N/A: Giu (emaemutsmui), valeu!

Cap 27 – O Jantar

O meu dia foi ótimo! A noite foi um pouco...na verdade, foi muito...(suspiro) Eu ainda não achei uma palavra que defina isso.

Bem, eu acordei logo cedo, me sentindo repentinamente feliz, e desci para ajudar mamãe com o café da manhã. Quando os gêmeos entraram na cozinha, eu fui até eles e dei um beijo estalado na bochecha de cada um. Quero dizer, eu estava feliz e eles não estavam fazendo escândalos, como certas pessoas...Acho que eles não entenderam nada, mas não fizeram piadas.

Depois, Ron e Harry desceram também e eu tentei ler a expressão de Ron. Ele não olhou pra mim. Tudo o que ele fez, foi sentar-se à mesa e encarar fixamente o copo de suco dele, enquanto cruzava os braços. Eu achei que o copo ia explodir, com a força do pensamento dele.

Durante a refeição, papai olhou para mim e perguntou "Tudo certo para o jantar esta noite, querida?". Eu vi os gêmeos trocando olhares e Rony ficar roxo. Harry estava impassível.

"Hum rum", eu murmurei para papai, embora NADA estivesse certo, até aquele momento.

"Ótimo", ele disse, dando o assunto por encerrado.

Quando terminamos, Hermione apareceu e ficou conversando comigo e mamãe, na cozinha. Ela não perguntou nada do tipo 'Porque você não me contou?' ou 'Quando tudo começou?' e 'Como é que eu não notei?'. Eu me senti infinitamente agradecida, por isso.

Depois, ela foi para o jardim com Harry e Rony e eu só a vi mais tarde, na hora do almoço. Mas antes disso, eu havia subido até o meu quarto e vi que havia chegado uma coruja pra mim. Era de Draco, obviamente.

"Virginia,

Obrigado por ter me esclarecido algumas questões. É que você costuma ignorar algumas das minhas perguntas...(com quem você anda aprendendo essas coisas?).

Eu vou fingir que não entendi o que você quis dizer com 'Não sei se é uma boa idéia você aceitar o convite do meu pai'. Não era por isso que estávamos esperando? Quem se importa com o seu irmão?

Eu vou estar aí, hoje à noite, às 20h. Acredite.

Saudades,

Draco Malfoy".

Quando eu terminei de ler, eu fiquei repetindo mentalmente aquela última frase 'Saudades, Draco Malfoy'. Saudade...é, essa era a palavra do momento. Nós não nos víamos há duas semanas e eu estava com medo de simplesmente agarra-lo na frente dos meus pais, quando ele batesse na porta.

Bem, eu achei desnecessário responder qualquer coisa, porque aquela carta foi praticamente uma carta retórica (isso existe?).

Depois disso, eu desci e fui até a lareira da sala, para falar com Kelly, que está na França. E então eu contei o que estava acontecendo por aqui e nós rimos de cada bobagem, que eu não vou nem registrar. Mas ela disse que estava feliz por mim. Acho que da mesma forma que eu me sinto feliz por ela e Sam Rutledge.

Depois, quando já estávamos conversando a cerca de meia hora, apareceu um garoto de uns 18 anos, alto, cabelos e olhos castanhos. E então eu me lembrei de algo que ela havia dito um dia 'Positivamente bonitão'. Eu tive que sorrir.

"Oi, Sam!", eu disse, praticamente me apresentando.

"Olá, Virrginia", ele disse, com um leve sotaque francês. Achei tão fofo. "Me desculpe, mas eu terrei que levar Kelly daqui, agorra", ele disse, com um sorriso simpático.

"Não se desculpe", eu disse, abrindo um largo sorriso "Você está POSITIVAMENTE certo", eu completei, olhando para Kelly, que teve que abafar uma risada. Acho que ela entendeu o que eu quis dizer.

Depois disso eu comecei a sentir ainda mais falta de Draco. O dia estava demorando tanto a passar...então eu comecei a me ocupar e fui ajudar mamãe na cozinha. Às vezes eu acho que ela nunca sai de la.

Quando todos terminamos de almoçar, eu mesma resolvi fazer a torta de maçã. Só para me ocupar um pouco, na verdade. Enquanto eu cozinhava, eu tentava não olhar pela janela, porque dali dava para ver meu irmão, Harry e Mione conversando. Quem estava ganhando aquela discussão, não dava pra saber.

Eu ainda estava fazendo a torta, quando a mamãe apareceu na cozinha, falando sozinha. Ela disse algo como "Jantar...preparar o jantar...às 20h...para doze pessoas...". Eu estava ouvindo, mas não estava dando importância. Mas aí eu me dei conta de uma coisa. Doze pessoas? Que doze pessoas?

"Mamãe? A senhora disse DOZE pessoas?", eu perguntei, meio que já esperando a resposta. Mas eu pensei que seriamos oito...!

"Sim, querida. Eu não falei? Eu convidei Gui e Carlinhos para virem. E, claro, Carlinhos vai trazer a Fleur e meu netinho", ela falou, soando toda "avó". Depois ela acrescentou "Eu convidei Percy também, mas, você sabe, ele viajou pra Patagônia Chilena, e não vai poder vir, infelizmente". Percy foi pesquisar os caldeirões com alças frouxas, lá. Grande trabalho.

'Ótimo', eu pensei. 'Agora eu tenho cinco dos meus seis irmãos nesse jantar. Draco vai adorar saber disso. Hum. Quero dizer, adoraria, se eu fosse contar a ele, é claro'.

Às 18h, Mione decidiu ir embora. Mamãe a convidou para jantar conosco, mas ela disse que não queria atrapalhar e piscou para mim. Será que é um bom sinal, eu pensei.

Bem, eu estava ficando impaciente com o relógio, então subi para o meu quarto e fiquei relendo antigas cartas de Draco. Uma delas dizia "Então o Potter vai ficar aí? Bem longe do seu quarto, eu espero". Foi tudo o que ele comentou sobre Harry e eu tinha achado realmente estranho, mas agora eu entendo o porquê dessa atitude. Fragmentos de um conflito iminente.

Depois de guardar novamente todas as cartas, eu decidi que era hora de me arrumar e fui tomar banho. Às 19h20, eu estava pronta e sentada no sofá da sala, balançando uma das pernas impacientemente, enquanto tentava não encarar a parede que tinha um relógio.

Jorge e Fred apareceram um tempo depois, e se sentaram, cada um de um lado meu. Eu olhei para Jorge e notei que ele estava rindo. Quando eu olhei para Fred, eu vi que ele havia cruzado as pernas e estava balançando uma delas. Ele estava me imitando. Chato.

"Ei", eu gritei, enquanto dava uma leve cotovelada nele, mas ri pela primeira vez, desde que havia me sentado ali.

"Qual é, Gin? Relaxa", Jorge disse, sobre o meu nervosismo. É, como se fosse fácil...

"Vocês sabem se o Rony...", eu ia perguntar, mas Fred me interrompeu.

"Se ele se explodiu? Não, mas bem que nós tentamos...", ele disse, com pesar.

"Harry estava tentando arranca-lo do quarto, quando descemos", Jorge completou. Eu fiz um muxoxo e afundei uns vinte centímetros, no sofá.

19h30, meus pais apareceram na sala. Mamãe olhou para mim e para os gêmeos e depois perguntou "Onde estão Rony e Harry?", mas não esperou por uma resposta, ela foi até a escada e gritou "Ronald Weasley, desça daí, AGORA. E você também, Harry, querido", ela acrescentou.

Mais alguns minutos e os dois apareceram na sala. Rony se jogou ao lado de Jorge e murmurou alguma coisa. Depois disso, Gui chegou, todo charmoso, e depois de cumprimentar todo mundo, ele me olhou de alto a baixo e disse, meio sério, meio brincalhão "Então...namorado, Gin?".

"Anh...", eu disse, ficando vermelha "Pois é...namorado...", e olhei para os meus pés. Aí eu olhei pra ele novamente e notei que ele estava querendo rir de mim. Eu pensei em bater nele, mas me controlei, porque ele se inclinou e me deu um beijinho na testa, pra depois ir se sentar perto de papai.

Assim que a coloração do meu rosto voltou a normalidade, foi a vez de Carlinhos, Fleur e Nick, meu sobrinho, chegarem. Ele só tem dois anos, mas já está enorme! Assim que viu os gêmeos ele se soltou do braço do pai, e correu pra eles, se sentando no colo do Fred, enquanto, sabe-se-lá-porque, ele começou a puxar o cabelo do Rony. "Ai!", ele gritava, enquanto Jorge se acabava de rir da cara do Rony. Er...acho que meu sobrinho é um discípulo dos gêmeos.

Eu olhei, incerta para Carlinhos, que estava conversando com a mamãe, mas já olhava de esgueira pra mim. Fleur se aproximou de mim e disse "Olá, Virginia, tudo bem?", ela me cumprimentou com dois beijinhos no rosto, depois lançando um sorriso e balançando os cabelos. Ron pareceu bem 'feliz', mas ainda bem que Gui o acordou com um cutucão, porque o Carlinhos não iria gostar daquilo. Mas, engraçado... Fleur parece bem mais simpática do que no meu 3º ano. Carlinhos é mesmo um ótimo domador de feras...(pegaram o trocadilho?).

Em seguida Carlinhos veio e me deu um abraço forte, e disse, todo sorridente "Então, Gin...", e de repente eu fiquei feliz por ele parecer sorridente, geralmente ele é muito ciumento. Menos que o Ron, graças aos céus, mas ainda assim ciumento. "...Por que diabos um MALFOY?". Argh. Falei cedo demais. Só ai que percebi o quão falso era o sorriso que ele tinha me dado no começo.

"Carlinhos, querido, já conversamos sobre isso!", mamãe, que devia ter contado a novidade a ele, falou, ajeitando não-sei-mais-o-quê na mesa do jantar.

"E você, Ron? Não se manifesta?", Carlinhos ignorou mamãe e cutucou a outra fera, sabendo que esse era seu partidário da política 'Gin morre virgem'. Cruel.

"Eu falei pra mamãe sobre as possibilidades da Ginny ter ficado com seqüelas depois daquela coisa toda do basilisco, mas ninguém acredita!". O RON EXISTE? Meu Deus, será que EU quem pirei? Ele estava falando como se eu tivesse enlouquecido. Isso me revoltou, e eu logo fiquei vermelha. Ei, mas desde quando meu irmão sabe falar 'seqüelas'?

"Ok, Ron, não se descontrole, isso é absurdo!" Carlinhos ponderou, no que eu suspirei, aliviada. Mas logo ele voltou a falar "Ela deve estar sob o efeito de poções ilegais, sabe?". É impressão minha ou o Carlinhos estava querendo brincar com a minha paciência? Não sei se é possível brincar com a paciência de alguém, mas ele conseguiu. Com uma GRANDE ajuda do Ron, que continuava, assim como Carlinhos, praticamente a gritar suas teorias absurdas.

Por que todo mundo ficava olhando para nós três parados no meio da sala, em pé, muito vermelhos, sem fazer nada?

"Ei, o pai dele era um comensal, podemos até esperar uma Imperius!". O QUÊ? Longe demais, Ron.

"CALEM A BOCA VOCÊS DOIS!", eu gritei enquanto todo mundo olhava pra mim, e felizmente Carlinhos e Ron pararam de surtar.

"Carlinhos, não seja ridículo! Que escândalo!", Fleur, que estava do meu lado, 'domou' o Carlinhos que sentou emburrado e resmungando. Ron teve a quem puxar, definitivamente.

"Conheçam o Malfoy, para depois tirrarrem suas conclusões!", Fleur disse. 'Querrida...estou amando você', eu pensei.

"Ah, eu o conheço MUITO bem", Ron falou, todo dono da razão, cruzando os braços "E ele não é melhor do que um dementador".

"Pois eu o conheço muito bem, Ronald! Se comporte, e pare de parecer um centauro revoltado pelo menos hoje, ok?", eu falei irritada, notando que a coisa do 'centauro revoltado' pareceu ofender Ron, mas, felizmente, Harry o segurou.

Depois disso, eu resolvi sair pra esperar Draco, lá fora. Faltavam cinco minutos, mas dava tempo de todos voltarem a cor normal.

Então eu me dirigi para frente da minha casa, pensando 'Faltam cinco minutos. Só cinco minutos'. E então, um barulho (pop) me assustou. Quando eu olhei um pouco para a direita, eu vi meu lindo namorado, andando em minha direção, com aquele típico sorriso curvando sua boca para baixo e com as mãos nos bolsos, como sempre. Ele já pode aparatar, eu havia me esquecido.

Eu tentei não demonstrar que meu coração estava batendo loucamente dentro do meu peito, e disse, sorrindo timidamente "Acho que você chegou um pouco cedo".

"Tem razão", ele disse se aproximando mais e me puxando pela cintura (e aqui eu me pergunto...quem realmente se importa com 'Oi, como vai você?'?). "Acho que vou ter que demorar um pouco mais, aqui fora" e me beijou. Era um beijo cheio de saudade, tão intenso, que eu tive a certeza de que ele sentiu tanto a minha falta quanto eu havia sentido a falta dele.

Quando nos separamos, eu disse, atrapalhada "Talvez você nem devesse entrar aí. Podíamos ficar aqui o resto da noite...Melhor, vamos dar uma volta. A noite está tão bonita!", eu sugeri, esperançosa. Não só pelo fato de que eu queria ficar ali fora com ele, mas porque eu sabia que a noite seria muito, muito longa, assim que passássemos por aquela porta.

Mas ele arqueou uma sobrancelha para mim e perguntou "Isso foi uma cantada? Porque você é realmente ruim nisso. Não me convenceu". Eu quis rir, a despeito do frio na barriga que eu começava a sentir. Como eu não respondi, ele continuou "Com medo, Virginia?". Eu já falei que ele podia ler minha ment...? É, eu já falei.

"Você não?", eu perguntei, segurando a mão dele.

"Porque eu deveria? Você vai estar la", ele disse, todo galanteador, sorrindo confiante. Eu tive que sorrir também. Mas depois, quando eu notei que estávamos andando até a porta da minha casa, o sorriso sumiu. Eu respirei fundo, enquanto girava a maçaneta.

Então, eu entrei e rezei para Rony ser, no mínimo, educado. E para Carlinhos ficar calado a noite inteira. Draco seguiu atrás de mim e ao chegar na sala, todos olharam para nós dois.

Draco foi o primeiro a se pronunciar, enquanto quase todos se levantavam "Boa noite", ele disse, sorrindo cordialmente. Acho que é o tipo de sorriso 'Conquista-Sogra', porque mamãe veio em nossa direção, e me separando levemente dele, o abraçou, dizendo "Olá, querido. Fique à vontade".

Depois daquilo, papai também se aproximou e apertou firmemente a mão de Draco enquanto dizia "É um prazer finalmente conhece-lo, jovem Malfoy".

"Igualmente, Sr. Weasley", ele disse, retribuindo o aperto de mão. E então, Draco se virou para todos aqueles meninos que estavam na sala. Quero dizer, todos os meus irmãos estavam ali, com a exceção do Percy, mas tinha Harry, então eram MUITOS meninos.

Ninguém pareceu realmente disposto a se levantar e cumprimentar Draco, então, Fleur, que estava parecendo um anjo de tão boazinha, foi até a direção dele e se apresentou, dizendo "Olá...eu sou Fleur Delacour Weasley. Sou casada com Carlinhos", ela disse, enquanto ele apertava sua mão. Depois ela acrescentou "E aquele anjinho ruivo ali no sofá, é meu filho, Nick".

Draco olhou meio desconfiado para o Nick, porque eu acredito que ele não goste muito de crianças, mas ele se aproximou do meu sobrinho que gritou (ele fala sempre tão alto!) "Sgomãe!Asgo!".

"Que adorável", Draco disse, bagunçando o cabelo do Nick, enquanto todos os meus irmãos tentavam rir discretamente. "O que ele disse?", Draco sussurrou para mim, confuso. Eu, que, assim como todos os meus irmãos, tinha entendido perfeitamente o ('Trasgo, mãe! Trasgo'), dei de ombros fingindo que aquilo não era importante, porque deixaria Draco MUITO irritado.

E então Nick se levantou e foi desajeitadamente até o meu pai, enquanto pedia "Bô! fenta, bô. Fenta!". Toda vez que o Nick vem aqui em casa, papai mostra coisas trouxas pra ele e ele fica muito interessado. Principalmente nas 'ferramentas' (ou fentas, segundo o próprio Nick). E como só assim ele parece ficar quieto, papai olhou com um olhar de desculpas para nós e disse "Er...eu vou buscar agora, Nickolas". Papai foi saindo e Nick saiu correndo atrás dele, meio andando, meio caindo.

Então eu pensei que finalmente ia apresentar Draco para meus irmãos, mas mamãe disse "Fleur, querida, pode vir me ajudar na cozinha um instante?". Não sei, algo me fez pensar que mamãe é uma louca-sadista e queria que meus irmãos matassem a mim e a Draco usando só a agulha de crochê dela. Absurdo nos deixar sozinhos assim, sem um adulto (sensato!) por perto.

Quando mamãe e Fleur saíram, nós oito nos olhamos desconfortavelmente. Eu fiquei imaginando quem seria o primeiro a se manifestar. Bem, pro meu azar foi o Carlinhos.

"Então, Draco...", Carlinhos começou, levantando-se perigosamente até que Gui, que é meu irmão mais ajuizado, o puxou de volta e tentou terminar o que Carlinhos estava dizendo, mas com certeza trocando o assunto "Er... como vai... os... a... heh... Mansão? Soube que é uma vasta propriedade", ele comentou, tentando ser agradável.

"Oooh sim, uma vasta propriedade... com magia negra até na grama, eu imagino" Rony disse, sarcástico.

Draco somente olhou Ron com um sorrisinho irritante que, pra variar, fez o Rony ferver de raiva (você percebe isso quando as orelhas dele ficam muito vermelhas) e eu apenas puxei Draco para se sentar no outro sofá, o mais longe possível de Ron e Carlinhos, até que eu lembrei que sequer tinha apresentado meus irmãos a ele.

"Er...Draco, acho que você já conhece Rony e Harry", eu disse, dissimuladamente "E esses são Fred, a sua direita e Jorge, a esquerda", eu disse. "São eles que têm a loja 'Gemialidades Weasley'", eu expliquei. Draco os cumprimentou com um leve aceno de cabeça, enquanto Fred espirrava algo como 'Doninha'.

Eu tossi e continuei "O com calça de couro é Carlinhos, ele trabalha com...", eu estava dizendo, mas fui interrompida.

"Dracos", Carlinhos disse e depois fez uma falsa cara de arrependimento "Oh, desculpe. Eu quis dizer... dragões". Todos os meus irmãos riram. Argh. Que piada sem graça.

Eu engoli em seco esperando a reação de Draco, mas ele olhou calmamente para todos os meus irmãos e disse, com um sorriso arrogante e as sobrancelhas arqueadas "Draco dormiens nunquam titillandus". Aquilo soou como um aviso. Ou uma ameaça. Carlinhos rosnou para Draco, e pareceu que ia se levantar, mas Gui o segurou novamente.

Quando eu achei que a noite estava destruída, papai apareceu segurando Nick no colo, que, por sua vez, parecia muito entretido com algum tipo de ferramenta. Algo como um alicate, embora eu não tenha percebido na hora.

Ele colocou Nick no chão, que correu pra se sentar no colo do Carlinhos, no mesmo instante em que mamãe apareceu e disse "Bem, bem, vamos jantar!".

Eu fiquei aliviada de ter sido arrancada daquela sala repleta de irmãos, porque era muito perigoso eles ficarem muito perto do Draco. Mas aí eu me dei conta de que a cozinha é muito menor do que a sala. E por falar em cozinha, pela cara que Draco fez ao entrar na nossa, ele pareceu nunca ter estado em uma antes. Ele se virou pra mim, com a testa franzida e perguntou, baixinho "Não era pra ter elfos aqui?".

"Er...nós não temos", eu disse e vi a compreensão surgindo na expressão dele, enquanto ele dizia somente "Ah...".

Todos nós nos sentamos e sabe-se-lá-porque, eu vi nascer um sorrisinho irônico no Carlinhos, enquanto ele fazia o Nick se sentar entre Draco e mim. Nick olhou bem pra Draco, depois olhou novamente pra mim e perguntou, meio sério "Quêle?".

"Este é Draco, querido...ele é meu namorado", eu expliquei, enquanto ouvia vários irmãos bufando ao som da palavra 'namorado'. Eu procurei ignorar isso. Nick voltou sua atenção para a ferramenta, e Draco me lançou um olhar que dizia 'Como é que você entende o que ele fala?'.

Enquanto todo mundo se servia, papai iniciou uma conversa casual com Draco, que respondia tudo sem vacilar. Eu notei que o fato de Draco ser muito confiante, agrada o meu pai. E eu que achava aquilo irritante! Eu não quero nem entender porque meu pai simpatiza com isso...se ele gosta de Draco, pra mim está ótimo.

Mamãe perguntou onde ele estava morando, e Draco começou a contar sobre o trabalho que está tendo para reformar a Mansão Malfoy e eles ficaram conversando sobre isso por um tempo. Os meus irmãos apenas ouviam a conversa, enquanto lançavam, casualmente, olhares fatais para Draco que, felizmente, estava muito concentrado em responder as perguntas dos meus pais, para notar aquela agressividade gratuita.

Depois papai quis saber como ele havia chegado aqui em casa e Draco respondeu que havia aparatado.

"Mas você já conhecia as redondezas? Ou é a primeira vez que vem por aqui?", papai perguntou, só levemente interessado, mas eu senti que estava ficando roxa, porque me lembrei de quando ele passou a noite aqui em casa. Então eu me virei para Nick (pra disfarçar, sabe?), que não estava interessado naquela conversa, já que estava apenas brincando de espalhar toda a comida pela mesa.

"Na verdade, Virgínia me explicou exatamente onde...", Draco estava respondendo, quando notou que Nick havia começado a puxar a manga da sua blusa. "Sim?", ele perguntou, polidamente, mas acho que ele estava pensando no quanto Nick era mal educado por tê-lo interrompido.

"Asgo, asgo! Dedo...dedo!", Nick respondeu, com uma carinha inocente. Eu percebi logo qual era a intenção do meu sobrinho. E garanto que não era boa.

Draco olhou pra mim (que deveria estar com cara de intérprete), e ia perguntar o que o Nick estava falando, quando Jorge falou "Ele quer que você estenda o dedo. O indicador, sabe?", Jorge disse com um sorriso tão inocente quanto o do próprio Nick.

Eu ia dizer alguma coisa pra evitar o que ia acontecer a seguir, mas Draco pareceu aceitar toda aquela situação estranha e estendeu o dedo para Nick, enquanto voltava a dizer "Como eu ia dizendo - AI", ele gritou, de repente, olhando para o dedo indicador, que havia sido apertado com o alicate que Nick estava brincando. Pode parecer absurdo, mas aquele ruivinho danado tem muita força.

Todos os meus irmãos começaram a rir tanto que estava contagiando até o meu pai, que não sabia se ficava sério ou se se rendia àquelas risadas, enquanto Fleur levantava e tirava Nick de perto do Draco, que estava olhando pra ele com um olhar assassino. Essa coisa do alicate...bem, não é a primeira vez que acontece. Eu deveria ter prevenido Draco. Tadinho.

"Eu, er...eu vou... vou pegar gelo", eu disse, desconcertada, me levantando rapidamente. Quando eu voltei com o saco de gelo, mamãe e Fleur tentavam se desculpar com Draco, que permaneceu impassível, e fora o 'ai' e os olhares assassinos para Nick não reclamou sobre nada.

"Eu...sinto muito", eu disse, enquanto colocava o saco de gelo sobre o dedo indicador dele "Ele sempre faz isso", eu completei, sem graça, em tom de desculpa.

Draco grunhiu antes de responder um "Tudo bem" muito fajuto, enquanto observava Fleur acomodar Nick do outro lado da mesa.

Depois daquilo eu achei que a noite não podia ficar pior, mas sempre fica. Pelo menos quando se trata dos meus irmãos.

"Mas e aí, Malfoy?", Carlinhos perguntou, com outro falso sorriso "Você herdou os negócios do seu pai, não? Anda trabalhando com muita magia negra?", ele completou, acidamente.

Mamãe pareceu se engasgar com o suco que tomava, e eu acho que ela ia dar uma bronca no Carlinhos, quando Fleur disse, com um olhar e tom de voz ameaçadores "Repolhinho...". Repolhinho? REPOLHINHO?

Eu ri abertamente, enquanto os meus irmãos, que são muito leais, ficaram constrangidos e se compadeceram de Carlinhos, que estava muito vermelho.

Draco, por sua vez, o encarou com um brilho nos olhos que eu não saberia definir...vingança? Pilhéria? Vai saber...

"Tá olhando o quê, Malfoy?", Carlinhos perguntou, muito bravo.

Draco deu de ombros e respondeu, falsamente inocente "Eu olho para todos os lados...". A isso, Carlinhos pareceu que ia se levantar e fazer algo bem ruim, mas mamãe foi mais rápida.

"Bem, bem, todos terminaram? Sim? Ótimo, porque vocês não vão indo pra sala?", ela disse, muito rapidamente "Meninas, me ajudem a tirar a mesa", mamãe pediu, enquanto meus irmãos, meu pai e Harry se levantavam. Draco lançou um olhar pra mim que podia ser traduzido como 'Se eu não voltar vivo, saiba que foi muito bom te conhecer. Adeus', se levantou e seguiu papai para sala.

Enquanto os pratos se ensaboavam, eu e Fleur ajudamos mamãe a servir a torta de maçã. Eu aproveitei a oportunidade.

"O que achou, mamãe?", eu perguntei, ansiosa.

"Ah, acho que dessa vez você acertou na massa da torta, querida", ela disse. Duh.

"Eu estava me referindo a Draco, mamãe", eu expliquei, pacientemente.

"Oh, sim, querida. Me desculpe", ela disse, rindo "Eu acho que ele realmente é um bom garoto. E é charmoso!", ela falou, como se ainda estivesse surpresa com aquele fato. 'Eu sei mamãe!', eu pensei, convencida. 'Eu tenho muito bom gosto...'.

Quando mamãe saiu carregando a bandeja com as tortas, Fleur se virou pra mim e comentou "Ele parrece gostar muito de você", e então ela sorriu antes de acrescentar "Ele está enfrrentando seus irmãos muito brravamente". Eu só pude sorrir, em resposta.

Então nós duas voltamos para a sala e a primeira coisa que eu notei quando cheguei lá, foi que Draco não estava em parte alguma. Eu entrei em pânico.

"Você!", eu gritei apontando para Carlinhos "E você!", eu gritei novamente, dessa vez apontando para o Ron "O que vocês fizeram com Draco? Onde ele está? Hein?", eu perguntei, colocando as mãos na cintura, muito brava.

Meus irmãos ficaram observando a cena que eu estava fazendo no meio da sala, até que Gui, que é um pouco piedoso, me esclareceu a situação "Calma, Ginny. Papai o chamou para uma conversa", ele disse, sorrindo fracamente, enquanto eu olhava em volta e também não via papai.

"É", Fred disse, sorrindo largamente "O chamou para uma conversa, sim". Ele parecia muito satisfeito com aquilo e eu não estava entendendo porque.

"No escritório", Jorge disse, esclarecendo a questão. O escritório de papai só é usado para coisas importantes, e para quando ele queria dar uma bronca mais séria nos meus irmãos, em particular. Não preciso nem dizer que os gêmeos freqüentavam diariamente aquele escritório, não? De uma forma doentia, eles deviam estar se sentindo vingados.

Depois disso, eu não tinha muito o que fazer, na verdade, e enquanto mamãe servia a sobremesa aos meninos, eu me sentei no sofá novamente, rezando para Draco sair inteiro daquela conversa. Quase vinte minutos depois, papai voltou para a sala, seguido de um Malfoy muito quieto, com as mãos nos bolsos, o que me deixou meio preocupada.

"Sobremesa? Sim, sim, Molly, querida, sirva um pouco para o jovem Malfoy", papai disse, muito mais animado do que Draco parecia estar.

Quando Draco se sentou ao meu lado, eu segurei a mão dele e sussurrei "Draco...você está bem?".

"Estou ótimo", ele respondeu, também falando baixo, enquanto agradecia a sobremesa que mamãe estava oferecendo a ele.

"Mas...bem, er...sobre o que exatamente vocês conversaram lá?", eu perguntei, não me contendo de curiosidade.

"O que você quer dizer com 'exatamente'? Você quer ouvir fala por fala?", ele perguntou, meio aborrecido, meio divertido. Eu dei graças a Deus por todos os meus irmãos estarem meio entretidos com Nick, porque assim ninguém reparava naquela nossa conversa paralela.

"Não seria uma má idéia", eu disse, esperando que ele me dissesse algo...substancial.

"Conversamos sobre...coisas", ele disse.

"Não me diga", eu respondi, irônica. Mas antes que ele pudesse me responder, mamãe saiu recolhendo as vasilhinhas sujas de sobremesa, parando em frente a Draco "Já terminou, querido?", ela perguntou.

"Sim, senhora Weasley. A torta estava deliciosa", ele disse, gentil.

"Que bom que gostou, querido, mas foi Ginny quem fez", ela disse, piscando para mim. Eu ainda não entendi porquê.

"É mesmo?", ele se virou, surpreso, para me olhar. Por algum motivo inexplicável, eu me senti envergonhada e me virei para olhar pro outro lado.

Durante algum tempo, todos estavam conversando na sala, e eu, no vácuo, resolvi prestar atenção em Nick, que corria de um lado pro outro bagunçando a estante, derrubando coisas, enfim... Mas ele parecia ter implicado com Draco, porque continuamente o perturbava e mostrava coisas a ele. E como Draco já não estava muito feliz com o pobrezinho depois do incidente com o alicate, ele dava sorrisos muito falsos e ficava sem graça cada vez que Nick chamava sua atenção.

Eu, percebendo a situação, resolvi agradar Nick dando balas com efeitos sonoros. Ele não tinha coragem de provar, e logo os bebezões (também conhecidos como Harry e meus irmãos) começaram a brincar, enquanto Draco tentava ter uma conversa civilizada com meus pais.

Nick sentou na mesinha da sala meio encolhido esperando algo assustador, enquanto Draco, polidamente, pediu que eu lhe mostrasse onde ficava o banheiro. Assim que levantamos, Harry soltou um rugido altíssimo, enquanto os meus irmãos faziam uma baderna (...pessoas sem infância...) e Nick se apavorou.

Quero dizer, apesar de sapeca, ele tinha apensa dois anos! Então ele correu desembestado e, para a surpresa de todos, se escondeu atrás das pernas de Draco, cena que eu achei muito, mas muito fofa! Ele abraçou as pernas de Draco, que se desequilibrou um pouco, e ficou sem graça.

Nick falava muito rápido, de uma forma que nem eu entendia e Draco, que aparentemente não sabia como lidar com crianças, falava coisas como "Calma, calma, já passou", mas quando pegou Nick no colo, ele realmente se acalmou e puxou uma mecha daquele cabelo loiro platinado. Draco ficou um pouco irritado, mas Carlinhos ficou mais ainda quando viu seu filho no colo do Malfoy. Resolvi ignorar o ataque do Carlinhos que estava sendo contido, novamente, por Gui e Fleur.

"Asgo! Asgo!", Nick falava, gesticulando e sorrindo para Draco.

"Não é asgo", Draco explicou, sorrindo amarelo "É Draco", ele explicou, e se virando para mim, sussurrou "O que diabos é asgo?". Novamente eu não respondi, mas foi porque Nick parecia muito interessado no que Draco havia dito.

"Taco?", Nick, perguntou, incerto.

"Draco!", ele respondeu, meio impaciente.

"Daco?", Nick, perguntou, se esforçando em falar certinho.

Draco grunhiu baixinho antes de responder, relutantemente "Bem melhor". Pronto. Draco tinha conquistado até meu sobrinho.

Nick passou o resto da noite conversando com Draco, enquanto eu traduzia simultaneamente (embora eu tenha que admitir, que, após um tempo, Draco passou a entender o que Nick estava querendo dizer). Quando estava próximo de dar 23h, Draco ergueu as sobrancelhas e disse (eu acho que ele programou cada movimento! Juro) "Está realmente ficando tarde. Eu sinto muito não ter notado o tempo passar". Ele estava tão estranho. Tão educado e preocupado em ser gentil. Eu o amei ainda mais por isso. Quero dizer, era importante para mim termos a aprovação da minha família.

"Ora, querido, não se desculpe, nenhum de nós realmente notou", mamãe respondeu, amavelmente.

"Eu penso que deveria ir agora", Draco falou, olhando para o meu pai, enquanto colocava Nick no chão. Papai acenou com a cabeça, se levantou e estendeu a mão para ele, como no início da noite.

"Novamente eu tenho que dizer que foi um prazer conhecer o namorado de minha filha", papai disse.

"O prazer foi todo meu, Sr. Weasley" e aqui ele se virou para mamãe "Sra. Weasley", ele andou até ela, beijando-a ligeiramente na face. Acho que ela adorou esse atrevimento da parte dele. Eu estava achando tão engraçado, que tive que olhar para o outro lado para não rir, e meu olhar se cruzou com o de Harry. Ele sorriu brevemente, e depois se levantou para apertar a mão de Draco. Aquilo realmente me surpreendeu.

"Até outro dia, Malfoy".

"Em breve, Potter", Draco respondeu e teria soado como uma ameaça, se ele não estivesse apertando amistosamente a mão de Harry.

Depois, Draco se despediu dos meus outros irmãos, mas eu cuidei para que eles não ficassem muito próximos ou algo do tipo, e então eu disse que ia acompanha-lo até a porta. Não que isso fosse necessário, porque ele pode aparatar de qualquer lugar, mas eu achei que seria mais...confortável podermos finalmente conversar.

Quando chegamos la fora, andamos de mãos dadas até a beira do lago, até que ele parou de andar e se virou para mim. Eu sorri, pensando em como aquela noite tinha corrido bem, apesar dos pesares (lê-se: meus irmãos).

"Você se saiu muito bem", eu disse, antes que ele perguntasse.

"É mesmo?", ele perguntou, modesto.

"Sim, definitivamente", eu disse, ainda sorrindo. "Minha mãe foi conquistada...ela acha você charmoso! E olhe só para Nick, ele já te adora", eu disse, rindo. Ele deu um sorriso meio de lado.

"Ótimo", ele respondeu, simplesmente, e acariciou levemente meus cabelos.

"Você estava tão educadinho", eu disse, debochando dele.

"Eu não estava 'educadinho'. Você quer dizer educado. Eu sou muito educado", ele disse, como se estivesse me ensinando alguma matéria da escola.

"É, eu noto isso", eu disse, mas ainda estava debochando dele. Ficamos alguns minutos em silêncio, e então eu notei como ele estava quieto. Levantei meu rosto e olhei bem nos olhos dele.

"Algo errado?", eu perguntei.

"Não. Eu só estava pensando em como era mais cômodo vê-la todos os dias, em Hogwarts, ao invés de uma vez a cada duas semanas", ele disse, sincero.

"Nem me fale nisso", eu gemi "Só de pensar que vamos ficar longe um do outro, o ano inteiro...", minha voz foi sumindo.

"O ano inteiro? Ficar longe? O que você quer dizer?", ele perguntou, confuso. Confusa estava eu, com aquela reação.

"Alô?", eu disse "Eu vou estar presa em Hogwarts enquanto você vai estar aqui, livre", eu disse. Ei. Isso era perigoso...eu não tinha pensado nisso.

"Certamente é fácil para você esquecer, o que não é o meu caso, mas eu tenho uma TIA em Hogsmeade...", ele disse, erguendo uma das sobrancelhas para mim.

"Como é?", eu perguntei, surpresa.

"Não se lembra da minha tia-avó em segundo grau?", ele perguntou, com uma careta. Bem, é claro que eu me lembrava dela, mas o que ele exatamente estava sugerindo?

"Qual a ligação com o que eu estava falando?", eu perguntei, com o raciocínio lento.

"Visitas a Hogsmeade, Ginny", ele falou, tentando clarear a minha visão.

"Oh...", aquilo era óbvio e eu não tinha me ligado.

"E em dias normais, também", ele disse, acariciando minha bochecha. Ele adora fazer isso.

"O que isso significa?", eu perguntei, ingenuamente.

"Que eu vou ter que lhe ensinar alguns meios de sair de Hogwarts, sem ter que pedir permissão", ele disse, com um pequeno sorriso, no canto da boca.

"Oh, Deus, eu vou virar uma infratora", eu disse, escondendo um sorriso.

"Não esqueça de que você já é", ele falou, obviamente se lembrando da nossa pequena aventura. Eu só pude rir. E fiquei la, rindo baixinho, enquanto ele olhava para mim. E então eu me lembrei da conversa que ele teve com o meu pai, e me lembrei também que ele havia me enrolado, porque eu ainda não sabia sobre o que eles conversaram.

E então eu comecei a enche-lo para que ele me contasse, e Draco sabia que eu ia perturba-lo para o resto da vida, se ele não me contasse aquilo, então ele disse, exasperado "Ok, ok. Eu conto", e me lançou um olhar contrariado "Bem, ele veio com aquele papo de pai zeloso, querendo saber minhas intenções com você", ele disse, parecendo muito calmo, embora eu ache que a conversa não tenha sido muito agradável.

"E quais são elas?", eu perguntei, falsamente inocente.

"Virgínia...", ele disse, num tom ameaçador.

"Tá, tá. Continua", eu disse, derrotada.

"E então eu perguntei se poderia voltar para vê-la aqui", ele disse, com os olhos faiscando.

"Ele deixou?", eu perguntei, ansiosa, mas, na verdade, já sabendo a resposta.

"Ora, Virginia, um Malfoy tem tudo o que quer", Draco disse, com uma sobrancelha arqueada.

"Ei!", eu gritei, vendo ele inflar com toda aquela presunção.

"Eu estou brincando", ele disse, rindo. E, eu não sei se posso explicar isso, mas quando ele ri, não é como se eu pudesse ficar brava com ele.

"Bem...e o quê mais?", eu perguntei, soando menos aborrecida.

"Então ele me perguntou sobre o que eu planejo da minha vida, se vou estudar, trabalhar, viver-da-fortuna-da-minha-família-para-o-resto-da-minha-vida...", ele enumerou as possibilidades, enquanto eu pensava a respeito.

"E sobre o que você se decidiu?", eu perguntei.

"Me decidi por multiplicar o dinheiro da minha família, é claro", ele respondeu, como se fosse óbvio. Bem, se tratando de Draco, aquilo ERA bem óbvio.

"Certo", eu disse e suspirei, meio cansada, depois daquela noite longa "Algo mais?".

"Sim", ele disse e depois completou, calmamente "Seu pai me perguntou 'Tem noção de que somos Weasleys e você um Malfoy?'", Draco disse, olhando para o céu.

"Meu pai não perguntaria algo assim", eu disse, chocada. "Perguntaria?", eu disse num fiapo de voz, porque eu notei que ele não tinha gostado daquela pergunta. Quero dizer, aquilo era meio o que os meus irmãos passaram a noite inteira fazendo. Julgando-o pelo o que ele foi, pelo o que o pai dele fez.

Como ele não respondeu, eu perguntei "E o que você respondeu a ele?".

Ele olhou para mim, seriamente e disse "Bem, eu respondi 'Tenho noção, sim, senhor Weasley. Por isso eu vim, outro dia, visitar sua filha, escondido, a noite...'", Draco estava dizendo, enquanto eu sentia meu rosto ficar muito, muito quente.

"VOCÊ O QUÊ?", eu gritei, desesperada.

E então eu o vi começar a rir baixinho novamente e percebi que, graças a Merlin, ele não tinha dito aquilo. Eu esperei a cor do meu rosto voltar ao tom normal e perguntei "O que diabos você respondeu, Draco?".

Ele ainda abriu um largo sorriso, antes de responder "Eu disse 'Se eu não tivesse noção, não estaria aqui enfrentando inúmeros irmãos ciumentos, o julgamento das pessoas, enfrentando o meu orgulho Malfoy e, principalmente, não estaria aqui pedindo sua autorização para visitar a sua filha'".

"Você disse isso mesmo?", eu perguntei, surpresa, pensando que eu não teria sido tão corajosa no lugar dele.

"Sim, eu disse", ele respondeu, me puxando pela cintura.

"Bem, eu sempre soube que você sabe exatamente o que dizer para conquistar uma garota...mas para conquistar o pai dela, é novidade para mim", eu disse, sorrindo.

"Certo", ele falou "Mas, no momento, acho que você deveria entrar. Ou seu pai vai começar a pensar que eu a raptei", ele disse, com os olhos faiscando.

"Não. Ele confia em você, lembra? Caso contrário não teria deixado você voltar aqui", eu disse, sorrindo, mas sabendo que deveria entrar.

Então ele me beijou docemente, e eu senti todo meu amor naquele beijo, como se eu estivesse agradecendo por ele ter sido tão gentil, corajoso, por ter enfrentado meus irmãos...não sei, mas acho que a metáfora do príncipe que salva a princesa de feras e monstros horrorosos, encaixaria bem para nós dois, naquele momento.

E então ele me disse adeus e desaparatou. Eu fiquei olhando para o nada, depois que ele foi embora. E depois entrei em casa. Papai já havia se recolhido e mamãe estava se despedindo de Gui, Carlinhos e Fleur (Nick estava dormindo como um anjinho nos braços de Carlinhos).

Eu abracei Gui e beijei Carlinhos, na bochecha, apesar de tudo o que ele havia feito naquela noite. Quero dizer, ele foi um idiota, mas eu sei que, no fundo, todos eles só querem o meu bem. E eu espero que eles entendam, LOGO, que Draco é que me faz bem.

Conversei brevemente com mamãe e eu fui para o meu quarto, absolutamente satisfeita com o sucesso da noite. Quero dizer, podia ter sido pior.

Quando eu tinha parado de suspirar e tinha resolvido colocar meu pijama, alguém bateu na minha porta. Era o Ron.

"O que você quer?", eu perguntei, baixinho, cruzando os braços.

Ele deu um grande suspiro e continuou parado na minha porta, por alguns segundos, antes de dizer "Eu... vi vocês dois la fora, agora", ele disse, como se aquilo explicasse alguma coisa. Aquilo foi o fim. Primeiro ele age como um idiota, quando eu conto sobre Draco, depois ele passa a noite inteira apoiando Carlinhos e agora ele estava me observando? Aquilo estava se tornando uma guerra pessoal.

"Você estava me vigiando, Rony?", eu perguntei, brava.

"Não, eu só...", ele tentou dizer, mas não conseguiu, então passou a mão pelos cabelos e suspirou novamente, antes de dizer "Ginny, eu não o aceitei hoje. E provavelmente não vou aceitar amanhã", ele disse e eu fiquei me perguntando o que exatamente ele estava querendo me dizer.

"Eu só quero dizer que...bem, quando eu vi vocês la...não sei, eu me lembrei um pouco de mim e Hermione", ele disse, parecendo muito desconfortável, como se ainda não acreditasse que estava dizendo aquilo em voz alta.

"E...?", eu o encorajei. Ele, que parecia imerso em pensamentos que não são do meu conhecimento, pareceu acordar e balançou a cabeça levemente, como se tentasse afastar aqueles pensamentos.

"E eu quero dizer que sinto muito", ele disse, encarando o chão "Por tratar você como tratei, por fazer o que você disse que eu fiz", ele finalizou.

Eu, claro, estava em choque. Se aquilo foi um pedido de desculpas, ele tinha sido completamente aceito e muito bem vindo. No choque, eu só consegui dizer um "Tá", meio engasgado.

Ele balançou a cabeça afirmativamente e, ainda olhando para o chão, encostou a porta do meu quarto. Merlin. Esse garoto é estranho.

Bem, menos um problema, eu acho. Mas tudo aquilo foi tão estranho que eu ainda estou desconfiando.

Agora eu vou dormir. Será que dessa vez eu consigo? As cenas de hoje à noite ficam se repetindo na minha mente e eu acho que vai ser difícil pegar no sono. Vamos ver.


Eu demorei pra dormir, ontem à noite, mas tudo bem, porque eu acabei dormindo até bem tarde. Quando acordei, fui tomar café, mas não tinha ninguém pra me fazer companhia, então eu peguei só uma maçã.

Eu estava pensando que ia ter que arrumar alguma coisa pra fazer esse verão, quando Harry apareceu com a vassoura dele, seguido por Ron. Os gêmeos foram para a loja. E então eu me convidei para jogar também e fomos todos para o jardim.

Improvisamos os aros para Ron, enquanto eu e Harry ficamos na posição de artilheiros (não tem muita lógica termos um apanhador, quando não temos sequer um time completo).

Estava bem divertido, e Harry se saiu um ótimo artilheiro. Toda vez que ele marcava um gol, Ron ficava roxo (risada abafada). Acho que era pelo fato de Harry nunca ter realmente jogado nessa posição, e isso, de certa forma, ofendia Rony (outra risada).

Depois, Ron disse que estava cansado, e Harry e eu paramos de jogar, também. Eu fiquei no jardim, ainda mais um pouco, jogando pedrinhas no lago (eu realmente gosto de fazer isso).

Depois de um tempo, eu senti mãos cobrindo meus olhos e eu levei um susto enorme. Tanto que gritei um "Ei", bem bravo. Mas como não responderam, eu achei que devia adivinhar quem era. Não que tenha sido difícil. Em qualquer parte do mundo eu saberia distinguir as mãos dele, das de outro alguém. Quero dizer...dedos longos, unhas bem feitas. Mãos macias. Temperatura fria. Isso era Draco.

"Ora, por favor, Draco...acha mesmo que existe sequer a possibilidade de eu errar?", eu perguntei, rindo. E então ele tirou as mãos dos meus olhos e me virou para ele. Nos olhamos por alguns segundos, mas depois ele me puxou para si e me beijou.

Quando nos separamos, eu olhei pra Draco e tive que sorrir. Eu fiquei surpresa por vê-lo, assim, tão cedo. Quero dizer, ele nem tinha avisado que viria hoje. "Alguns minutos mais cedo e você teria entrado no meu time", eu disse, o que podia ser interpretado como um 'Oi'.

"Time?", ele perguntou, passando os braços pela minha cintura.

"Estávamos jogando Quadribol", eu expliquei, passando os braços ao redor do pescoço dele e então ele viu minha vassoura, encostada na árvore.

"E qual era o seu time?", ele perguntou.

"Bem...eu e Harry, na verdade", eu disse.

"E o time adversário?", ele perguntou.

"Ron" eu disse, sorrindo.

"Isso significa que tudo se resolveu entre você e seus irmãos?", ele perguntou, com uma sobrancelha arqueada.

"Bem, quanto aos outros eu não tenho muita certeza. Mas Ron e eu tivemos uma conversa confusa, ontem", eu disse, sincera. "Mas o que você quer dizer com 'entre vocês'? Eu acho que o problema deles é com você e não comigo", eu falei e o puxei para dentro de casa.

"Uma hora ou outra isso vai se resolver", ele disse, dando de ombros, mas eu acho que ele não estava muito convencido disso.

Nós entramos pela cozinha e eu o levei até a sala. Os meninos pareciam estar la em cima. Nos sentamos num sofá e ele passou um braço por sobre meus ombros.

"Ah, eu quero dar uma palavra com você", eu disse e depois acrescentei, pensativa "Na verdade, várias".

"Geralmente você faz", ele disse, tentando me aborrecer, mas um barulho nos interrompeu. Quando eu olhei para a lareira, Hermione apareceu, batendo o pó de suas vestes.

Quando ela nos notou, ela disse "Opa" e acho que ela estava achando aquela cena meio estranha. Quero dizer, o Malfoy na minha sala. Me abraçando e tudo o mais. Hum.

"Oi, Ginny", ela disse, e depois de uns segundos, ela completou "Boa tarde, Malfoy".

"Granger", ele respondeu, desconfortável, pelo que eu pude notar.

Eu ia dizer alguma coisa para melhorar o clima, mas o Ron estava descendo as escadas. Acho que ele também tinha escutado aquele barulho.

Ele parou no último degrau, olhando para todos nós. Quando ele viu o Draco, fechou a cara, e andou calmamente até Hermione. Quando estava de frente para nós, ele grunhiu um "Malfoy..." e em seguida agarrou a mão de Hermione, fazendo-a subir as escadas, com ele.

"O que foi aquilo?", Draco me perguntou, depois que eles haviam desaparecido la em cima. Eu ainda estava olhando para a escada, meio chocada.

"Acho que ele falou com você", eu disse, olhando surpresa para ele.

"Foi o que eu pensei", ele falou, meneando a cabeça, também confuso. Depois ele perguntou "O que você estava dizendo?".

"Ah, eu ia te perguntar uma coisa" eu disse "É que...bem, Harry me disse que sabia sobre nós dois, antes de eu contar", eu falei.

"E...?", ele perguntou, não olhando para mim.

"E ele disse que você sabia que ele sabia", eu disse, soando meio confusa, acho.

"E...?", ele repetiu. Eu quis bater nele.

"Porque você não me contou?", eu perguntei, sentida.

"Porque ele te contou isso? Vocês viraram melhores amigos, ou o quê?", ele perguntou, meio mal humorado. Mas la estava ele, novamente, respondendo minhas perguntas com outras perguntas.

"Ele meio que...defendeu você, na frente dos meus pais", eu expliquei. "Mas não é isso que está em questão", eu falei "Eu achei que não houvesse mais segredos entre nós dois".

"E não há", ele respondeu, com a maior cara lavada.

"Que parte da conversa você perdeu?", eu perguntei, exasperada "Ou você não entendeu que HARRY me contou uma coisa que VOCÊ deveria ter me contado?".

"Mas agora você sabe. Que diferença faz?", ele perguntou, usando a lógica que lhe é peculiar.

"Argh", foi tudo o que eu pude responder, emburrada.

Quando Harry me contou aquilo, eu não havia ficado realmente chateada com Draco, por ele não ter me contado, pelo simples fato de que eu sabia o que estava relacionado a essa conversa dele com Harry. Mas...não sei, quantas outras coisas eu ainda iria descobrir? O que mais ele não me contou?

"Existe mais alguma coisa que eu deveria saber e ainda não sei?", eu perguntei, baixinho. Ele ignorou o que eu disse.

"Eu quero que você venha conhecer minha casa", ele disse, olhando para mim.

"Você está mudando de assunto?", eu perguntei, subitamente irritada.

Depois de um minuto em que ele passou simplesmente me encarando, ele suspirou, derrotado, tirando o braço de cima dos meus ombros, e disse, com uma cara de quem não está gostando daquela conversa "Virgínia, você tem que entender que existe muita coisa que você não sabe sobre mim. Sobre quem eu costumava ser, sobre os erros que eu cometi", ele suspirou novamente, antes de continuar.

"Mas eu não quero que você pense nisso, porque eu realmente não quero ser e não sou o mesmo", ele explicou, parecendo meio cansado "Entende?", ele perguntou. Hum.

"Mas, Draco, é como pedir para eu ignorar quase dezoito anos da sua vida. É isso que você está me pedindo?", eu perguntei, olhando nos olhos dele.

"Ontem eu enfrentei toda a sua família, por você, Virgínia. Não acha que mereço um voto de confiança, depois daquilo?", ele perguntou, e sorriu a despeito de todo aquele clima estranho.

"Sim. Eu acho que você merece", eu disse e encostei minha cabeça em seu ombro. Ele voltou a me abraçar e eu quis que o mundo parasse de girar, naquele instante. Eu queria congelar aquele momento, para sempre. Esquecer tudo e ficar pra sempre naqueles braços.

"Isso significa que você vai conhecer a minha casa?", ele perguntou, depois de um tempo, enquanto acariciava meus cabelos.

"Sim, é claro que eu vou", eu respondi e teria concordado com qualquer outra coisa que ele tivesse sugerido.

Depois disso, ficamos mais um tempo em silêncio e ele disse que tinha que ir. Quando ele foi embora, eu vim para o meu quarto e fiquei pensando em todas as coisas que ele me disse.

Quem se importa com as coisas que ele fez? Às vezes, tudo o que a gente quer, não é esquecer nossos próprios erros? Ele estava querendo a chance de se esquecer de tudo o que não faz mais sentido para ele e estava pedindo minha ajuda para isso. Porque eu deveria nega-la? Eu o amo. Quero estar ao lado dele, sempre. Quero vê-lo feliz, afinal de contas.

(suspiro)

Parece que eu estou falando de uma criança, mas agora que ele já sabe o que é certo e o que é errado, chegou a hora dele fazer uma escolha...e ele escolheu o lado certo.

"And I don't want the world to see me

'Cause I don't think that they'd understand

When everything's made to be broken

I just want you to know who I am"

Iris – Goo Goo Dolls


N/G: (nota da Giu): Olá leitores da dona Kelly! Eu vim me meter aqui na fic da moça, espero que gostem da intromissão ;D
Tudo surgiu de surtos no MSN, e espero que seja divertido ler tanto quanto foi escrever!
Obrigada Kelly por deixar que eu colaborasse numa fic tão boa! Já que as minhas são cof cof sem noção e sem fim oO!
Enfim, amei participar! Enjoy it!
Kisu especial para Kelly e para nossos motherfuckers, que provavelmente nunca vão peceber que participaram dessa historia
Obs: vcs amaram a cena fofa do Draco e do Nick tanto quanto nós?


N/A:

'Fragmentos de um conflito iminente'. É o nome de uma música do Dead Fish.

'Por tratar você como tratei, por fazer o que você disse que eu fiz'. Gilmore Girls.

'Ah, eu quero dar uma palavra com você. Na verdade, várias.

Geralmente você faz'. Para Sempre Cinderella.

"Eu olho para todos os lados", frase muito especial, pois foi o motherfucker da Giu quem a proferiu. :P

Ah, preciso explicar uma coisa. No capítulo 15, eu mencionei brevemente a Fleur, mas eu tive que ignorar aquilo, porque a Fleur encaixa perfeitamente nesse capítulo e ela e o Carlinhos foram feitos um para o outro. Ok?