Há essa hora da manhã?? Quem será? Atordoado pelo sono, eu olhei no relógio e depois fui em direção à porta de meu apartamento. Uma moça estava parada, e parecia querer entrar. Seus cabelos eram de um loiro tingido, até o meio das costas, meio lisos, com olhos castanhos brilhantes e uma pele clara meio malcuidada. Um corpo muito bonito, e uma roupa um tanto quanto ousada.
- Oi, Trowa! – ela me cumprimentou
Quem era ela mesmo? Ah sim.... Jennifer 1. Ela tem me feito companhia nos últimos dias. Sabe, esquentado minha cama 2. Eu gosto dela, mas... não sei... quando estou com ela me sinto estranho, como se estivesse traindo alguém. Só que eu não me lembro de ter alguém para trair. Esse é o problema.Já fazem 5 anos que eu sofri um acidente, e perdi totalmente a memória.
Foi um acidente leve até, mas os médicos disseram que eu já tive perda de memória mais de uma vez antes desta, portanto meu cérebro já está muito lesado. É muito provável que eu nunca mais volte a lembrar de nada.
As vezes eu lembro de flashes, ou sonhos com algo ou alguém que me parece familiar, como MSs de guerra, ou um circo, mas só isso. Não consigo entender o significado dessas imagens. Normalmente elas me deixam atormentado, e Jennifer me faz esquecê-las. Por isso continuo com ela.
- Entre. – disse eu com um sorriso
- Te acordei? Desculpa! É que eu descobri uma coisa interessantíssima. Sabia que o representante e herdeiro das Empresas da família Winner 3 está vindo para essa colônia? Será que se eu seduzi-lo, dá para arrancar algum dinheiro? Dizem que ele tem cara de ser inocente.
Olhei para a expressão pensativa dela e lancei-lhe um olhar de desagrado. Oras! Nós éramos quase namorados! Namorados.... essa palavra provocava um certa dor em meu coração.
- Quié?? – perguntou ela – Ora vamos, Trova, devemos achar um meio de nos sustentarmos. O dinheiro mágico não vai aparecer para sempre, e o que eu ganho não é suficiente para nós dois. Mas se eu enrolar o rapaz por algum tempo, teremos os próximos meses garantidos!
Ponderei por um instante. Por mais que me desagradasse a idéia de Jen dormir com outro cara, nós precisamos do dinheiro. Com o meu histórico médico, eu não consigo arrumar emprego em lugar nenhum. É humilhante admitir, mas a garota me sustenta. Bom, não só ela, mas o que ela chama de "dinheiro mágico", que é uma quantia depositada em minha conta bancária todo mês, não sei porquê. Uma vez tentamos pesquisar de onde vinha esse dinheiro. Depois de seduzir dois ou três caras 4, Jen descobriu que vinha de uma instituição governamental. Lá disseram que esse dinheiro era por conta de serviços prestados ao governo. Logo pensei nos MSs, e numa chance de descobrir algo sobre meu passado, mas um senhor muito idoso com um gancho no lugar da mão 5 se negou a dizer que tipo de serviço era esse. Jen ficou a sós com ele por alguns minutos, mas, quando voltou, disse que não havia conseguido descobrir nada de importante.
- Vá em frente, Jen.
Ela sorriu largamente e me abraçou.
- Você é tão compreensivo, Tro. Vou preparar o café.
Sentei-me no sofá e liguei a TV. Mudei alguns canais sem sucesso, e parei em um seriado que eu costumo assistir sobre um casal e seus três filhos. Não demorou muito e a garota voltou, mas um xícara de café e algumas torradas com geléia.
Comemos enquanto víamos TV e assim que o seriado acabou, Jen suspirou.
- Tro, por que você não vai para um apartamento menor?
Boa pergunta. Já é a terceira vez que ela me pergunta isso só nesse mês. O caso é que eu não queria sair daqui, pois era aqui que eu morava antes de perder a memória, e eu ainda tenho esperanças de recuperá-la, apesar do que dizem os médicos. Mas se eu for embora daqui, perderei o único vínculo que ainda tenho com meu passado.
- Já falamos sobre isso, Jennifer.
Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia, e ela me pareceu momentaneamente magoada, mas logo sorriu novamente e disse:
- Vou arrumar a cozinha.
Assenti e continuei vendo meus seriados matinais, até que tocou a campainha. Quem será? Não conheço mais ninguém que possa estar vindo me visitar. Deve ser algum médico, ou vendedor, ou a vizinha de cima perguntando se eu vi seu gato angorá. Joguei minha franja para o lado e abri a porta.
À minha frente estava um rapaz que aparentava a mesma idade que eu, loiro, de olhos azuis profundos, pouco mais baixo que eu, vestindo um terno muito elegante.
- Trowa... senti tanta saudade... – disse o rapaz com os olhos marejados e a voz embargada.
Senti um nó se formar em minha garganta, mas não consegui me lembrar que era ele. Sabia que fora importante para mim, mas por algum motivo esteve fora de minha vida nos últimos... 1 ano e meio que eu estive sem memória.
Por algum tempo fiquei admirando-o. Tão loiro, tão belo, tão frágril... senti vontade de protegê-lo contra qualquer coisa. Parecia um anjo...
Tentei dizer-lhe alguma coisa, mas não conseguia. Com algum esforço, consegui proferir uma única frase:
- Quem é você?
Continua no próximo capítulo...
1 Em homenagem à atriz Jennifer Sky, esposa do meu querido Alex Band
2 Isso é que dá ficar lendo livros sobre o Rei Artur. Começa a usar expressões como essa.
3 Adivinhem quem é??? Isso!! O Q-sama!!!
4 Já deu pra perceber qual é o "emprego noturno" da Jen, né? De dia ela cuida do Tro-san e é garçonete num bar.
5 Dr. J
N/A: Nha...... nnU pois é, acho que demorei um pouquinho mais do que eu deveria com esse capítulo. Ele não foi difícil de escrever, mas... é que eu tinha me esquecido dele. Aí eu perdi uma parte, depois eu encontrei... E só lembrei de continuar por causa da Godess-sama, que me pediu pelo MSN anteontem. Taí, Goddess, antes do prazo combinado, o capítulo de Amnésia. O próximo (e último), eu vou tentar postar o mais rápido que der, okay?
