Cap-21 – Everybody Hurts

Eu esqueci de mencionar isso, mas no domingo o Profeta Diário publicou uma matéria falando sobre o que aconteceu com Harry, Você-Sabe-Quem e os Comensais. Lucio Malfoy está morto! Oh, Deus...eu nem sei o que pensar sobre isso.

(suspiro)

Bem, tinha uma declaração enorme de Dumbledore falando a respeito de tudo isso, então acho que vai ser mais fácil das pessoas acreditarem e se tranqüilizarem e serem felizes para sempre.

Na verdade, todos a minha volta já parecem incrivelmente felizes. Não que não seja um motivo bom o suficiente (é um ÓTIMO motivo, na verdade), mas eu realmente não me sinto muito animada. Quero dizer, depois de tudo o que aconteceu, não vou ter ânimo tão cedo. Tenho certeza de que os alunos estavam preparando festinhas em suas respectivas Salas Comunais, mas Dumbledore fez isso antes de todos.

Quando Harry voltou pra escola hoje de manhã, foi uma confusão, todo mundo queria falar com ele e perguntar um milhão de coisas. Engraçado como isso não aconteceu quando ele declarou que Você-Sabe-Quem estava de volta – isso porque ninguém acreditou nele. Eu realmente não entendo essas pessoas. Tudo bem, naquela época ficou todo mundo em pânico, mas só por ele ter dito a verdade, algumas pessoas passaram a evita-lo. E agora ele voltou a ser o Herói de novo. E eu não sei se ele gosta disso. Ele parece estar evitando as pessoas. Eu não o vejo com tanta freqüência, por exemplo.

Draco também voltou. Eu acabei de vê-lo no jantar. Não que eu tenha ficado observando a mesa da Sonserina, é claro. Só ocasionalmente. Ele parece perfeitamente bem. O que eu realmente notei é que alguns sonserinos estão agindo de uma forma estranha. Quero dizer, fora a mesa deles estar quase vazia, os que estavam presentes não estavam com as caras confiantes que sempre têm e não pareciam felizes por estarem no meio de uma festa. Acho que porque alguns são filhos de Comensais e como eles foram presos...ninguém naquela mesa parecia realmente satisfeito. Nem mesmo Draco.

Eu nunca tinha visto o Salão Principal tão iluminado, tão agitado. Todos falando ao mesmo tempo e tinha até música tocando. Era uma festa, afinal de contas. Tenho que confessar que eu não estava no clima e que fiz pouco esforço para me adequar à situação. Achei melhor voltar para o dormitório, que estava absolutamente vazio.

Mas agora eu me arrependo de não ter ficado para o jantar, porque Kelly quando voltou, me contou que Dumbledore fez um discurso incrível, falando de Harry, de Você-Sabe-Quem e de como a vida vai ser mais próspera daqui pra frente.

Até aí tudo bem, nenhuma surpresa, mas Kelly falou que Dumbledore também mencionou Draco. Quero dizer, ele homenageou Draco da mesma forma que fez com Harry. Eu queria ter visto a reação de Draco diante disso. Se ele ficou satisfeito, pouco se importou ou se apenas ignorou. Eu realmente queria saber.

(suspiro)

Eu tenho milhares de dúvidas na cabeça. Principalmente sobre o que realmente aconteceu nessa última semana, quando Harry e Draco sumiram. Mas não é como se eu fosse simplesmente perguntar para Harry – e muito menos para Draco.


Por Merlin, eu ainda posso ouvir o barulho na Sala Comunal. Será que ninguém se tocou que temos aula amanhã? Já são 2 da manhã! Francamente. Argh.

Aconteceu uma coisa essa manhã que se eu não tivesse visto teria achado que era mentira, porque foi completamente surreal. Eu ainda estou tentando processar a informação. Mas eu não sou a única que está em choque. Quero dizer, todos em Hogwarts estão.

Na hora do café, eu estava ouvindo as meninas falando sobre a festa de ontem, quando começou um burburinho perto de onde estávamos e, como todas as meninas estavam morrendo de curiosidade, chegamos mais perto para ver o que estava acontecendo.

Eu já disse que foi a cena mais surreal que eu já presenciei? Meu queixo foi parar no chão. Quero dizer, não é todo dia que você vê Harry Potter falando (amistosamente) com Draco Malfoy. Na verdade não foi exatamente uma conversa.

Bem, o que eu vi foi que Harry tinha se dirigido até a mesa da Sonserina e estava de pé, falando alguma coisa para Draco. Eu mataria para saber o que ele disse, mas ninguém descobriu ainda. Se os sonserinos escutaram, trataram de guardar para si mesmos, porque é um grande ponto de interrogação o que Harry falou naquele momento.

Depois disso, Harry – e eu não estou mentindo – estendeu a mão a Draco, esperando que ele a apertasse. Por um instante eu olhei para Draco e imaginei que ele deveria estar lutando internamente, se decidindo sobre que decisão tomar.

E então, como se aquilo fosse absolutamente normal, Draco se levantou (com toda aquela postura imperiosa que ele tem) e, calmamente, sem dizer nada, apertou a mão de Harry por um instante. Eu tenho certeza de que todos naquele Salão estavam olhando pra eles dois, naquele momento. E é uma cena que eu não vou esquecer. Quero dizer, isso vai virar lenda. Vai entrar para a história de Hogwarts. Inclusive vão ter que atualizar 'Hogwarts: uma história' só para incluir esse acontecimento.

Depois, sem falar nada, Harry voltou para a mesa da Grifinória, sem olhar para os lados. Não que eu ache que ele não tenha percebido o fato de TODO MUNDO estar olhando para ele. Acho até que ele fez intencionalmente. Para que todos soubessem que a rivalidade tinha acabado, eu acho. É algo que Harry faria.

Depois de toda essa cena, foi absolutamente impossível me concentrar na aula de Transfiguração e todas as outras que tive no dia. Os alunos mais educados cochichavam e os mais abusados conversavam em voz alta, sem pudor, e nem a McGonagall conseguiu nos fazer ficar calados.

Eu ainda não vi Harry depois do que aconteceu, mas seria interessante perguntar a respeito. Talvez eu faça isso se surgir uma oportunidade.


Eu não entendo o Draco. Realmente não entendo. Quero dizer, primeiro ele faz toda aquela cena no hospital e depois acha que eu vou falar com ele normalmente? Estou dizendo isso porque hoje eu estava indo para o Salão Principal, onde as meninas já me esperavam, na hora do almoço, quando alguém simplesmente me puxou para dentro de uma sala. Eu fiquei muito brava quando percebi que tinha sido ele.

Ele foi tão claro sobre 'tudo ter terminado', que eu pensei que nunca iria voltar a falar com ele. Ou que ele iria querer falar comigo. Mas parece que ele quis.

"Você ficou louco?", foi a primeira coisa que eu perguntei, enquanto me soltava e me dava conta da ousadia que ele teve ao fazer aquilo depois de tudo o que me disse no hospital.

"Às vezes eu acho que sim", ele respondeu, tranqüilamente. Ele achava? Eu tinha certeza.

"Eu não acredito que você tem coragem de falar comigo, depois de tudo o que você me disse", eu falei, amargurada.

"Eu precisava falar com você", ele disse me olhando sem expressão alguma "Mas não era sobre isso".

"Eu só posso lamentar, então", eu disse, ainda brava, me virando para ir embora. Mas ele voltou a falar e eu parei no meio do caminho, me virando para olha-lo de frente.

"Você se entende, Virgínia? Porque você é muito confusa", ele disse, com a testa franzida. Sim, certo, a culpada sou eu. Definitivamente.

"Eu não estou confusa, Draco" eu disse, friamente "Eu sei exatamente o que eu quero. Mas se você não sabe, acho que o problema não é meu", eu disse, lançando a ele um último olhar, antes de me virar e sair dali.

Agora, fala a verdade, Deus só pode estar brincando comigo. Eu não posso sobreviver a tudo isso de uma só vez. Desgraça pouca é bobagem, viu...

Isso me deixou com tanto mau humor, que eu passei a tarde inteira no fundo da biblioteca, evitando as pessoas, para não dar patada em ninguém. Eu acabei de vir para o dormitório, ignorando o jantar. Mas eu não deveria estar aqui, só porque estou me sentindo tão mal humorada. Quero dizer, nem fui eu quem começou toda essa confusão. E quem ele pensa que é pra falar comigo daquele jeito? Quando eu penso na forma como eu chorei na frente dele, no hospital, eu sinto vontade de me esganar. Argh.

(pausa de vinte minutos para pensar a respeito)

De repente, com mais calma, eu me pergunto o que é que ele precisava falar comigo. Se não era sobre o enorme fora que eu levei, eu não sei o que pode ser.

Eu me pergunto se seria algo relacionado com o sumiço dele, ou ao que aconteceu com o pai dele, com a mãe dele...Puxa, é tanta desgraça na vida de alguém que eu preciso parar de reclamar de tudo o que acontece comigo. Porque realmente não se compara a tudo o que ele está passando. Por mais que eu o odeie no momento, eu não posso negar isso.

Ele deve estar se sentindo péssimo. Se bem que, quando eu tentei falar a respeito, eu levei um tremendo soco no estômago ("Não é necessário", ele tinha dito. Pois bem. Que seja).

(pausa de mais dez minutos e um grande suspiro)

Droga. Eu não consigo parar de pensar no quão sozinho ele deve estar. Quero dizer, pelo o que eu me lembro, ele não tem amigos. Não amigos de verdade, em quem se possa confiar. Já era difícil ele conversar comigo quando namorávamos, imagine conversar com alguém não tão próximo.

De repente me sinto um monstro por tê-lo tratado daquela maneira. Eu não tinha o direito. Eu preciso consertar isso.


Eu estou na aula de História da Magia, no momento. E como não está interessante eu vou escrever tudo o que aconteceu ontem.

Quando eu saí do meu dormitório, ontem à noite, eu realmente tinha o objetivo de consertar minha 'mancada', mas não foi tão simples quanto eu gostaria. Quero dizer, eu torcia para que ele estivesse na nossa antiga sala (e ele realmente estava), mas eu nem imaginava o que viria a seguir.

Minha primeira dificuldade foi com a senha. Eu não me lembrava da última senha e achava muito difícil ainda ser a mesma. Então, eu olhei para os dois lados do corredor, e como não tinha ninguém a vista, eu tentei abri-la com "Alorromora", mas incrivelmente não funcionou. Então eu fiz uma coisa meio idiota, mas que deu certo. Eu bati na porta. Bem, se ele estivesse lá dentro, talvez ele abrisse, eu pensei. E depois de um tempo, ele realmente abriu.

"Veja só quem está aqui...", ele disse, com uma cara estranha. Definitivamente ele estava surpreso, mas não era só isso, tinha algo mais...

Eu entrei na sala, e fechei a porta atrás de mim, antes de falar alguma coisa. Na verdade, eu não sabia exatamente como explicar pra ele o que eu estava fazendo ali. Tudo o que eu consegui articular foi um tímido "Não vai perguntar o que eu estou fazendo aqui?".

"Quem se importa?", ele disse com uma cara engraçada. Eu achei que ele quis dizer que não fazia diferença eu estar ali, mas quando eu ia responder alguma coisa, ele completou "Mas que bom que você está". E então eu percebi que cara estranha era aquela.

"Draco... você está bêbado?", eu perguntei, estupefata. Estranhamente, ele demorou ainda alguns segundos para me responder.

"Talvez", ele disse, com cara de indignado, erguendo uma sobrancelha, como num gesto de desafio. Eu juro que quase ri da cara dele. Mas antes que eu pudesse fazer isso, ele ameaçou cair, quando tentou andar até o sofá, então eu o ajudei com isso. Era muito, muito estranha toda aquela situação.

"Você está bem?", eu perguntei, suavemente, em pé, ao lado do sofá. Ele suspirou profundamente.

"Não", ele disse, olhando para o chão. "Não, eu não me sinto bem", ele completou e eu acho que nunca o vi ser tão sincero. Não que ele minta, mas normalmente ele omite vários detalhes ou, se não isso, ele exagera em tudo o que conta. Ele é sempre 'extremos', nunca meio termo.

Depois de Draco ter dito isso, ele ficou com uma cara diferente, não parecia mais que ele estava bêbado. Quero dizer, ele não tinha a língua enrolada ou coisa do tipo. Eu acho que ele podia pensar claramente, porque ele começou a falar desenfreadamente, e isso é algo notável se tratando de Draco. Ele é sempre contido, e raramente fala dos seus sentimentos.

"Ele a matou, Virgínia", ele disse, ainda olhando para o chão. O que ele disse teria sido um enigma se eu não conhecesse a situação. Era óbvio que ele estava falando do próprio pai. "Por puro capricho", ele disse isso olhando para os pulsos, que, eu pude finalmente notar, estavam enfaixados. Acho que eu não tinha visto mais cedo, porque a farda da escola é comprida, e cobria todo o curativo, mas agora ele estava com um moletom preto, dobrado até os cotovelos.

Eu não sabia exatamente o que falar para ele, tal era o meu choque ao ouvi-lo falando de algo tão triste. Então, tudo o que eu fiz foi me sentar na mesinha de centro, e ficar de frente para ele, enquanto ele continuava a falar.

"Foi ela quem me mostrou a verdade sobre meu pai", e aqui ele olhou para mim. Seus olhos pareciam negros, agora. "Por algum motivo, eu não o via como ele realmente era. Eu o considerava um herói, quando eu era pequeno. Embora eu não consiga entender porque eu pensava assim. Ele nunca fez nada heróico", ele disse, divagando. Acho que ele não estava falando aquilo para mim, mas para si próprio.

Novamente, eu achei melhor permanecer em silêncio, e apenas pousei minha mão sobre a mão esquerda dele, e surpreendentemente ele não a retirou. Ele ficou olhando para nossas mãos, durante todo o tempo em que falou novamente.

"Um herói se preocupa com os outros. E eu vi isso no Potter, pela primeira vez. Ele não precisava se preocupar com o que ia acontecer comigo – não depois de todas as nossas brigas estúpidas - mas ele fez. E isso é algo realmente notável", ele disse, brincando com os meus dedos, entrelaçando-os nos seus.

E então eu tomei coragem de finalmente falar, e perguntar o que eu tanto queria saber "O que aconteceu la, Draco?".

Draco suspirou profundamente e disse "Quando eu disse que não ia me juntar a ele, meu pai decidiu que seria mais proveitoso me matar". Ele franziu a testa enquanto dizia isso, como se estivesse pensando a respeito. Eu quase caí para trás. Quero dizer, ele falava aquilo como se fosse uma coisa absolutamente natural, ele nem me preparou para receber uma noticia dessas. Não que ele estivesse realmente consciente do que estava fazendo e dizendo, naquele momento.

"Mas ele ficou ainda mais satisfeito ao ver o Potter", completou e ele parecia até mesmo sóbrio, enquanto falava. "Mas, por algum motivo, meu pai não pode mata-lo e ficou furioso com isso", ele suspirou de novo, cansado, e disse "E sabe de uma coisa? Existe uma grande diferença entre desejar se vingar e se vingar. Então eu imagino que ele encarou como uma vingança pessoal, matar a minha mãe". Os olhos dele brilhavam, mas não como se ele estivesse à beira do choro, era algo muito mais além. Uma dor interna, profunda e intensa, que as lágrimas não curam nem cicatrizam. "E agora ele está morto e nem pena eu consigo sentir por ele. Meu sentimento é de total indiferença", ele disse, terrivelmente sincero.

Quem estava à beira do choro era eu e eu realmente chorei, enquanto o puxava para mim, num abraço que pareceu durar uma vida inteira. Ele calmamente encostou a cabeça no meu ombro, enquanto eu acariciava seu cabelo e dizia baixinho "Eu sinto muito, Draco" e "Vai ficar tudo bem", porque eu não sabia mais o que dizer.

Ficamos assim por um bom tempo, até que eu me sentei ao lado dele, no sofá, e o fiz se deitar sobre o meu colo. Ele não reclamou, e não agradeceu. Eu notei que ele passou um bom tempo acordado apenas olhando para um ponto vazio, mas logo em seguida ele caiu no sono.

Depois, eu conjurei (baixinho, para não acorda-lo), um cobertor e o cobri com isso. Eu estava planejando ir embora depois disso, mas alguma coisa dentro de mim não permitiu deixa-lo sozinho. Não depois de uma noite como aquela.

Então eu apenas fiquei la, olhando para ele por um longo tempo (pensando que se Lucio Malfoy já não estivesse bem morto, eu mesma daria um jeito nisso), enquanto sentia lágrimas silenciosas rolarem pelo meu rosto, até que eu também adormeci.

Quando eu acordei, ele próprio já estava acordado, mas ainda estava deitado no meu colo, com os braços cruzados e olhando para mim. Eu levei um susto imenso. Eu imaginava que ia acordar antes dele, mas vê-lo acordado, e olhando tão diretamente para mim, me assustou. Eu acho que eu dei um pulo do sofá, porque ele se sentou, depois disso.

Ele pronunciou um gemido e colocou as mãos nas têmporas. 'Hum', eu pensei 'O efeito do álcool, provavelmente'.

"Tudo bem?", eu perguntei, e ia colocar uma mão em seu ombro, mas a retirei antes disso.

"Fora o zumbido na minha cabeça, sim", ele disse, com voz de quem acaba de acordar. "Mas o efeito não é absolutamente desagradável. O que é realmente ruim é a sensação de ter passado a noite inteira mastigando uma meia suja", ele completou.

"Certo. Eu poderia ter entendido sem essa imagem", eu disse, com cara de nojo. Como ele não falou nada, eu sugeri "Você deveria ir para a Ala Hospitalar", e eu disse isso tentando não demonstrar que quem deveria ir era eu, porque eu estava com uma enorme dor nas costas. Mas também, depois de passar uma noite inteira naquela posição desconfortável, quem não estaria?

"Provavelmente", ele disse, olhando para mim. Seu cabelo estava meio desalinhado e seus olhos voltaram ao tom de cinza, a que eu já estava acostumada. Ele parecia estar me fazendo uma pergunta através deles, mas como eu não sabia o que significava, achei melhor não arriscar. Então eu respirei fundo, antes de dizer:

"Draco, sobre o que você me disse ontem...", eu comecei, mas ele me interrompeu.

"Há um problema", ele disse, mas eu não entendi o que ele quis dizer.

"Na verdade vários", eu constatei, confusa "De qual deles você está falando?".

"Eu não me lembro exatamente do que eu disse", ele falou com a testa franzida.

Eu não tinha pensado nessa possibilidade. E pra ser sincera, ela não me desagradou de fato. Eu pude sentir que estava sorrindo internamente. Quero dizer, acho que ele não teria dito tudo aquilo se estivesse sóbrio, então, conviver com o fato de que ele foi terrivelmente sincero e tinha parecido tão frágil, seria demais para ele.

Como eu não respondi nada, ele perguntou "O que eu disse, aproximadamente?".

"Ah. O de sempre", eu respondi, aproveitando a situação "Insultos e divagação. Você pode imaginar", eu completei, com um gesto amplo com as mãos, me esforçando para não sorrir.

"Porque eu não estou acreditando em você?", ele perguntou, com uma sobrancelha erguida, todo desconfiado. Mas eu dei de ombros, dando a entender que realmente não ia falar mais sobre aquilo.

"Eu penso que você deveria ir mesmo para a enfermaria. Você está com uma cara horrível", eu disse, absolutamente sincera.

"Obrigado", ele disse, sarcástico, se levantando. Em seguida ele olhou ao redor, como que procurando alguma coisa, mas aparentemente não tinha nada dele ali. E então ele olhou para mim, diretamente nos meus olhos, e tirou alguma coisa do bolso, estendendo para mim, esperando que eu pegasse isso "Quero que você fique com isso", ele disse e eu olhei para o que estava em sua mão. Era minha pulseira. A que eu tinha devolvido a ele, no hospital.

Meu coração parou de bater por um minuto, e eu hesitei. Até que ele disse "Por favor" e a voz dele foi tão gentil que eu procurei esquecer de todas as coisas cruéis que ele me disse aquele dia e peguei lentamente minha pulseira de volta, apenas murmurando um "Tá", em resposta.

Ele pareceu se satisfazer com isso e saiu lentamente da sala, sem outra palavra. Eu fiquei olhando para a porta durante um tempo e depois olhei para minha pulseira, que eu ainda segurava. O que aquilo significava, eu não sabia.

Mas acho que eu não estou realmente preocupada com o que significa. Quero dizer, ele não estava bem, ontem, mas algo no fundo me diz que aquela conversa vai ser útil para tornar as coisas mais fáceis para ele. Embora ele não se lembre de nada, é claro.

Depois de colocar a pulseira de volta no meu pulso, eu me apressei em voltar para a Sala Comunal da Grifinória que, felizmente, tinha só um ou dois gatos-pingados já acordados e eu fui direto me arrumar ou se não iria realmente me atrasar.

(pausa)

A aula acabou! Finalmente...

"Did you ever know that you my hero?...

I was the one with all the glory,

while you were the one with all the strength"

(Você sabia que você é o meu herói...?

Era eu que possuía toda a glória

enquanto você tinha toda a força...)"

Beaches - Wind beneath my wings