Disclaimer: Nada é meu, tudinho da tia J.K. Rowling.

Capitulo 10 - Cidade dos Amantes

N/A: Os parênteses são os pensamentos do Draco atual, enquanto os em itálico são os pensamentos do Draco da época.

O Dia dos Namorados é uma data estranha. Principalmente quando se envolve Virginia Weasley. Ontem eu me peguei pensando no primeiro dia dos namorados que eu lembro com a Gina. Foi no meu segundo ano, quando eu presenciei (e participei, não nego) daquele episódio deprimente do poema para o Potter. Bem, eu não deveria nem lembrar disso como um Dia dos Namorados com ela, já que toda vez em que tocamos no assunto acabamos discutindo.

E então eu me lembro do segundo Dia dos Namorados que passei com ela. Tecnicamente, era o nosso primeiro, mesmo que perante o mundo nós não fôssemos namorados.

Era uma daquelas manhãs ensolaradas e bonitas de fevereiro, o que me fazia sentir náuseas. Havia mais ou menos três meses que a guerra tinha terminado, Voldemort finalmente fora derrotado por Potter. As pessoas andavam alegres e contentes pelo Beco Diagonal, podendo finalmente, depois de anos de guerra, andar calmamente na rua sem a constante ameaça de nenhum ataque.

Todas aquelas risadas e pessoas felizes já estavam me irritando. Por que as pessoas achavam que só por que Voldemort tinha morrido, todos os problemas do mundo tinham acabado? Estúpidos... Voltei a linha de pensamento para mim mesmo. O que eu, Draco Malfoy, estava fazendo, às nove e meia da manhã, num café no Beco Diagonal? Era o último lugar na face da Terra onde eu gostaria de estar. Aliás, eu não tinha a mínima vontade de sair de casa naqueles dias, por que as pessoas me olhavam como se eu fosse algum tipo de experimento científico parecido com Frankstein, só que muito mais feio (o que, obviamente, não sou).

O maldito atendente chegou perto da mesa de novo, veio me perguntar mais uma vez se eu desejava algo. Claro que eu desejo algo, desejo que ela chegue logo! Pensei, raivoso. O pobre garoto, que não tinha mais que dezoito anos, me entregou o cardápio, suas mãos tremendo. Puxei-o de suas mãos não muito delicadamente, e imediatamente ele saiu apressado (Tá vendo? É disso que eu estava falando. Eu sou hostil, reconheço, mas não era para tanto. Não era como se eu fosse sacar a minha varinha e sair mandando Avadas por aí.).

É exatamente esse tipo de tratamento que você recebe por ter arriscado a sua vida como agente duplo na maldita guerra. E quem fica com os créditos? Quem é o Herói destemido? Potter Cabeça-Rachada. Pensei, ainda com o meu usual mau humor matinal. Não que eu quisesse algum tipo de reconhecimento, mas o fato das pessoas não saírem correndo assustadas quando me vissem já era um começo. E eu estava realmente me esforçando, havia até parado de andar por aí com a minha capa preta de capuz (sugestão dela...).

E só pra completar a minha sorte monumental, eu tive que ficar em uma mesa do lado de fora do Café, onde o sol batia no meu rosto e mais pessoas passavam por mim lançando olhares. Então, mais uma vez me perguntei o que estava fazendo ali, ao invés de estar na minha casa, quieto e sem ninguém apontando pra mim. Mas nem foi preciso pensar muito, no entanto, pois a resposta para os meus questionamentos havia chegado naquele exato momento. Ela estava com os cabelos soltos e o sol batia neles, fazendo-os ficarem um vermelho alaranjado muito chamativo.

"Você está atrasada," foi tudo o que eu fui capaz de dizer. Impressionante como eu sou bom com as palavras quando se trata dela. Meu vocabulário deve cair para o de uma criança de três anos de idade.

Apesar de todas as minhas hostilidades, suas bochechas coraram um pouco e ela deu um pequeno sorriso, sentando-se na cadeira em frente a mim.

"Desculpe, é que a mamãe estava brigando com os gêmeos. Rony esbarrou numa jarra de suco, o que sujou toda a mesa, então Fred derrubou molho na camisa do papai e eu fiquei ajudando a limpar a bagunça. Depois ela ficou me fazendo mil perguntas do porquê de eu não tomar café em casa, se eu tinha voltado muito tarde... Depois recomeçou com a história de que se eu tinha um namorado, podia falar para ela..." Ela respirou fundo, buscando fôlego, ainda gesticulando. Acredite, ela faz essa coisa de embolar tudo numa frase só até hoje. Não sei como consegue. "Draco, o que estamos fazendo aqui? Esse Café é ao ar livre, qualquer um pode nos ver!"

Pois é, esqueci de mencionar que, nessa época, nós não éramos namorados. Não oficialmente. Éramos desde a época da guerra, mas ninguém sabia (ok, Granger e Tonks sabiam, por que eram umas abelhudas). Ainda não tínhamos assumido oficialmente, já que perante o mundo mágico eu ainda era o comensal mau que fritava criancinhas no óleo quente. Algumas vezes por semana (ok, muitas, quase todas) ela passava um tempo na mansão (ela odeia aquele lugar até hoje, e para falar a verdade, nem eu gostava) e voltava para a Toca de noite. Gina falava que estava ajudando uma amiga, ou procurando emprego, o que, francamente, nem um trasgo surdo acreditaria, quanto mais a mãe dela, que já havia criado seis filhos (ela é uma péssima mentirosa).

"Com medo de ser vista com o Lobo Mau, Chapeuzinho Vermelho?" Perguntei, sorrindo desdenhosamente. O fato era que, naquela hora, eu havia ficado um pouco irritado com o que ela tinha dito. Será que tinha vergonha de mim?

"Eu não tenho medo nem vergonha nenhuma de ser vista com você," ela falou séria (eu já disse que ela fica linda séria?), e depois acrescentou. "Aliás, foi exatamente você, Senhor Malfoy, quem começou com essa história de não querer aparecer em público, muito menos comigo, enquanto seu nome não fosse totalmente limpo no Ministério". Ela tinha razão, quem havia começado com aquilo era eu.

"Eu só não me sinto confortável ainda, sabe? Não é pra você que as crianças olham e começam a chorar'. Não que eu quisesse que elas sorrissem e me abraçassem.

"Ajudaria se você não fizesse careta quando elas olhassem pra você..." ela falou, já sorrindo. Aquele sorriso tinha alguma coisa, por que quando ela sorriu, pareceu que a intensidade da luz sol sobre nós aumentou.

O babaca do cardápio havia voltado, e acho que ficou surpreso e assustado ao mesmo tempo, vendo Gina sentada na mesma mesa que um Comensal. Ele olhou para mim como se anteninhas verdes estivessem saindo dos meus ouvidos e então se virou para Gina e sorriu. Ele sorriu para a minha Gina. Bom, naquela época eu era um pouco ciumento demais (ok, ainda sou), mas o modo com que ele sorriu para ela me fez ter vontade de fazê-lo engolir os cardápios.

"Deseja alguma coisa, Senhorita Weasley?" perguntou o insolente, ainda sorrindo.

"Ahh, sim, eu vou querer, café, torradas, algumas salsichas e panquecas." Ela respondeu, devolvendo o cardápio para ele. Observei atentamente para ver se ele não encostava, acidentalmente, aqueles dedos nela. Então o babaca virou-se novamente para mim, com um olhar questionador. Provavelmente o idiota nem tinha coragem de dirigir uma palavra à minha pessoa.

"Café." Falei baixo. Outra pessoa teria classificado com um grunhido, mas Malfoys não soltam grunhidos.

"O que? Você só vai tomar café?" Gina perguntou, abismada (já falei que ela também fica linda quando está surpresa?).

"Eu não sinto muita fome de manhã".

"Mas você tem que comer. Sabe, o café da manha é a refeição mais importante do dia, minha mãe sempre disse. Ficar de jejum pode trazer vários problemas, você pode ter até úlcera. Draco, imagina, você com úlcera com apenas vinte e dois anos!" Pronto, ela tinha começado novamente com aquela coisa de falar e falar, gesticulando sem pausar (ela sempre me pergunta como faço para levantar apenas uma sobrancelha, e eu lhe respondo perguntando como ela faz para falar tudo de uma só vez sem pausar).

Passei as mão pelo meu rosto, gesticulando negativamente com a cabeça. Meu Deus, essa mulher não existe! Pensei. Até hoje agradeço a Merlin por isso não ser verdade.

"Tá, tá bom, eu vou querer duas torradas." Falei e dispensei logo o garçom. Para segurança dele. E também por que se me vissem cometer algum ato de violência contra ele, em pleno Beco Diagonal, a minha fama de Lobo Mau iria finamente se justificar.

Voltei minha atenção para Gina. Olhando um pouco mais atento para seu pescoço, dava para perceber uma marca roxa que eu havia deixado nela na noite anterior. Provavelmente nem ela nem nenhum idiota da sua família tinha percebido, por que senão eu já estaria ouvindo um sermão colossal sobre marcá-la. Ela não suporta que eu faça isso, por que sempre tem que inventar uma desculpa para a mãe ou um dos irmãos que perceba (ela odeia isso até hoje, mesmo que todos já saibam que sou eu quem faz isso. Agora a desculpa é os alunos).

Ela estava folheando, interessada, o Profeta Diário que eu estava lendo na mesa enquanto a esperava. O sol continuava batendo em nós, só que agora de perto, seus cabelos não pareciam mais laranja, e sim um vermelho vivo. Aquela cor me lembrou das vezes que eu tinha visto o sol se pôr, e quando ele ia mudando de cor gradativamente, passando por exatamente aquele tom de vermelho. Gina ajeitou uma mecha que tinha lhe caído na face, colocando-a atrás da orelha.

Então pareceu que tinha lido algo no jornal que lhe agradou, pois um sorriso se formou em seus lábios e soltou um risinho. Eu estava mesmerizado. Seus lábios se mexeram, mas não consegui escutar o que ela falava, por que naquele instante pareceu que tudo estava se dissolvendo, menos ela. Uma sensação muito estranha, se quer saber. Se eu tinha alguma duvida de que não estava completamente apaixonado por ela, naquele instante eu tive a total certeza.

Provavelmente aquela constatação, em pleno Beco Diagonal, foi um choque para mim. Talvez antes daquele dia eu ainda não tinha percebido o quanto eu a amava. Então, como sempre acontece comigo quando sofro algum tipo de emoção forte, minha garganta pareceu fechar, o ar escapou dos pulmões, meu coração parecia bater mais do que o possível e minhas mãos começaram a tremer (quando eu começo a tremer, é por que a coisa realmente chegou aos seus limites).

Para disfarçar, colei as palmas das minhas mãos na mesa. E só então percebi que Gina acenava uma mão em frente ao meu rosto.

"Hey, Terra chamando Draco... Draco... Telefone... Casa..." Ela falava assustada, mas ainda sorrindo.

Então, naquela hora, eu fiz a única coisa que fazia sentido. Me debrucei por cima de mesa, segurei seu rosto com minhas duas mãos e a beijei. Foi como um peregrino no deserto encontrando um oásis, como se eu estivesse sufocando embaixo d'água e finalmente alguém tivesse me puxado para a superfície, o ar entrando rasgando meus pulmões (essa é, definitivamente, a melhor sensação do mundo).

Não consigo esquecer o olhar questionador que todos lançavam para nós quando eu finalmente terminei o beijo, e muito mais a expressão surpresa no rosto de Gina. Surpresa, mas pude notar que ela sorria abertamente.

"Que foi isso?" Ela perguntou, mordendo o lábio inferior e corando.

"Gina, você..." Comecei, mas então percebi que não sabia o que falar. Ainda estava sem palavras. Queria gritar para todos que nos olhavam para irem tomar conta de suas vidas, por que eu beijava a MINHA namorada quando bem entendesse, e no lugar que quisesse.

Mas então percebi que não estava me importando com os outros à minha volta, que a única coisa que eu queria era ir dormir com ela, acordar, olhar para o lado e ver que tudo não foi só um sonho. E era exatamente isso que eu sentia quando ela não estava comigo: um vazio, como se estivesse novamente sufocando debaixo d'água. E eu só voltava a respirar de novo quando via aqueles cabelos vermelhos, aquele sorriso, aqueles lábios. Que a minha garganta fechava quando estávamos deitados no tapete, simplesmente olhando o movimento das chamas na lareira e ela se levantava dizendo que já estava tarde e tinha que voltar para casa.

Algumas vezes eu sei exatamente o que dizer, só que não consigo. Parece que algo as prende. Mas então eu lembro de novo da sensação de sufocamento, da garganta fechada. A barreira que prende as palavras se cai e eu falo o que sempre quis falar.

"Eu te amo."


Ela ouvia um barulho de água ao longe, que a embalava num sono calmo. "Deve estar chovendo," pensou, se virando na cama. Passou a mão do lado esquerdo, tentando sentir Draco, mas só o que havia era um espaço vazio. Abriu os olhos devagar, e só então percebeu que o barulho de água não era chuva, mas que vinha do banheiro.

Levantou da cama se espreguiçando e foi caminhando calmamente até lá. Parou na porta ao ver Draco. Ele estava com uma toalha enrolada na cintura, com metade do maxilar coberto de espuma e um barbeador na mão. Por alguma razão, vê-lo naquela posição a remeteu a uma lembrança da infância.

"Hey, sempre soube que eu era irresistível..." Ele falou, tirando-a das lembranças. "Mas não precisa ficar aí parada me olhando."

"É que ver você fazendo a barba me fez lembrar de uma coisa tão antiga..." Ela soltou um suspiro e deu um beijo do pescoço do loiro.

"Que coisa?" Perguntou Draco, virando-se novamente para o espelho e voltando a fazer a barba.

"Eu lembrei de quando eu e o Rony éramos pequenos e víamos o meu pai fazendo a barba, e o Rony ficava perturbando ele para o ensinar, me provocando com a espuma."

"Provocando como, assim?" Ele perguntou, encostando o rosto perto dela para a beijar e conseqüentemente sujando-a com a espuma.

"É, exatamente assim." Respondeu, limpando o rosto com uma toalha. Então, olhando o relógio no pulso, deu um sobressalto. "Droga, tô atrasada!"

Draco a segurou pela cintura, impedindo-a de sair correndo do banheiro desesperada, como fazia sempre que se atrasava.

"Calma, Pequena, você acordou uma hora antes, ainda temos tempo..." Draco apertou mais os braços em volta da cintura da ruiva, e começou a lhe beijar o pescoço, cada vez descendo mais.

"Não, Draco, me solta, eu tenho um compromisso antes de ir para a escola..." Ela colocou as duas mãos sobre o peito dele e tentava empurrá-lo.

Conseguindo se desvencilhar dele, Gina saiu correndo para o quarto, já começando a trocar de roupa. Pouco tempo depois, Draco voltou do banheiro, devidamente barbeado e já sem a toalha na cintura.

"Compromisso, é?" Falou desdenhoso, sentando-se na cama.

"É." Respondeu, terminando de prender o cabelo.

"E não tem nenhuma possibilidade de adiar... Assim, hoje é..." Draco ia dizendo, mas logo foi cortado por Gina.

"Não, não dá. Mais tarde a gente se vê, tá?" Ela curvou-se para ele e lhe deu um beijo leve nos lábios. Depois pegou a bolsa e saiu apressada do quarto.

Draco a olhou sair, e então resolveu levantar e ir atrás dela, encontrando-a parada em frente à porta, procurando a chave na bolsa.

"Tem certeza que você não pode ficar nem mais um pouquinho? Toma o café comigo!"

"Não, Draco, não dá!" Ela se exasperou. Draco notou que ela estava nervosa. Mas nervosa por quê? Tem alguma coisa muito errada acontecendo... Pensou.

Depois de achar as chaves, Gina olhou para Draco mais uma vez, pensativa e suspirou. Ela tinha um olhar aflito. Abriu a porta, e quando estava prestes a fechá-la, como se tivesse se lembrado de algo, falou para Draco:

"Ah, coloca uma camisa, eu não estou afim de passar outra noite em claro te obrigando a tomar remédio." E com isso, fechou a porta.

Por alguns segundos, Draco ficou paralisado, olhando a porta fechada a sua frente. Então soltou um suspiro e murmurou:

"Feliz Dia dos Namorados para você também, Pequena..."

Aquele dia não havia começado bem. Ele havia preparado tudo para ficar perfeito, mas as coisas já estavam começando a desandar. Olhou para a mesa de café da manhã que ele havia arrumado. E ela nem tinha notado.

Calma, Draco, respira fundo. Você não pode ficar de mau-humor hoje. Ordenou a si mesmo, enquanto seguia para a cozinha. Ficou parado um tempo, encostado no balcão, com uma xícara de café na mão, pensativo. Gina estava muito estranha hoje. Tudo bem que ela nunca foi muito boa para lembrar datas, mas esse compromisso que ela tinha estava intrigando-o. Daria um jeito de saber que porcaria estava acontecendo era.

De repente, um som lhe chamou a atenção. Colocou a xícara em cima da pia cuidadosamente, esperando ouvir mais alguma coisa. E então ouviu de novo, agora claramente. Era um miado fraco e estranho. Não parecia ser o de Liz, mas também, a gata estava muito estranha ultimamente. Draco vinha insistindo com Gina que a gata tinha ficado meio doida desde que ela voltou d' A Toca. Gina falava que ele estava ficando paranóico.

Mas a gata estava de fato com um comportamento diferente. Ela comia muito mais e não passava mais tanto tempo tentando se enfurnar na cama deles. E também estava meio gorda, tão gorda que ultimamente nem conseguia subir no sofá do escritório.

Draco começou a procurá-la pela cozinha, indo diretamente para a almofada onde ela costumava ficar. Não estava ali. Então ouviu outro miado e percebeu que não vinha de dentro da cozinha, e sim do resto do apartamento. Seguiu direto até dar de cara com a porta de seu escritório entreaberta. Ele entrou e deu uma olhada ao redor, não achando nada. Mas então, quando se preparava para sair, uma coisa chamou sua atenção. Uma coisa branca, num canto escuro. Caminhou um pouco mais e percebeu que a coisa branca era uma de suas camisas.

"Mas que diabos...?" Ia começando a falar, mas quando se aproximou, percebeu o que mais havia ali junto com a camisa: uma gata branca aninhada em cima dela, com quatro filhotinhos mamando. O mais peculiar era que, apenas um filhote era branco, os outros eram laranja.

"Ahhh, merda!" Draco exclamou, uma expressão de horror no rosto. "Aquele gato mutante da Granger deflorou a minha gata!"

Liz parou de lamber um dos filhotes e olhou para Draco, logo em seguida miando. Parecia querer dizer: Olha, não são lindos os meus filhotes?

"Eu já entendi, Merlin, você está querendo me fazer pagar por tudo o que eu fiz em Hogwarts, não é?" Ele resmungava, olhando para cima e andando de um lado para o outro.

"Droga, o que eu vou fazer com cinco gatos? Mal consigo agüentar um, imagina CINCO!"


Ele parou o carro em frente à escola onde Gina dava aulas, exatamente oito minutos antes do horário de saída. Não iria arriscar tentar achá-la no meio de uma multidão de pais e crianças descontroladas em frente ao prédio. Atravessou a rua e entrou no pequeno edifício, apenas cumprimentado o porteiro e seguindo direto para a conhecida sala dois, onde provavelmente ela e umas vinte crianças estariam.

Chegando, Draco parou e olhou pelo vidro da porta. Gina falava, mostrando algo em um livro que segurava nas mãos. Ela tinha feito um coque no cabelo, que já estava se desfazendo. Ele ficou ali, a observando, e só percebeu quanto tempo havia passado quando o sinal tocou e as crianças levantaram-se das carteiras abruptamente para arrumarem as mochilas.

Draco se afastou da porta no exato momento em que ela se abriu, quase que em sincronia com todas as outras do corredor, fazendo com que dezenas de crianças barulhentas surgissem correndo por todos os cantos. Ele se manteve calmo, respirando fundo. Calma... Sem mau-humor. Hoje tem que ser tudo perfeito, pensou consigo mesmo.

Após esperar algum tempo, para que todas as crianças estivessem fora de seu caminho, Draco entrou na sala. E só então percebeu que nem todas as crianças haviam ido embora. Em pé, do lado de Gina e conversando com ela, havia uma menininha loira. No instante em que Draco a reconheceu, se arrependeu de ter entrado na sala.

Havia uma razão perfeitamente lógica (ao menos para a cabeça de Draco) para que Melanie fosse a única aluna de Gina que ele sabia o nome. O fato é que, desde o primeiro momento que Melanie bateu os olhos em Draco, desenvolveu algum tipo de paixonite infantil, e Gina fazia questão de perturbá-lo Draco com isso.

Gina sorria ao conversar com Melanie, e então, ao ver Draco na porta, falou algo no ouvido da menina apontando para ele. A garotinha sorriu ao ver Draco e então correu em sua direção com algo na mão. Ele pensou em virar as costas e sair bem rápido, mas desistiu ao ver Gina rir da expressão de seu rosto. Ela adora me colocar nesse tipo de situação...

Melanie parou em sua frente, sorrindo, e lhe estendeu um pedaço de papel vermelho.

"Eu fiz um cartão para você!" Falou com sua vozinha fina.

Ele olhou para a pequena mão segurando o cartão em sua frente e então olhou Gina vindo em sua direção. Resolveu por fim pegar o cartão das mãos da menina e acabar de vez com aquela cena constrangedora.

Ao abrir, Draco pôde notar que era um cartão em forma de coração, com algumas flores desidratadas coladas. Na parte de cima, tinha escrito em uma letra quase ilegível um Feliz Dia dos Namorados e logo embaixo havia um desenho de duas pessoas (ou o que mais se pareciam com isso). Um pequeno, com o que parecia um vestido rosa e o outro desproporcionalmente grande, com pernas um tanto quanto compridas demais.E o que mais o assustou: as pessoas do desenho eram loiras e estavam de mãos DADAS.

"E esse aqui no desenho seria..." Ele começou a perguntar.

"Você e eu!" Melanie respondeu prontamente.

Draco sentiu as maçãs do rosto esquentarem levemente, e então ouviu Gina rir um pouco mais alto. Ele a lançou um olhar suplicante. Por favor, vamos embora... Pediu mentalmente.

Gina parecia se divertir muito com a situação. Tentou suprimir um riso com a mão na boca, mas não conseguiu.

"Draco, você não vai dar nem um beijinho nela?" Ela perguntou, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Usando toda sua força de vontade, Draco deu um sorriso (ou o que mais se parecia com um) amarelo para Melanie e se abaixou do lado dela, dando-lhe um beijo muito rápido, quase inexistente, na bochecha, levantando-se logo em seguida. Melanie, por sua vez, soltou risadinhas tímidas e saiu saltitando da sala.

"Você sabe que vai pagar muito caro por isso, não é?" Draco falou ameaçadoramente, cruzando os braços.

"Ah, ah, ah, estou morrendo de medo..." Disse cinicamente.

"Vamos sair logo daqui antes que aquela velha enrugada que dirige isso aqui resolva me dar um cartãozinho de Dia dos Namorados também e você me obrigue a beijá-la..."

"Eu não, vai que você gosta?" Ela o provocou.

"Muito engraçado..." – Draco falou, abrindo a porta da sala para Gina passar e a seguindo. "Então, como foi o seu compromisso ?" Ele perguntou ao saírem do edifício, e fez questão de frisar a palavra 'compromisso'.

Ao ouvir as palavras de Draco, o sorriso que havia nos lábios de Gina morreu e ela parou de andar, olhando-o . E então, parecendo voltar a si mesma, respondeu baixinho:

"Ah sim, foi, hummm, bem..."

Foi então a vez de Draco parar para olhá-la, achando a reação dela muito estranha. Como alguém podia mudar de humor de uma hora pra outra assim? Com certeza isso tem a ver com esse tal compromisso... Pensou, abrindo a porta do carro.


A viagem de carro até o apartamento deles foi silenciosa, salva por alguns comentários que Draco sempre fazia sobre os trouxas e o jeito amadorde dirigirem. As poucas perguntas que Draco fazia a Gina eram respondidas com monossílabos. Mas quando chegaram à porta do apartamento, enquanto Gina procurava a chave na bolsa, ele resolveu pôr em pratica o plano. Começou enlaçando-a pela cintura e beijando-lhe o pescoço.

"Draco, espera, eu tenho que achar a chave..." Ela tentava o repelir com a mão, mas estava ficando difícil resistir.

"Hum... É, ache a chave..." Murmurou no ouvido dela, continuando seu plano. Criar o clima, é preciso criar o clima.

Gina estava começando a perder o controle com Draco fazendo aquilo. Não conseguia se concentrar na bolsa, e suas mãos tremiam procurando o objeto. Ele a empurrou contra a parede, fazendo pressão. Ela deixou a bolsa cair no chão e foi então que Draco a segurou pelos pulsos, colocando cada uma das mãos em cima da cabeça de Gina.

A razão de Gina só foi recuperada quando ela escutou um barulho na porta em frente do apartamento deles, e pôde ver sombras se mexendo por debaixo da porta.

"Draco, para!" Pediu, tentando afastá-lo. O problema é que nessas condições, Gina não tinha certeza nem se conseguiria ficar em pé direito. Seus joelhos estavam fracos. "Vamos entrar logo."

"Ahn..." Draco parecia não estar muito preocupado, colocando uma mão intrusa por debaixo da blusa de Gina.

"A gente tem que entrar, senão a Senhora Robbins vai falar para o síndico que estávamos de fornicação no corredor de novo..."

"Fornicação? Ela usou essa palavra? Não é à tôa que tem cento e quarenta e sete anos.." Ele interrompeu tudo o que fazia quando ouviu a palavra.

"Mas é claro que você não liga, por que quem vai para a reunião de condôminos sou eu, quem fica vermelha sou eu. E a Senhora Robbins tem sessenta e cinco anos, Draco, pelo amor de Merlin, fala baixo, ela mora aqui em frente." Gina, se aproveitando da distração dele, pegou a bolsa no chão e se apressou em procurar a chave.

"Ninguém manda ela ficar nos espionando..."

"Ah, Graças a Deus!" Exclamou triunfante ao achar a bendita chave.

Entraram em casa, e nem bem Gina fechou a porta, Draco a agarrou por trás, continuando o amasso do corredor.

"Nossa, o que deu em você hoje?" Ela conseguiu falar, entre beijos.

"Eu queria te dar um presente." Disse, e mexeu em algo no bolso, retirando de lá uma pequena caixa.

Ela estendeu a mão para pegar a caixinha, só que Draco não soltou quando Gina encostou nesta. Só então percebeu a sensação de puxão no umbigo, antes de tudo virar um borrão. Fechando os olhos, Gina se segurou em Draco até ficar firme novamente e tudo parar de rodar, e só então abriu os olhos de novo.

Estavam no lobby de um hotel. Pessoas andavam apressadas de um lado para o outro, falando, ao que parecia a Gina, francês.

"Draco, onde estamos?" Perguntou, confusa.

"Estamos na França. Esse é o meu presente de Dia dos Namorados para você." Ele falou, sorrindo orgulhoso.

Ainda confusa, e um pouco tonta, Gina abriu a boca para falar algo, mas foi interrompida por um homem alto e careca, que veio abordá-los:

"Monsieur Malfoy, enfim chegou!" O homem o cumprimentou com um aperto de mão, e em seguida se dirigiu a Gina. "E essa deve ser Mademoiselle Virginia, sua linda noiva, se me permite. Encantado!" E com isso beijou a mão de Gina.

"Monsieur Cailleux," Draco cumprimentou, enquanto Gina sorria tímida.

"A sua suíte está perfeitamente pronta, Monsieur." Ele informou a Draco.

"Obrigado, Senhor Cailleux" Draco agradeceu ao gerente do hotel e então se dirigiu à Gina "Vamos?"

"Ah?" Gina nem teve tempo de falar, pois Draco passou uma mão por sua cintura e começou a andar em direção ao elevador. Apesar de ser um hotel bruxo, ele possuía um elevador, como no Ministério.

"Você... Planejou isso tudo para hoje?" Perguntou ela, já no elevador.

"É, apesar do seu compromisso ter estragado o café da manhã."

A campainha do elevador apitou avisando a chegada no andar deles, justamente quando Gina abria a boca para falar algo.

Ao entrar no quarto, Gina ficou boquiaberta. Ela nunca tinha estado em um hotel de luxo. E este, definitivamente, era lindo. A suíte era dividida em dois ambientes: um quarto e uma ante-sala, onde havia uma mesa com jantar posto.

Gina olhou para Draco surpresa e admirada. Ele, por sua vez, fez menção para que ela andasse até a mesa e puxou uma cadeira para ela sentar, galantemente.


Não está dando certo. Meu plano de Dia dos Namorados perfeito não está funcionando. Draco pensou ao observar Gina mexer na comida com o garfo, com o olhar distante. Durante todo o jantar ele havia tentando engrenar alguma conversa, mas parecia que ela só sabia responder com monossílabos. A cada minuto que passava, Draco ficava mais frustrado e tinha certeza de que tudo aquilo tinha a ver com o tal compromisso.

Ao mesmo tempo que ele queria saber, tinha medo. Parecia que voluntariamente Gina não iria contar o que era. Decidiu então que iria saber de uma vez por todas o que havia de errado.

"Pequena, o que foi? Não gostou da surpresa?"

Ela levantou a cabeça rapidamente, assustada ao ouvir a voz dele e quase jogando o garfo para o alto.

"Ãh? Eu adorei, Draco, é tudo tão... Perfeito!" Falou pensativa, mas Draco notou um pouco de tristeza em sua voz.

"Há algo errado? Você está se sentindo bem? Nem tocou na comida direito..."

"Err... Estou bem, só um pouco enjoada."

Não, não era isso, e Draco sabia muito bem. Anos na Sonserina o ensinaram a ver quando alguém está mentindo, lhe escondendo algo. E particularmente, Draco tinha o talento de saber atingir as pessoas exatamente nos seus pontos fracos.

Largando os talheres na mesa, ele cruzou os braços e começou a encará-la, que havia voltado a mexer com o garfo no prato e ficar de cabeça baixa. Ficou assim por algum tempo, até Gina perceber os frios olhos acinzentados em cima de si

"Que foi?" Ela perguntou baixinho.

"Que foi? Eu que pergunto, Gina." Disse, um pouco mais rude do que pretendia. Não queria brigar com ela, não lá, não naquele dia, mas ele não estava conseguindo vê-la daquele jeito e não falar nada. E além do mais, uma parte de seu orgulho estava ferido.

"Nada, eu já disse que estou bem..."

"Não está, não. Virginia, eu te conheço há anos, acha que eu não percebo quando tem alguma coisa errada? E definitivamente, agora tem algo errado."

Ela também largou os talheres na mesa e afundou a cabeça nas mãos, dando um longo suspiro.

"Droga, Draco! Por que você tem que complicar tudo!" ela levantou da mesa, e foi andando rápido para o quarto.

"O quê eu estou complicando? Virginia!" Gritou, ao vê-la entrar no quarto e bater a porta. "Merda!"

Levantando-se rapidamente da cadeira, foi até a porta e bateu algumas vezes.

"Gina, abre essa porta!"

"Agora não, Draco." Uma voz abafada falou.

"Virginia, droga, abre!" Ele deu alguns socos na porta. "Precisamos conversar!"

"Eu não quero conversar agora!"

Draco passou a mão nervosamente pelos cabelos. Merda, por que tudo que eu tento fazer para ela dá errado? Então, olhou sua varinha em cima da mesa. Correu para apanhá-la e tentou abrir a porta. Nada. E então se lembrou que as portas de alguns hotéis bruxos, depois de trancadas com chave, não podiam ser abertas nem por magia.

Encostou as costas na porta, tentando se acalmar. Passou a mão mais uma vez nos cabelos e foi escorregando, até estar sentando no chão. Encostado ali, ele podia escutar o barulho de água correndo. Elá esta tomando banho? Imaginou, e então ficou feliz de ver que ela ainda estava ali. Pelo menos ela não aparatou pra Merlin-sabe-onde. Mas seus olhos então pousaram na varinha dela em cima da mesa também. Talvez ela não tenho ido embora por que não tinha a varinha.

Por mais que tentasse, Draco não conseguia se acalmar. A toda hora ficava imaginado o que teria sido o compromisso dela de manhã e por que ela estava agindo estranho desde então. Várias coisas passavam por sua cabeça, e por mais que tentasse impedir, não conseguia. E as últimas palavras de Gina ainda ecoavam: Por que você tem que complicar tudo?

O quê ele estava complicando? Ele não conseguia entender, e já estava se levantando para tentar falar com ela mais uma vez, quando ouviu a fechadura ser destrancada e a porta aberta. Se ele não tivesse desencostado, certamente teria caído com a cabeça no chão.

Olhou para cima, a fim de ler qualquer expressão no rosto dela que indicasse algo, e só o viu molhado de lágrimas, olhos vermelhos.

"Precisamos conversar." Ela disse simplesmente, dando as costas e voltando para o quarto, dessa vez com Draco a seguindo.

"Era o que eu estava tentando te dizer, antes de você bater a porta na..." Draco ia falando mais foi interrompido por ela.

"Por favor, Draco, não começa com isso."

"Ok, você quer conversar, vamos conversar." Disse ele, cruzando os braços e se recostando em uma mesa, ficando de frente para a cama, onde Gina estava sentada na ponta, com a cabeça baixa, encarando suas mãos.

"Draco, me desculpa por agora pouco, eu não queria, é que... Ás vezes você dificulta as coisas."

"É isso que eu não consigo entender, o quê exatamente eu estou dificultando? O quê eu fiz?"

"Você não fez nada, está sendo maravilhoso, perfeito, o dia inteiro. É isso." Ela levantou as mãos, gesticulando em sua volta.

"O que, você não gostou? Por que se você não gostou, nós podemos ir para a casa agora e o problema está resolvido!"

"Não! Está vendo, é disso que eu estou falando. Você não está sendo você. Eu não consigo ter uma conversa com você assim!"

"Ah, então é isso que está te incomodando?" Ele bufou e depois trincou os dentes. "Então eu vou ser eu mesmo, ok? Por que eu passei duas semanas planejando isso, e você nem sequer nota. Eu fiquei o dia inteiro tentando não ficar de mau-humor, para ficar tudo perfeito para você! Mas quer saber? Você está estranha desde hoje de manhã, por causa dessa porcaria desse seu compromisso. O que era, afinal de contas? Finalmente se cansou de mim? Resolveu ouvir seus irmãos?" Draco explodiu.

"Eu estou grávida." Ela falou num sussurro quase imperceptível.

"Quê?" Draco perguntou, quase que instantaneamente. Gina havia falado tão baixo que quase não dava para ouvir, e o que ele pensou ter ouvido era tão impossível que ele nem hesitou em pedir para ela repetir.

"Eu disse que eu estou esperando um filho," falou, já com lágrimas rolando por todo o rosto, antes de afundá-lo nas mãos. "Me desculpa, Draco..." Murmurou.

Nos primeiros segundos, ele não acreditou, e por um momento esperou Gina levantar o rosto e dizer "Eu estava só brincando". Mas isso não aconteceu. Ele a olhava e só o que conseguia ver eram seus ombros sacudindo. Ela estava chorando. Depois, ele só podia pensar em como isso foi acontecer, e por que estava acontecendo com ele. Tentava pensar em algo, mas estava tudo embaralhado dentro de sua cabeça.

Ele levou uma mão à testa, tentando pôr em os pensamentos em ordem, mas tudo o que via eram imagens de toda a sua vida, e só o que conseguia escutar eram os soluços dela. Ela está grávida. Apoiou-se melhor na mesa atrás de si, por que, por um instante sentiu como se o chão estivesse se movendo.

Mas então, o real choque só atingiu Draco quando um único pensamento coerente passou por sua cabeça: Ela vai ter um filho meu. Eu vou ser pai. Ele não conseguia mais pensar, nem raciocinar.

Sentiu o coração acelerar tão rápido que as batidas eram audíveis. A garganta fechou, e ele começou a ter dificuldades de respirar. Segurou-se um pouco mais na mesa, por que definitivamente, dessa vez tudo começava a rodar. E então tentou focalizar Gina. Abrindo e fechando os olhos com força, enfim a enxergou. Ela ainda chorava, mas o olhava num misto de susto e expectativa. Ela vai ter um filho meu, continuava ecoando. Ele levou uma mão à cabeça, e então sentiu que estava suando.

Virou o olhar para ela novamente. E como se fosse um ímã, sentiu seus pés o guiando até Gina. Quando ficou em frente a ela, Draco se ajoelhou, fazendo assim com que seus olhos ficassem no mesmo nível. Ele levantou as mãos e as colocou no rosto dela, enxugando suas lágrimas. Só então percebeu que estava tremendo. Ficaram se olhando por alguns instantes, como que procurando algo para dizer, mas nenhuma palavra foi dita.

Draco queria pensar em algo, fazer algo, falar algo, mas nada parecia coerente. Ao olhar nos olhos dela, seu coração começou a bater ainda mais rápido, mesmo que ele não achasse isso possível. Ele tinha a sensação de que estava prestes a explodir. Precisava respirar, precisava de ar.

Fez a única coisa que seu coração pedia desde que ele ouviu as palavras dela: a beijou.


Uma brisa leve e fria passou por cima de seus ombros, fazendo com que Gina acordasse. Ela passou a mão pelo outro lado da cama, procurando por ele, mas apenas sentiu o lençol frio, desocupado. Já estava acostumada com isso, acordar sem ele do lado, mas por alguma razão, agora ela sentia um aperto no coração ao perceber que ele não estava ali.

Mas uma vez a brisa a atingiu, e Gina procurou ver de onde ela vinha. Olhou para a varanda da suíte, e pôde ver a sombra de alguém, já que estava escuro. Se enrolou em um lençol e foi caminhando até ele.

Draco estava com os cotovelos encostados no parapeito da sacada, contemplando a vista. Apesar de ser de madrugada, ainda se viam muitas luzes e carros e, ao longe, dava para observar a Torre Eiffel, imponente.

"É por isso que a chamam de 'Cidade-Luz', não é?" Perguntou Gina, se posicionando ao lado dele.

Ele virou a cabeça para o lado lentamente, a fim de vê-la. Era impossível ler a sua expressão. Ele apenas a ficou olhando, e então virou o rosto para frente de novo, antes de responder.

"Acho que sim, mas eu prefiro 'Cidade dos Amantes', é mais poético." Ele se virou para olhá-la novamente. Mesmo estando escuro, dava para ver o vento brincando com seus cabelos vermelhos, e ela ajeitou novamente o lençol em volta de si, segurando-o com uma mão. Ela mordia o lábio inferior, como se duelasse interiormente para falar algo. Teve vontade de abraçá-la naquele momento, por que ela tinha medo, talvez expectativa no olhar.

Ficaram em silêncio, cada um olhando para o horizonte. Eles ainda não tinham conversado desde que ela lhe deu a notícia, talvez por que nenhum dos dois soubesse o que dizer. E Draco, particularmente, tinha medo de que, se falasse algo, pudesse fazer tudo terminar em uma discussão fora de controle.

Para a surpresa dele, Gina quebrou o silêncio, começando a falar. Sua voz estava embargada, como se a qualquer momento ela fosse se desmanchar em lágrimas.

"Eu não queria que tivesse sido assim... Desse jeito..." suspirou longamente "Mas nós viemos para cá, e você..."

"Eu... Não vou dizer que não fiquei surpreso." Ele a interrompeu.

Gina respirou fundo mais uma vez, usando a mão livre para colocar uma mecha atrás da orelha.

"Sabe, o compromisso hoje de manhã era pra saber disso," ela estava tremendo, como Draco estivera horas antes. E nem ao menos conseguia escolher as palavras certas.

"Por que você não me falou antes?" perguntou ele, "Que estava desconfiada?" Tentando ao máximo não parecer inquisidor. Tudo o que não precisavam agora era de outra briga.

"Eu não quis te preocupar, ou talvez tivesse medo da sua reação, não sei." Ela fez uma longa pausa, e então recomeçou "Quando eu soube, hoje de manhã, fiquei tão feliz, tive vontade de berrar. Mas então lembrei de você, e percebi que eu não tinha a mínima idéia de como te contar ou o que você ia achar."

Ela agora estava totalmente virada para ele, como que tentando imaginar o que se passava em sua cabeça, mas era impossível. Draco ainda estava olhando para frente, mirando o horizonte. Não queria encará-la, não agora.

"Como alguém pode ter medo e ao mesmo tempo ficar tão feliz com alguma coisa?" Indagou mais para si mesma do que para ele. E então, depois de suspirar, continuou. "Eu queria que tudo fosse mais fácil..."

"Mas não vai ser, não é?" Draco apenas fez um comentário, ainda sem olhá-la.

"Nada, se tratando de nós dois, é fácil, Draco."

Levando as mãos ao rosto, Draco massageou as têmporas. Horas haviam se passado e ele não conseguiu sequer pregar os olhos. Estava exausto, mas os pensamentos em sua cabeça passavam em uma velocidade incrível, deixando-o tonto. Ele virou o rosto para ela, e mesmo na penumbra, dava para ver seus olhos prateados brilhando.

"Eu..." Ele ia dizendo, mas parou. No momento não tinha palavras para descrever o que sentia. Ele nem sabia por onde começar. "Eu estou com medo."

Gina ficou surpresa, embora não demonstrasse muito. De todas as coisas que ela podia imaginar Draco dizer, certamente essa era a última delas.Ele estava admitindo algo para ela.

Ela abriu a boca para falar algo, mas então Draco se afastou um pouco do parapeito, virando completamente para ela. Deu um passo e pousou dois dedos em seus lábios, a impedindo de dizer algo.

"Espera um pouco." Pediu, em seguida fechando os olhos e respirando fundo. Fez uma pausa tão longa que Gina chegou a achar que ele não iria falar nada, mas foi quando recomeçou. "Eu não sei o que dizer, não CONSIGO dizer nada."

Ouvindo isso, Gina abaixou a cabeça e deu um passo instintivo para trás, o olhar perdido no chão. "Eu não sabia qual seria sua reação, mas não imaginei que você acharia terrível..."

Fechando os olhos novamente, Draco inspirou, em busca de mais ar. Estava percebendo que a conversa não estava tomando um rumo muito bom. Deu mais um passo para a frente a fim de estar mais perto dela.

"Pequena, não é terrível, é só..." Parou para escolher a palavra certa. Se ele dissesse algo errado naquela hora, não haveria como voltar atrás. "Assustador."

Arregalando os olhos, Gina sentiu o sangue ferver. Já ia abrir a boca para responder ao que ele havia dito, mas foi interrompida de novo.

"Por que eu nunca me senti tão apavorado em toda a minha vida." Falou rápido, emendando. "Por que ninguém nunca dependeu de mim, Gina. Eu não tenho a mínima idéia do que fazer."

"E você acha que eu não tenho medo, Draco? Eu estou apavorada, mas sei que, se você estiver comigo, me ajudando, tudo vai dar certo." Ela falou, suavizando a expressão e esticando um braço para tocá-lo.

Segurando a mão que Gina havia estendido, disse: "Olha o exemplo de pai que eu tenho! Eu não quero que o meu filho..." Ia continuar, mas parou. 'Meu filho' repetiu mentalmente e então sentiu um arrepio. "Não quero que ele seja como eu."

"Como você? Por que não?" Perguntou Gina.

"Gina, quantas vezes eu já disse que te amo? Simplesmente não consigo mostrar meus sentimentos. Ele iria crescer pensando que não gosto dele."

"Não é uma questão de palavras, Draco, e sim de ações. Você pode não dizer toda hora, mas eu SEI que me ama. Se não soubesse não estaria esperando um filho seu..." Um pequeno sorriso se formou nos lábios dela. "Ele vai saber."

Ele parou por um tempo, pensando no que ela falou, e não conseguiu impedir um sorriso também. Ainda segurando sua mão, Draco puxou Gina mais para perto de si.

Ele a olhou por um longo momento, cheio de adoração, contemplando a nova Gina que surgia na sua frente: uma mulher. SUA mulher, mãe de seu filho. E por conhecê-la tão bem, por amá-la tanto, viu nela a certeza de que não precisava temer nada. E se permitiu sorrir com ela, sentindo, finalmente, a alegria de saber que agora, mais do que nunca, estariam ligados para sempre.

Puxou-a para perto e a abraçou com carinho e cuidado, plantando um beijo em sua testa, antes de virá-la, deixando-a com as costas apoiadas em seu peito. Escorregou uma das mãos até sua barriga, sentindo-a apoiar-se nele também.

"E se eu fizer algo de errado?" Ele perguntou, com os lábios colados na orelha dela.

"Vou te ajudar a fazer o certo."

Ficaram ali, abraçados em silêncio, quando uma brisa fria novamente os atingiu.

"Vamos entrar." Draco falou, puxando-a pela cintura.

"Ah, não, vamos ficar mais um pouquinho, olhando a vista..." Pediu.

"De jeito nenhum, está frio." Ele fez questão de enrolar mais o lençol nela, tornando a puxá-la pela cintura.

"Você está aqui fora há horas, sem camisa" Ela disse, fazendo questão de frisar as últimas palavras.

"Mas eu não estou grávido. E a minha função a partir de agora é tomar conta de você e do meu filho."

"Nosso," ela adicionou. "Vamos, não seja ridículo! Eu tenho pais, seis irmãos e nenhum deles 'toma conta de mim'!"

"Você não quer me comparar a eles, quer?" Perguntou, lhe lançando um olhar falsamente ameaçador. Então, abaixando um pouco ao lado dela, fingindo lhe dar um beijo, Draco a pegou no colo. "Agora, para dentro."


O sol já raiava em Paris, mas eles ainda estavam deitados em cima da cama. Gina tinha os olhos fechados, parecendo dormir, enquanto Draco estava recostado na cabeceira da cama, observando-a. Ela bufou uma vez, e ainda de olhos fechados, perguntou:

"Draco, o que você está fazendo?"

"Te olhando." Falou, virando a cabeça para olhá-la nos olhos.

"Por que você não tenta dormir?"

"Não consigo. É muita coisa para minha cabeça processar. É tudo tão incrível!" Tentou falar sério, mas não conseguia reprimir o sorriso.

"Eu entendo." Ela disse, finalmente abrindo os olhos e encontrando os dele, a encarando. Ele tinha resolvido deitar, para ficar cara a cara com ela.

Draco não se lembrava de ter ficado tão agitado quanto estava agora. Ele não conseguia dormir, por mais que Gina estivesse caindo de sono. Sentia-se tão ansioso, que parecia que tinha tomado um balde inteiro de café. Levou uma mão até o rosto dela, pegando uma mecha de cabelos entre os dedos.

"Quer dizer que você vai ficar com uma barriga enorme, como a da Granger, Weasley?"

"Provavelmente. Será que, mesmo assim, você ainda vai me querer?" Perguntou, abrindo os olhos repentinamente, o encarando.

"Eu quero você de qualquer jeito"

"Bom saber..." Ela sorriu e fechou os olhos novamente.

"Você vai enjoar, vomitar?" Indagou.

"Sim, eu já enjoei um pouco hoje." Respondeu.

"Você vai querer comer coisas estranhas?"

"Acho que sim." Falou, de olhos fechados e em seguida suspirando "Posso dormir agora ou você ainda tem alguma duvida?"

Tomando o silencio dele como um sim, Gina respirou fundo, tentando relaxar pela primeira vez no dia. Ela nunca imaginaria que as coisas terminariam daquele jeito. Mas apesar de tudo, o dia tinha sido absolutamente perfeito.

10 minutos depois...

"Eu estava aqui pensando..." Draco recomeçou.

"Ahhhhh" Gina gemeu ao escutar a voz dele. Não era possível! Se ele não dormir logo, vou fazê-lo engolir poção do sono!

"... Que agora nós vamos ter que adiantar um pouco o casamento, não é?"

"Quê?" Perguntou, abrindo os olhos. De novo.

"Casar, Gina," Ele sentou na cama, gesticulando. "Antes dele nascer..." Apontou para a barriga dela.

"Ah, sim, é claro." Murmurou ainda com as pálpebras pesadas. "Quanto tempo você acha que podemos ficar em lua-de-mel?" Gina perguntou, sorrindo marotamente.

"Hum.. Deixa eu ver... Acho que uns cinqüenta anos está bom, não acha?"

Ela riu alto, abraçando-o pelo pescoço e se aninhando nos braços dele. Ficaram ali, quietos por alguns minutos, e Gina até chegou a pensar que Draco havia, enfim, caído no sono.

"Gina?" Ele a chamou, e lá se foram suas as esperanças.

"Hum?"

"Nós temos cinco gatos agora."

"Está ficando doido, Draco? Definitivamente, você precisa dormir..."

"É sério, hoje de manhã ela estava com quatro filhotes, e três deles eram laranja. Aquele bicho mutante da sua cunhada..." Draco resmungou.

Soltando uma gargalhada, Gina falou:

"Devem ser tão fofos!"

"Com certeza, ficarão mais fofos ainda quando começarem a arranhar o sofá, as almofadas, a minha poltrona..." Enumerou, sarcástico.

E o velho Draco finalmente está de volta... Pensou ela, antes de fechar os olhos e o abraçar mais.

"Gina?"

" Ahh, Merlin! Draco, agora eu tenho que dormir por dois! O que é dessa vez?"

"Só para ter certeza de que você sabe."

"De que eu sei o que?"

"Que eu te amo."

Fim


N/B: Acabou? (O.O) Como assim? segurando as lágrimas Tipo, acabou o Manual? Caaaaalma, meninas! Ainda vem o epílogo por aí... Mas, basicamente, acabou sim... Enfim, eu estou me metendo aqui porque não podia deixar de agradecer à Carol por me deixar betar essa fic, que foi amor à primeira lida! Acho que, de todas as fics que começam com Draco e Gina já como casal, essa é a melhor! Aliás, melhor até que muitas outras... Muito bacana, os melhores Draco e Gina escritos ultimamente, não concordam? Esse é o Draco que eu queria de presente... Agora, chega de falar... Carol, minha gemola, depois de tantas madrugadas escrevendo, lendo coisas, procurando fotos, muito "transmimento de pensação" depois, aqui está Manual de Sobrevivência com Virginia Weasley, uma fic mais do que bacana... snif Ti anhamuuuu! Parabéns! Essa fic entra, com certeza, pro hall de fics clássicas! (rasgação de seda explícita, bobagem...)

N/A: Nem preciso dizer que amei essa N/B ai de cima ne? Alias, eu amo essa menina, e sem ela esse cap 10 não teria saído 1/3 do que ele é agora. Mari, o que seria de mim( e de Manual) sem vc? Sem contar que algumas partes na fic pertencem á ela (ai ai, la vou eu ter q pagar Royalts)

Mas enfim, nem acredito que a fic acabou. Esou sentindo um vazio, só de não ter q passar o dia pensando nela, imaginando as falas, as cenas, os capítulos... Mas logo esse vazio sera preenchido, prometo! E enfim, eu vou estar escrevendo(em dupla com a Mari) a primeira fic que não será só comedia! Aguardem por "Laços". Prometo tentar não avacalhar. E a Mari promete que vai escrever as partes fofas!

Voltando á Manual, eu já estou produzindo o epílogo e espero que ele não fique tão grande como esse capitulo. Mas ele deve demorar um pouco pra sair, por que a partir de segunda eu num sou mais uma vagal que fica a madrugada inteira na internet... Então, peço a paciência de vcs!

Ahhh e tbm eu planejo agradecer a todos que mandaram review, mas é q hj num vai rolar pq eu to postando ele as pressas (e fugindo das pedradas)

E mesmo assim, agradeço de coração a todos que deram suas opiniões, me escutaram, enfim, leram a fic. E chega de clima de despedida por hj, que eu já to quase chorando ( ô manteiga derretida!)