Arsinoe: Hey, pessoas!
Espero que gostem de mais esse cap! E muito obrigada pelos reviews, viu?
Aaaaahhh não vale matar as autoras no fim do cap, heim?
Ju: Olá, pessoal.
Primeiro, muito obrigada por tudo. As reviews foram maravilhosas e ajudaram muito. Elas são gratificantes.
Em segundo... bem... XD Acho que não tenho mais nada!
Muito obrigada e boa leitura!
Céus.
Quando senti a respiração dele tocar em meu rosto, quando senti o hálito, alterado pelo sorvete de menta com chocolate, deliciosamente chamativo... Eu juro que quis beijá-lo.
Não quis pensar em nada.
Não quis me lembrar que nunca havia me relacionado com ninguém, que nunca havia entrado em qualquer espécie de relacionamento. E, definitivamente, não quis me lembrar que eu só havia beijado uma pessoa na vida e que, sem dúvida nenhuma, não fora uma experiência agradável.
Eu só queria provar da boca dele. Dos lábios carnudos, que pareciam ser um convite à minha vontade. Provar o sabor do chocolate, da menta.
Merda!
Eu só queria dar um maldito beijo na maldita boca que ele me oferecia!
– Ah, Heero... Não finja que não gostou! – Ele disse, visivelmente brincalhão. Se ele soubesse o quanto, provavelmente não me provocaria daquele jeito.
– Hn. – Apenas grunhi novamente, olhando-o pelo canto do olho. – Não me aborreça, Duo. – Eu apenas disse, seco. Ele sorriu, matreiro.
– Por que? Vai fazer o quê? – Seu tom debochado fez com que o sangue subisse à minha cabeça. Eu normalmente não me deixava levar por suas brincadeiras, mas não estava muito normal naquele dia mesmo.
Antes mesmo que ele pudesse pensar no que fazer, eu já praticamente voava para cima dele, derrubando-o no chão.
Sim. É idiota e infantil.
Mas nunca imaginei que fosse tão divertido.
As gargalhadas altas e cristalinas de Duo ecoaram por todo o lugar, enquanto eu puxava seu cabelo, soltando o elástico colorido que prendia sua trança. Rodamos pelo chão, Duo fazendo com que nós rolássemos por ele, grama entrando por entre nossas vestes e sujando-nos absurdamente de terra molhada.
E ele só ria.
Enquanto eu o fitava, hipnotizado.
Paramos, em certo momento, quando, esgotado, eu deixei que ele ficasse sobre mim, pensando que realmente era forte o suficiente para me prender.
Então, eu olhei para ele. E a visão me fez ficar simplesmente...extasiado.
Eu nunca havia visto Duo daquele jeito. As bochechas sujas de terra, coradas pela respiração ofegante, mereciam ser agarradas. Os olhos violetas estavam contentes e expressivos, dando-me uma sensação estranha e única de bem estar.
Mas... Deus.
Os cabelos soltos, imensos, caídos como véu sobre nós, conseguindo alcançar até mesmo o chão, me deixaram sem fala. Nunca, em toda a minha vida, havia tido uma visão como aquela.
Era como um anjo. Puro, lindo, imaculado em sua perfeição.
– ...Hee... – Ele sussurrou e eu notei que o estava apreciando. Era a segunda vez, em tão pouco tempo, que ficávamos em uma situação constrangedora como aquela. E, dessa vez, eu tinha a ligeira impressão de que não iríamos conseguir escapar.
Não disse nada. A besteira já estava feita mesmo.
Antes que eu pudesse entender, as pálpebras finas fecharam-se sobre os olhos violeta, enquanto ele se aproximava lentamente de mim. Meu coração bateu tão forte que eu consegui até mesmo ouvir suas batidas descompassadas. Meu sangue gelou. Ou esquentou.
Mas nenhuma dessas sensações foi equiparada ao peso suave dos lábios sobre os meus.
Mas ela me abandonou, milésimos após chegar.
Pisquei confuso, vendo Duo se levantar, um sorriso enigmático no rosto.
– Bem, Hee-Chan... – Ele agachou-se, estendo ambas as mãos para mim. Eu prontamente aceitei-as, deixando que ele me ajudasse à levantar. – Considere-se, agora, realmente beijado. Não era o que você queria?
Não consegui responder.
Apenas franzi o cenho e grunhi uma palavra inexistente, causando mais uma gargalhada em Duo.
Maldição.
Era só uma brincadeira, para ele.
...E tinha que ser, para mim também.
OoOoOoOoOoOoOoOoOoO
Oh, Deus! Eu estava muito corajoso naquele dia.
Muito mesmo.
Mas mesmo se eu tivesse levado um tiro teria valido a pena, só para sentir os lábios deles no meu.
Aqueles lábios.
Oh...meu...Deus! Eu...havia beijado Heero Yuy! Beijado...nos lábios...oh, meu Deus! Meu Deus do céu!
Antes que minha histeria ficasse estampada em meu rosto, tentei colocar minha máscara de bobo-feliz-sem-motivo-aparente.
E deu certo, porque Heero não deu sinal de ter notado minha alegria estúpida.
– Não queria, Heero? – Indaguei novamente com um sorriso brincalhão nos lábios.
– Idiota. – Notei que ele desviava o olhar.
– Suas palavras me emocionam muitas vezes, Hee-chan, mas como você pode ser tão insensível depois de nos beijarmos? – Tentei soar brincalhão, mas meu coração esperava ansioso por uma resposta.
– Você me beijou, baka. – Ok, sempre contem com Heero Yuy para acabar com seus momentos de alegria.
Abaixei a cabeça, sentindo aquele momento tão gostoso se esvair pelos meus dedos. Eu não queria que ele fosse frio comigo, afinal o fato de ele não ter me matado depois de eu tê-lo beijado devia representar algo, não?
Aparentemente não.
Apaguei meus sonhos bobos da cabeça e caminhei até a beira do lago, me sentindo estranhamente incomodado quando Heero me seguiu, parando ao meu lado.
O calor que irradiava do seu corpo fazia tremores involuntários se apossarem do meu. Mesmo sujo de terra, com os cabelos mais rebeldes e com as roupas imundas ele conseguia estar maravilhosamente lindo, parecia ter saído de algum sonho absurdamente bom.
E eu estava a cada segundo mais absurdamente apaixonado.
Por que diabos ele tinha que não me matar? Por que tinha aceitar minhas brincadeiras e até mesmo ter rolado pelo chão comigo, me deixando sentir o peso maravilhoso de seu corpo no meu?
Ele tinha feito algum pacto infernal para me enlouquecer. Não existia outra explicação lógica.
– Sinto muito se fui rude. – Um peso não familiar se fez presente sobre um de meus ombros e contive um suspiro quando notei que se tratava de sua mão.
– Não, você não foi. – Tentei parecer feliz, alegre ou mesmo estúpido, mas não consegui.
Por algum motivo minha máscara tinha rachado.
Era fácil esconder meus sentimentos enquanto não o havia tocado. Enquanto havia o contato caloroso, mas não físico. Porém...ele permitiu minha aproximação, minhas brincadeiras e até mesmo aquele rápido beijo.
E eu iria enlouquecer se continuasse pensando naquilo.
Mas, que inferno! Eu o amava desde que o vira pela maldita primeira vez! Bem, eu estava atirando nele...hum...digamos que não foi na primeira vez, mas foi bem perto disso.
– Estou um lixo e a culpa é sua. –Arregalei os olhos, vendo que Heero olhava de forma depreciativa para seu reflexo na água.
– Ora, você gostou! – Retruquei, satisfeito por aquele clima gostoso retornando.
– Nunca disse isso. – Apesar da expressão séria, eu podia ver um sorriso em seus olhos.
– Mesmo?
– É.
– Hee-chan...você quer se limpar antes de entrar em casa? – Perguntei inocentemente, me aproximando sutilmente.
– Adoraria, mas nesse estado não vai ser possível ser limpo a seco. – Eu sorri, vendo-o grunhir algo incompreensível.
– E quem disse que vai ser a seco? – Antes que ele pudesse pensar eu o empurrei vendo, com grande satisfação, ele perder o equilíbrio e cair na água.
Quando se recuperou do choque, ele me olhou incrédulo. Seus cabelos estavam colados a sua testa, o deixando ainda mais bonito.
– Duo, entre aqui agora. – Mostrei a língua. – Não me obrigue a te pegar, será bem pior. – Ponderei e com um suspiro resignado, tirei os sapatos.
Parei bem na beirada, olhando-o de forma divertida.
– Está gelada?
– Congelante.
– Hee-chan... – Protestei de forma manhosa.
– Agora. – Assenti e pulei dentro d'água.
Em cima dele.
Oh! Eu estava realmente ousado aquele dia.
OoOoOoOoOoOoOoOoOoO
Demorei alguns instantes para assimilar o que estava acontecendo. Em um instante, Duo estava me encarando, de pé, ao lado de fora. No instante seguinte, estava sobre mim.
...Sobre mim?
Em meus braços, para ser mais exato.
Devo ter segurado-o por reflexo. Mas, na verdade, não me importo como cheguei à passar um de meus braços sob suas coxas e o outro quase sob seus braços.
O que importava era que eu estava me sentindo realmente bem. A água gelada pareceu ficar aquecida e gostosa, de repente. O que foi, claro, relaxante.
Ele mal estava molhado. Apenas uma parte pequena das calças e alguns respingos na blusa escura. Meio decepcionante, na verdade. Admito que adoraria vê-lo encharcado, dos pés à cabeça, as roupas colando em cada canto de...
Deus.
– ...Hee-Chaaan... – Ele arrastou o apelido, fazendo-o duplicar de tamanho. Era quase como se ele estivesse cantando. Manhoso. Como sempre.
– Que você quer, Duo? – Eu deveria me chutar, de verdade. Com tantas coisas para questionar e dizer, eu decido logo perguntar o mais óbvio e mais ridículo.
Ele somente sorriu, contrariando toda e qualquer expectativa minha sobre suas reações. Definitivamente, ele era imprevisível demais para meu juízo. E para a minha lógica, também.
– ...Bem... – Começou, arrastando cada sílaba, a voz adocicada e visivelmente brincalhona. Eu tive a certeza, naquele instante, que seria vítima de mais uma de suas piadinhas. Esperei. – Eu sei que é de caráter extremamente romântico tomar-me em seus braços para pedir desculpas, mas... bem...você está... apalpando...
Ele esperou minha reação por alguns instantes. Eu apenas estreitei os olhos.
– Baka. – Foi tudo o que eu disse, antes de abrir meus braços e senti-lo cair na água. Afundou imediatamente, dezenas de bolhas explodindo na superfície da água.
Esperei por milésimos, antes que ele voltasse. Tive que segurar uma gargalhada ao vê-lo.
Uma imagem deveras doce e engraçada, para ser sincero.
Os cabelos, não sei como, haviam formado uma cortina sobre ele. Afastou-os do rosto, reclamando, revelando a mim sua face falsamente mal humorada. Sorri para ele, vendo que sua máscara voltava a cair.
– Hee-Chan... – Ele tentou soar ameaçador, jogando os cabelos para trás com um pouco de dificuldade. Eu apenas ergui as sobrancelhas, numa expressão visivelmente descrente. – Você vai se arrepender por isso...
– Uhn? – Produzi um som pouco convencido, como se o estivesse desafiando.
Naturalmente, esperava que ele retribuísse à altura.
E ele não me decepcionou.
A última coisa que senti, antes de ser praticamente empurrado para o fundo do lago, foram os dedos de Duo, entrando por entre meu cabelo e me lançando para baixo.
Me debati, mas claro que não foi em desespero. Na verdade, era só para entrar no jogo dele.
Ele parecia estar se divertindo, pensando que realmente era mais forte do que eu.
Juro que meu coração teria se partido em decepcioná-lo, se eu não estivesse gostando tanto de brincar com ele.
Em certo momento, quando parei de "lutar", ele pareceu ficar preocupado. Tanto que me puxou para cima com rapidez, chamando pelo meu nome assim que me tirou da água.
– Hee-Chan? – Ele me chamou, carinhoso. Mas eu quis brincar com ele.
Fingi estar desmaiado e notei que ele realmente havia acreditado nisso.
– Heee... Acorda... – Murmurou, manhoso, uma das mãos me segurando pela cintura e a outra acariciando meu rosto, delicadamente. Por pouco não me deixei adormecer de verdade. – Heeee... – A voz já tinha um tom assustado e eu me perguntei o porquê de ele parecer tão desesperado. Seria tão bobo à ponto de acreditar que eu desmaiaria assim, tão fácil?
Aparentemente, sim.
– Hn. – Grunhi, abrindo um olho. – Poupe-me, Duo.
– ... – Ele suspirou, me soltando. – Céus. Heero, não faça isso.
– Você pode brincar. Então, também posso. – Disse, tranqüilamente.
Ele ficou sem palavras, mas logo relaxou e chegou até a rir. Nesse meio tempo, resolvi reparar na situação em que estávamos.
Dentro de um lago. Sozinhos. As roupas de Duo completamente coladas no corpo belo. Os cabelos castanhos encharcados, soltos, caindo em uma cascata fascinante pelos ombros e pela cintura, colando até mesmo na face linda. Um conjunto incontestavelmente desejável.
Voltei à realidade quando ouvi sua voz me chamar. Ergui os olhos, encontrando os orbes violetas. Notei que estavam orgulhosos.
Provavelmente havia notado minha apreciação.
Resolvi, rapidamente, mudar de assunto.
– Acho que sua blusa está manchada. – Eu só podia estar com algum problema. Nunca perderia meu tempo dizendo algo fútil assim.
– Está? – Ele perguntou, parecendo surpreso. Puxou a blusa para frente, descolando-a de seu corpo com um estalo que fez minha boca ficar estranhamente seca. Analisou o pano preto por alguns instantes, procurando alguma coisa. Claro que não achou nada. – Droga.
Eu não respondi. E fiquei ainda mais mudo quando notei o que ele estava prestes à fazer.
De maneira nenhuma iria interrompê-lo.
Enroscou os dedos nas bordas da camiseta, puxando-a para cima lentamente, como se fosse uma provocação. Passou-a de leve por seus braços lisos, tirando-a por sobre a cabeça, exaltando os fios molhados.
Graças aos deuses, a água parecia ter voltado à ser fria.
– ...Não vejo a maldita mancha. – Ele grunhiu, virando a camisa do avesso e começando a esfregá-la, com vigor. Era uma coisa boba, mas eu nunca havia visto alguém que pudesse ter movimentos tão sensuais e, ao mesmo tempo, tão corriqueiros.
– ...Deixa, já deve ter saído. – Disse, sem muita convicção. Eu devia estar doente.
Nunca havia olhado Duo com outros olhos.
Quer dizer... Quase nunca.
Mas eu jamais havia reparado no quão maravilhoso ele era em tudo, até o presente momento.
Na véspera daquilo que devia ser o mais perfeito dia de minha vida, eu já não tinha certeza de mais nada. Para ser sincero, não tenho nem idéia se já tive tal certeza, alguma vez.
OoOoOoOoOoOoOoOoOoO
Ele fazia de propósito! Me olhava daquela forma apenas para me deixar com aquele calor gostoso no peito.
– Está frio... – Murmurei, continuando a revirar a camiseta, apenas para manter a cena.
Ora eu sabia que não havia mancha alguma, apenas um desejo de Heero em ver meu corpo e, obviamente, eu não negaria isso a ele.
Parei alguns instantes, pensando sobre aqueles últimos acontecimentos.
Foi a primeira vez que realmente pensei sobre. E constatei que tudo estava caminhando de forma extremamente estranha e absurdamente boa.
Eu havia conseguido em uma manhã o que não conseguira em longos anos. Heero permitiu minhas brincadeiras, meus toques...um beijo...e até mesmo deixou escapar sua apreciação por meu corpo.
O dia podia melhorar?
– Você está tremendo, Duo. Eu sabia que não era uma boa idéia. – Senti suas mãos esfregando vigorosamente meus braços. – Melhor entrarmos para nos aquecer. – Encarei seus olhos azuis, fascinado.
Definitivamente o dia podia ficar bem melhor.
Silenciosamente saímos do lago e eu sequer reclamei ao sentir a mão de Heero firmemente em meu ombro.
O frio desapareceu, mas obviamente não o deixaria saber disso, o toque quente era extremamente bem vindo.
– Heero. – Chamei suavemente, quando estávamos na porta da mansão. – Obrigado.
– Huh? – Sorri, estalando um beijo em seu rosto.
– Foi uma manhã gostosa. – Disse simplesmente, entrando em seguida, deixando-o com uma cara de bobo pra trás.
Depois de um bom banho quente, me permiti me jogar na cama, apenas para pensar sobre tudo aquilo que havia acontecido abertamente, podendo deixar diversos sorrisos idiotas brincarem em meus lábios.
Heero havia me dado diversos sinais que...talvez...apenas talvez...gostasse de mim. Não me iludiria achando que ele morria de amores, mas havia algo...além de atração que, com certeza, ele sentia por mim.
Mas não jogaria alto confessando o que sentia, deixaria que as coisas se desenvolvessem naturalmente. Tínhamos tempo. Pelo que entendi ficaríamos pelo menos duas semanas na mansão de Quatre.
Os Preventers eram uma boa organização, haviam nos dado aqueles dias de folga por algum motivo obscuro que eu ainda não entendia, mas não ia contestar, certo?
Almoçamos apenas eu e Heero. Os rapazes pareciam dispostos a nos deixar sozinhos e essa decisão, logicamente, não seria contestada também.
Almoçar com Heero era...delicioso. Principalmente quando ele engasgava com a comida, quando eu deixava meus pés roçarem em sua coxa.
Adorável vê-lo corado e me ameaçando de morte.
E isso só mostrava o quanto eu estava apaixonado.
– Acho que estou com sono. – Bocejei, quando terminei de secar a louça. – Quer dormir comigo? – Perguntei de forma inocente, vendo-o me lançar um olhar confuso.
– Por que não? – Arregalei os olhos, completamente chocado.
E ele não havia bebido uma única gota de álcool no almoço.
Antes que eu pudesse pensar, senti sua mão me puxando para a sala e com um empurrão nada delicado, fui arremessado no sofá.
– Hee... – Ele se abaixou, pousando um dedo em meus lábios. Fiquei hipnotizado pelo seu olhar e me calei rapidamente.
– Não vou admitir nenhum comentário posterior sobre o que vou fazer agora, ok? – Afirmei, incapaz de fazer outra coisa.
Me vi sendo deslocado e então...Heero estava sentado no sofá, aninhando minha cabeça em suas coxas.
Ok, vamos dar uma parada por um momento.
Nem nos meus mais doces e açucarados sonhos eu imaginaria que Heero Yuy pudesse ser tão gentil.
– Heero, o que...
– Sem comentários. – Assenti. – A manhã também foi muito gostosa pra mim. – Meu coração disparou de uma forma irreal e fechei firmemente os olhos, tentando guardar aquele calor pra sempre na memória.
Havia algo de muito errado naquele dia.
Ou muito certo.
Acordei algum tempo depois, sentindo um toque quente em meu rosto.
– Hee-chan? – Chamei manhosamente.
– Não, Duo. – Arregalei os olhos ao ouvir a voz de Quatre. – Heero saiu, foi até a cidade. – Me sentei, esfregando os olhos. – Só deve voltar mais tarde. – Assenti, me sentindo subitamente abandonado. – Te chamei porque não parecia confortável você dormir no sofá.
– Obrigado, Quatre. – Toda minha alegria pareceu sumir e eu não conseguia saber o porquê.
– Não quer ficar um pouco conosco?
– Vou deitar no quarto. – Sorri. – Peça pro Heero me chamar quando chegar. – Ele assentiu e eu subi, me jogando na cama, profundamente decepcionado por não poder passar o resto da tarde com Heero.
Adormeci novamente, só acordando ao sentir um estranho aperto no peito.
vHee? – Chamei suavemente ao descer as escadas e o encontrar jogado no sofá. – Tudo bem? – Ele me parecia um pouco melancólico.
– Estou confuso. – Me assustei com a confissão.
– Com o que?
– Amanhã...com tudo que vai acontecer amanhã, já não sei se estou certo.
– Amanhã? O que tem amanhã? – Indaguei confuso.
– Você não sabe? – Neguei com a cabeça. – Meu casamento. – Senti uma estranha vertigem. – Vou me casar com Relena amanhã.
OoOoOoOoOoOoOoOoOoO
Observei o rosto de Duo mudar de cor. Sua pele branca foi ficando, bem lentamente, ainda mais pálida, até que atingiu um estado assustador. Era como se todo o sangue do corpo dele houvesse sido drenado.
Abri a boca, pensando em explicar-lhe alguma coisa. Mas hesitei, diante do olhar que ele estava me lançando. Olhar aquele que conseguiu fazer com que meu estômago afundasse.
Um misto de desespero e decepção. Para comigo.
Deveria ter começado a falar, a me explicar, a pedir desculpas. Mas eu não tinha forças para fazer isso. Não quando eu via o rosto dele voltar a ganhar cor, agora mudando para um vermelho berrante.
– ...Quando? – Ele murmurou, a voz alterada. Eu ergui as sobrancelhas.
– Amanhã, eu já... – Comecei, não me importando em ter de repetir essa informação. Porém, ele me cortou na metade da minha frase, os olhos ficando perigosamente estreitos, as mãos sendo fechadas em punhos.
– Quando você decidiu casar com ela, Yuy? – Perguntou, seco. E a menção do meu sobrenome doeu como nunca, como um tiro dado diretamente em meu peito.
– ...Fazem... três meses... – Murmurei, vendo-o ficar ainda mais aborrecido, as mãos começando a tremer.
– TRÊS MESES, YUY! – Ele praticamente gritou, colocando as mãos, uma de cada lado da cabeça. – FORAM TRÊS MALDITOS MESES!
Eu não disse nada, esperando que ele se acalmasse.
Porém, isso não aconteceu.
– Você teve três malditos meses para me contar que ia se casar com essa mulher, essa maldita! – Ele rosnou, quase que gaguejando, ao mesmo tempo em que alternava seu tom entre gritos e sussurros. – E você vem me contar logo hoje, na véspera do seu maldito casamento!
– Duo, entenda que eu... – Àquela altura do campeonato, eu estava me perguntando o porquê de não ter certificado que ele sabia sobre o meu casamento.
Se bem que eu fui idiota em imaginar que, sabendo que eu estava prestes à subir no altar, ele teria me beijado, passeado, compartilhado uma colher de sorvete comigo e ainda ter me deixado ver seu corpo, mesmo que eu não soubesse se foi por querer ou não.
De qualquer maneira... Eu deveria ter abordado aquele assunto delicado com mais calma.
– Duo, olha... – Comecei novamente, já que notei que sequer havia terminado minha frase anterior. – Eu não sou o tipo de pessoa que fala demais. E não sou do tipo que explico demais, também.
– ...Não sei o porquê de estarmos nessa situação, então. – Ele respondeu, ríspido, me fazendo notar que, mais uma vez, eu havia escolhido as palavras erradas.
– Tudo bem. Eu vou ser sincero, então. – Falei, decidido, tentando passar uma imagem forte. Porém, tive a estranha sensação de diminuir de tamanho diante do olhar dele, como se duvidasse que eu conseguisse trazer de volta a impressão que ele tinha de mim.
Escolhendo as palavras, comecei à descrever para ele tudo o que havia acontecido comigo naquele tempo em que ficamos separados, nos falando uma vez por mês, não fazendo nem mesmo questão de ocultar os detalhes mais sórdidos.
Contei à ele que trabalhar para Relena Peacecraft não era nada fácil, o que eu realmente não creio que fez muita diferença para ele. Contei para ele sobre quando, sozinhos dentro do luxuosíssimo carro exclusivo dela, ela tomou minha mão, obrigando-me a entrelaçar os nossos dedos, enquanto tentava criar um clima que simplesmente não existia entre nós dois.
Contei para ele que, naquela mesma ocasião, ela declamou um lindo poema, os olhos azuis se enchendo d'água, as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto tentava, à todo custo, me emocionar como ela supostamente estava emocionada. O que, de fato, ela não conseguiu fazer. Na verdade, nem chegou perto disso.
"Eu estava incrédulo demais, olhando a Soberana do Mundo, diante de mim, parecendo tão mais indefesa do que já era naturalmente, abrindo seu coração e entregando seus sentimentos na mão da pessoa menos indicada, no mundo inteiro. Eu tive a certeza absoluta, desde o estranho momento em que ela começou a recitar, dizendo o quanto me amava e o quanto queria ficar junto comigo para sempre, de que eu não saberia lidar com aquela revelação. De jeito nenhum".
Eu pude ver o rosto dele se contorcer, numa estranha mistura de desgosto e medo, quando eu lhe disse o que ela fez, após praticamente gastar todo o seu estoque de saliva e lágrimas comigo.
"Ela ergueu a outra mão, passando por meu rosto, procurando algum indício de que eu havia derramado o mesmo que ela. Ou pelo menos uma gota.
Nem isso. Eu continuava seco e impassível, olhando para ela como um adulto maduro olharia para uma adolescente apaixonada, como um professor olharia para uma aluna. Simplesmente impossível.
Eu a via só como alguém que devia proteger, para que não acabasse tendo que matar dezenas de novo. Para que não acabasse tendo que pegar crianças mortas em meus braços ou ver perecerem doces meninas e seus cachorrinhos.
Não reclamei quando ela se aproximou de mim sem permissão, como se fosse muito íntima, tampouco rebati quando ela sussurrou, em meu ouvido, o quanto queria me conquistar.
Para mim, ela continuava sendo apenas a Rainha do Mundo.
Meu senso falou mais alto do que quaisquer outras coisas, me fazendo aceitar o beijo que ela me deu, tentando fazer com que eu me rendesse aos seus encantos.
Foi um beijo pouco interessante, que não me despertou nada. Exceto, é claro, a vontade de acabar com ele. Vontade essa que demorei à realizar, já que ela havia passado os braços por detrás de minha cabeça, puxando-me com força contra ela, quase me fazendo entortar.
Quando ela me soltou, agradeci imensamente por conseguir respirar ar puro de novo.
Quando seus olhos azuis, mais uma vez emocionados, como se sua dona não tivesse notado meu pouco deleite com seu beijo, encararam os meus, eu pressenti que alguma coisa ainda menos lógica estava por vir.
E não estava errado, claro.
Ela tomou minhas mãos novamente, olhando direto nos meus olhos, a boca trêmula, as lágrimas escorrendo mais uma vez, me fazendo quase perguntá-la como ela ainda não tinha morrido desidratada, pronta para fazer a temida pergunta ou afirmação."
– Quer se casar comigo, Heero Yuy? – Pronunciei, tomando o cuidado de imitar a voz dela, notando uma ínfima e furtiva elevação ao canto da boca de Duo.
Ficamos em silêncio por vários instantes, ele me encarando como se saber como eu havia aceitado entrar naquela fria e eu tentando me lembrar o que havia passado na minha cabeça quando aquela situação para lá de bizarra havia acontecido.
Lembrei, então, do que eu lhe disse.
E me lembrei, principalmente, das lágrimas que empaparam minha camisa e das unhas que conseguiram alargá-la absurdamente.
Eu apenas pronunciei para ela a palavra "Positivo".
Se existiu algo de romântico nisso, eu deveria ser algo equivalente à Shakespeare.
– ...E? – Fui novamente retirado de meu transe por Duo, que se pronunciou de maneira ínfima. – Por que, exatamente, você aceitou?
Só pude encará-lo, mudo.
Eu realmente deveria saber o porquê de ter aceitado um pedido de casamento. Não era como um convite para ir à uma festa ou para sair de casa e ir até a esquina. Era, meu Deus, um convite para dividir uma vida com alguém.
E, o mais estranho, era que eu não lembrava o porquê de ter aceitado.
– Heero? – Mais uma vez, ele fez questão de me trazer de volta à realidade. Olhei para ele, sabendo que ele merecia ter uma resposta decente para sua dúvida.
Então, o que pude fazer foi lhe contar o que eu achava, no momento.
Eu acho que havia aceitado casar com ela apenas por aceitar.
Porque minha vida não tinha nada demais, porque eu simplesmente vivia para defender a existência de uma garota mimada. Porque eu simplesmente não tinha coisa alguma que pudesse valer realmente à pena.
Aceitei porque simplesmente não tinha opção nenhuma melhor do que aquela.
Duo me encarou por vários instantes, o silêncio deveras incômodo que parecia ser nosso hino voltando a tomar conta da sala onde estávamos.
Por fim, ele simplesmente se levantou, me fazendo olhá-lo, interrogativo.
Com o olhar mais frio que eu já pude testemunhar em alguém, ele suspirou longamente, antes de me dirigir a palavra.
– Não sei bem o que passou por sua cabeça, Heero. E sei menos ainda o que está passando por ela, agora. – Ele disse, a voz soando tão cortante que eu pude me sentir sangrando. – Mas eu, definitivamente, não vou fazer papel de idiota.
Não respondi e ele entendeu isso como um apelo para que ele falasse mais.
– Tudo bem, você está confuso. Tudo bem, você não saber se quer casar com a Rainha do Mundo, a toda poderosa que pode lhe dar o universo. – Ele começou a perder as estribeiras novamente, as mãos fazendo gestos exagerados, sinal óbvio de que ele estava nervoso. – Agora, ponha-se no meu lugar. Como você se sentiria, Heero?
– ...Por que isso te afeta tanto, afinal? – Eu só pude lhe perguntar. De repente, ele agiu como se nós tivéssemos algum relacionamento de longa data, como se eu o tivesse traído.
Não esperava a reação dele.
Ele teria caído, se não houvesse se segurado com força no braço da poltrona ao seu lado.
Abri a boca para dizer mais alguma coisa, mas ele se virou abruptamente, dando as costas para mim. Encarei, notando seus músculos completamente comprimidos.
– Passe bem, Heero Yuy. E divirta-se em seu showzinho público, amanhã.
Incrédulo, eu o vi partindo.
E tive a ligeira impressão de que estava perdendo muito mais do que imaginava.
Vamos as respostas dos reviews super fofos que recebemos:
Faye: Hueheuehueheuheu XP Desfecho feliz e saltitante? Dez capítulos? Tsc, tsc... Você errou, gafanhota XP Obrigada por tudo, moça fofa.
Karin Kamya: Ah, obrigada! Acho que estávamos inspiradas quando a idéia da colher surgiu... hehehehehe...
BelaYoukai: Beijo de perder o fôlego? hehehehe... ainda é cedo... muito cedo... /risada megalomaníaca/
Litha: Safado? O Duo? Bem... Um pouco, talvez. Mas ainda tem coisa pra acontecer. XP De qualquer maneira... No ônibus? o.O Bem legal, isso. Obrigada pela review!
MaiMai: Bem, muito obrigada pela review. E você acertou, realmente. Que bom! XD
Pipe: Eita, tia Pipe... Cada dia mais sádica com a gente, heim? EU NÃO SOU RABUGENTA! (Rabugenta) Grunf. E sim, eu sou o Heero. hehehehehe XP Obrigada pela review, vó. (Sai correndo pra não apanhar)
Lili: Realmente, Lili-San... Foi graças à você que essa parceria surgiu. Obrigada mesmo. o/ E EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ NÃO ADIVINHOU X.X Afe... tá perdoada dessa vez. Leia bem: Dessa vez. Grunf.
Anna-Malfoy: Foi tão direto assim? Jura mesmo? O.o Eu não achei tanto assim, não... Mas já que foi impactante, compensa! Obrigada pela review, moça!
Bem, lindinhas, atéo próximo cap!
E lembrem-se: quanto mais reviews...mais rápido vem o cap!
