As Estrelas

Que vento gentil.

Essa é uma das vantagens de viver aqui. Apreciar a brisa noturna depois de um dia quente.

É claro, o frio do deserto à noite mataria a maioria das pessoas que tentassem desfrutá-lo.

Mas eu não. Afinal eu sempre vivi aqui.

Também sou uma ninja. Fui treinada para sobreviver a esse tipo de coisa.

Portanto eu posso simplesmente deitar-me aqui e relaxar...

Lembrando de coisas boas.

Corro, corro, corro...

Tropeço, caio...

Arranhei meu joelho, como dói...

Começo a chorar...

Um homem alto vem correndo pra mim.

"Calma princesinha, calma..."

Ele me levanta e me consola.

"Papai tá aqui, não precisa chorar."

Eu olho pra ele, ainda chorando um pouquinho.

"Vai sarar logo..."

Ele dá um beijinho no meu machucado e a dor passa...

Mágica!

Eu gostava do meu pai.

Isso é normal para todo mundo. Mas não para a minha família.

Na verdade, é tão estranho que eu mantenho como um segredo.

Os meus irmãos nunca mais olhariam pra mim direito se soubessem disso.

Na verdade é bem provável que eles me matassem.

O pior é que ele têm razão.

Depois de tudo o que ele fez, seria justificado.

Foi por causa dele que a mamãe morreu.

Por causa dele o meu irmão não via graça na vida.

Por causa dele o meu irmão virou um monstro.

Mas ainda assim, eu gostava dele.

Uma verdadeira anormal é o que sou.

Sempre que tento odiá-lo, aparece uma justificativa.

"Ele fez isso por que era o único jeito de manter o Shukaku preso. O antigo selo estava sendo quebrado..."

"Foi para termos uma arma para proteger a vila..."

"Ele não poderia simplesmente forçar outra pessoa a dar a sua vida e a de seu filho para isso."

Sabe, não importa qual seja.

Ele era meu pai, droga! Ele foi bom comigo. E isso já basta.

Só que eu ainda me entristeço pelos dois.

Não tem como deixar de sentir pena.

"Será que é aqui... Huuummm... Não. E se eu girar desse jeito? Não deu também. Pra que serve isso aqui? Grrrrrr... Quando eu pegar ele."

O culpado passa pela porta.

"Ei! Pode voltar aqui seu pilantra!"

Ele entra com aquela cara de quem tá tirando um sarro. Nossa, como ele é cretino.

"Que foi, ô chata?"

"Foi você que arrembetou minhas bonecas?"

"Não."

"Ah é? Então quem foi?"

"Sei lá! Pergunta pro teu pai!"

"Ele é seu pai também, burraldo!"

"Não por escolha minha."

"Olha, chega disso. Eu sei que foi você e pronto."

"Prova!"

"Tem outro pirralho imbecil nessa casa?"

"Já se olhou no espelho?"

"Ah, não enche. Só trata de me pagar."

"Pagar pelo quê?"

"Pelas bonecas, Gênio."

"É ruim, heim."

"Ou isso ou espalho pra todo mundo que cê brinca de boneca."

"Eu não brinco mesmo. Eu desmontei elas só para ver como as peças se encaixavam. Eu já cansei de fazer isso com meus brinquedos."

"Tá bom. É claro que teus amigos vão acreditar em você."

"Tch, bruxa..."

"Sou. E aí. Vai pagar ou não?"

"Não. Eu vou é fazer isso..."

Ele avança para a pilha de bonecas despedaçadas e começa a juntar as peças. Em meia hora elas estão

certinhas de novo.

"Viu só, ô chorona! Qualquer um com meio cérebro podia ter feito isso."

"Ah, sai daqui seu anormal."

Ele sai batendo porta. Eu olho pros meus brinquedos.

Como ficaram boas. Parecem até melhores do que antes.

Ué? Não tinha sido eu que tinha quebrado essas daqui?

Até essas ele consertou?

Meu primeiro irmão.

Com ele até que não foi tão ruim.

Tá bom, ele era... Não. Continua sendo chato, pessimista, mal-humorado, valentão...

Mas até aí, ele era como qualquer outro irmão mais novo.

Pelas minhas amigas descobri que a função dos irmãos mais novos é irritar as irmãs mais velhas.

O problema é que ele não podia ficar junto com o papai.

Nunca o perdoou.

Nisso ele é parecido com o meu irmãozinho.

Heh, "irmãozinho"...

Que jeito de chamar a pessoa de quem se tem mais medo.

A areia se move.

Rápida, mortal, cruel...

Ela envolve os nossos alvos.

Eles choram de medo...

Missão cumprida.

"Bem, agora é só levá-los para a base e interrogá-los..."

"Você, pode trazê-los Gaara?"

Ele não responde...

"Gaara?"

Ele não se vira para me olhar.

Ele treme de ansiedade. Suor frio de excitação irrompe da pele dele...

"Sabaku Kyuu!"

A areia se contrai, imobilizando completamente aquelas pessoas.

"Gaara, não! Nós, precisamos deles vivos. Eles têm informações vitais para nossa vila..."

Ele demora a tomar uma ação.

Então uma das vítimas fala.

"Por favor, me poupe, eu tenho mulher e filhos. Não me..."

A mão se fecha.

"Sabaku Sousou!"

Sangue misturado com areia.

Eu ainda me atrevo a repreendê-lo por ter feito isso.

Ele olha nos meus olhos. Eu paro...

Ele sorri. Eu tremo...

"Não pare. Alimente meu ódio."

"Quero que ele esteja bem forte para quando chegar a sua vez."

"Minha... vez?"

"Sim. Você é minha irmã. È especial."

"Quando você se misturar areia... A sensação... Será..."

Um silvo sai da boca do meu irmão ...

Nunca consegui olhar ou falar com Gaara como irmã.

Só olhava pra ele, tentando ver se a morte estava em seu rosto.

Só falava com ele pra aplacar a sua ira.

Eu nem queria vê-lo.

Sempre vivi com medo.

Pavor do meu próprio irmãozinho.

Não deveria ser assim...

Quer saber?

Acabou.

Não vou mais ter medo.

Eu sou a irmã mais velha dele.

Eu tinha que ser uma segunda mãe para ele.

Deveria protegê-lo, cuidar dele, brincar com ele...

E ele deveria ser feliz.

Toda a minha família deveria ser feliz. Não importa que demônios nos aflijam.

Não agi antes, mas o farei agora.

Me levanto da areia onde estava deitada e volto a vila.

Vou em direção da torre mais alta.

Quando estou no meio do caminho lembro que é noite de lua cheia.

Olho pras estrelas para que afastem o medo.

Funciona. Chego na torre.

Vejo ele.

Ele me vê.

Me surpreendo com a vaga manifestação de surpresa nos olhos dele.

Pensei que ele me mataria.

"Temari?"

Penso em alguma coisa pra dizer...

"Ehr,hum... Linda noite, não é Gaara?"

Putz. Essa foi péssima.

Ele fica um pouco mais surpreso, demora um pouco como sempre faz, e então responde:

"É."

Até aqui tudo bem.

Resolvo ousar um pouquinho mais...

"Você... Gosta de ficar olhando a noite. Não é?"

Um muito leve "sim" com a cabeça.

"Vamos olhar as estrelas juntos?"

Ele ficou surpreso.

Então, eu vejo uma expressão que eu nunca tinha visto antes no rosto dele.

Parece ser de preocupação.

Ele fica desse jeito por uma eternidade.

Então dá um suspiro.

"Está bem".

Eu me sento ao lado dele.

E silenciosamente olhamos pra cima.


E aí pessoal? Demorei um pouco mas tá aí o terceiro capítulo.

Ele é um pouco mais comprido porque a Temari fala um pouco mais do que o Gaara. Aliás, qualquer um fala,com exceção do Shino é claro.

Não se esqueçam dos Reviews.

Aí Kuny-chan, belíssima fic.