A Escuridão

São só nove horas da noite.

Mas não tem ninguém.

Não tem bares vendendo sake para pinguços.

Não tem casais melosos lambendo a cara um dos outros.

Porra, nem os ninjas tão trabalhando.

Todo mundo tá é dentro de casa pedindo a deus ou ao diabo para viver mais um pouco.

Do lado de fora só tem ele.

Aquele que fica em cima dos telhados, esperando algum pobre idiota.

E de alguns meses para cá, começou a faltar burros nessa droga de vila.

Ele deve estar cheio de fome.

Então, por que estou aqui, a céu aberto sem nenhuma parede em volta de mim?

Paredes são legais.

Elas ajudam quando queremos que ningúem encha o saco...

Se bem que, na verdade, elas não adiantam nada contra ninguém da minha família.

"Agora que vocês já se aqueceram vamos ao principal treino de hoje..."

Tomara que seja, tomara que seja...

"...luta!"

Isso!

"Há! Pronto pra outra surra, maninho?"

"Hoje não. Quem vai comer areia é você."

"Aahhh... E como você vai ganhar? Usando aquele bonecão, que eu isolo com qualquer soprinho?"

Grrr...

Tem sido assim nos últimos meses.

Depois que ela conseguiu aquele abanador gigante ela tem me vencido em todos os treinos de luta.

E depois que ela vence, ela me sacaneia.

Aí, vem o professor e me critica.

Aí, o meu irmão psicopata me olha com desprezo.

E quando volto pra casa ela continua me enchendo.

Encheu.

O professor suspira e anuncia como que esperando o resultado.

"Preparados? Temari e Kankuro?"

Meus olhos fixos com raiva e determinação. Os dela com confiança e pena.

Tch.

"Começar!"

Desenrolo Karasu e o mando em direção a minha irmã.

Despreocupadamente ela manda um vento em direção a ele.

Dessa vez puxo minhas mãos em direções opostas e divido o meu golem em dois.

As duas metades se esquivam da rajada de vento, ótimo.

Ataco-a pelos flancos.

Mesmo surpresa, a metida reage rápido e salta subindo em cima do leque.

A bruxa tenta planar em minha direção...

Puxo uma das metades para mim e uso a outra para disparar dardos pelas costas da idiota.

Do alto a chata manipula sua arma para bloquear a retaguarda, defendendo o ataque.

Então manipulo a outra metade para atacar pela frente.

Se virando rápido a imbecil só consegue usar um vento fraco para interromper seu avanço.

A cretina aterrisa irritada e cercada pelas minhas marionetes.

Ótimo.

"E agora o que você vai fazer?"

Ela está perdida...

Hum?

Por que ela está sorrindo?

Girando com o leque sobre a posição onde está, a filha da mãe grita.

"Espiral do Vento Destruidor."

Um tornado surge ao redor dela e suga os pedaços da marionete.

E então eles são isolados para longe.

Caio de joelhos.

Minha cabeça está baixa.

Vendo como estou ela chega perto de mim e fala:

"Não falei que ia ser outra surra?"

"Falou..."

Levanto meu dedo médio.

Uma mão de madeira cheia de lâminas sai da areia chegando bem perto do pescoço da otária.

Ela fica paralisada, sem acreditar, sem entender.

"Quando você se virou para defender os dardos, eu rapidamente separei a mão dele e a enterrei na areia."

"Como foi que eu não vi nada faltando nele?"

"Pra que você acha que o Karasu usa manto?"

O professor meio surpreso anuncia a minha glória.

"Vencedor Kankuro."

De surpresa ela passa para furiosa.

"Isso não vale!"

Putz. Que má perdedora.

"Um ninja deve saber preparar armadilhas e como detectá-las. Kankuro, você conseguiu fazê-lo em meio a uma batalha em terreno aberto. Muito bom."

Pelo menos agora, a vida é boa.

Melhorou naquele momento, pelo menos.

Depois daquele treino ela não continuou me tratando como criança.

Ao invés disso, ela passou a se cuidar mais quando treinava contra mim.

Só que continua me chamando de trapaceiro quando eu ganho.

Eu sou um ninja, pra mim é elogio.

E agora estamos empatados, então que seja.

Além disso é bom que haja um sacana como eu no grupo.

Se dependesse só deles, toda missão ia acabar com uma vila destruída cheia de tripas espalhadas.

Tsc.

Por que eu não pude ter uma família normal?

Podia até ser com ninjas...

Só que sem um irmão como o meu...

Gritos.

Sangue.

Silêncio.

Os ninjas falharam.

Tremendo no meu abrigo.

Tenho medo de olhar.

Ele ainda está vivo, eu sei.

Por favor mãe, não deixe ele me achar.

Por favor deus, não deixe ele me achar.

Demora.

Demora.

Acho que ele já foi.

Levanto a minha cabeça devagar e espio.

Grande, garras, bocarra, dentes, cauda, braços longos, feito de areia.

Olhos de demônio, coberto de sangue.

Paro.

Ele me olha.

Mais tarde, fiquei sabendo que fui salvo pelo mestre Baki.

Fiquei o maior tempo sem comer depois daquilo.

E mais tempo ainda sem comer carne.

Aquela coisa era o meu "querido" irmãozinho.

Coisa de doente, não?

Se bem que até dá pra entender...

Se eu tivesse uma porcaria daquela dentro de mim querendo comer minha alma, eu acho que iria enlouquecer também.

Se bem que na verdade eu devo ser louco.

Nenhum outro ninja se veste como eu.

E ninguém detesta pirralhos mais do que eu.

Acredito que duas pessoas foram as maiores responsáveis por essa inspiração.

Acabei de falar de uma.

A outra eu não posso, nem quero, entender, nem perdoar, nem porra nenhuma.

Ando com minha irmã e meu tutor.

Vamos na padaria.

No caminho dois irmãos jogando bola.

Enquanto a mãe, sentada num banco, presta atenção a cada movimento deles.

É, jogar futebol é super perigoso madame.

Um garoto e um adulto carregam sacolas pesadas.

"Aí, filhão. Tá ficando forte..."

O pivete abre um sorriso.

Só um elogio e ele se sente o ultra ninja.

Uma autoridade vem andando em direção a nós.

Ele para e conversa um pouco com o nosso responsável.

Depois ele nos olha e fala sei lá o quê.

Não quero saber.

Nem quero olhar para sua cara.

Ele suspira e vai embora.

Babaca. Já vai tarde.

"Por que você está sorrindo, Temari?"

"Ah, nada não. Bobeira minha."

Eu acho que ela gostava do meu pai.

Eu o desprezava.

O meu irmão com certeza odiava ele.

Beleza de família, não é?

Mas eles são a única coisa que eu tenho...

Depois que eu soube que meu pai morreu...

Eu fiquei feliz...

Mas aí eu fiquei triste.

Nós dois nunca fomos pai e filho direito.

Ah, caramba.

De novo essas bobagens.

Desde que o Gaara pediu desculpas não paro de ficar me arrependendo.

De não ter sido um irmão melhor, ou um filho melhor.

Fica toda hora pendurado na parte de dentro do meu cérebro.

Que coisa irritante.

Mas o quê que eu vou fazer?

Uhm...

Hora que se dane.

Se eu morrer, pelo menos vai ser sem culpa.

E já tô puto de ficar com medo toda hora.

Avanço pela cidade vazia até o telhado do monstro.

Lá eu vejo duas pessoas deitadas.

Duas?

Uma de roupa branca.

"Temari?"

Os dois se sentam e me olham espantados, quer dizer a minha irmã me olha espantada, o meu irmão me olha irritado.

"Kankuro? O que você está fazendo aqui?"

Respondo com mais uma pergunta.

"O que você... VOCÊS estão fazendo aqui?"

Silêncio.

Gaara olha para cima e então fala.

"Olhando o céu."

Ah...

"Posso ver com vocês?"

Agora os dois se espantaram.

Eu também.

Eles olham um pro outro.

Em uníssono.

"Tá bom, pode."

Então tá.

Eu me deito no telhado.

Não é exatamente um futebolzinho.

Mas não estou morto. É um começo.


Comentários:

Desculpem a demora.

O próximo capítulo será o último.

Minha primeira cena de luta. Mesmo sendo curtinha, é bem longa. Deve ser difícil escrever fics de ação.

Os estilos dos irmãos mais velhos são bem contrastantes. Um usa linhas, movimentos de mão milimétricos,e ataques precisos. A outra usa um super ventilador que destróiaté os elefantes que estavam passando ali por acaso.

O irmãozinho mais novo simplesmente mata todo mundo.