No último capítulo...

Um grito assustado, incapaz de ser contido, saiu de sua garganta quando ela percebeu que Inuyasha não havia sido a primeira criatura a ganhar vida.

-Por que eu não acordo deste sonho terrível!

04. Tudo o que precisamos aprender. . .

"- Foi o primeiro desenho com o lápis! Isso quer dizer que... NÃO!"

Inuyasha entra no banheiro correndo...

"- O que foi bruxa!"

Kagome permanecia imóvel olhando seu reflexo no espelho...

"- Ka-go-me-chan?"

Não há resposta...

"- Teste dois..."

Ele enche a mão de água e joga no rosto de Kagome...

"- Droga!"

Ela olha contrariada - e molhada - para Inuyasha...

"- Que cara é essa bruxa? Até parece que viu um fantasma!"

"- E vi! Digo, não vi, mas eu... Eu lembrei que desenhei outra criatura mágica, Inuyasha!"

"- Como assim outra criatura mágica?" – Inuyasha perguntou, ainda mais assustado, enquanto olhava para todos os cantos do quarto – "Eu não estou vendo ninguém!"

"- Não, ela não está aqui!" – Kagome tentou acalmar, mas o olhar que tomou a expressão de Inuyasha, a seguir, era o de alguém que parecia ter acabado de descobrir uma brincadeira de mau gosto.

"- Ah, não? Então onde está? Por acaso pulou a janela ou rolou para baixo da cama de tanto rir da minha cara de idiota assustado?"

"- Eu estou falando sério!"

"- Eu também!" – Inuyasha retorquiu, sem dar margem a justificativas – "E não vamos nos dar bem se você ficar tripudiando sobre a minha história! Eu SOU uma criatura mágica, queira você acreditar ou não!"

"- Eu acredito, Inuyasha. Não há como duvidar do que vi." – Kagome afirmou e seu comentário teve o efeito desejado. Inuyasha se deteve e voltou-se na direção de Kagome.
"- É bom mesmo. Então se acredita, pare com essa brincadeira de mau gosto. Não gosto da idéia de ver o mundo real cheio de outras criaturas mágicas."

"- Pois pode se acostumar. Eu criei uma antes de você."

Kagome não soube dizer o que passou pela cabeça de Inuyasha, mas fosse o que fosse, não deve ter sido algo bom. O garoto perdeu toda a cor do rosto e demorou um bom tempo a abrir a boca e emitir algum som.

"- Você tem certeza?" – perguntou num tom de voz vacilante.

"- Absoluta. Criei antes de você. No dia em que comprei o lápis. Mas não sabia que ela tinha ganhado vida. Talvez tenha fugido antes que eu pudesse vê-la."

Inuyasha continuou aprisionado em sua perplexidade e levou outros longos segundos e voltar a falar.

"- Não vejo motivo para ela ter fugido. Qualquer criatura mágica com um pingo de juízo faria questão de agradecer ao seu criador ou a pessoa que a trouxe para este mundo. Como era o desenho?"

"- Não me lembro muito bem dos detalhes, mas sei que ele era fabuloso."

"- Ah, obrigado pela clareza. Quando encontrar alguém 'fabuloso' saberei que é uma criatura mágica. Agora será que não pode ser menos vaga?"

"- Bem" – Kagome voltou a falar, desligando-se dos pensamentos que estavam passando por sua mente – "Isso foi o que eu achei do desenho. Mas espere..." – fechou os olhos, tentando reconstruir a imagem da ilustração – "Ah, sim. Tinha olhos negros com sombra violeta. Lembro-me de ter reparado nesse detalhe enquanto desenhava. Cabelos ondulados, até o meio das costas. De uma cor escura. Negro azulado, se não me falha a memória."

"- O que mais!" – Inuyasha perguntou com um tom de voz visivelmente alterado e uma vermelhidão tomando o lugar da palidez de alguns minutos antes – "Algum outro detalhe, Kagome! Vamos, lembre, você precisa se lembrar!"

"- Acalme-se, acalme-se!" – Kagome tentou detê-lo – "Estou tentando me lembrar. Ah, sim! Os cabelos! Não eram diferentes apenas por causa da cor! No lado direito do rosto ele tinha uma mecha menor, que só vinha até a altura do queixo. Era um corte estranho, como se tivesse sido mal calculado e feito por um objeto muito afiado."

"- Cabelos negro azulados? Olhos negros com sombra violeta? Uma mecha mais curta?" – Inuyasha repetiu incrédulo, enquanto voltava seus olhos apavorados na direção de sua criadora – "Você deu vida a Naraku, Kagome. Com tantas criaturas mágicas, você foi dar vida logo a uma que já deveria ter caído no vazio do esquecimento?"

"- Mas quem é Naraku?" – Kagome perguntou, tentando se livrar de uma culpa que não lhe pertencia.

"- Alguém que não deveria ter saído do lugar onde estava. Que jamais poderia ter vindo parar no mundo real."

"- Você o conhece?" – Kagome perguntou, começando a se preocupar com a expressão sombria que tomava o rosto de seu desenho.

"- Se eu o conheço?" – Inuyasha repetiu a pergunta, entre uma risada forçada – "Mais do que gostaria. Somos da mesma história. Não é uma pessoa de bom caráter, devo lhe dizer. Você teve sorte de ele ter ido embora. Provavelmente não deve ter encontrado nada que lhe interessasse por aqui. Não sei quais são seus planos, mas tenho certeza de que ele faria um terrível estrago se tivesse a lenda em suas mãos. O lápis está em segurança, não está?"

"- Está bem aqui em nossa frente." – Kagome apontou para o objeto deixado sobre a cama, mas seu tom otimista logo cessou.

"- O que houve? Que cara é essa?" – o garoto perguntou aflito – "O lápis não está em segurança?"

"- Estão, acho que estão."

"- EstÃO?" – Inuyasha interrompeu – "Você disse no plural? Existe mais de um lápis mágico?"

"- Eram dois..."

"- E onde está o OUTRO?"

"- Eu não sei!" – ela respondeu, visivelmente confusa – "Pode estar em qualquer lugar dessa bagunça!" – e apontou para o armário, completamente desorganizado.

"- Ou em poder daquele louco!" – Inuyasha respondeu alarmado – "Temos que ter certeza disso! Vamos procurar, Kagome bruxa! Tem que estar aqui!"

"- Mas Inuyasha..." – Kagome tentou inutilmente impedir o garoto, que se pôs a revirar os objetos que havia enfiado dentro do armário ao longo do dia.

"- Sem 'mas', Kagome. Vamos, me ajude!"

Sem outra opção, Kagome juntou-se a ele na angustiante tarefa de encontrar um pequeno lápis no meio de toda a confusão do apartamento da jovem desenhista.

"- Nada!" – Inuyasha concluiu deprimido, uma hora depois de uma cuidadosa busca por todo o apartamento – "Não está aqui! Ele o levou, Kagome! Um dos lápis mágicos está com ele!"

"- Não temos certeza."

"- É claro que temos! Não está aqui! E o que faremos agora? Com um lápis em mãos ela pode ter qualquer coisa!"

"- Qualquer coisa?" - Kagome perguntou, visivelmente assombrada pela afirmação – "Poderia trazer todos os personagens do mundo mágico para o mundo real?"

A pergunta fez Inuyasha pensar um pouco melhor e ela pareceu se acalmar.

"- Não. Pra isso ele certamente precisaria dos dois lápis. Só tem um deles e pouquíssimo talento para qualquer coisa. Essa combinação permite, no máximo, a criação de alguns aliados."

"- Aliados? Como você?"

"- Não... Se ele criou, os personagens não são como eu ou ele... Vão ser um reflexo de tudo que ele quiser... Não sei se me tranqüilizo ou se me apavoro..."

"- E pra que você acha que ele criaria esses aliados?" – Kagome perguntou, embora já soubesse a resposta.

"- Não parece óbvio?" – Inuyasha o questionou – "Ele só tem uma parte da lenda, mas se sabe que a outra existe, quererá tudo para si. E não medirá esforços para conseguir. Acho que você tem um problema, Kagome, um grande problema!"

"- Temos que ir procurá-lo! Achá-lo antes que arme algum plano louco para vir atrás de nós!"

À beira da histeria, Kagome passou entre os objetos que entulhavam o chão do quarto e saiu na direção da porta.

"- Pra onde você está indo?" - Inuyasha perguntou, enquanto se adiantava até ela.

"- Procurá-lo! O que mais posso fazer?"

"- Que tal se acalmar?" – o jovem sugeriu, ao bloquear a porta com o próprio corpo.

"- Péssima idéia! Agora saia da frente!" – Kagome tentou tirar Inuyasha de sua frente à força, mas o youkai segurou seus braços e olhou no fundo de seus olhos.

"- Acalme-se, Kagome. Você não vai encontrá-lo se sair correndo desse jeito."

"- É claro que vou!" – respondeu, enquanto tentava, novamente, desbloquear o caminho – "Quanto mais rápido eu encontrá-lo, melhor!"

"- E se encontrá-lo? O que vai fazer?"

A aflita desenhista precipitou-se em abrir a boca para responder, mas não nenhum bom argumento passou pela sua cabeça. Inuyasha tinha razão, mesmo que não soubesse do que aquele homem era capaz.

"- Viu só? Você não saberia o que fazer e só tornaria as coisas piores."

"- As coisas não podem ficar piores do que estão! Ou melhor, podem, se não tomarmos nenhuma atitude!" - Kagome replicou, mas não tentou mais abrir passagem.

"- Mas esse não é o momento para tomadas de atitude, Kagome. Acalme-se! Por que você o teme tanto?"

Inuyasha viu que na realidade não era Kagome que o temia. Limitou-se a abaixar os olhos e, só quando Kagome insistiu na pergunta que ele havia feito, voltou a encará-la e começou a falar, com uma voz relutante.

"- Ele é perigoso. Você vai entender isso com o passar do tempo. Mas acho que tenho razão. Essa afobação não vai nos ajudar."

"- É assim que se fala!" – Kagome sorriu aliviada, tendo os braços soltos pelo garoto – "Esse tal Naraku não vai nos atacar do dia para a noite. Ainda temos tempo para pensar no que fazer. E se perigo é o problema, não se preocupe. Ele não vai entrar aqui sem a minha permissão. Você estará em segurança."

Mesmo não parecendo estar completamente convencido da afirmação, Inuyasha sorriu. Não imaginava que um ser humano fosse capaz de tamanho gesto de coragem, ou estupidez. Ele não sabia qual das duas palavras se encaixava melhor à situação. Mesmo assim, era um grande alívio ter alguém ao seu lado; sentiu-se seguro como há tempos não se sentia. E, pensando melhor, era possível que sua desenhista tivesse razão, afinal, aquele era o mundo real. Talvez as regras fossem diferentes ali. Talvez ele pudesse ter uma chance de terminar o que havia começado, dessa vez, sem interrupções do destino.

"- Tem razão". – concluiu, por fim, rendendo-se aos argumentos da jovem – "Ele não vai ousar nos atacar. Mas o que faremos enquanto isso?"

Kagome abriu a boca para responder, embora não tivesse nenhuma boa idéia em mente, mas o desconcertante ronco do seu estômago foi mais rápido. Era a hora de comer alguma coisa, afinal, não poderia passar o resto da noite com o simples sanduíche que comera no almoço.

"- Acho que foi a sua... Vem, vamos jantar! Preparei alguma coisa com os restos de comida que encontrei na despensa. Não sei se está bom porque caí no sono antes de experimentar, mas..."

"- Você preparou comida?" - a jovem perguntou, uma expressão animada tomando o rosto, como se há anos não soubesse o que era aquilo – "Comida de verdade?"

"- É, acho que é. Pelo menos esse é o nome que tem na minha história. Não faço isso há algum tempo, mas acho que não ficou ruim. Quer experimentar?"

"- Está brincando!" – Kagome respondeu, já caminhando para a cozinha – "É claro que eu quero! Estou morrendo de fome!"

E, demonstrando estar realmente faminta, apanhou um prato dentro do pequeno armário de madeira branco pendurado na parede e serviu-se de uma generosa porção de bolinhos de arroz e de uma colorida salada. Nem se lembrava de que guardava legumes no fundo da geladeira.

"- Acho que esfriou." – Inuyasha respondeu timidamente, disfarçando a ansiedade por uma opinião.

"- E daí? Não me incomodo com esses pequenos detalhes. Estou com tanta fome que comeria até pedras!"

"- Mas minha comida não é pedra." – Inuyasha respondeu, ligeiramente contrariado, enquanto acompanhava a movimentação da criadora com os olhos.

Ela põe o prato em cima da mesa... Experimenta faminta...

"- E?"

Kagome desejou ter engolido o bolinho antes de responder, mas ele estava ruim demais para que seu estômago o aceitasse sem nenhum protesto. Um gosto doce e outro salgado se misturaram de maneira nada harmoniosa dentro da sua boca e a comida parecia dobrar de volume conforme ela tentava engoli-la. Depois de desistir de manter a aparência, cuspiu o bolinho de volta ao prato e encarou Inuyasha com um olhar absolutamente frustrado.

"- ... Você colocou açúcar na comida?"

"- Mas era branco..."

"- O açúcar E o sal SÃO brancos!"

"- Agora é que você me avisa isso? Se tivesse colocado eles em potes com os nomes! Sinalizado a diferença! São todos brancos!" – Inuyasha nunca fora bom na comida, mas estava sofrendo uma clara sabotagem. Precisava protestar.

"- Eu consigo distinguir perfeitamente os potes! Além do mais, não contava com uma visita extra na minha casa!"

"- Você é uma bruxa grossa mesmo! Eu só queria ajudar! E aliás, eu estou aqui porque VOCÊ QUIS!"

"- Eu acho que as pedras seriam uma boa pedida, mas vamos pedir uma pizza... Que sabor você quer?"

"- Nenhum. Não estou com fome. E mesmo que estivesse, não daria o prazer de apoiá-la nesse complô contra a minha comida."

"- Ok". - Kagome respondeu com serenidade, enquanto ainda esperava a ligação ser completada – "Então fique com seus bolinhos."

E, ignorando os protestos de Inuyasha, pediu uma pizza para fazer uma refeição menos terrível do que a que sua criação havia lhe reservado.
Quando a pizza gigante de mussarela chegou e invadiu o apartamento com seu tentador cheiro, Inuyasha perdeu as forças para manter de pé seu protesto e, depois de responder às provocações de Kagome com frases atravessadas, juntou-se a ela em uma agradável refeição. Fazia tempo que Kagome não tinha uma companhia para o jantar, muito menos uma companhia masculina, bela e tão falante. Conversaram um pouco mais sobre o lápis, mas dessa vez deixaram Naraku e sua ameaçadora presença de fora de conversa. Se concentraram em falar sobre o mundo mágico, o real e as fascinantes diferenças entre eles e não notaram a noite que se espalhava silenciosa sobre a cidade.
A alguns quilômetros dali, Naraku fazia justamente o contrário. Da sacada do seu apartamento, observava atentamente o céu estrelado e o brilho pálido da lua no céu, embora seus pensamentos estivessem voltados para outra direção. Precisava conseguir a outra parte da lenda. Não poderia deixá-la escapar da suas mãos, agora que estava tão próxima. Mas o que fazer? Deveria confiar na palavra de sua estranha criação, que apenas trabalhava silenciosa na frente de um computador há horas?
Crispou os lábios ao se lembrar de que, por alguns mágicos minutos, esteve prestes a realizar o maior de seus planos e que agora, por causa de um descuido, sequer sabia o caminho de volta para a casa do humano que detinha a lenda. Por que as coisas sempre tinham que dar errado para ele? Seria outra maldição?

"- Sempai?" - a voz fria de Kanna a interrompeu de seus pensamentos – "Está tudo bem?"

"- Não". – Naraku respondeu com sinceridade, enquanto se voltava na direção da criação – "Mas não se preocupe. Acho que piores elas não podem ficar. Alguma novidade? Aquela máquina estranha lhe disse alguma coisa?"

"- Não exatamente."

"- O que quer dizer com 'não exatamente'?" – perguntou impaciente. Não estava com disposição para respostas enigmáticas.

"- Não encontrei seu criador, mas comecei uma busca pelas empresas de desenho que existem nessa cidade. Consegui encontrar alguns sites na internet que contêm o nome de suas equipes de funcionários."

"- Genial, Kanna!" – Naraku respondeu, deixando de lado os pensamentos pessimistas de alguns minutos antes. Pensando melhor, deveria confiar em sua criação. Por mais estranha que fosse, Kanna começava a se mostrar uma aliada muito útil no mundo real – "Tenho certeza de que ela é uma desenhista e de que seu nome está em uma dessas listas! Vamos procurar, anda! O que está esperando?"

"- O nome dela, sempai." – Kanna respondeu com uma objetividade inata – "Você não disse."

E, sentindo uma frustração se abater sobre sua cabeça como um balde de água fria, concluiu que Kanna estava certa, mais uma vez. Não sabia o nome de sua criadora.

"- Não podemos conseguir isso sem um nome?" – perguntou, esperançoso por uma resposta positiva.

"- Sim, sempai. Mas levaríamos dias. Você realmente não sabe o nome dela? Não havia nenhuma identificação na casa?"

"- Não, não me lembro!" – Naraku respondeu, agora irritado com a própria falta de atenção. Como podia não saber o nome da humana que lhe trouxe ao mundo real? – "E não havia como identificar nada naquele lugar bagunçado! Tinha todo tipo de coisa jogado no chão da casa! Uma infinidade de papéis e..." – deteve-se momentaneamente quando a imagem de um bilhete, caído embaixo da porta pela qual saiu, surgiu em sua mente –" Espere aí!"

"- Esperar o que, sempai?"

Naraku não respondeu à pergunta. Ao invés disso, fechou os olhos e concentrou toda a sua atenção na vaga lembrança. Sim, era um bilhete. Endereçado a dona da casa. Mas qual era o nome dela? Com que letra começava! 'K', uma outra voz dentro de sua cabeça respondeu à pergunta, renovando suas esperanças.

"- 'K'!" - Naraku repetiu em voz alta – "Havia um bilhete embaixo da porta! Eu vi antes de sair! Estava endereçado a ela e o nome começava com K!"

"- Ainda não é suficiente, sempai. Existem muitos desenhistas cujos nomes começam com K."

"- Calada, Kanna!" – Naraku respondeu, tampando os ouvidos com as mãos em um gesto quase infantil – "Seu pessimismo não vai me atingir! Eu já sei que o nome dela começa com K! Vou descobrir o resto! Quem essa cagona pensa que é para ficar com a lenda só para si! Ei, é isso! Kagona!"

"- O que é 'Kagona'?" – Kanna voltou a perguntar, completamente alheia à histeria de seu criador.

"- A humana! O nome dela é Kagona! Quer dizer, não é. Falta uma parte. Mas eu vou me lembrar! Só preciso de um papel e caneta."

"- O que vai fazer, sempai?" – Kanna tornou a questionar, acompanhando a movimentação de Naraku com seus olhos vazios. O homem correu até o telefone, pegou o bloco de anotações, uma caneta e sentou-se no sofá, começando uma série de anotações que simplesmente não faziam nenhum sentindo aos olhos insensíveis de Kanna.

"- Kagon+a... não. Kagom+i? Também não. Hum... Kagom+e. É, talvez." – suspirou desanimado – "Mas que tal uma ajuda, Kanna? Foi para isso que eu a criei!"

"- Assim que eu entender o que você está tentando fazer, sempai."

Mas Naraku não se deu ao trabalho de explicar. Apenas lançou ao inexperiente desenho um olhar que beirava pena e retomou seu trabalho, com uma certeza contagiante de que teria sucesso.
Só que ninguém, além dele, sabia ou se preocupava com seus planos.
A alguns quilômetros dali, jogados no sofá azul claro da pequena sala, estavam Kagome e Inuyasha. O pesado jantar e a desinteressante programação do fim de noite ajudavam a acentuar o cansaço causado por um dia cheio de estranhos e fantásticos acontecimentos. A madrugada se aproximava da cidade, que começava a se esvaziar e silenciar. Era hora de dormir.

"- Meus olhos estão pesados". - Kagome afirmou, depois de um demorado bocejo – "Acho que não vou terminar de ver o filme."

"- Nem eu." - Inuyasha apoiou – "Já sei o final."

"- Já sabe?" – Kagome perguntou curiosa. Mesmo que existissem TVs no mangá de onde ela vinha, não poderia existir aquele filme. Ou poderia? – "E o que acontece?"

"- Ela morre". – Inuyasha respondeu com um ar deprimido – "É um final muito estúpido, mas esse era o filme favorito do meu criador."

"- Só porque ela morre não quer dizer que seja estúpido. E, olha só, se ela não morresse, ele morreria! É um amor proibido!"

"- Eu sei que é, mas nenhum dos dois deveria morrer!" – Inuyasha protestou, inconformado com a conclusão simplista de Kagome – "Eles se amavam! Tinham que viver felizes para sempre! Você não entende a injustiça da situação?"

"- Não há injustiça!" – Kagome respondeu – "É apenas um filme! E eu sabia, desde o início, que um deles ia morrer."

"- Ah, você não tem coração mesmo! Como pode torcer para a morte deles?"

"- Eu não torci!" – Kagome defendeu-se – "Só disse que estava óbvio que um deles morreria."

"- Estava óbvio porque você é uma insensível! E, quer saber, não vou discutir por isso!" – anunciou, colocando-se de pé e passando por cima da caixa de pizza e das latinhas espalhadas pelo tapete e pela mesinha retangular de madeira, que servia como apoio para os pés dos dois. – "Se mostrou-se tão insensível com meus bolinhos, não posso esperar que se sensibilize com um filme! Vou dormir! Você vem?"

E a pergunta arrebatou Kagome, como se Inuyasha a tivesse atingido com uma pancada forte.

"- Ir?" – Kagome respondeu, depois de gaguejar outras palavras sem sentindo – "Ir para onde?"

"- Para onde mais, Kagome bruxa?" – Inuyasha respondeu, colocando os braços cruzados sobre o peito com impaciência – "Dormir! E mais nenhuma palavra sobre o filme! O final é injusto e não se fala mais nisso."

"- Você quer dizer ir dormir? No quarto?" - Kagome perguntou, ainda atordoada. Não era todo dia que ouvia um convite daqueles. Menos ainda de uma criatura mágica.

"- Não, Kagome. Eu quero dizer ir dormir no banheiro". – respondeu contrariado – "É claro que é no quarto! E vamos, anda logo! Eu estou com sono."

Mas Kagome não conseguiu se despregar do sofá. Por alguns – que pareceram a ela intermináveis – segundos tentou colocar as idéias em ordem e expulsar de sua mente pensamentos que não deveriam estar ali naquele momento.

"- Como é que é, Bruxa? Ainda preciso que você me arrume roupas. Não posso dormir outra vez com essas. Quero, também, um travesseiro fofo". – o garoto o arrancou de sua reflexão, só para atordoar ainda mais sua cabeça.

"- Eu, eu, eu... Eh... Não vou dormir no quarto hoje!" – anunciou, atrapalhado com as próprias palavras e o garoto a olhou com uma cara de quem simplesmente não entendia o sentido do comentário.

"- Não vai dormir no quarto? Posso saber por quê?"

"- Por quê?" – ele não gostaria de saber, a desenhista pensou, mesmo assim tentou inventar uma boa desculpa, mas ela não veio. – "Porque eu não quero! Estou com vontade de dormir no sofá!"

"- Nesse sofá desconfortável?" – Inuyasha apontou para o pequeno sofá azul, que não era nada convidativo para uma noite de sono.

"- É". – deu de ombros, tentando parecer natural – "O que é que tem?"

"- Nada. Só espero que o responsável por essa súbita vontade de dormir no desconforto não seja eu."

"- Não! É claro que não!" – Kagome apressou-se em responder, embora sua voz quase fosse capaz de desmenti-la – "Só estou com vontade, só isso. Pegue um travesseiro dentro da terceira porta do armário. Você pode pegar uma camiseta na segunda gaveta. E na segunda porta existem algumas roupas que pertencem ao meu irmão. Acho que elas cabem em você."

"- Você tem um irmão?" – Inuyasha perguntou animado, colocando de lado a desconfiança – "Não me disse!"

"- É, eu tenho". – limitou-se a responder, tentando tirá-lo, o mais rápido possível, de sua frente – "Agora vamos dormir. Quer dizer, você vai dormir no quarto. Eu fico aqui! Boa noite!"

Quase empurrado pela desenhista, Inuyasha entra no quarto e fecha a porta. Kagome fica do lado de fora, sozinha e cada vez mais confusa. Uma criatura mágica, uma linda criatura mágica criada por ela estava em seu quarto, iria dormir ali. E ela teria que ficar do lado de fora ou...

"- Ou nada Higurashi Kagome! Ou nada!" – disse para si mesma, enquanto se jogava de volta ao sofá. E no mesmo instante se arrependeu de sua decisão. O sofá era realmente desconfortável. Perfeito para um cochilo de alguns minutos, mas nada bom para uma noite inteira. Acordaria quebrada no dia seguinte. Isso, se conseguisse dormir.

Tentou pegar no sono, mas não havia nenhuma posição confortável que lhe permitisse adormecer. Lançou mão de algumas pequenas almofadas azuis que, normalmente, ficavam espalhadas pelo chão, mas elas também não ajudavam em nada. Muito duras, muito macias, muito altas, muito baixas e, meia hora depois, finalmente desistiu do sofá.

"- Chão!" – resmungou contrariada – "Não pode ser pior que esse maldito sofá."

Mas estava enganada. Depois de empurrar a mesinha de centro para um canto da sala e se deitar no tapete negro, percebeu que ele era ainda mais desconfortável que o sofá. O tapete pinicava, as almofadas deixavam sua coluna torta e...

"- Eu não vou conseguir dormir!" – concluiu deprimida, enquanto passava a mão no rosto exausto, desesperada por descanso – "Como é que vou trabalhar amanhã?"

"- Você é sonâmbula, Kagome bruxa?" – a voz triunfante de Inuyasha, vinda da porta, interrompeu seus pensamentos – "Ou será que ainda não conseguiu dormir?"

O garoto vestia agora uma camiseta de Souta e uma calça de moleton, que certamente havia conseguido na segunda porta do armário.

"- Você me acordou." – ela argumentou, embora tivesse consciência de que não tinha sido convincente.

"- Mesmo?" – o garoto perguntou, decidido a desmenti-la – "Eu pensei que tivesse sido o contrário. Você está praguejando tão alto que eu mal posso ouviu meus pensamentos. Por favor, Bruxa! Pare de besteira! Você não vai conseguir dormir aqui e eu vou ficar com a consciência pesada por tê-la forçado a passar a noite em claro!"

"- Mas você não está me forçando a nada! Está tudo bem!"

"- Ainda não está." - Inuyasha afirmou – "Mas vai ficar assim que você deitar lá e dormir."

"- Mas Inuyasha!" - Kagome tentou argumentar, inutilmente, quando Inuyasha se aproximou dela, a pegou no colo e levou na direção do quarto escuro. Apenas a pálida luz da lua, que entrava pela janela aberta, iluminava o local.

"- Sem mais!" – Inuyasha respondeu, depois de fechar a porta com um pontapé e se jogar na cama – "Vamos dormir aqui e ponto final!"

"- Você não está me dando escolha." – Kagome retrucou, ao desistir da resistência e se deitar também, tomando todo cuidado para não encostar em sua criação.

"- Não mesmo. Mas não se preocupe, sou uma criatura mágica inofensiva. Desde que não ofendam a mim ou a minha comida."

E depois dessas palavras, sorriu para Kagome, desejou-lhe boa noite e virou para o lado silenciando por completo.
Kagome, porém, não conseguiu dormir tão rápido quanto ele. À luz da lua, a pele branca e os cabelos prateados do desenho brilhavam de modo hipnotizante e Kagome deixou-se levar pela visão.
Ainda não podia acreditar que estava deitada, lado a lado com uma criatura mágica.
Aquele estava sendo o dia mais estranho da sua vida. Mas não podia negar que a chegada do jovem havia despertado um sentimento incomum dentro de seu peito. Por mais que relutasse em admitir, desejava ficar ao lado dele, um desejo inexplicável, que nunca havia sentindo por nenhuma outra pessoa. Seria alguma conseqüência da magia que a trouxe para o mundo real?
Não soube afirmar, mesmo assim, continuou hipnotizada pela visão de Inuyasha adormecido, iluminado pela luz pálida da noite, e só parou de observá-lo quando seus olhos cansados se fecharam e seu corpo caiu em um merecido e reconfortante sono.
Mas enquanto a jovem desenhista dormia, uma mente continuava a trabalhar, indiferente a madrugada que se espalhava ao seu redor.
Dentro de seu quarto de aparthotel, continuava concentrada em combinar as letras do alfabeto com o pedaço do nome que dispunha, em uma confusão que até mesmo Kanna havia desistido de tentar entender.
Enquanto seu criador balbuciava palavras sem sentindo, ela trabalhava no computador, só para comprovar que sua busca não alcançaria sucesso, enquanto o nome do humano detentor da lenda não fosse descoberto. Perdeu mais algum tempo com a tarefa, mas não tardou a notar seu corpo dar sinais de algo, que os humanos chamavam de cansaço. Decidiu que era hora de adiar seu trabalho para repousar. Sua atividade cerebral estava diminuindo e ela sabia que não conseguiria avançar por mais uma madrugada. Registrou com cuidado os endereços dos sites que havia descoberto e desligou o computador. A primeira parte de sua pesquisa estava completa. Começaria a segunda e mais trabalhosa de todas pela manhã: encontrar, com as referências vagas que Naraku havia lhe dado, o nome da humana.
Tentou, mais uma vez, tirar Naraku de sua concentração, mas o homem apenas respondeu com monossílabos à sua tentativa de comunicação. Caminhou sem pressa até o quarto, revisando mentalmente o que deveria fazer antes de ir deitar, quando um grito de Naraku cortou o silêncio do apartamento e a fez voltar para sala.

"- Kagome... Ka... Go... Me! Isso mesmo! Eu sou demais! Consegui me lembrar de um nome esquisito como esse!"

"-Tem certeza de que o nome é este, sempai?"

"- Esse é o nome dela, sim! Você vai encontrar uma forma de localizá-la nessa tal internet e eu..." – deteve-se com um longo bocejo – "Eu... Eu vou dormir agora. Acho que depois de um esforço mental sobrehumano como esse, mereço algumas horas de repouso. E você também! Mesmo que não tenha sido tão eficiente quanto eu, trabalhou bastante por hoje."

"- E a pesquisa, sempai?"

"- Amanhã, Kanna!" - Naraku retrucou, enquanto já se dirigia para o quarto – "A lenda não vai desaparecer em uma noite! Podemos desfrutar de algumas merecidas horas de descanso antes de colocar em ação o plano de 'Caça à Kagome'."

"- E que plano é esse, sempai?" – perguntou. Ainda não tinha conhecimento dele.

"- A pesquisa, Kanna." – Naraku respondeu, desapontado com a falta de empolgação de Kanna – "É o nome que eu dei à pesquisa que você vai fazer. O que achou?"

"- O que eu deveria achar?" - a criação perguntou, deixando seu criador ainda mais frustrado. Pelo jeito, Naraku teria que comemorar sozinho suas conquistas.

"- Nada, Kanna, nada." – respondeu, encerrando o assunto e entrando no pequeno quarto. Tinha duas camas de solteiro, forradas com lençóis brancos e travesseiros da mesma cor, de aparência fofa e confortável. Mas ele nem prestou muita atenção a esses detalhes. Apenas deitou-se na cama e respirou fundo. Seu primeiro dia no mundo real estava terminando com sucesso. Logo ele teria a lenda e tudo mais que pretendia em suas mãos.

Apagou o abajur colocado ao lado de sua mesinha de cabeceira, desejou boa noite à Kanna, que parecia imitar com exatidão seus movimentos, e fechou os olhos. Nunca se lembrou de nenhum dos pensamentos que veio a seguir; sua mente exausta logo caiu em um sono profundo.
E, depois que todos haviam adormecido, a madrugada pareceu passar muito mais rápido. Logo a escuridão e as estrelas foram sumindo e a luz de um sol forte e disposto foi tomando o lugar delas. Mais um dia amanhecia em uma cidade que não podia parar.

No apartamento de Kagome, ela e Inuyasha ainda estavam adormecidos, indiferentes à luz e ao calor que entravam pela janela aberta. Certamente teriam permanecido assim por muito mais tempo, se o toque do telefone jogado no chão, ao lado da cama, não tivesse cortado o silêncio, ecoando de maneira irritante e insistente pelo local. Kagome murmurou alguma coisa, que soou como uma praga e colocou o travesseiro na cabeça. Inuyasha, por sua vez, não conseguiu ignorar o ruído por muito tempo. Irritadíssimo, abriu os olhos e encarou o aparelho que continuava a tocar.

"(com voz de sono): - Kagome-bruxa, o telefone está tocando..."

"- ..."

"- Eu vou atender..."

"- ..."

Inuyasha atende...

"- Alô?"

"- Kagome-chan, o que houve?"

"- Kagome... Hum... AH! Claro, a Kagome-bruxa, só um minuto!"

Ele cutuca Kagome, com uma força que a faz levantar num pulo...

"- Bruxa, telefone..."

"- Quem pode ser a essa hora?"

Ela olha para o relógio e confirma o primeiro pensamento coerente da manhã...

"- MIROKU!"

OoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoO

Bem sem comentários a respeito desse capítulo. Pra ser sincera eu imaginei a cena da Kagome indo deitar no sofá, depois no chão até se render e ir pra cama x)

Minha mente está meio alucinada eu acho XD

Mas vamos às repostas )

mry-chan – Eu tinha isso em mente, tratar realmente eles como um desenho... Demorei e li mtas fics ateh ter coragem pra escrever essa ' Que bom que uma escritoras tão curtindo a minha fic! Fico mto feliz! Adicionou aos favoritos? Ahhh que emoção! Muitíssimo obrigada pessoa! Bjux!

Samy Higurashi – Que bom que gostou assim! Tava com medo que alguém não gostasse XD Já que o Inu eh tão briguento/ranzinza/mau-humorado/... tinha que servir pra alguma coisa né? Bjux!

motoko kinomoto – Que bom que está gostando! Olha, eu pretendo desenvolver o romance bem devagar, não quero forçar os personagens e quebrar a personalidade deles, entende? Espero que tenha paciência com essa escritora! Bjos!