Segundos ternamente repulsivos

Nota da autora: A música não está separada em suas estrofes originais, dispus a letra de acordo com sua relação com Tom e Gina. Portanto, cada conjunto de versos ilustra o que cada um sente e vive. Não tendo experiência em escrever fics desse casal, é possível vocês encontrarem aqui uma interpretação incomum para o relacionamento deles. Esta música somente foi usada porque tinha a ver com o momento. Diante de uma observação em um comentário, primeiro Tom narra, depois Gina, e assim sucessivamente. As narrações deles estão separadas pelas partes da música.

Música: Vai

Intérprete: Paulo Ricardo

Vai

Já não há motivos pra ficar agora

Pegue tudo que é seu e vá embora

Não preciso mais dela. Enfraquecida, não serve para absolutamente nada. Tentei sutilmente alertá-la que cumprira minhas ordens de forma exemplar, apesar de certas falhas causadas pela sua meninice. Mas ela ignorou ou não entendeu o aviso, de forma que apoderei-me demais de seu corpo, pois ela permitiu. Mas é problema dela. Eu não mandei se aproximar tanto durante esse tempo que estivemos juntos.

Agora, tenho de suportar ela se entristecer visivelmente por minha causa, vê-la diante de mim suplicando para que eu não machuque mais seu coração. Não sei se consigo fazer isso, somente insisto em mandar meus olhos pararem de persegui-la com essa voracidade estranha. Gina me deixa estranho.

Alguma coisa aconteceu

Algo que havia se perdeu

O que um dia foi um grande amor

Confiar nele não foi a melhor atitude que tomei. Mas bloquear a satisfação de ter a atenção de alguém que se envolvia em minhas aflições profundas sem me esquecer, era uma coisa impossível de se fazer. Não sei definir. Amor ou necessidade, o fato é que sentindo que ele vai me abandonar pela primeira vez e jogar-me fora como fiz com o diário, pretendo não esmorecer, independente do que ele resolva fazer comigo nessa Câmara.

Uma prisão voluntária e controversa é esse olhar que ele me dirige.

- Por que você não pára de me ferir?

Acho que ele ouviu. Minhas pernas bambas quase me derrubaram ajoealhada perante Tom, que não é mais um mero espectro ou folha que responde. Queria tocá-lo... Perder-me mais não é perigoso. O pior já aconteceu.

Me abrace mas não chore, por favor

Melhor dizer adeus e não guardar rancor

Não vamos trocar ressentimentos

Melhor a gente dar um tempo

Tentar deixar pra trás o que passou

Ao ver uma pequena lágrima formar-se nos olhos da pequena, não condoí-me demais. Apenas importa que ela pare com essa reação romântica e tola. Usei-a, e ela não parece se enraivecer o bastante por isso. Portanto, terei raiva por nós dois, pois este laço que nos une precisa se desintegrar rapidamente, assim como começou. Ainda que não haja laço algum, porque o coração dela pulsa, e o meu quando fez isso eu soube reprimir me e reconhecer o ridículo, o absurdo de me sentir protegido e realmente amado quando fico com ela.

Discutir o que aconteceu é desnecessário. Ela vai se lembrar de mim como uma má passagem antes de morrer. Inútil pensar o contrário. Eu nunca tive um abraço quando tinha o direito insano de possuir esse tipo de desejo. Não será agora que desistirei de resistir a um ímpeto desgraçado! Olhe-me com ódio, criaturinha! Não me corrompa! Preciso me despedir de você friamente, me ajude!

Mas pode chegar perto, tentar me tocar. Somente continue forte, me ajude um pouco a resistir a você.

Vai

E leve com você meu coração

Porque eu já não preciso dele não

Pois tudo que ele trouxe foi desilusão

Vai

Mas saiba que você não foi capaz

De amar a quem te amou demais

Bobagem a dor que sinto por tê-lo longe. Ele não me ama. Eu não o amo. Mas o quero perto, mesmo sabendo o quanto isto é errado. O coração aprendeu a tapear-me com cada enrascada! Mesmo perdendo quase todas as forças físicas, almejo abraçá-lo e ver se nossa união tratou-se de sonho. E eu gostaria que fosse, porque assim conseguiria alcançá-lo realmente. Do modo mais impuro e incerto.

A mão dele estava estendida para mim. Seria uma ilusão? Se eu não arriscasse, talvez ficasse na dúvida a vida toda, pois aquilo era uma despedida.

- Posso?

- Se não pudesse, eu não estaria lhe estendendo a mão.

Estremeci ao tentar tocá-lo. Ainda estava longe de ser real como nos meus sonhos (porque não tive só pesadelos durante este ano letivo). Acho que ele detestou o fato de eu ter recuado bruscamente ao sentir sua frieza na pele. Mas disfarçava isso tão rápido...

Doía esta indiferença que ele mostrou com a minha explícita saudade e decepção pelo mal que me causou, por ter me conquistado. Pode ter vivido só, mas eu dei afeto a ele. Entreguei-me até os ossos, para receber isso! Ele tinha razão, sou tola. Harry também deveria achar.

E que jamais poderá te esquecer

Agora vai

E vê se não olha pra trás

A vida é o que você faz

E é melhor apenas que você

Vire suas costas, bata a porta

E se vá

Ao tornar a vitória concreta, eu sei que meu ser embebedará-se do genuíno poder merecido e tentador, e a esquecerei. Não haverá lugar para essa sensação insólita. Para a vontade de trazê-la ao meu lado e torná-la escrava terna. Ou seria eu o escravo do que sentimos?

Inferno! Caia logo, morra, liberte sua alma desse corpo mirrado e pálido. Junte-se aos anjos e aproveite para procurar ser um anjo negro, e quem sabe um dia podemos nos completar e entrelaçar em perversidade.

Por hora, cesse esse contato visual, esse pouco calor emanado que consegue me envolver e enfurecer. Renda-se. Permita que eu prossiga e você também, cada qual com seu destino.

Adoro ser o culpado de sua sorte maldita de desejar-me.

Agora vai

E vê se não olha pra trás

A vida é o que você faz

E apesar de tudo terminar

Eu te amo ainda

Saia da mente, saia de mim! Sempre esteve amargurado porque merecia a solidão e a crueldade alheia, isso sim. Escreveu a vida por letras tortas e nem depois de morto fez questão de consertar isso!

Latejava devagar e fortemente o pulsar de meu sangue. Acabou. E repreendi-me por não me arrepender de tê-lo encontrado. Caso isto for amor, é bom mesmo que eu me vá, pois não consigo me perdoar por tamanha insensatez. Choro porque você não estará aqui, não mais. Talvez nunca esteve.

E acho que sempre vou te amar

Acredito em lapsos passageiros, assim como há sementes atrofiadas. Esta é a sentença de nosso semi-sentimento falso e irritante. Você não me importará, será uma em meio à massa que perecerá diante de mim.

Mas as sementes, mesmo sem crescer, não somem.

Mesmo sem você

Eu vou tentar recomeçar

Caso eu sobreviva, não enxergarei tudo da mesma forma nem dormirei em paz. Você quer me ensinar a te ignorar, odiar ou esquecer, e eu o farei. Mesmo que agora me compadeça de sua alma que um dia foi boa, que me dominou sem querer atingir o máximo da benevolência dos sentimentos desconhecidos e reprimidos pela severidade impiedosa da sua vingança. Mas você atingiu-me e tenho certeza que retribuí o gesto. Não te vejo mais... Porém, seu reflexo gravou-se em mim.

Vai...

Dez segundos para um bruxo arder na brasa do inferno sem fim e não se culpar por querer que sua amada beije os lábios frios e insensíveis a tudo diferente dela.

Apodreça dentro de mim, querida Gina, para não deixar-me só.