Cap 25 – A Festa de Formatura
Então. Teve a Festa de Formatura, ontem. E...toda a minha família esteve aqui. A família de Hermione ficou na nossa mesa, assim como Harry também ficou. A família dele não apareceu, embora ninguém tenha ficado realmente surpreso.
Eu desconfio que ele não vai voltar para a Rua dos Alfeneiros, nesse verão. Acho que ele vai ficar um tempo conosco. Quero dizer, eu vi minha mãe aos cochichos com ele, então eu acho que ela o convidou. Mas não sei se ele aceitou. Não estou exatamente muito preocupada com isso.Ah, Harry levou Luna como convidada dele, para a festa. Acho que agora é oficial (gritinhos incessantes de 'Eu já sabia! Eu já sabia!' teimam em sair da minha boca, mas eu me contenho).
Rony parecia uma criança de cinco anos se lambuzando com sorvete, enquanto tirava Mione para dançar com ele. Mas acho que ela não ficou tão feliz quanto ele; quero dizer, ela voltou mancando para a nossa mesa.
(abafando uma risada)
Eu, como sempre, dancei com todos os meus irmãos e me diverti o máximo que eu pude, tentando ignorar o fato de que Draco não estava la. Ele não foi para a própria festa de Formatura...
Durante a festa, eu realmente não fiquei pensando sobre isso, mas quando meus pais e meus irmãos foram embora, (Harry, Ron e Hermione decidiram ficar mais na festa) eu decidi que já era a hora de me arriscar um pouco. Eu tinha que falar com Draco. Logo. E aquilo era tão importante para mim que eu suportaria humilhação, perigo físico, privações ...ou qualquer outra coisa equivalente.
Bem, eu parti do pressuposto que só havia um lugar em que eu poderia realmente encontra-lo. Se ele quisesse ser encontrado, é claro. Mas o fato foi que ele quis e então eu o encontrei, sentado calmamente no sofá da nossa sala.
Ele estava com umas vestes negras diferentes do normal, pareciam mais arrumadas e eu fiquei imaginando se ele tinha cogitado a possibilidade de ir praquela festa. Eu acho que ele chegou a pensar nisso, mas eu tenho certeza que ele não apareceu la. Embora eu não goste de admitir, eu estive bem atenta a esse fato, a festa inteira.
Ele estava sentado no sofá de sempre, com um copo de firewhisky na mão, e olhou calmamente para mim, quando eu entrei. Ele devia saber da onde eu estava chegando. Quero dizer, eu estava com um vestido de festa, preto, e com o cabelo todo arrumado, então isso era mais do que óbvio.
Ele não pareceu nem um pouco surpreso ao me ver; era como se ele soubesse que eu iria até la. Eu sei que eu já falei aqui um milhão de vezes que parece que ele sabe ler a minha mente, mas agora eu estou começando a desconfiar de que ele é perito em Legilimência. Juro. Como ele pôde não ficar nem um pouco surpreso? Há semanas não nos falávamos!
"Oi", eu disse, estupidamente. Eu não estava muito confortável com aquela situação, diga-se de passagem. "Tudo bem?", eu perguntei.
Ele acenou afirmativamente com a cabeça e depois perguntou "A festa estava boa?". Hum. Certo... ele estava querendo saber sobre a festa. Isso era bom ou ruim?
"Sim", eu disse e quando me sentei na poltrona ao lado do sofá eu completei "Eu fiquei imaginando se você iria aparecer...". Não sei porque eu disse aquilo. Talvez porque fosse verdade. Eu estava sendo o mais sincera possível. Claro, na medida do possível.
"Ficou?", ele perguntou, mas novamente não parecia surpreso. Ele ainda olhava tranqüilamente para mim e continuou "Não tive vontade de ir". 'Uh. Isso eu percebi', eu pensei.
Ficamos em silêncio por muito tempo. Eu sei que disse que fui la para resolver as coisas, mas quando eu notei que eu estava realmente LA, conversando com ELE, eu travei. Eu não consegui falar o que eu queria falar. E ele também não estava ajudando em nada. Maldito!
E então eu comecei a pensar novamente que aquela era, provavelmente, a última vez que eu teria uma chance de falar com ele e me lembrei também que ele não estaria ali no meu próximo ano, para me aborrecer, ou para brigar comigo, ou simplesmente para...ficar ali, sentando em silêncio comigo, como fizemos tantas outras vezes.
Eu ainda estava pensando nisso, quando ele interrompeu o fluxo dos meus pensamentos, perguntando "No que você está pensando?", e eu acho que ele estava com a testa franzida. E então eu finalmente notei que meus olhos estavam marejados e eu estava prestes a chorar. E eu sequer havia percebido (mas parece que ele notou, já que perguntou aquilo). Eu sou uma idiota. Mas sou uma idiota sincera, porque eu respondi:
"Estava pensando...pensando no próximo ano", eu disse, evitando olhar pra ele, e tentando não chorar. "Mal posso acreditar que Ron, Mione e Harry não estarão aqui", eu completei e teria dito 'Ron, Mione, Harry e você', mas eu não tive coragem. Fraca. Covarde! Mas, tudo bem. Provavelmente ainda não era a hora, eu pensei.
"Acho que você vai ficar bem", ele disse, também sem olhar pra mim, bebendo um gole de firewhisky... Sim, eu pensei, ótimo. Muito esclarecedor. O que ele queria dizer? Eu não sabia. Eu só sabia que ele estava errado.
"Eu não teria tanta certeza", eu disse e de repente me senti meio sufocada. Com um nó do tamanho do mundo, na garganta, eu me levantei e andei até a janela.
"Porque?", ele perguntou, tranqüilamente, se virando no sofá para me olhar. Foi aí que eu pensei 'Ah, quer saber? Dane-se tudo. Eu preciso falar'.
"Porque você também não vai estar aqui", eu disse, dessa vez olhando pra ele e sentindo meus olhos marejarem novamente. Sentindo meu coração batendo numa velocidade acima do normal. Foi uma situação bem angustiante ter dito aquilo e tê-lo ali, olhando para mim sem esboçar uma reação imediata e gaaaaah, eu odeio suspense.
Foi então que ele pousou o copo na mesinha, se levantou calmamente e andou até a janela. Quando estava de frente para mim, ele colocou as mãos na minha cintura e disse (aparentemente ele quis ignorar o que eu havia dito. Típico):
"Espero que tenha reservado uma dança para mim", e dizendo isso ele se inclinou lentamente e, como se isso fizesse algum sentido, ele me beijou.
Meus pensamentos ficaram todos embaralhados, na hora, mas um deles era tão gritante, que eu não pude ignora-lo. O pensamento dizia 'Não, eu não vou deixar ele me enrolar novamente!'. Eu não sei de que profundezas ele saiu. Mas eu sei que ele era resquício de antigos pensamentos, que me faziam lembrar de toda aquela coisa sobre ele nunca responder uma pergunta minha, e simplesmente me ignorar ou me enrolar. E então...
"Não!", eu disse, meio ofegante, empurrando-o.
"O quê?", ele perguntou meio assustado, meio surpreso.
Naquele momento, eu senti as lágrimas ardendo nos meus olhos. Não sei se eu estava realmente sensível, ou se era o (antigo) fato de que eu ainda sentia uma pedra do tamanho do mundo esmagando meu coração. Mas eu me controlei como pude e falei, baixinho:
"Porque você faz isso comigo? Não vê que me machuca?", eu perguntei, sentida. Acho que aquilo foi meio que um 'estalo' pra ele, porque ele perguntou, com os olhos faiscando.
"Eu machuco você?". Eu respirei fundo. E aqui sim, eu fui corajosa.
"Se você não quer ficar comigo, porque me faz pensar que quer? Eu fui sincera com você, pelo amor de Deus, o que custa ser comigo também!", eu disse, me virando de costas pra ele, porque senti uma lágrima caindo, mas tratei de enxuga-la depressa, antes que ele pudesse nota-la.
Quero dizer, porque ele tinha que fazer aqueles joguinhos? Estávamos naquela situação chata há semanas! Porque ele não podia simplesmente dizer 'Eu gosto de você' ou 'Eu não gosto de você. Cai fora, Weasley'? ...Mas eu sabia a resposta. Ele é Draco Malfoy. Ele faz joguinhos. Aquilo é ser ele. Uma vez eu disse para Draco que ele sobrevive de suas próprias regras. E é somente isso o que ele faz. Eu não posso culpa-lo.
Novamente o silêncio se instalou naquela sala e eu fiquei olhando pela janela. Ele ainda estava parado, atrás de mim e só depois de um longo tempo, ele me perguntou, calmamente.
"Quer mesmo que eu seja sincero?". Duh.
"Se você não se importar...", eu disse, sarcástica, mas esperando pelo pior. Ele era sempre dolorosamente sincero.
Ele deu um suspiro profundo e segurou meu cotovelo esquerdo, fazendo-me virar pra ele.
"Então eu serei, Virgínia", ele começou e se aproximou mais um passo de mim, se é que isso era realmente possível, e disse "Sei que jamais quis gostar de você". Uh. Nunca peça a alguém franqueza. Evite isso a qualquer custo! Mas eu fiquei calada, olhando-o nos olhos, enquanto ele continuava.
"Eu resistia a este sentimento sempre que estava perto de você", ele disse e tocou minha bochecha com a ponta dos dedos. "Eu estava tão ocupado lutando contra isso... que acabei me traindo, e me apaixonei por você...", ele disse e eu vi seus olhos faiscarem. Eu entrei em choque "...e acabei lhe dando o poder de me magoar. Portanto, seja bondosa", ele completou, com um sorriso fraco, incerto. Eu não pensei que viveria para ver o dia em que um Malfoy pareceria inseguro.
Eu quis agarra-lo, mas tudo o que eu consegui dizer foi um estúpido "Oh...", que pode ser também interpretado como 'E só agora ele me diz!'. Mas depois de um segundo eu comecei a desconfiar do que ele havia dito. Quero dizer, ele não podia ter dito o que eu achava que ele tinha dito! Podia?
Ele estava se inclinando perigosamente e parecia que ia me beijar, mas eu comecei a falar, então ele não teve essa oportunidade "Você disse...você estava dizendo...", certo eu estava meio desarticulada. "Eu acho que não entendi o que você disse", eu completei, derrotada.
Ele passou os braços em volta da minha cintura, enquanto me puxava pra MUITO perto dele. E depois disse, calmamente, enquanto aumentava a pressão de suas mãos ao redor da minha cintura, "Tudo o que eu preciso está aqui", e eu acho que ele se referia a...bem, a mim.
(roxa de vergonha)
Então eu finalmente acreditei. E ele me beijou. Eu tenho a leve impressão de que ele se dedicou ao máximo àquele beijo, como se o propósito dele fosse me fazer lembrar daquele momento para sempre. Como se fosse fácil simplesmente esquecer daquilo! Foi o melhor beijo que eu já recebi em toda a minha vida. E Deus! Ele disse que gosta de mim. Que realmente gosta de mim. Há quanto tempo eu espero pra ouvir isso?
Uma vez eu disse que não me importava se ele nunca admitisse tal fato, mas o caso é que...é totalmente diferente, agora, que eu sei que ele gosta de mim. Agora que ele admitiu, eu posso respirar tranqüilamente e apenas aproveitar. Parar de me lamuriar ou pensar no quanto o mundo é injusto comigo e blábláblá. Eu não preciso nem dizer que sou a pessoa mais feliz do mundo, não é?
Quando nos separamos, ele olhou pra mim e sorriu tranqüilamente. E eu não me controlei mais. O meu coração doía de vontade de falar. E então eu falei.
"Eu amo você".
"Eu sei", ele disse baixinho e depois me beijou novamente e foi como se nada mais importasse. Eu não consegui pensar em mais nada; eu me sentia a quilômetros de distância de tudo o que conhecia. Ele tem o incrível poder de me fazer esquecer de toda e qualquer coisa.
Quando nos separamos, eu ainda estava achando tão maravilhoso o fato de termos nos acertado, que não queria que ele se afastasse de mim nunca mais, então eu o abracei fortemente enquanto ele acariciava levemente minhas costas. Depois de um tempo ele perguntou no meu ouvido, o que fez com que eu me arrepiasse "Tem idéia de como você virou minha vida de cabeça pra baixo, ruivinha?". Ah. Eu adorei ouvir aquilo. É claro que eu tirei proveito.
"Eu?", perguntei, me afastando um pouco para olha-lo nos olhos. Eu era toda inocência, naquele momento. "Não, mas, por favor, me conte!", e eu vi os dentes brancos dele surgirem num sorriso lindo. Adoro esse sorriso. Ele deveria sorrir mais vezes.
Depois disso, ficamos conversando até bem tarde (quero dizer, até bem cedo, porque já eram 4h20 da manhã, quando eu resolvi que tinha que ir embora). Hoje à noite tem o banquete de encerramento, e então...vamos voltar pra casa.
Eu fiquei pensando em quando o veria novamente, já que agora que íamos embora, seria impossível nos ver todos os dias. De repente, uma cena surreal se passou pela minha cabeça: ele me visitando na minha casa. Quero dizer, aquilo era impossív...
"Sabe? Eu vou querer conhecer seus pais, em breve", ele disse, interrompendo meus pensamentos. Não é possível. Ele sabe ler minha mente. Juro! Agora é oficial.
"Você não está falando sério", eu balbuciei, em completo horror.
"É claro que estou", ele disse, usando um tom que me dizia que eu não podia contesta-lo. "E não há nada que você possa fazer, quanto a isso", ele disse, com um sorriso vitorioso.
"Oh, não", eu gemi, imaginando meus seis irmãos, mais Harry e Hermione gritando para mim 'Ginny...o MALFOY?'. Eu estou perdida.
"Ei. Não pode ser tão ruim", ele disse, se sentindo um pouco ofendido, eu acho.
"Não. Vai ser pior", eu disse, sendo até um pouco otimista à respeito do absurdo que vai acontecer daqui a uns dias. Bem, não é assim tão simples. Primeiro eu ia ter que conversar com meus pais sobre isso. E eu corria o risco de não sair viva daquela conversa, então eu perguntei, séria:
"É isso o que você realmente quer?".
"É isso o que eu realmente quero", ele repetiu, também sério.
"Certo", eu suspirei, admitindo minha derrota. Não é que eu estivesse achando ruim, mas...ai meu Deus. Eu não consigo nem imaginar como vai ser isso. Quero dizer, eu nem quero imaginar. Já vai ser ruim o bastante passar por isso uma única vez.
Depois dessa conversa insana eu vim para o meu dormitório. Eu me sinto exausta, mas como é bom poder me sentir assim. Acho que estou sorrindo de orelha a orelha.
Vou fechar meus olhos por um instante, mas quando eu acordar, eu espero que não tenha sido um sonho. Espero que não seja outro dos meus sonhos surreais. Porque foi tão real...
Quando eu acordei, eu não acreditei que já se passava do meio dia. Não era possível eu ter dormido tanto! Quero dizer, levando em conta o fato de que fui dormir às 5h30 da manhã, era até muito cedo.
Não tinha mais ninguém no dormitório e eu fechei os olhos só por mais um segundo. E então eu me dei conta: FOI real. Tudo aquilo realmente aconteceu. Eu estava quase pulando de felicidade na minha cama, quando Kelly entrou, parando confusa na porta, me olhando de cima a baixo. Quero dizer, ela deve ter estranhado o fato de eu estar em pé na minha cama, mas ninguém pode me culpar por ter agido feito uma criança.
"Você está bem?", ela perguntou, entrando e fechando a porta. Ela soou como se estivesse perguntando para uma pessoa louca se ela sabia que era louca. Nah.
"Estou mais do que bem. Eu estou ótima!", eu disse e aí sim eu comecei a pular na minha cama.
"De fato, você pirou", ela disse, arregalando os olhos.
"Deixa de ser boba. Vem pular também", eu disse, rindo.
"Oh, Deus. Agora é sério. Olha, eu vou chamar a Madame Pomfrey e...", ela estava dizendo, mas eu já tinha parado de pular, porque eu estava tendo um ataque de riso. Eu não devia estar fazendo sentido.
"Ginny, eu estou começando a ficar realmente preocupada com sua sanidade mental", ela disse, se aproximando devagar da minha cama. Eu fui parando de rir lentamente.
"Kelly, você não tem idéia do que aconteceu. Você nunca vai adivinhar", eu disse, sorrindo. Ela pensou por um segundo.
"Tem a ver com o Malfoy, não é?".
"É tão óbvio assim?", eu perguntei, ainda sorrindo.
"Pra você estar agindo de modo tão atípico, só pode ser", ela disse, sincera.
Eu me deitei novamente, com os braços por trás da cabeça e encarei o teto por um segundo "Foi...mágico. Ele estava tão bonito. E tão sincero", eu disse, sonhadoramente.
"Sincero? Não me diga que ele estava bêbado de novo", ela disse, cortando todo o clima.
"Bêbado? Não, ele não estava. Quero dizer, ele havia bebido, mas ele não parecia bêbado...", eu estava dizendo, com a testa franzida. "Ai, meu Deus. Será que ele estava bêbado?", eu voltei a me sentar, arrasada.
"Ih...", Kelly disse, se sentando ao meu lado. "Me conta o que aconteceu", ela pediu e eu comecei a contar. Quando eu terminei, ela disse:
"Só tem um jeito de você saber se ele estava ou não bêbado", ela falou, dona da razão.
"Qual?", eu perguntei, confusa.
"Bem, na outra vez ele não se lembrou de nada, não é? Então, agora você tem que descobrir se ele se lembra do que aconteceu", ela disse, sabiamente. Mas a perspectiva de, de repente, ele não se lembrar de nada, fez o meu coração afundar. Ou o mundo é muito, muito cruel ou tem alguém la em cima muito, muito sádico.
"É", foi tudo o que eu consegui dizer. Depois daquilo, eu fui tomar banho e em seguida eu desci para almoçar. Kelly ficou no dormitório para arrumar suas malas.
Estava um clima de nostalgia, naquela mesa. Quero dizer, Ron, Harry e Mione olhavam melancolicamente ao redor deles, como se quisessem gravar a ferro, na mente, cada detalhe do Salão Principal. Eu não os culpo. Eu também estava olhando a minha volta, mas não era exatamente para gravar os detalhes. Eu estava procurando por Draco. Mas durante todo o tempo em que eu fiquei no Salão Principal, ele não apareceu.
Eu tinha esperança de encontra-lo na nossa sala, mas ele não estava la. Eu estava pensando se teria que mandar uma coruja pra ele, para pedir que ele me encontrasse, quando me surgiu uma idéia. Ele podia estar atrás do Castelo, na árvore de sempre.
Bem, era uma possibilidade. E eu saí correndo para la. Qual não foi minha surpresa, ao descobrir que ele realmente estava la. Ele estava em pé, com as mãos nos bolsos e olhava para o nada, eu acho.
"Oi?", eu perguntei, incerta. Acho que ele não tinha me escutado chegar. E então ele se virou e disse "Oi". Eu não pude ler a expressão dele. Aí ele falou novamente:
"Eu vim me despedir".
"De mim?", eu perguntei, confusa.
Ele deu um pequeno sorriso, e olhou pra mim com os olhos semicerrados, por causa da claridade "De Hogwarts, eu quis dizer".
"Certo", eu disse. Entendendo absolutamente NADA daquela conversa.
"Acho que, no fundo, eu vou sentir falta daqui", ele disse, se virando de costas pra mim. Eu me aproximei mais e fiquei ao lado dele.
"Draco...eu tenho que te perguntar uma coisa".
"Sim?", ele disse, olhando pra mim.
"O que exatamente você se lembra de ontem?", eu perguntei, meio desesperada. Ele ficou um minuto em silêncio, olhando estranhamente para mim.
"Eu não entendo o que você quer dizer", ele disse. 'AI MEU DEUS', eu pensei. 'Ele não se lembra de nada!'.
"Oh", eu disse, estupidamente, enquanto sentia meus olhos começarem a marejar.
"Você está bem?", ele perguntou, verdadeiramente confuso.
"É só que...", eu comecei, mas de repente eu não tinha mais forças. "Esquece. Não é nada... importante", eu disse, exausta.
"Você se arrependeu de alguma coisa que fez ontem?", ele perguntou, sério, com a testa franzida. Dessa vez tinha sido eu quem não havia entendido o que ele havia dito.
"O quê?", eu perguntei, confusa.
"Você está arrependida?", ele perguntou, novamente.
"Isso quer dizer que você se lembra?", eu perguntei. Aquela conversa estava tão confusa. Parecia que falávamos idiomas diferentes.
"Me lembro do quê?", ele perguntou, meio exasperado, eu acho. Na hora eu pensei 'É isso. Ele não se lembra mesmo'. E eu quis sair dali. Mas tudo o que eu fiz foi esconder meu rosto nas minhas mãos, pensando que aquilo não podia estar acontecendo.
"Virginia, por favor, você quer me explicar o que está acontecendo?", ele perguntou, mais do que exasperado. Ele estava confuso. Mais do que eu, eu acho.
"Você não se lembra...", eu suspirei, pesadamente "...de ontem", eu terminei de explicar.
"Mas é claro que eu lembro de ontem. O que há para não lembrar?", ele perguntou, já completamente confuso.
"Você lembra?", eu perguntei, saindo de trás das minhas mãos.
"Sim, eu lembro", ele disse, olhando estranhamente para mim. Ele deveria estar pensando que eu era louca.
"Mas é que...", eu comecei a explicar, mas parei. Como eu ia explicar a minha linha de raciocínio? Era tão complicada! Maldita Kelly.
"Mas é que...?", ele repetiu, me encorajando a falar.
"Bem, no outro dia, quando você estava bêbado e acabou dormindo na nossa sala...você não se lembrou de nada, no dia seguinte", eu disse, e achei que tinha sido uma boa explicação, mas parece que aquilo não fez o menor sentido pra ele.
"E...?", ele perguntou.
"E ontem, bem, você estava bebendo", eu disse. E um pensamento estúpido me atingiu naquele momento 'Será que ele é alcoólatra?'.
"Eu não estava bêbado", ele falou. Mas aí me surgiu uma dúvida. Odeio declarações dúbias.
"Não estava bêbado ontem ou naquele outro dia?", eu perguntei.
"Bem...em nenhum dos dois", ele disse e eu juro que eu o vi reprimir um sorriso.
"Mas...você teve até ressaca!", eu disse, sem acreditar. "Você fingiu?", eu o acusei.
"Não, bem...eu bebi. Mas não a ponto de me esquecer do que aconteceu", ele disse, tentando não deixar transparecer o quanto ele estava se divertindo.
"Então você se lembra de TUDO?", eu perguntei, indignada. "Você mentiu pra mim!". Mas a isso, ele não disse nada. E eu entendi o silêncio dele. Quero dizer, o assunto daquele outro dia não era realmente agradável. Era sobre o pai dele e tudo o que aquele idiota fez. Bem, Draco tinha uma ótima desculpa para que eu nunca mais tocasse naquele assunto, mas então...porque ele estava me contando a verdade?
"Porque você está sendo sincero, agora?", eu perguntei, olhando-o nos olhos.
"Eu acho que você sabe a resposta", ele disse, enquanto segurava a ponta do meu queixo, e levantava meu rosto para me beijar. É, eu sabia a resposta. Estava nos olhos dele. Estava no beijo doce dele.
Chega de mentiras. Chega de fingimento. Chega de omissão.
Ele pode ser um idiota, às vezes, mas eu o amo demais para me importar com isso.
(suspiro bobo, apaixonado)
Bem, agora eu estou fazendo minhas malas e tenho que termina-las logo, para poder ir ao banquete de encerramento. Não perco aquilo por nada.
Eu estou no Expresso de Hogwarts, agora. Eu, Jenn, Liv e Kel estamos dividindo uma cabine, embora não seja exatamente essa a cabine em que eu gostaria de estar.
Ontem, o banquete de encerramento foi ótimo. É claro, a nostalgia era ainda maior e eu vi Mione chorando durante todo o discurso de Dumbledore, mas...puxa, ela estava chorando porque não está na minha situação. Quero dizer, no próximo ano Draco vai estar tão longe que dói só de pensar. Eu vou ficar um ano inteiro presa em Hogwarts, até que eu possa vê-lo novamente; ao contrário de Mione e Ron que vão poder se ver o tempo todo! Mas eu sei que não era exatamente por isso que ela estava chorando.
O discurso de Dumbledore foi realmente bonito dessa vez. Ele disse "As mudanças, esse ano, foram extremamente significativas. Em cada um de nós e ao nosso redor. Tudo está diferente. Os tempos de escuridão passaram e o mundo bruxo voltou a conhecer o significado da palavra 'paz'", aqui ele parou e olhou vagamente para todas as mesas "Para os alunos que estão se despedindo, nós desejamos boa sorte e desejamos, também, que vocês usem nossos ensinamentos para construírem seus futuros da melhor maneira possível, escolhendo os caminhos mais virtuosos e, às vezes, nem tão gratificantes. Mas, lembrem-se sempre de quem são e o que vocês realmente desejam. São vocês que constroem a si próprios. Lembrem-se sempre", e completou dizendo "Para os que ainda ficam, eu espero vê-los no próximo ano letivo, tão espertos quanto foram e um pouco mais atentos do que costumavam ser...Que se inicie o banquete!".
E depois ele anunciou a Casa vencedora...e fomos nós, é claro! Belíssimo final de ano, eu devo dizer. Eu não podia estar mais feliz. E enquanto todos na nossa mesa gritavam e comemoravam a nossa vitória, eu olhei para a mesa da Sonserina, mas eu nem reparei nos alunos invejosos que provavelmente nos encaravam, eu só pude ver um garoto, que olhava pra mim, com um pequeno sorriso curvando sua boca para baixo. Típico.
Eu sorri, feliz, e ergui minha taça de vinho para ele, como quem faz um brinde. Ele fez o mesmo para mim, me olhando com as sobrancelhas arqueadas. "Ao futuro", eu disse e tenho certeza que ninguém realmente me escutou, porque todos ainda gritavam consideravelmente alto, mas tenho certeza de que ele conseguiu ler meus lábios. E então bebemos ao nosso futuro.
(pequena pausa)
E agora eu estou aqui, com as minhas amigas, e não consigo entender porque eu reclamei tanto o ano inteiro. Sobre o mundo ser injusto comigo ou qualquer coisa do tipo. Acho que, no final das contas, é como Dumbledore disse. Somos nós quem construímos nossos próprios caminhos. E, finalmente, eu estou trilhando o caminho que eu quero. Que eu realmente escolhi. E eu vou seguir até o final dele.
N/A:
'Aquilo era tão importante para mim que eu suportaria humilhação, perigo físico, privações...'. Anos Incríveis.
'Ele era sempre dolorosamente sincero'. Adaptado de Draco Veritas.
'Sei que jamais quis gostar de você. Eu resistia a este sentimento sempre que estava perto de você. Eu estava tão ocupado lutando contra isso... que acabei me traindo, e me apaixonei por você. E acabei lhe dando o poder de me magoar. Seja bondosa'. Do livro 'Com Vinho e Sangue'.
