Um Dia Perfeito
Capítulo 3
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Entrei no quarto quase quebrando a porta no processo.
Por que quando você mais precisa de uma faca ou qualquer objeto cortante, nunca tem um em mãos? Precisava fazer uma nota mental para falar com Quatre sobre manter objetos propícios nos quartos caso um de seus amigos resolvesse cometer suicídio no meio da noite
Eu estava muito...muito furioso com tudo.
Eu odiava chorar, odiava sentir meu coração ser despedaçado em mil caquinhos, odiava me sentir vulnerável, mas eu odiava mesmo ser feito de trouxa.
E Heero conseguiu esse feito.
Brincou comigo a manhã inteira. Sim, brincou! Porque ele não era cego a ponto de não perceber o que estava acontecendo e, logicamente, ele não poderia não ter percebido o que eu sentia.
Soquei o travesseiro com vontade, sentindo meu rosto ficar molhado.
Eu nunca chorei tanto em toda a minha maldita vida.
Eu chorava nas vezes que imaginava Heero com Relena, eu chorava quando pensava que jamais teria algo com ele. Mas...eu apenas achava, eram suposições e coisas da minha mente doentia.
Porém aquele casamento dos infernos era bem real.
Tão real quanto minhas lágrimas que encharcavam o travesseiro.
O que mais doía não era o casamento em si, mas, merda! Eu achava que Heero me considerava um amigo! E depois daquela manhã eu achava que...me considerava um pouco mais que isso. Mas claro que eu tinha que estar absurdamente errado! Heero alçou todas as minhas esperanças, me fazendo planar em algum lugar distante, completamente satisfeito para então...esmaga-las em pedacinhos impossíveis de serem colados novamente.
Ele conseguiu me destruir.
Me sentia ruir por dentro, vendo todos os sonhos bobos que passaram por minha cabeça aquela tarde desmoronarem um a um.
Uma vida juntos...sorrisos...beijos...os toques...uma casa com um cachorro.
Tudo...tudo destruído.
E a pior parte é que eu não consegui odia-lo. Nem por um maldito minuto! Pra mim Relena era a personificação dos meus problemas, uma verdadeira besta do inferno, mas...minha mente sabia que a culpa não era dela. Não foi ela quem passou uma manhã deliciosa comigo, não foi ela que alimentou minhas esperanças.
Foi aquele maldito desgraçado que eu amava com cada fibra do meu corpo.
Eu deveria realmente me matar.
Talvez beber água sanitária fosse uma boa opção.
Talvez correr até seu quarto e fazer com ele o amor mais louco de nossas vidas também fosse uma boa escolha.
Não...não eram opções realmente válidas. Eu não me mataria e tampouco me entregaria dessa forma. Eu o amava demais pra isso.
Afundei o rosto no travesseiro, soluçando baixinho. Minha raiva havia sido descontada naqueles pensamentos absurdos, então só sobrava aquela dor estranha em meu peito.
Duo? - Me virei abruptamente, vendo Heero parado na porta do quarto.
Não hoje, Heero...não agora, por favor, vá embora. - Pedi, voltando a afundar o rosto no travesseiro.
Ele hesitou, mas se foi, fechando a porta em seguida. Ouvi seu suspiro e sabia que não havia feito nada daquilo de propósito...não podia mesmo. Heero era...inocente em certas coisas realmente, não deve ter percebido a verdade por trás dos meus gestos.
Respirei aliviado, vendo que meu raciocínio lógico voltava aos poucos.
Desistindo da dor e dos pensamentos me virei, ordenando ao meu corpo que dormisse e minha mente cansada descansasse. O dia seguinte seria infernal demais. Eu precisava estar bem para agüenta-lo.
Não foi um sono tranqüilo, mas me orgulho em dizer que consegui sufocar bem meus gritos na madrugada, já que nenhum dos pilotos apareceu.
Pisquei, notando que já amanhecera. Esfreguei os olhos de forma preguiçosa e finalmente notei a extensão dos fatos.
Meu Deus! Eu não sabia que horas era o casamento dos infernos! Eu...precisava ver Heero antes! Precisava olha-lo...precisava...precisava...Diabos! Eu precisava estar com ele!
Com os cabelos em desalinho e o rosto marcado pelas lágrimas da noite anterior e pela dobra dos lençóis, desci desesperado, encontrando meus quatro amigos na sala.
Heero estava sentado no sofá e parecia...infeliz. Quatre, Trowa e Wufei o cercavam, querendo saber o porquê de sua tristeza. E como resposta ele me olhou, fazendo três pescoços se voltarem em minha direção.
Sorri fracamente, vendo Quatre arrastar os outros para longe.
Meus olhos encontraram os de Heero e me senti derreter com o calor que emanava deles. Ficamos nos olhando por longos minutos, até que ele se levantou, me fazendo recuar um passo.
Duo...nós... - Ele começou, mas subitamente se calou.
Heero, eu...sinto muito. - Disse de forma desolada.
Não! A culpa...
Ninguém tem culpa. - Murmurei, me aproximando, ficando tão perto dele que podia sentir perfeitamente sua respiração em minha pele. - Eu apenas...queria lhe dar um presente antes...de você partir. - Ele segurou meu rosto entre suas mãos, provocando um arrepio gostoso ao longo das minhas costas. - Um presente de casamento. - Seu rosto se contraiu numa careta, como se a palavra "casamento" fosse muito desagradável.
Eu não quero, Duo. - Suspirei. - O único presente que queria...era o entendimento. - O olhei de forma confusa. - Eu queria entender porque me parece tão errado estar vestido desse jeito indo pra uma igreja, ligar minha vida com a dela.
Desista. - Disse simplesmente, me afastando
Eu...não posso. - Eu não esperaria menos dele. - Eu dei minha palavra e...
Tudo bem, Heero. - Sorri de forma fraca. - Apenas me espere aqui, sim? Vou pegar...o seu presente. - Antes que ele pudesse retrucar me virei, subindo a escada.
Do meu quarto pude ouvir uma discussão abafada entre Heero e Wufei. Aparentemente o japonês se recusava a ir embora sem meu presente e o chinês tentava falar-lhe sobre honra e essas asneiras.
Permiti que um leve sorriso brincasse em meus lábios, enquanto pegava o objeto dentro de minha mala.
Não tinha valor algum, mas seria o suficiente para Heero jamais me esquecer.
Meu coração batia descompassado quando voltei a sala e o encontrei de costas para a escada, olhando pela janela, parecendo...melancólico.
Silenciosamente fiquei atrás de seu corpo e vendei seus olhos com o lenço de seda.
O que é isso, Duo? - Ele indagou, parecendo surpreso.
Seu presente. - Respondi enquanto apertava o nó.
Como assim? Que presente é esse?
Vamos, Hee-chan. - Segurei uma de suas mãos e o guiei até onde queria, vendo como ele me acompanhava serenamente, confiando de forma plena em mim.
Isso acalmou meu coração.
Paramos bruscamente e eu notei que ele estava calado, respirando devagar, tentando descobrir onde estávamos e se o lugar oferecia algum perigo. Sempre o Soldado Perfeito.
Tão doce aos meus olhos e aos meus sentidos.
Ficamos muitos minutos apenas lá, parados. Eu olhava o lago em nossa frente, me lembrando em como seus braços fortes prenderam meu corpo na manhã anterior e Heero...Heero parecia confuso.
Por que não nos sentamos? - Aquela voz doce era uma novidade para mim.
Não quero que suje seu terno, ela não vai gostar. - Eu não queria soar tão cáustico, mas merda! Em algumas horas, ou menos, eu perderia o homem que, seguramente, era a personificação de todos os meus sonhos para uma patricinha mimada! Me dêem um desconto!
Duo... - Seu tom soou bastante dolorido e eu me arrependi no mesmo momento, querendo enfiar minha cabeça na água e não tirar até que ficasse azul.
Respirando fundo fiquei na frente de seu corpo, acariciando seus braços com meus dedos trêmulos. Eu precisava...precisava ter coragem.
Não fale, Heero...apenas sinta. - Sussurrei em seu ouvido, delicadamente, rezando para que a força recém adquirida não fosse pelo ralo. Ele pareceu ligeiramente assustado diante das minhas palavras, mas notei que ele estava disposto à deixar que eu o conduzisse.
Com calma, eu ergui meus braços, delicadamente, não querendo deixá-lo ainda mais assustado do que já estava, puxando-o lentamente para perto de mim.
Ele se deixou conduzir, o corpo solto, para que eu decidisse o que queria fazer. Emocionado, eu ergui minhas mãos, passando-as por trás de sua nuca, encontrando aquilo que procurava. Com habilidade, eu desfiz o nó mínimo que prendia a venda nos olhos dele.
Sorri diante da entrega não-pronunciada, aproximando-me dele com calma, dando pouco mais de um passo. Olhei em seus olhos cobalto. Olhos que eu jamais havia visto daquela maneira. Tristeza e dúvida se misturavam com surpresa e delírio nas orbes coloridas.
Meu coração apertou ao notar até que a melancolia tão típica do antigo soldado havia tomado conta dele novamente. Eu podia sentir. E doía em nós dois.
Depois, quando ele me olhou, não pude evitar um longo suspiro. A venda caiu ao chão, mas eu não me importei. Apenas envolvi sua cintura, aninhando meu rosto em seu peito, sentindo o delicioso cheiro de colônia que ele exalava.
Não era justo.
Definitivamente, não era justo.
Senti seus braços hesitantes envolverem meu corpo lentamente, como se tivessem medo que eu fosse sumir. Mas isso não aconteceria, nem se eu fosse louco.
O máximo que poderia e iria acontecer, era o contrário. Mas eu não queria ter de pensar nisso, mesmo sabendo que não poderia tirar tal pensamento da cabeça.
Ergui a cabeça, notando a proximidade de nossos rostos.
Hee-Chan... - Murmurei, não conseguindo mais me conter. Duas lágrimas rolaram pelo meu rosto, quando eu pronunciei o que o fez sorrir e perder a cor, ao mesmo tempo. - Seu presente, anjo...sou eu... - Quase solucei, mas consegui me manter firme. Enquanto estivesse com ele, ali, faria o possível e o impossível para que pudéssemos aproveitar esse último momento. - Enquanto ela não vira a Senhora Yuy, eu sou seu...e mesmo depois...eu...
Não pude pronunciar mais nada.
Os lábios de Heero estavam sobre os meus.
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Quando Duo me levou ao lado de fora, eu não poderia sequer ter pensado que acabaríamos daquele jeito. Suas mãos já haviam passado da minha cintura para meu pescoço, envolvendo-o. Sentia os dedos deles perdidos por entre meus cabelos, enquanto os meus próprios seguravam firmemente o seu quadril. Um estranho medo havia se apossado de mim e eu queria ter certeza de que ele não iria sumir se eu o soltasse.
Eu fui ousado, admito. E, pela primeira vez, em quase vinte e um anos de existência, eu me permiti ser impulsivo. A melhor parte é poder dizer, com toda a convicção, que eu simplesmente amei poder fazer isso.
Quando Duo me disse que não queria que eu sujasse meu terno, eu tive uma vontade desgraçada de jogar meu paletó no rio, junto com meus sapatos caríssimos e as meias importadas.
Naquele instante, além de sentir meu mundo desabar, eu senti que estava perdendo-o. Perdendo tudo. O que eu poderia sentir, o que ele sentia, o que nós poderíamos ter ou não.
Rezando para que já não tivesse perdido, eu o encarei. Ouvi cada uma de suas palavras ecoando em minha cabeça, mas não deixei sequer que ele as terminasse.
E não poderia me sentir, de maneira nenhuma, arrependido.
Nosso beijo começou calmo, gentil. Ambos apenas saboreávamos o sabor maravilhoso da descoberta. Ele era tão mais experiente do que eu, que eu cheguei até a hesitar, por alguns instantes.
Mas decidi que o melhor que eu tinha a fazer era deixar rolar. Ele queria tanto quanto eu. Não poderia errar tanto assim.
Quando ele tocou meus lábios com a ponta da língua, eu sei que não deveria, mas eu travei. Era o tipo de contato com o qual não estava acostumado.
Na verdade... Eu nunca havia feito aquilo. Nem mesmo com Relena, embora ela já tivesse tentando fazê-lo dezenas e dezenas de vezes. Por mais vergonhoso que pudesse ser, nem isso eu sabia fazer direito.
Porém, Duo pareceu me compreender, pois encerrou o beijo e olhou-me nos olhos.
...Hee-Chan... - Murmurou, baixinho, os olhos violeta brilhando de... lágrimas. Ele não queria derramá-las, não queria que eu me sentisse mal. Duo sempre arrumava um jeito de me surpreender. - Tudo bem... Eu entendo você, eu não...
Mas, Duo, eu... - Não pude deixar aquilo daquele jeito. - Eu quero...
Não, Hee... - Ele sussurrou novamente, os olhos refletindo tristeza e até uma ligeira decepção, que ele também tentava esconder. - Eu sei como se sente... Deixe, se você não está à vontade para... me beijar, eu entendo. Deixe como está, é melhor assim, mesmo.
Não. Eu quero, Duo. - Falei, sério. Não permitiria que ele ficasse com aquela imagem de mim. De maneira alguma. - Vamos.
...Vamos o quê? - Ele me perguntou, um ar tão inocente que quase me fez suspirar.
Me beija, Duo. - Eu pedi, delicadamente. - Eu lhe beijei. Ou tentei. Agora eu quero que você faça isso.
Embora muito surpreso, Duo assentiu ligeiramente com a cabeça, piscando os olhos molhados.
Os milésimos se arrastaram quando eu o vi fechar os olhos marejados com delicadeza, o rosto voltando a se aproximar do meu, de maneira tranqüila, como se não houvesse tempo, cobranças.
Perto.
Cada vez mais perto de mim.
Teria sido perfeito.
Se algo não estivesse produzindo bipes absurdamente altos e vibrando em meu bolso.
...Não creio... - Murmurei, frustrado, tirando o maldito celular de dentro do terno. Eu não o havia colocado ali, eu sabia.
Fora ela. Só podia ter sido.
Olhei para o número que piscava insistente, cheio de ridículos coraçõeszinhos, na tela do celular luxuoso. Era o número de Relena. Não, eu não sei o número dela. Mas as letras em cor de rosa berrante tiravam toda e qualquer dúvida minha.
Desliguei o celular, olhando para Duo.
Incrível como eu simplesmente perdi as palavras. E, pelo visto, ele estava no mesmo estado que eu.
...Duo, eu... - Tentei começar, mas parei quando ele se virou abruptamente, me fazendo encarar suas costas. Emudeci, notando que o corpo dele sofria leves espasmos. Não perguntei nem disse nada, não pensei que tivesse o direito para fazer tal coisa.
...Vá, Heero... - Ele murmurou e eu notei que ele estava olhando para o lago. Ele provavelmente estava me vendo pelo reflexo. Suspirei, tentando me aproximar. Mas sua voz cortante, quase gritando "Pare", fez com que eu não conseguisse sair do lugar. - Vá destruir sua vida na igreja com ela. Ou fique e seja feliz.
Ele me pareceu deveras cruel, egoísta. Mas eu sinceramente estava quase concordando com ele.
Duo, eu... - Apesar de confuso, eu tentei me aproximar de novo, mas ele se virou para mim. Os olhos violeta ficaram na altura dos meus, a tristeza passada por eles me comoveu deveras. Eu quase tomei Duo em meus braços para consolá-lo. Mas me controlei, notando que ele queria falar.
Heero... - Ele deu um ou dois passos para a frente, ficando com o rosto perto do meu. Encarando-me, ele começou, a voz suave, não condizendo nem um pouco com o modo defensivo no qual se encontrava. - Perdoe-me. Sei que não tenho direito de julgá-lo, de decidir o que você tem que fazer... De verdade... Me perdoe, por favor... Eu acho que tenho que parar de pensar em mim, não é?
Eu não pude responder.
De qualquer maneira... Eu tenho que ser forte, não? Porque você está sendo e eu tenho que me espelhar nisso para sobreviver. - Ele sibilou, os olhos quase transbordando. - Só te peço que seja feliz, Heero. - Eu quase não processei o abraço apertado que ele me deu, cheio de mágoa e desespero. Mas não pude retribuir o gesto, porque ele se foi tão rápido quanto se aproximou.
...Duo... - Murmurei, vendo-o engolir um soluço. - Eu não quero te machucar...
Esqueça, Hee... Heero Yuy. - Ele se corrigiu, me fazendo sentir uma dor desgraçada no peito. - Vai ser melhor assim, mesmo.
Eu não disse nada quando ele virou as costas para mim e se pôs a andar. Por mais que eu quisesse correr atrás dele e puxá-lo forte para meus braços, eu não podia. Não seria justo, nem comigo, nem com Relena.
Aliás... Eu já estava atrasado.
Sentindo que estava acabando de matar meu coração, eu me virei, caminhando em direção à mansão de Quatre e ao carro que me esperava.
Iria me casar.
Mesmo que aquilo significasse perder tudo. E até mais do que isso.
Caminhei por alguns instantes, as mãos achando os bolsos da minha calça, enquanto os meus sapatos chutavam as pedrinhas que apareciam no meu caminho. Eu definitivamente não estava muito tranqüilo.
Por mais que pareça clichê, eu não consigo evitar. Confusão nunca foi algo normal, para mim.
Eu tinha a plena consciência de que não deveria sentir isso, àquela altura do campeonato. Mas, diabos! Eu não conseguia fingir que estava tudo correndo bem.
Balancei a cabeça quando avistei o Cabriolet azul celeste que estava reservado para mim. Olhei para os lados, procurando meus amigos, mas o chofer se aproximou, carregando a chave do carro, dizendo que os 'senhores' já haviam partido há quase uma hora e meia e que ele iria me levar.
Agradeci rapidamente, e logo tomei a chave de sua mão e pulei dentro do carro, me despedindo dele com um tchau e lançando uma moeda pomposa para o alto, vendo pelo retrovisor que ele a havia segurado.
Acelerei, tentando fazer com que a poeira da estrada pudesse mudar meus pensamentos. Em vão, claro.
Tudo o que consegui foi perder ainda mais tempo, tendo que parar o carro para conseguir controlar os espasmos causados pela tosse.
Alguns minutos depois, já recuperado, embora um pouco zonzo ainda, continuei indo em direção à igreja. Enquanto não chegava, precisava arrumar alguma distração. Qualquer coisa que tirasse Duo da minha cabeça.
Abri o porta luvas luxuoso, encontrando algo que nunca pensaria em encontrar.
Cigarros. E CDs de capas pretas.
Assustador seria a palavra certa para definir aquele som ridiculamente alto e mal formado que ecoou por todo o local em que eu estava, assim que coloquei-o no CD player.
Mesmo sendo estranho, eu admito que adorei.
Puxando um cigarro e acendendo-o, mesmo não sendo adepto daquele tipo de coisa, eu continuei indo para a igreja. Não era a postura que um noivo deveria ter e eu estava certo disso.
Mas realmente não me importava.
Parei o carro de qualquer maneira, perto da igreja. Desliguei o som barulhento e lancei fora o cigarro, ajeitando minhas roupas pela última vez. Deveria estar um lixo. Mas não fazia muita diferença.
Quando eu apareci na porta da igreja, todos os convidados e todos os sacerdotes olharam para mim, ao mesmo tempo. O peso de dezenas e dezenas de olhares é algo realmente incômodo.
Caminhei até o altar e esperei...como um animal que seria sacrificado em algum ritual macabro. Não que não tivesse nenhuma semelhança...
A marcha nupcial começou a tocar e então Relena apareceu na porta da igreja. Seu vestido caríssimo, que, provavelmente, fora pago com o dinheiro do povo que tanto a amava, e com um gigantesco sorriso platinado. Ela parecia tão segura de si, tão contente. E eu me sentia um lixo maior ainda.
Relena poderia estar realmente linda.
Poderia.
Se não estivesse tão artificial.
Me perguntei por alguns instantes como ela havia conseguido alisar tanto o cabelo, à ponto de provavelmente ter esticado o cérebro, também. Sobre a cabeça mais loura do que normalmente era, uma coroa de ouro com safiras gigantes. Meus olhos doeram por culpa do reflexo delas.
O véu gigantesco, exagerado na minha opinião, fora feito para ser carregado por um mínimo de três pessoas. Juntamente com a grinalda, claro.
Mas a parte mais bizarra era o espartilho. Sim, Relena estava usando um espartilho, por mais que isso fosse considerado até meio vulgar dentre as mulheres da sociedade burguesa. Um bando de hipócritas, claro. Até mesmo porque era uma das peças mais charmosas do vestuário feminino.
De qualquer maneira, seu vestido não possuía alças, apenas estava preso no corpo na área dos seios, firmemente amarrado atrás por fios douradas. E, a frente, o famigerado espartilho.
Sim, era uma peça extremamente bonita.
Mas o fato de ela tê-lo apertado ao máximo, fazendo com que seus seios triplicassem de tamanho e que sua cintura ficasse miseravelmente duas vezes mais estreita estragava tudo. Até mesmo porque era visivelmente falso.
Eu sabia que todos tinham a noção de que era tudo de mentira. Mas eu sabia que o medo era simplesmente grande demais, ninguém tinha coragem de pensar algo de ruim sobre a maravilhosa rainha do mundo.
Uma rainha do mundo feita de spray pra cabelo e revistas de moda medíocre.
Meu. Deus.
Ignorei os olhares e os cochichos. Tudo o que eu queria era dizer o maldito sim e poder sumir do mapa.
Mas me doía lembrar que eu teria que levá-la comigo para quaisquer lugares que eu fosse. E que não o veria mais.
Perdido em tantos pensamentos loucos, eu só consegui voltar à realidade quando ouvi a voz alta do senhor à minha frente, falando as palavras definitivas mais eternamente repetidas que existiam, fora o sempre eterno "eu te amo", claro.
Você, Relena Darlian Peacecraft, aceita Heero Yuy como seu futuro esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na vitória ou na derrota, na saúde ou na doença, de hoje em diante, por todos os dias de tua vida, até que a morte os separe? - O discurso era de praxe. Mas tudo bem.
Sim. - Ela disse, com convicção, os olhos brilhando de maneira absurda. O padre derreteu-se, me fazendo rodar os olhos.
Então, ele se virou para mim.
E, enquanto repetia o discurso, tudo o que já havia acontecido passou diante dos meus olhos, em uma velocidade impressionantemente absurda.
Céus.
...Heero Yuy?
A voz do homem ecoou em minha cabeça e eu notei que ele estava me chamando. Olhei para ele, percebendo, pelo seu rosto, que ele estava preocupado. Provavelmente já havia tentado falar comigo e extrair o temido "sim" dúzias de vezes.
Graças, eu não sou impulsivo. E tenho a maravilhosa capacidade de ficar praticamente surdo quando estou pensando.
Não.
O semi-grito produzido por Relena foi alto espantoso. Foi bem menos impactante do que as centenas de sussurros e gritinhos sufocados que se espalharam por todo o local, mas ainda assim, conseguiu me assustar.
Olhando para ela, eu peguei sua mão e beijei-a delicadamente, tentando acalmar a situação, embora eu soubesse que aquilo era impossível.
Desculpe-me, Relena. Não posso continuar com isso. - Eu murmurei, vendo-a chocada. - Perdoe-me, querida Relena. Mas... não é isso que eu quero. - Virou-se para o padre. - Perdoe-me. - Murmurei, olhando para baixo.
Minha surpresa foi quando os dedos dele traçaram uma cruz imaginária em mim.
Vai com Deus, meu filho. - Eu lhe sorri, o que chocou ainda mais quem estava presente. Agradecendo-o em silêncio, com uma reverência não muito exagerada, arredei pé da igreja.
Mas não corri.
Atravessei-a, de cabeça erguida, olhando sempre para frente. Embora ouvisse comentários não muito gentis. E outros muito hostis.
Eu não fui mesquinho.
Apenas disse a verdade.
Melhor agora do que depois.
OoOoOoOoOoOoOoOoOoO
A vida tinha a tendência de ser malditamente injusta comigo.
Depois que ouvi o som do carro de Heero partindo, voltei para o lago, me sentando na beira, deixando meus pés tocarem a água fria.
Eu o havia perdido...pra sempre.
Ele estaria com a toda poderosa Relena Peacecraft...teriam filhos, lindos soldadinhos perfeitos, reis e rainhas do mundo.
Suspirei, me deitando na grama molhada, sentindo meu corpo sucumbir depois de todas aquelas emoções vividas há poucos minutos.
Eu queria tanto que ele desistisse...que enxergasse que o caminho certo não era aquele...ele não a amava. Nunca amou e jamais amaria.
Fui eu...sempre fui eu...seus olhos só brilhavam quando me viam e eu percebi, pude perceber quando ele me olhou daquela forma tão aberta, tão exposta.
Mas ele se foi...se casar com aquela maldita que destruiria sua vida.
Já disse que o destino é uma entidade cruel e mesquinha que gosta de brincar com a merda da minha vida?
Pois é.
Fechei os meus olhos, deixando um sorriso melancólico surgir. O meu único trunfo, a única coisa que me fazia sorria era saber que nunca, em momento algum, Heero a amaria.
Não como ele me amava.
Oh, sim! Chamem-me de babaca convencido se quiserem, mas seus olhos me disseram tudo. Eles eram o reflexo dos meus. Não foi preciso nenhuma palavra...seus gestos me disseram...seus lábios.
Ele me queria...tanto quanto eu o queria.
Mas ele era um maldito cego!
E também...ele estava casando naquele exato momento.
Bati minha cabeça contra o chão, soltando um gemido de dor depois. Por que? Por que ele tinha que ser tão cabeça dura? Por Deus! Por que ele simplesmente não ficou? Deu as costas para aquela patricinha e ficou comigo?
Maldito Yuy cego dos diabos!
Suprimi minha raiva, percebendo que era só uma maneira de tentar fugir do que realmente eu estava sentindo.
Dor.
Aquela maldita dor que não ia embora, não importando quantas vezes eu batesse minha cabeça no chão, tentando desviar meu foco.
Você deveria parar com isso, Duo. - Arregalei os olhos, vendo um par de olhos azuis claros, parecendo me sorrir.
O que está fazendo aqui, Quatre? - Indaguei, me sentando, sentindo a merda da minha cabeça doer como nunca. - Você...
Não ia assistir aquela palhaçada, meu amigo. - Ela suspirou, seus dedos brincando com minha franja. - Eu...sinto muito. - Ele não devia ter dito...meu Deus, porque aquele árabe desgraçado tinha que aparecer com aquele sorriso doce e aquele enorme coração?
Me agarrei a ele, afundando o rosto em seu ombro, chorando desesperadamente.
Amaldiçoar o mundo não adiantaria...eu precisava chorar.
Quatre me abraçou carinhosamente, alisando minha trança, enquanto sussurrava aquelas coisas que só ele sabia. Eu soluçava, molhando sua camisa fina.
Não fique assim, Duo...vai passar...você vai ver.
Não, Quatre...você não entende...eu passei os últimos anos, fantasiando que ele me amava, que me queria e então...quando acontece...meu Deus! Ele vai casar! Não vai a algum parque ou fazer uma viagem...ele vai casar com aquela...aquela...aquela...
Duo.
Aquela maldita desgraçada! - Gritei. - Porque, Quatre...por que? Ela pode ter tudo que quiser...tem a merda do mundo aos pés...por que ela tem que pegar a única coisa...a única maldita coisa que eu queria? A única pessoa que eu amo?
Porque ela é uma maldita desgraçada. - Ri. Eu tive que rir. Não era todo o dia que Quatre ofendia alguém dessa forma. - Mas isso não importa... - Seus dedos secaram minhas lágrimas. - O que importa é que você precisa se acalmar, certo? - Assenti, me sentindo uma criança diante daquele olhar tão doce.
Quer dizer...eu vou tentar. - Afirmei, com convicção.
Quatre se sentou de pernas cruzadas e me fez deitar com a cabeça em suas coxas. Eu me senti relaxar aos pouquinhos.
Eu precisava relaxar.
Se continuasse pensando em como Heero estaria naquele momento, com quem estaria, o que estaria fazendo...meu Deus! Eu precisava parar de me auto-flagelar!
Mas...quando eu fechava os olhos só conseguia pensar nele...lembrar dos lábios sobre os meus...e pensar em como tudo teria sido se ele não tivesse me virado as costas e ido para aquele casamento dos infernos.
O que será que nós estaríamos fazendo?
Senti meu rosto esquentar com os pensamentos que invadiram minha mente.
Duo? - Me assustei, quando Quatre me chamou e tentei, a todo custo, esconder o rubor em minhas bochechas. - Eu preciso ir. - Arregalei meus olhos, sentindo-os encherem-se d'água.
Você vai me deixar aqui? Sozinho? - Perguntei, deixando algumas lágrimas escorrerem.
Eu...preciso, Duo, mas você vai estar bem acompanhado. - O olhei de forma interrogativa, ainda com a cabeça apoiada em suas coxas.
Quatre apenas apontou para a outra direção. Acompanhei com o olhar vendo um par de pernas. Bem...a primeira coisa que vi foram sapatos polidos...que vieram caminhando em nossa direção.
Ok...vamos dar uma parada.
Primeiro: em lugar nenhum, no mundo todo, alguém teria aquele andar tão sexy. Segundo: eu lembrava muito bem daqueles sapatos.
E o par de pernas acima...e o par de coxas...os quadris...o tórax...os ombros largos.
Suspirei, fechando os olhos, antes que eles confirmassem o que meu coração já sabia. Que o dono daquele corpo era...o meu mais doce sonho e meu pior pesadelo.
Obrigado por cuidar dele, Quatre. - Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo com aquela voz grave.
Ok...outra parada.
Minha mente começou a correr em círculos desesperados, tentando entender o que diabos Heero estava fazendo ali naquele momento.
Quer dizer...ele deveria estar na parte de sair da igreja, um imenso sorriso nos lábios e a rainha do mundo a tiracolo, certo?
Cuide bem dele, Heero. - A voz de Quatre soou ligeiramente divertida, mas mesmo assim me recusei a abrir os olhos.
Fiquei lá, já sentado, olhos fechados, sentindo minha mente colapsar.
Duo, olhe pra mim. - Ele pediu suavemente.
Humhum...nem pensar...aquilo era um maldito sonho e eu não ia arriscar perdê-lo.
Vamos, Duo, abra os olhos. - Cautelosamente, abri um olho, mas em seguida fechei-o rapidamente.
Meu Deus.
Era realmente Heero que estava ali.
Lindo com sua blusa social aberta nos primeiros botões, sem o paletó, mangas dobradas...
E sem a aliança. Sim ele estava sem a maldita aliança! Isso queria dizer que...
Eu não podia, Duo...eu simplesmente não podia...não depois do que aconteceu aqui antes...depois do que houve entre...nós. - Meus olhos se arregalaram, em choque, quando ele se abaixou do meu lado, segurando minhas mãos.
Minha mente parou de correr em círculos e estacou, completamente inerte.
Hee...
Me perdoa por ser tão...estupidamente cego. - Assenti, mas não o deixei terminar de falar.
Estávamos os dois no chão.
Eu estava sobre seu corpo, abraçando-o desesperadamente, sentindo seus braços em minha volta, me proporcionando aquele calor que pensei que nunca ia voltar a sentir.
Céus!
Como eu amava aquele idiota cego!
OoOoOoOoOoOoOoOoOoO
Ele me amava.
E havia perdoado minha burrice.
Ainda bem.
Porque eu, com toda a sinceridade, não conseguiria agüentar perdê-lo.
Naqueles instantes em que quase me tornei o "Rei do Mundo" ou algo parecido com isso, eu só conseguia pensar em Duo. No quanto eu o queria, no quanto eu havia lutado para sufocar meus sentimentos para com ele. Só conseguia pensar em como seria minha vida, depois que eu dissesse sim, depois que eu aceitasse partilhar meu leito e minha vida com Relena Peacecraft, aquela que eu já havia tentado matar, aquela que me amava e que praticamente me obrigara a corresponder o que ela sentia.
Sei que não deveria comparar nenhum dos dois, mas eu não pude evitar.
Foi uma das milhares de coisas que me fez desistir daquele casamento sem finalidade.
Duo não havia me obrigado a amá-lo, embora não tivesse mentido quanto à veracidade de seus sentimentos por mim. Duo não havia tentado me obrigar à esquecê-la, à fugir com ele, à viver num mundo de utopia. E tampouco havia tentado me beijar à força.
Já Relena...
Simplesmente, fazer uma comparação chegava a ser desumano.
Mas preferi deixar isso para depois.
Abracei-o fortemente, conseguindo me sentar. Ajoelhado, ele tinha o meu tamanho, o que realmente era muito bom. Ficamos equiparados.
Delicadamente, me desvencilhei um pouco dele, para poder encarar os grandes orbes violetas, ligeiramente tingidos de vermelho pela emoção. Com carinho, ergui minha mão e tracei o contorno de seu rosto com as pontas dos meus dedos, adorando ver como ele reagia.
Duo... - Chamei-o, doce, vendo que ele suspirava.
Sim, Hee-Chan... - Respondeu, lentamente, como se estivesse saboreando cada palavra. Bem...de fato, ele estava.
E eu também.
Podemos tentar de novo? - Ele ergueu as sobrancelhas, sem entender. Eu apenas sorri para ele, tentando fazer com que ele entendesse minha expressão, sem que eu precisasse usar palavras.
Ele não demorou muito para notar o que eu queria dizer. Seus olhos quase se arregalaram e ele estava prestes à fazer a típica pergunta.
"Você tem certeza?"
Ele teria pronunciado, se eu não o tivesse puxado para perto de novo e tomado seus lábios num beijo muito aguardado. Por nós dois.
Ao notar que, dessa vez, eu estava mesmo disposto à ficar, à aceitar, ele enlaçou forte meu pescoço, beijando-me com carinho, sentimento. Era puro demais para ser errado.
Céus. Era simplesmente amor.
E eu não estava me importando se iriam brigar comigo por amá-lo.
Apertei-o contra mim com força, meus dedos enroscando-se nos fios de seu cabelo, enquanto os dedos dele apertavam minha nuca, como se ele quisesse ter certeza de que eu estava ali.
Bobagem.
Eu sempre estive ali. Só não quis enxergar.
Ele ficou surpreso com minha iniciativa de tornar o nosso beijo um pouco mais intenso. Eu sabia que provavelmente não seria a pessoa mais indicada para fazer tal coisa com ele, mas ele realmente não parecia muito preocupado com minha experiência. Ou com a falta dela.
Queria que ele entendesse, através do meu ato, o quanto eu sentia muito por ter sido um idiota. O quanto eu queria nunca ter aceitado aquela proposta boba, dada por alguém que nem ao menos conseguia me extrair um sorriso. Um mísero sorriso.
Enquanto ele arrancava-me dezenas deles.
Nos separamos alguns instantes depois, quando o ar faltou em ambos os pulmões.
...Hee... - Ele sussurrou, os lábios roçando nos meus durante o processo. Eu sorri, notando o quanto ele ficou feliz com isso. - Por que...?
A resposta era óbvia. Mas ele parecia querer que eu verbalizasse. Talvez ele não apenas quisesse, mas precisasse disso.
Não lhe negaria tal coisa, de maneira alguma.
Duo. - Pronunciei seu nome, com gentileza, minha mão em sua face, acariciando a pele fina com as pontas dos meus dedos. Ele me olhava, parecendo encantado. - Eu não sou bom com palavras, não sou um livro aberto...mas...
A expectativa nos olhos dele era algo maravilhoso. O jeito como ele parecia querer adivinhar o que eu estava prestes à dizer era simplesmente uma doçura.
Notei que ele já não estava se agüentando de curiosidade e ansiedade, então, tratei logo de acalmá-lo com um rápido encoste de lábios e o olhar mais terno que eu consegui fazer.
Bingo.
Os olhos dele se encheram d'água, mas eu ainda sabia do que ele queria.
Não sou bom. - Pedi desculpas mais uma vez, notando que ele estava prestes à retrucar. - Não discuta. - Ele grunhiu, mas aceitou. - E não me sinto bom o suficiente para você.
Mas, Hee-Chan, eu... - Adorável. Simplesmente adorável.
Um biquinho saliente, olhos lacrimejantes. Apertável, mordível, agarrável.
Meu.
...Mas, mesmo não sendo o príncipe de armadura que você merece, me nego a esquecê-lo. - Falei, de uma só vez, rezando para não soar arrogante, prepotente.
Nunca fui romântico.
Mas senti que havia acertado, quando os braços dele apertaram-se em volta do meu pescoço e ele chorou, o rosto encostado no meu, murmurando o quanto eu era perfeito.
Perfeito...eu?
Teria ele já se olhado no espelho, alguma vez?
OoOoOoOoOoOoOoOoOoO
Não haveria, em hipótese alguma, uma coisa mais maravilhosa que beijar Heero.
Sentir aquele calor molhado, pedindo passagem pelos meus lábios era simplesmente devastadoramente perfeito.
Absolutamente nada poderia ser melhor.
Duo, você...
Vamos, Hee...eu quero você. - Sussurrei docemente, beijando seu pescoço de forma tímida.
Ele tomou minha mão, carinhosamente, e juntos entramos em meu quarto.
Rápido demais?
Talvez.
Mas como eu podia me importar ao sentir aquelas mãos inexperientes, porém firmes, em minha pele? Como pensar em algo coerente quando seu corpo se moveu contra o meu, provocando arrepios inesperados?
Impossível sequer pensar.
Nossos corpos se enroscaram entre os lençóis e travesseiros, minha voz trêmula ecoando pelas paredes do quarto enquanto sua boca brincava com meu corpo.
Céus!
Hee-chan... - Murmurei baixinho, puxando-o para mim.
Nossas bocas se encontraram, enquanto minhas pernas circulavam seu corpo, nos unindo ainda mais.
Sua voz rouca e pesada atingiu meus ouvidos, aumentando ainda mais meu descontrole.
Meu corpo inteiro tremeu, convulsionou, e tudo que eu pude fazer foi chamar por seu nome, me afogando naquele calor tão dele. Tão nosso.
Você é tudo, Duo...tudo pra mim. - Seus dedos buscaram os meus, apertando-os firmemente.
O que dizer?
Ele sempre foi tudo pra mim.
Naquele momento, onde tudo finalmente pareceu se tornar perfeito, o abracei forte, sentindo-o afundar o rosto em meu pescoço.
Nossos nomes foram ouvidos, bem baixinho, gemidos por nossas vozes ofegantes.
União perfeita.
Hee... - Chamei, sentindo-o deitar-se ao meu lado.
Sim, meu anjo. - Seus braços me levaram para mais perto de seu corpo.
Eu...nós...o que... - Me embolei com as palavras, quase sufocando com a intensidade do que sentia.
Apenas sinta. - O aperto em torno do meu corpo aumentou. - Sinta comigo o que somos. O que sempre seremos. Juntos.
E eu senti.
Chorei de emoção, me agarrando a ele. Meu apoio, meu amigo.
Meu amor.
Tomei meu primeiro banho acompanhado de Heero naquela mesma noite e, juntos, voltamos pra cama, dormindo um nos braços do outro.
E descobri uma coisa extremamente importante.
Não havia vida pra mim sem ele. Sem seus beijos, seus abraços, seu calor.
Eu pertencia a ele. Completamente.
Havia sim algo melhor que beijar Heero.
Acordar do lado dele.
Oh...sim...depois de todas as declarações, palavras bobas e altas doses de açúcar, eu ainda me surpreendi em notar no quão gostoso era estar tão perto dele.
Antes mesmo de abrir os olhos pude sentir meu rosto enrubescendo. Fora minha primeira vez e dele também. Nossa primeira noite e sequer pensamos na loucura que fazíamos.
Loucura?
Sim...nós nem nos conhecíamos direito.
Senti o corpo colado ao meu se remexer, murmurando algo extremamente mal humorado.
Bobagem. Nos conhecíamos desde sempre.
Sorri como um bobo, decidindo despertar novamente, esquecendo de todos os problemas e coisas confusas.
O resultado?
O melhor despertar de toda a minha vida.
O calor que aqueles braços transmitiam era...inebriante e altamente intoxicante. Percebi, sem espanto algum, que jamais teria o suficiente de Heero.
Bom dia? - Ele perguntou, incerto, seus olhos azuis piscando diversas vezes.
Hum...boa noite eu diria. - Rocei meu rosto em seu peito nu, adorando quando seus braços me apertaram de forma possessiva. - Acho que já passam das sete.
Tarde para algumas coisas... - Ele me ergueu pelos ombros, me fazendo encara-lo. - Cedo para outras. - Notei o brilho malicioso em seu olhar e senti minhas bochechas esquentarem.
Devastadoramente lindo, absurdamente perfeito e um amante fenomenal...o que mais eu poderia querer dele?
Hee... - Murmurei roucamente.
Eu... - Um beijo em minha testa. - Amo... - Na minha bochecha. - Tanto... - Meu nariz. - Você. - Ele finalizou a peculiar declaração selando nossos lábios.
Mencionei que ele também era adoravelmente romântico?
Eu também amo você. - Sussurrei, voltando a afundar o rosto em seu peito, me deliciando com aquele calor que era só meu.
Única e exclusivamente direcionado apenas pra mim.
E por mais algumas vezes eu pude comprovar, sem nenhuma surpresa, que aquele calor e aquela entrega dele eram somente minhas.
Não pensei sobre o amanhã ou sobre qualquer outra coisa que me recordasse a forma que tudo aquilo começou. Estávamos um com o outro, pra mim, já bastava.
Não comemos, não saímos do quarto e nem encaramos os outros. Teríamos tempo pra isso depois, aqueles momentos eram só nossos. E, com grande uma grande dose de prazer, satisfiz meu desejo de passar uma noite inteira com Heero.
Toques, beijos, carinhos...meu mundo...e dele também.
Nossa história.
O começo pelo menos.
Se me perguntassem por quanto tempo eu gostaria que durasse tudo aquilo, a resposta não poderia ser diferente.
Para sempre.
OoOoOoOoOoOoOoOoOoO
Não, esse ainda não é o final. P esperem mais um pouquinho!
