso, não foi? Vou tentar fazer isso mais vezes.
Aconteceu basicamente duas coisas que quero comentar. No dia de Natal, quero dizer. Uma delas, me deixou primeiro triste e depois feliz e a outra me paralisou por cerca de vinte segundos e não creio que eu tenha conseguido respirar, durante esse tempo.
Depois que arrumei meu quarto, eu fui me vestir para descer e tomar café, então tomei cuidado de escolher uma blusa de manga bastante comprida, pra não correr o risco de alguém ver minha pulseira nova, embora minha vontade fosse a de que todos vissem e soubessem que eu tinha ganho de...tì eu to viajando. Isso é impossível. Como eu ia dizendo, eu tinha essa idéia de que, depois, podia inventar qualquer coisa para justificar eu estar usando a pulseira, e de preferência seria só para o Ron, e não para os meus SEIS irmãos de uma só vez.
Até aí tudo bem, deu certo. Mas quando o Sr. e a Sra. Douglas chegaram com a Kelly para o almoço, nós começamos a conversar animadamente e, bem, todo mundo sabe disso, as meninas têm um faro para notar novidades e/ou reparar em detalhes que garotos nunca reparariam. O fato é que a Kel viu minha pulseira e me perguntou quem tinha me dado. Eu entrei em pânico, é claro.
Ela, por sua vez, me conhece muito bem e deve ter visto a frase 'ESTOU PERDIDA' escrita em néon na minha testa, porque disse apenas um "Ah...", que significava várias coisas.
Uma delas era que ela estava chateada comigo, por eu não ter contado e por eu, de repente, ter voltado a sair com o carinha que ela achava que eu estava saindo. Quero dizer, quem mais me daria uma pulseira como aquela? Um dos meus irmãos? Não mesmo! Eles são do tipo que adorariam me dar bichinhos de pelúcia, se eu não reagisse tão firmemente contra isso.
A segunda coisa que aquele 'Ah...' significava, era a que ela sabia que ou eu ia mentir, ou eu não ia contar à ela. E de repente eu senti uma vontade louca de contar pra ela. Quero dizer, porque exatamente eu não estava confiando nas minhas amigas? Com exceção de Draco ser um Malfoy, filho de um Comensal, ser da Sonserina e ter precedentes totalmente acusatórios a seu respeito, acho que não tinha nada demais eu estar namorando com ele. Tinha?
Ah, eu não quis mais saber. Vendo a cara de desapontamento da Kel, a arrastei para o meu quarto e contei tudo pra ela. Tudo, tudo, tudo. Até o fato de que ele tinha passado a noite anterior ali.
Primeiro ela ficou chocada e pálida, depois entrou em estado de paralisia e ficou totalmente verde. Depois, quando eu cheguei na parte em que ele passou a noite ali, ela ficou roxa e eu achei que ela tinha parado de respirar. Juro!
"Ginny...você está brincando, não está? O Malfoy?", ela perguntou, incrédula, mesmo depois de eu ter contado quase dois meses de um relacionamento meio conturbado.
"Kel...eu não sei se você vai entender, mas ele realmente não é como quer que os outros o vejam. Ele faz toda aquela pinta de 'Ah, eu sou mau e se você se meter comigo...você estará MORTO', mas ele realmente não é assim", eu disse, querendo que ela me entendesse e ficasse do meu lado.
Ela devia estar achando que eu tinha ficado louca. "Ele sabe ser doce, quando quer, e eu diria gentil, mas eu estaria forçando muito a barra", suspirei "É só a personalidade dele, imagino. Com uma família como aquela, acho que ninguém teria sobrevivido de forma mais íntegra...", eu disse, porque eu realmente acreditava naquilo. Draco raramente falava da família, mas depois de todas as histórias que você escuta do pai dele, acaba formando uma imagem de um lar totalmente impróprio para uma criança crescer. Será que estou exagerando? Puxa. Realmente não sei.
"Ginny...é só que não faz sentido. Quero dizer, seu irmão, por exemplo. Ele odeia o Malfoy desde o primeiro ano deles em Hogwarts. E Harry! O Malfoy fez tudo para humilha-lo nos últimos anos, e Harry é o melhor amigo do seu irmão!". Acho que posso definir o tom de voz dela com uma simples frase 'Ginny...como você pôde?'.
Eu suspirei, cansada. "Não é como se eu pudesse fazer alguma coisa a respeito, Kelly". Depois de alguns minutos em silêncio, eu perguntei "Agora você entende porque eu não tinha contado antes?".
"Por mais louco que possa parecer, eu entendo. Mas não aprovo", ela disse e se levantou, me deixando sozinha no quarto. ÓTIMO. Ótimo mesmo. Era tudo o que eu precisava para destruir o meu Natal. Estava tudo indo tão bem!...
Me joguei na minha cama, de barriga pra cima, e fiquei pensando em tudo aquilo. Eu queria ter podido apresentar Draco aos meus pais, como se ele fosse um garoto qualquer, um garoto normal. Mas o fato é que ele não é um garoto qualquer. E o sobrenome dele não ajuda muito como tópico para uma conversa "Oi, você é um Malfoy, não é? Me diz uma coisa...vocês sempre foram ricos e maus ou só maus, mesmo?".
Eu ainda estava lá, deitada, com os braços por detrás da cabeça, quando Ron entrou no meu quarto e perguntou "Gin, o que foi?". Essa é a segunda coisa que eu queria comentar sobre o dia de Natal.
"Nada", eu disse, olhando para o teto.
Ele chegou mais perto e perguntou "Está pensando no...nele?". Eu bufei. Porque Ron tinha sempre que tentar dar um de compreensível? Só tornava tudo pior, será que ele não via? Fora que o 'ele' que ele estava pensando, era um 'ele' totalmente fantasioso.
"Não, Ron, não estou!", eu respondi, quase gritando com ele, já meio brava.
"O que é isso?", ele perguntou, de repente, tocando minha pulseira. Oh, Merlin.
"Isso o quê?", eu perguntei, me fazendo de doida.
"Isso", ele puxou meu braço e me mostrou.
"Uma pulseira", eu balbuciei, em estado de choque. Já mencionei o fato de que sou completamente incompetente para dissimular meus sentimentos?
"Estou vendo que é", ele disse e perguntou, curioso "Quem te deu?".
"Eu", disse uma voz, da minha porta. Era a Kelly. Voltei a respirar normalmente (aqueles tinham sido os vinte segundos em que eu não respirara). Ela estava mentindo para me ajudar? Mas ela tinha acabado de dizer que não aprovava o que eu estava fazendo...!
"Hum", Rony disse, meio desconfiado. Acho que ele devia estar pensando que Miguel Corner tinha me dado aquela pulseira. Argh.
"A Sra. Weasley pediu para eu vir chamar vocês. O almoço vai ser servido", Kel disse, eficiente. Eu lancei um olhar de profundo agradecimento para Kelly e acho que vi nascer um pequeno sorriso, naquele minuto.
Depois disso, tudo ocorreu muito bem e eu não precisei esconder mais minha pulseira. Tudo bem que todo mundo pensa que foi a Kel quem me deu, mas esse realmente foi o melhor presente que ganhei no Natal. A tranqüilidade de ter compartilhado tudo isso com alguém. Que Draco não saiba que a pulseira perdeu o posto de 'O Melhor Presente'.
Mione chegou ontem e Ron finalmente largou do meu pé. Agora tenho tempo de sobra, pra ficar sofrendo e sentindo falta de Draco (eu estou exagerando, é claro).
A propósito, ontem recebi uma carta dele. E, embora eu odeie admitir, é a melhor de todas, até agora. Vontade de mata-lo, vontade de rir, e vontade de CHORAR de rir, foram se alternando enquanto eu lia a carta.
"Virgínia,
Gostaria de deixar clara toda minha indignação sobre o tamanho da carta que você me deu, no Natal. Setenta centímetros de pergaminho? Realmente não são o suficiente.
Se não se importa, vou comentar alguns detalhes que chamaram mais a minha atenção. O primeiro deles foi você ter inventado uma desculpa completamente esfarrapada para encobrir o fato de que você disse todas aquelas coisas porque realmente queria e não porque era um espírito natalino (que, sinto lhe informar, não existe).
O segundo, faz referência a uma coisa que eu sempre soube. Seu diário deve ter tantos 'Malfoy' escrito, que daqui a pouco vai poder ser publicado como uma Biografia Não-Autorizada sobre mim. E não aja como se fosse mentira, porque você mesma já admitiu tal coisa.
E como assim 'desde a época em que eu odiava você'? Quando exatamente você me odiou? Agora, eu tenho que lhe explicar uma coisa que acho que você nunca percebeu. Você se apaixonou por mim no momento em que eu lhe beijei, pela primeira vez. Não importa o que você diga, não é algo que você possa realmente negar. Quem no mundo resistiria a isso?
Mas, como eu ia dizendo, foi ali que você se apaixonou por mim e eu realmente não entendo como é que você nunca percebeu. Não estava mais do que claro pra você? Eu, pelo menos, sempre soube que você estava.
Mesmo antes de pedi-la em namoro... que é a prova de que você não tem uma percepção muito boa em relação aos seus próprios sentimentos. Quero dizer, o que precisamente você achava que eu ia fazer, depois daquela pergunta 'O que exatamente nós dois somos?'? Eu via claramente, nos seus olhos, toda a paixão que você emanava (e ainda emana) por mim, e não pude negar um pedido tão claro de namoro que VOCÊ me fez, antes que eu o tivesse feito. Está confuso pra você? Porque eu posso explicar em maiores detalhes, depois, caso você não esteja muito brava, até lá.
Então você se DEIXAVA irritar muito mais facilmente? Isso é algo realmente muito significativo, visto que hoje você se irrita com qualquer comentário de duplo sentido que eu diga. Não quero nem imaginar como era antes.
E como você pôde intitular essas listas de 'Porque Diabos Isso Teve Que Acontecer Comigo?'? Quando seria muito mais lógico e prudente intitula-las de 'Graças a Deus Isso Aconteceu Comigo'! Você precisa, realmente, rever seus conceitos a SEU respeito. Acho que consigo entende-la melhor do que você mesma. Posso te dar umas aulas, sobre isso, depois.
Ora, Virgínia, eu não respondi seu "Top 5" (nomezinho estúpido...), porque ele vai totalmente contra meu princípio de ser um cara misterioso. As garotas adoram isso, você já percebeu? Já ouvi inúmeras cantadas que envolvem as palavras 'bonitão', 'misterioso' e 'te encontro às 22h'. Faz parte de todo o meu charme, você sabe.
Como você pode procurar uma explicação para o fato de eu transmitir segurança para você? Isso é completamente natural, faz parte dos meus instintos, é algo que eu não posso controlar...! (...) Certo, certo, isso era algo que eu realmente não sabia, mas obrigado por me deixar a par. Embora você tenha sido muito pouco clara sobre o que estava fazendo na Masmorra, aquele dia.
Então você se sentia incompleta? Que bom que posso preencher esse espaço vazio que você dizia sentir. Sinceramente, quero dizer. Não posso dizer que milhões de comentários não cruzem minha mente, no presente momento, mas não vou fazer nenhum sobre isso, porque acho que aprendi a te irritar apenas com assuntos que não possam vir a causar minha morte, no futuro.
Eu sou o único que sabe exatamente o que você precisa? Muito bom saber, já que, quando você me fizer essa pergunta, vou poder responder claramente 'Você só precisa de mim, um espartilho e de uma cinta-liga preta' e você nem vai ter como me contrariar. Realmente muito bom saber.
Curioso o seu 'P.S.'. Principalmente porque você ficou absolutamente chocada quando me viu. Como é possível que você tenha desejado que eu aparecesse e quando eu apareci, você quis me enxotar da sua casa? Ultrajante tal comportamento, mas já foi devidamente perdoado, devo acrescentar.
Deixando de responder a sua carta e passando a falar um pouco mais sobre os acontecimentos recentes, o jantar de Natal com minha mãe foi muito agradável. Já estou em Hogwarts, a propósito. E não se preocupe, porque as garotas que ficaram por aqui não são suficientemente bonitas e interessantes para me convencerem a traí-la. Não as que eu vi até agora, pelo menos. Mas creio que não procurei direito.
Tenha um bom dia. E obrigado.
D. Malfoy".
Ele definitivamente não leva muita coisa a sério, mas eu posso ver infinitos significados para o 'Obrigado' que ele disse, no final. É só a maneira como você lê nas entrelinhas - uma simples questão de interpretação.
Tenho plena consciência de que ele ignorou propositalmente algumas coisas que eu disse (como o fato de eu ter dito que 'não acredito que possa haver um futuro para nós') e que ele, nas duas vezes em que eu disse estar apaixonada por ele, não me respondeu com um simples 'Eu também', mas é como eu disse. Eu realmente não me importo se ele vai admitir ou não. É claro que seria significativo se ele fizesse isso, mas eu não posso simplesmente mudar a natureza de uma pessoa. Muito menos a do Malfoy.
Tenho conversado muito com Harry, nos últimos dias. Tentei descobrir se rolava alguma coisa entre ele e Luna, e em resposta, ele ficou vermelho (e eu que achava que só os Weasley sofriam inescrupulosamente desse mal!). Acho que isso significa um 'Quase'. Interessante, não é?
O bom de estar em casa é que, se Mione, Ron e Harry se isolarem pra conversarem a sós, eu não ficarei realmente sobrando, já que meus outros irmãos estão aqui e eles parecem positivamente impressionados com o fato de eu ser uma artilheira razoavelmente boa. Agora eles até querem jogar comigo, o que é um fato inédito.
Ah! Kel me escreveu, dois dias depois do Natal, contando que Sam veio para a Inglaterra e que a pediu em namoro. COMO ASSIM, eu perguntei em outra carta e ela me respondeu que ele diz não se importar em ter que lidar com a distância, se ela também não se importar. Mas depois eu fiquei pensando...não é um relacionamento realmente impossível, já que Kel tem família na França e poderia ficar lì nas férias ou podia até mesmo ir morar lì se realmente quisesse apostar nessa relação.
Na mesma carta ela comentou que acha que, depois desse fato absolutamente inesperado (Sam e tudo o mais...), nada mais a surpreende e que irá fazer o possível pra me ajudar com Draco. Acho que ela se referia a me acobertar, quando e caso eu precisasse. Louvado seja Sam Rutledge. Agora sou eu quem apóia descaradamente essa relação.
"Às vezes se eu me distraio
Se eu não me vigio um instante
Me transporto pra perto de você
Já vi que não posso ficar tão solta
Me vem logo aquele cheiro
Que passa de você pra mim
Num fluxo perfeito
E enquanto você conversa e me beija
Ao mesmo tempo eu vejo
As suas cores no seu olho, tão de perto
Me balanço devagar
Como quando você me embala
O ritmo rola fácil, parece que foi ensaiado
E eu acho que eu gosto mesmo de você
Bem do jeito que você é...(...)"
Pitty- Equalize
N/A:
'Não faz sentido dizer que algo não faz sentido para alguém que não faz sentido, mas, algumas vezes, o que mais podemos dizer?'. Esme Raji Codell, a MESTRA.
'Você é sempre assim quando acorda?
Sou.
O mundo não é justo comigo'. Gilmore Girls.
