Entre o renascimento e a morte
II - TRAÇANDO PLANOS
Assim que saiu da Mansão Kido, Hyoga entrou no carro e tirou seu celular do bolso. Vou iniciar minha missão a partir de agora... - decidiu. Verificou o número da companhia de viagens da Fundação Grado e discou.
Após reservar sua passagem, Hyoga girou a chave na ignição e partiu em direção ao shopping.
Situado a trezentos metros da Mansão Kido, o JP-Shopping ocupava um quarteirão inteiro, sendo composto por dois andares: o primeiro era reservado a um supermercado e às lojas; o segundo também possuía lojas, mas era destinado principalmente à praça de alimentação, ao salão de jogos e às salas de cinema. A garagem ficava no subsolo.
Hyoga estacionou o carro na primeira vaga que encontrou e se encaminhou para o elevador. Quando a porta se abriu, ele entrou e apertou o botão do primeiro andar.
Ao sair do elevador, começou a andar em meio à multidão. Caminhou por todo o primeiro piso, sempre observando as vitrines. Preciso parecer apenas um turista desacostumado ao frio - pensou ele. Comprou várias jaquetas e calças; pois certamente a temperatura estaria muito baixa no local da sua missão.
Quando percebeu que já havia comprado mais do que o necesserário, Hyoga decidiu ir ao segundo andar antes de ir embora. Estava com vontade de saber quais filmes estavam em cartaz no cinema. Andou na direção da escada rolante e subiu.
Antes mesmo de chegar, Hyoga podia ver bem o segundo andar da escada rolante. Estava exatamente como na última vez em que ele estivera ali: o salão de jogos lotado de adolescentes formando um ambiente descontraído, as filas do cinema enormes, onde havia pessoas conversando num clima de expectativa e as mesas da praça de alimentação praticamente lotadas, de onde ouvia-se gargalhadas a todo instante.
Na última vez em que estivera ali estava com Eiri. Hyoga tentou afastá-la do pensamento mais uma vez, mas não conseguiria por muito tempo. Quando saiu da escada rolante, ouviu uma voz chamando seu nome que ele reconheceu na hora. A voz de Minu.
Olhou na direção da voz e viu Minu e Eiri numa das mesas da praça de alimentação. As duas estavam olhando para ele, sorrindo.
Hyoga não podia acreditar na sua falta de sorte. Ainda não se sentia pronto para aquele encontro, mas agora que ela o havia visto não poderia evitá-la.
Acenou e caminhou até a mesa delas sorrindo. Quando chegou, cumprimentou as duas com um beijo no rosto e já ia dar alguma desculpa para ir embora quando Minu disse:
Há quanto tempo não nos vemos... Sente-se, vamos conversar um pouco.
Ele sorriu e se sentou. As duas olhavam para ele. Minu estava com os cabelos pretos presos, sem maquiagem e vestia uma blusa branca. Eiri trazia um batom de tom suave nos lábios e estava vestida com uma blusa preta. Hyoga reparou que ela havia cortado o cabelo, agora na altura dos ombros.
Ficamos surpresas quando o vimos aqui - disse Minu. - Seiya me disse que você não tem saído de casa nas últimas semanas...
Seiya é exagerado... - respondeu Hyoga. Ele sabia que Seiya dissera a verdade, mas não queria entrar em detalhes na frente de Eiri.
Eu fiquei preocupada com você - disse a ex-namorada de Hyoga, falando pela primeira vez. - Você está bem?
Estou ótimo - mentiu Hyoga.
Passou-se um momento de silêncio, e então Eiri comentou com Minu, preferindo mudar de assunto:
A pizza está demorando...
É verdade... - Minu olhou o relógio no seu pulso esquerdo.
Eu preciso ir... - disse Hyoga, querendo se levantar.
Não vá agora... Fique mais um pouco para lanchar com a gente - convidou Eiri
Não posso... - disse Hyoga rapidamente. - Eu vim aqui apenas para comprar roupas. - e já ia acrescentar algo quando Minu o interrompeu.
No segundo piso deste shopping não há lojas de roupas... Você comprou-as no primeiro andar... - disse olhando para as várias sacolas ao lado da cadeira de Hyoga - Mas o que veio fazer no segundo, a não ser lanchar?
Hyoga ficou em silêncio. Não tinha uma boa resposta. Poderia dizer que foi olhar os filmes em cartaz, mas isso poderia gerar uma série de perguntas envolvendo uma possível acompanhate para o cinema. Poderia também dizer que subiu no intuito de observar a agitação provocada pelos vários adolescentes no local, mas assim criaria uma imagem de carência. Se dissesse que tencionava jogar fliperama elas desconfiariam, ainda mais com todas aquelas sacolas. A hipótese de dizer que estava querendo comer alguma coisa havia sido esquecida, já que recusou o convite.
Olhou discretamente para os lados. Agora era a hora de seus olhos atentos buscarem algo que pudesse dar um pretexto perfeito a ele. À direita ficava o cinema... Atrás dele ele sabia que ficavam o banheiro e o salão de jogos. Se falasse que estava ali apenas para usar o banheiro do segundo andar elas certamente pensariam que ele era louco. À sua frente ficavam mais mesas e as lanchonetes. E à esquerda... Hyoga viu algo de relance à esquerda e virou o rosto. Seu olhar se iluminou. Lá havia, entre outras lojas, uma livraria.
Eu preciso ir à livraria - respondeu finalmente, apontando na direção. - Estou me preparando para uma nova missão. Já comprei as roupas necessárias para a viagem, e agora vou procurar revistas que falem sobre o local da minha missão. Devo achar alguma coisa naquelas revistas de turismo...
Eiri e Minu não perguntaram o destino da viagem. Já sabiam bem que ele não poderia revelar.
Quando partirá? - indagou Minu.
Saori planejou minha viagem para daqui a duas semanas. Bom, preciso ir agora. Tenho que me preparar... - disse começando a se levantar.
Hyoga... - chamou Eiri.
Hyoga virou-se na direção de Eiri e fitou-a nos olhos. Ela havia falado seu nome quase num sussuro. Era assim que ela o chamava no tempo em que estavam juntos. Ele procurou nos seus olhos um motivo para o fim, alguma explicação; mas não obteve resposta alguma. Percebeu apenas um arrependimento por algo que ele não conseguiu decifrar. Por fim Eiri disse:
Boa viagem. Tenho certeza de que você terá sucesso nessa missão.
Obrigado, Eiri. É muito bom saber que você confia em mim.
Todos confiam em você, Hyoga - disse Minu.
Hyoga olhou para Minu e disse:
Então tenho que me empenhar, para não decepcionar ninguém - disse sorrindo.
E levantou-se finalmente. Pegou as sacolas, despediu-se delas e partiu em direção à livraria.
Hyoga já não prestava mais atenção aos jovens alvoroçados enquanto andava. Pensava no olhar de Eiri, e no que dissera finalmente. Hyoga a conhecia suficientemente bem para saber que ocultara algo. Mas não se importaria mais com isso. Deveria apenas se concentrar no que viria pela frente.
Passou a semana lendo as revistas que comprara e fazendo exercícios físicos. Acordava cedo e ia correr na praia, almoçava no seu restaurante predileto e quando voltava para casa procurava informações na internet. Os dias passavam mais rápido do que ele esperava.
Ao fim da primeira semana, havia chegado o dia da viagem que ele acertara. Pegaria o primeiro vôo, às nove horas.
Hyoga acordou mais cedo do que o habitual. Queria ter mais tempo para conferir as malas. Em menos de uma hora depois estava pronto. Antes de sair foi até o banheiro e se olhou no espelho. Desta vez viu um homem de vinte e poucos anos, cabelos tratados e sem barba. Os olhos ainda não haviam recuperado toda a vivacidade, mas já refletiam inteligência e um pouco de simpatia.
Desceu com as malas para a garagem, colocou-as no carro e saiu do prédio. Mas não em direção ao aeroporto.
A paróquia do padre Antony ficava a alguns quarteirões da casa de Hyoga. Por fora era apenas uma igreja simples: pequena e sem riqueza de detalhes; mas no interior era repleta de imagens e pinturas, propiciando aos fiéis um ambiente sereno e aconchegante.
Hyoga estava entrando na igreja quando viu o padre Adam saindo da sacristia. Era alto e corpulento, tinha cabelos brancos e lisos que às vezes caíam sobre seus olhos verdes e pele extremamente clara que demosntrava o pouco contato com o sol. Ele sorriu ao ver o cavaleiro de cisne e foi ao seu encontro.
Hyoga! Como vai?
Vou bem, padre.
Sinto muito pelo que aconteceu... Eiri é uma ótima moça. É uma pena que não tenha dado certo. O noivado seria hoje...
É verdade, seria hoje...
Hyoga tirou do bolso um par de alianças.
Passei aqui para entregá-las.
As alianças que você comprou para o casamento!
Exatamente. Não preciso mais delas. Venda-as e conseguirá dinheiro para continuar ajudando as crianças carentes do orfanato.
Farei isso. Muito obrigado.
Não precisa agradecer.
Ficará para a missa?
Não, infelizmente não poderei. Tenho um vôo daqui a quarenta minutos.
Padre Antony já o conhecia bem o suficiente para não perguntar o destino da viagem. Sabia que se tratava de outra missão secreta.
Demorará para voltar?
Não muito. Daqui a aproximadamente duas semanas estarei de volta.
Vá com Deus, meu filho. Que Deus te abençoe.
Obrigado, padre. Até mais.
E assim Hyoga partiu, pensando que não teria motivo algum para ficar mais tempo do que o previsto.
Ficaria em Asgard até uma semana depois que Hilda tivesse viajado para Moscou e depois retornaria. Teria tempo mais do que suficiente para recolher todas as informações necessárias.
NOTA DO AUTOR:
Ta aí o segundo capítulo... já tava quase pronto quando eu postei o primeiro, mas faltava escrever a parte do shopping. Gostaria de agradecer a todos que estão me apoiando e incentivando a escrever esta fic. E aos que lêem "A guerra divina", semana que vem provavelmente o décimo primeiro capítulo será postado. Valeu galera!
RENATO AIORIA
