Capt. 1

Mais um dia chegava ao fim. A noite era a parte favorita do dia para Chii, pois ela passava com Hideki. Ele a buscava, depois do cursinho, na confeitaria Chiroru, e eles iam para casa depois de passar na livraria. De mãos atadas, caminhavam pela calçada rindo e compartilhando um com o outro os acontecimentos do dia. Do dedo de Chii reluzia o anel de miçangas que marcava o compromisso. O objeto tinha um ano agora.

Hideki novamente não conseguira entrar na faculdade. O estudo também havia se tornado mais complicado com uma mulher em casa. Uma mulher só para ele, que ele podia amar e saber com certeza que ela correspondia. Essa era a qualidade dos persocons.

Hideki, posso tomar banho antes?

Tudo bem Chii, estarei preparando o jantar.

Não prepare a sobremesa Hideki!Trouxe chocolate para você!- e a garota correu radiante para o banheiro.

Hideki preparava um gostoso yakisoba enquanto acompanhava a música que Chii cantarolava no chuveiro. Ele já se acostumara com a idéia de ser o único a jantar, mas ao menos tinha companhia sempre. E isso era tão tranqüilizante.

Antes de o macarrão amolecer o necessário, Chii entrou molhada e nua na cozinha, sem o sorriso no rosto. Hideki, preocupado porque a persocom não costumava andar molhada pela casa. Ela já tinha amadurecido bastante desde então, para não cometer tantas encrencas ou dar trabalho.

Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou, esquecendo completamente o macarrão no fogo e indo na direção da Chii.

Tem uma coisa no olho da Chi – a bela robô piscava, coçando o olho – Isso que se chama cisco, Hideki?

Ele a pegou no colo e levou-a até o quarto, para não molhar mais a casa. Envolveu-a numa toalha, ignorando a sua timidez aparente. Ele ainda era um garoto meigo.

Por que Hideki está vermelho? Está com raiva da Chii?- o olhar dela nublou-se.

Não é isso minha pequena. – sorriu – Mas isso não importa, quero ver o que você tem no olho.

Era raro haver corpo estranho no olho da Chobits, uma vez que era um modelo mais moderno do que qualquer um do mercado e também tinha segurança contra esse tipo de coisa.

Abra o olho. – Hideki disse, e encostou a ponta do dedo vagarosamente sob o olho de sua amada. No seu indicador saiu um plástico fino e pequeno, uma lente.

Chii... o que é isso?

Chii?- estava claro que não havia compreendido nada. Nessas oras, Kotoko era muito útil.

Pesquisando. . .- a persopocket exclamava - Câmera de vídeo em forma de espelho convexo. Para captar dados projetados na retina. No. #03 do primeiro e único lote fabricado pela Kaeru Eletrônicos do Japão, marca registrada.

Custou a Hideki compreender a mensagem a todo. Mas assim que juntos as coisas, seu corpo estatelou sobre a cama de casal. Tudo, e absolutamente tudo que Chii tinha visto estava sendo gravado.

Quem? Como? E por quê?

Kotoko conseguiu projetar as imagens na televisão, mas antes advertiu que tudo filmado era enviado instantaneamente para um computador, e seu programa não era avançado o suficiente para penetrar no sistema do pc.

"Se Kotoko, uma persocom pocket de invejar, não consegue furar a segurança de um computador, e sequer rastreá-lo, é certo que o seu operador sabe muito bem o que faz e como se proteger." – pensou Hideki, enquanto Chii se vestia com uma camisa dele.

Chii parou assim que viu seu rosto numa das imagens das filmagems.

Kotoko, congele por favor. Chii, você lembra quando foi isso?

Sim, hoje de manhã. Essa é a Chii na confeitaria, é o espelho da confeitaria.

Espelho...- Hideki segurou o queixo com as mãos. – Chii, vamos fazer uma visita ao Minoru-san, está bem?

Com um beijo nos lábios de Hideki, a menina foi colocar um vestido seu.