- Quem é você?
O rapaz ficou me olhando estupefato.
- Como assim, Trowa? Sou eu, Quatre!
Continuei a olh�-lo como se o nome não me avivasse nenhuma lembrança.
- Quatre, seu namorado, se lembra?
Meu... namorado? Desde quando eu namoro alguém? E um homem? Nunca tive nada contra isso, mas... também nunca pensei muito a respeito. Pelo menos desde quando eu consigo me lembrar de alguma coisa. Mas o rapaz parecia estar genuinamente confuso.
- Entre, por favor. - convidei
Ele entrou em meu apartamento e sentou-se no sofá onde eu até instantes atrás me encontrava. Quase que automaticamente, Jennifer apareceu na sala.
- Sr. Winner? – perguntou ela assustada, para o rapaz.
Agora eu já não entendia mais nada. Então aquele era Quatre Winner, o mesmo ricaço que Jen queria seduzir para nosso sustento, o mesmo que se dizia meu namorado, e o primeiro elo com minha antiga vida que eu encontrava em 5 anos. Senti minha cabeça girar e fechei meus olhos com força para não perder o equilíbrio. Antes de perder totalmente a consciência, eu ainda pude ouvir Jen falando:
- Olha só o que você fez!
- Mas eu...
- O Trowa perdeu a memória faz 5 anos. E ele estava muito bem antes de você aparecer e fazê-lo lembrar de coisas que para ele já não importavam mais. Vá embora e não volte, entendeu?
Minha cabeça dói muito. Onde eu estou? Ah, é o meu quarto. Estranho... eu não me lembro de ter vindo para cá. Lembro-me de um rapaz na porta, e ele falou que... bom, não me lembro o que ele falou. Não me lembro de mais nada depois disso.
- Acordou, Trowa? Vamos, tome isso.
Jen me deu meia dúzia de remédios e um copo d'água. Tomei-os e me levantei, indo para a sala.
- Jennifer, o que houve?
Estou desconfiado de ter ficado inconsciente por algum tempo. Não sei quanto, não sei porque, mas tenho certeza de que aconteceu. E eu odeio quando acontece! A menos que você tenha passado por isso, não tem nenhuma idéia de como é esquecer o que aconteceu a poucos minutos atrás. É uma sensação de vazio que vai te tragando... simplesmente horrível. E a agonia de não lembrar? É mil vezes pior, principalmente quando é algo importante como... toda a sua vida!
- Cheguei na sala e você estava desmaiado. Aí te trouxe para c�, ai-chan.
Dando-me por satisfeito com a explicação, fui para o jardim do prédio ler um livro. Desci calmamente e me sentei em minha costumeira cadeira perto de um canteiro de flores. Notei que um rapaz loiro e muito bem alinhado em um terno escuro, camisa branca e uma gravata azul que realçava seus olhos passou ali em frente, olhando ao redor, e depois desapareceu atrás do edifício. Poucos minutos depois, percebi o mesmo rapaz passando novamente ali na frente, dando uma olhada em minha direção, antes de fazer a volta e sumir do outro lado no prédio. Tentei me concentrar no livro, e ignorar a terceira vez que ele passou. Mas na quarta eu não agüentei mais. Fechei o livro e, quando ele passou novamente, o chamei.
- Ei!
Ele me olhou, e tive a impressão de ver um lampejo de esperança em seus olhos.
- Você está procurando por alguém?
O rapaz ficou desconcertado, corou um pouco, e disse, hesitante:
- Eu... procuro por Trowa Barton.
- Sim, sou eu mesmo. O que deseja?
É impressão minha, ou ele estava ficando cada vez mais nervoso? Mas por que motivo? Não faz sentido para mim! Vai ver que o sujeito é tímido. Ou está tentando me distrair, enquanto seus comparsas assaltam a meu apartamento e matam minha namorada. Ai, Trowa, seu burro. Está vendo filmes demais!
- Er... é sobre... uma proposta de emprego.
- E o senhor é...?
- Guy... Vexille. Muito prazer.
Ele estendeu sua mão para mim, e eu apertei. O nome dele me parecia familiar. 1 Eu só não sei de onde o conheço... se isso não fosse normal para mim, eu estranharia...
- Quer conversar lá em cima- convidei
Meio receoso, ele aceitou, e pegamos o elevador diretamente para meu apartamento. Na porta de entrada, tinha um recado de Jennifer, dizendo que ela tinha ido ao supermercado e já voltava. Acho que eu estou enlouquecendo, pois acho que ouvi o tal de Vexille suspirar aliviado quando comentei que minha namorada tinha saído. Por via das dúvidas, assim que entrei, tomei um remédio. Ofereci uma xícara de café, que ele aceitou prontamente. Apontei então o sof�, onde ele se sentou, e eu me acomodei numa poltrona.
- Então... do que se trata o emprego, sr. Vexille?
- Bom... é um emprego de... – aqui ele parou e bebericou seu café – conselheiro financeiro.
Que emprego mais estranho... nunca tinha ouvido falar de tal coisa. E nem ao menos tinha algum preparo para isso. Mesmo que eu algum dia tivesse estudado economia, não me lembrava de nada. Eu mal sei contas simples de matemática!
- O senhor não deve estar ciente, mas... a alguns anos eu sofri um acidente e perdi completamente a memória. Não me lembro nada sobre minha vida pessoal, e muito menos coisas que estudei na faculdade.
- Não se preocupe, sr. Barton. Acredito que, mesmo com a amnésia seu inconsciente deve ter guardado coisas básicas. E a economia fazia parte da sua vida. Com certeza, com o tempo, seus conhecimentos vão voltando. E o emprego não é difícil. Só preciso que me aconselhe. Eu trabalho para a Corporação Winner, no ramo das finanças, mas meu chefe costuma me repreender por algumas decisões que tomo. Então eu queria alguém que entendesse do assunto para me dar uma opinião. Eu pago bem!
Aquilo estava ficando estranho... aquele homem estaria tão inseguro em seu emprego, que pagaria a alguém para ter certeza de que está tomando decisões corretas? E o pior é que estou prestes a aceitar a proposta dele. Afinal, avisei-o que não me lembro de muitas coisas, mas mesmo assim ele acredita mais num cara que sofreu perda de memória, do que em si próprio.
- Eu aceito a sua proposta.
Ele esboçou um sorriso, parecendo extremamente aliviado. Entregou-me um cartão, e completou:
- Vou deixar com você meu cartão de visitas. Passe em meu escritório amanhã ás 14h para acertarmos os detalhes.
Ele me cumprimentou, e saiu, me deixando meio abobado com a súbita confiança. Eu devo ter sido alguém importante para um estranho se mostrar tão aliviado em me contratar.
Examinei o pequeno papel que ele me deixou. "Corporações Winner"... onde já ouvi esse nome? Ah, sim! Jen me falou dele hoje pela manhã. Só estranhei não ter o nome do cara escrito ali.
Amanhã eu finalmente vou arrumar um emprego.
1 Esse nome não é estranho ao Trowa, pq é o nome de um personagem de uma trilogia chamada "A Busca do Graal". E, o que eu não falei, é que o Quatre e o Trowa já tinham lido esse livro. Na hora de inventar um nome para si próprio, o Qat pegou o nome do vilão da história, que era o preferido do Trowa. E é por isso que o Tro-san achou familiar.
N/A: Não me matem pela demora, por favor. Eu sei que eu tinha prometido esse capítulo a um tempão, mas eu tava com algumas dificuldades com os detalhesinhos. O próximo eu vou tentar escrever mais rápido. E, pra não ficar confuso, ou eu ter que ficar explicando nas notas, eu vou fazer do próximo um capítulo especial, em Quatre POV, para deixar claro o porquê dele estar mentindo para o Trowa (se é que já não dá pra perceber). Entonces... esperem e verão! E reviews, please!
Eu queria agradecer imensamente a Belle Malfoy, Thaissi, Bela Youkai e L, por comentarem a fic!
