Cap 23 – A Final de Quadribol
Eu passei realmente muito tempo sem escrever aqui. Falta de ânimo, de novidades e de vontade de tocar em certos assuntos. Mas eu diria que estou conformada; nada mais que isso.
Draco. Esse é o assunto que eu não tenho realmente muita vontade de tocar, porque, na verdade, não tenho muito que dizer. Nós não nos vemos com freqüência – o que eu desconfio não ser totalmente ruim. Quero dizer, para quê vê-lo se eu não posso sequer falar como eu me sinto? Bem, poder eu posso, mas eu não faria isso. Talvez isso o pressionasse a tomar uma atitude definitiva e eu realmente não quero ser responsável por isso.
O fato dele não ter se pronunciado a esse respeito, deixa bem claro que:
a) ele não está mais interessado em mim;
b) é óbvio que ele não quer se 'arriscar' novamente;
c) eu sou uma idiota por ficar esperando que algo mude;
d) todas as alternativas acima estão dolorosamente corretas.
(suspiro)
O máximo que ele tem feito é me escrever de vez em quando, só para contar alguma coisa que me faz rir, mas que não significa nada realmente. Quero dizer, outro dia ele me escreveu só pra contar uma coisa bizarra que aconteceu com ele. Parece que um primeiranista da Lufa-Lufa pediu um autógrafo a ele.
Claro, eu não quis acreditar, mas parece que foi verdade. Ele disse que perguntou ao menino 'Porque?', e ele respondeu 'Seu nome estava no jornal'. Mas é claro que não era o nome dele, quero dizer, era o sobrenome (provavelmente era o artigo que se referia ao pai dele...morto e tudo o mais).
Eu fiquei pensando que não o culparia se ele tivesse estrangulado aquele pobre garoto, mas ele não fez isso. No entanto, acho que, pelo o que ele me contou, o garoto não vai conseguir dormir pelos próximos três anos. Quero dizer, Draco pode ser cruel quando realmente quer. Eu sou a prova viva disso. Ele deve ter dito horrores para o garoto.
Certo, é melhor pensar em outra coisa, porque falar de Draco não está ajudando muito a me animar.
(cinco minutos olhando para o teto)
Ah, eu estava pensando sobre como o tempo passou depressa. Quero dizer, já estamos no último trimestre e daqui a pouco começam meus exames finais. Eu realmente preciso estudar.
Mas o que tem ocupado a maior parte do meu tempo são os treinos de Quadribol, já que vamos para a final! A propósito, o jogo da Sonserina contra Corvinal é esse sábado...E eu gostaria imensamente que os meus pensamentos, QUAISQUER QUE FOSSEM, não parassem sempre em Draco.
Acho que vou pensar em torta de maçã. Ou em grindylows. Firebolts. Não, Firebolts não! Explosivins é uma boa opção. Qualquer coisa. Argh.
Eu comentei que o jogo ia ser hoje, não é? Eu fui assistir, dessa vez. Eu e todo o time tínhamos a missão de observar atentamente os dois times e estávamos, é claro, torcendo para a Corvinal. Eu estava torcendo para a Corvinal. Estava mesmo.
Pensa só: numa partida importante (a final!), eu estou la, tentando me concentrar em marcar gols, e Draco fica passando pra la e pra cá, na minha frente. Concentração zero! Não porque eu fosse ficar suspirando como uma idiota 'Oh, como ele é bonito'. Mas porque eu ia me lembrar de tudo o que passamos juntos. As coisas boas, as ruins. Não ia dar certo. Aliás, não vai. Porque a Sonserina ganhou e eu estou pensando em dizer que peguei uma doença contagiosa ou algo do tipo para não ter que jogar essa partida.
(suspiro)
Certo, eu não deixaria o time na mão, muito menos no último jogo. Principalmente porque eu dei duro o ano inteiro e quero essa Taça tanto quanto qualquer outro.
E eu vejo todo o empenho de Harry, nos dando broncas nos treinos e nos aconselhando e fazendo todo o tipo de coisa que me faz querer ganhar essa Taça só para vê-lo feliz. De verdade. É o último ano dele aqui. Tem que ser lembrado como um ano feliz – embora os principais acontecimentos não tragam lembranças felizes a ele, eu suponho.
Falando em Harry, ele marcou uma reunião com o time. Nada de treino hoje, só estratégias. Ah, vamos ouvir MUITO.
Eu deveria estar feliz, mas não estou. Quero dizer, eu me senti inteiramente feliz durante toda a partida, mas quando ela acabou, a felicidade passou repentinamente. Eu estou soando confusa, eu sei. Eu sou péssima nisso. Eu estou querendo dizer que nós GANHAMOS A TAÇA. Mas, por algum motivo de força maior, eu não estou inteiramente feliz.
Certo, eu vou começar do início. Estávamos la, nervosos, segurando nossas vassouras, LOUCOS pra começar logo com aquilo e tudo o mais. Juro que a gritaria nas arquibancadas estava realmente me ensurdecendo. Kirke estava roendo as unhas e Ron parecia que estava doente, todo verde, um horror. Harry estava concentrado, mas no fundo acho que ele era o mais nervoso. E eu estava uma pilha, é claro.
Eu tentei fingir que aquele la na frente, apertando a mão de Harry, não era Draco e que eu nem sabia quem era ele. Não funcionou, mas foi uma tentativa. E então o jogo começou e foi incrível. Acho que nunca uma partida foi tão divertida de jogar. No segundo minuto de jogo eu esqueci de Draco e de todas as coisas que tinham acontecido nos últimos tempos e apenas pensei no jogo. Em marcar gols. Em voar. Foi ótimo.
Eu acho que estava me divertindo muito, porque quando Mack passou por Crabb, em direção aos aros da Sonserina, o goleiro deles se adiantou e ao invés de Mack tentar marcar (seria impossível passar por aquele goleiro imenso) ele jogou a goles pra mim e já que não tinha ninguém me marcando eu fiz o gol. Foi tão bom ver a cara de raiva daquele goleiro-trasgo, que eu soltei uma sonora gargalhada, na cara dele. Ele não ficou muito feliz. Mas eu juro. Eu estava MESMO me divertindo.
Acho que eu vi Draco passar duas ou três vezes na minha frente, mas isso porque ele e Harry estavam numa briga boa atrás daquele pomo. Mas todo o tempo eles o perdiam de vista, e tinham que começar a procurar de novo.
Acho que Rony foi o goleiro menos vazado do Campeonato, e isso me enche de orgulho. A Sonserina marcou seis gols durante toda a partida e nós marcamos doze, mas isso porque logo em seguida, Harry capturou o pomo e a gritaria na arquibancada, dessa vez, estourou meus tímpanos, tenho certeza. 270 a 60.
Todos voamos até Harry e era uma confusão de abraços, apertos de mão, gritaria, que não tinha como não se sentir feliz.
Quando descemos, toda a massa vermelha e dourada das arquibancadas, estava no chão, nos esperando. Hermione correu para agarrar Rony e eu juro que, no meio daquela bagunça, eu vi Luna BEIJANDO Harry. Eu sabia, eu sempre soube!
Cátia Bell ainda estava me abraçando quando eu olhei mais adiante e vi Draco apenas observando toda aquela nossa bagunça. E foi ali que eu senti minha felicidade sumir. E o pior é que eu não consigo entender porque. Não é como se eu estivesse com pena por ele ter perdido. Eu tinha o direito de ficar feliz, não tinha? Então porque eu não estava?
A próxima coisa que eu vi foi Draco se afastando e, em seguida, eu vi Dumbledore entregar a Taça para Harry. Depois, alguém me levantou e de repente eu estava nos ombros de vários grifinórios, que se encaminhavam para a Sala Comunal, pra fazer a maior festa de todos os tempos. No meio do caminho, vários corvinais e lufa-lufas pararam para nos cumprimentar, o que foi bem legal.
Acho que essa foi a única festa que eu participei esse ano. Não ia pegar bem, justo na festa de comemoração da Taça, eu sumir. E eu realmente fiquei até o final.
Harry ficou um tempão admirando a Taça e é claro que ele tinha todo o direito. Ele parecia até mesmo está se divertindo mais do que todos, naquela festa. Mas acho que todos os alunos do sétimo ano estavam enchendo a cara, como uma forma de não pensar nos N.I.E.M.'s, que estão chegando. Começam daqui a duas semanas e acho que hoje foi a primeira vez que eu vi Hermione parar de estudar, pra se divertir um pouco. Meus exames também começam daqui a duas semanas, mas duram apenas uma semana. Os N.O.M's e N.I.E.M's duram duas.
Kel, Liv e Jenn se pintaram com as cores da Grifinória. E quando eu digo 'se pintaram', eu quero dizer que os rostos delas estavam completamente pintados com essas cores. Eu tenho um fã-clube particular e não sabia! Isso me fez rir muito, porque eu nunca imaginei que Jenn fosse tão fã de quadribol (embora eu particularmente ache que foi pra irritar, indiretamente, Terêncio Boot).
Eram duas da manhã quando finalmente subimos para o dormitório. Tinha uma coruja dormindo na soleira da minha janela. Eu soube de cara a quem ela pertencia. Draco, é claro. Tinha um bilhete pra mim. Antes de abrir eu tentei imaginar o que ele estaria dizendo, mas eu realmente nunca sei o que se passa na cabeça dele.
Estava escrito apenas 'Parabéns'. Eu pensei se deveria responder, mas a coruja já estava indo embora antes que eu decidisse isso. Eu fiquei um longo tempo olhando pela janela, sem pensar em nada.
(suspiro)
Agora são 3h20 e eu estou pensando se vou conseguir dormir. Depois de toda a agitação, depois de todo esse sentimento confuso em relação a Draco...
Acho que eu percebi tarde demais uma coisa que eu, no fundo, já sabia há muito tempo. Eu amo aquele garoto. Por mais que estejamos nessa situação chata, por mais que ele pise na bola comigo, por mais que ele seja insuportável...eu o amo. Eu acredito até que eu amo cada um dos defeitos dele. E é insuportável pensar nele, porque eu sinto como se já fosse tarde demais.
Por isso eu acho que realmente deveria parar de pensar que há uma possibilidade de nós voltarmos a ficar juntos, porque não há. Levando em consideração as cartas que ele me escreveu ultimamente, acho que ele me vê como uma amiga. E só.
(engolindo o choro)
Que assim seja, então. Vou dormir.
"Já não sei dizer se ainda sei sentir.
O meu coração já não me pertence.
Já não quer mais me obedecer.
Parece agora estar tão cansado quanto eu.
Até pensei que era mais por não saber
Que ainda sou capaz de acreditar.
Me sinto tão só
E dizem que a solidão até que me cai bem..."
Legião Urbana – Maurício
