Os Oito Dragões - A Deusa da Criação
Capítulo 5 - Quando Tudo Está Certo Para Dar Errado
A visão voltava lentamente. Por enquanto via apenas cores borradas e indistinguíveis a sua frente. Lentamente foram formando a figura de alguém que não sabia identificar ajoelhado em sua frente. Seu coração acelerou quando aquele nome veio em sua mente, sabia que se ligava ao borrão de um cabelo ruivo que cada vez estava mais nítido. Aquela pessoa tinha aqueles cabelos que se formavam, aquele que ela tanto ansiou no último ano.
Enquanto sentia-se mais fraca e as cores se tornavam mais confusas, lembranças vieram a sua mente. As lembranças de Rony a um centímetro acima do abismo, sendo atirado para dentro dele com Pansy Parkinson. Vozes vieram em suas mentes, a voz fraca de Rony discutindo com Pansy, a lembrança das dores que ela sentiu, que eram dele. E um leve relampejo de Claire dizendo que ele poderia estar de volta, que Hermione o havia sentido.
Em que outro lugar Rony poderia estar preso além das masmorras da Mansão Malfoy? Que lugar seria mais propício para ele ser torturado? Que lugar passava mais sofreguidão do que aquele? Hermione sentiu-se na mesma sintonia que aquele lugar quando ela e Rony tiveram aquele estranho cruzamento de sensações, apesar de toda a distância que ela estava.
O que todos esses pensamentos positivos poderiam ser além de falsas esperanças? Nada.
Tudo acabou quando Hermione ouvira aquela voz chamar por seu nome. Rony não tinha uma voz tão fina, aquela era voz de mulher. Todo aquele sonho borrado no qual Hermione encontrava-se inebriada pareceu desvanecer. Via o rosto confuso de Nimphadora Tonks, nem tão confuso quanto o dela deveria estar. Aquele cabelo vermelho era dela, sim, só podia ser. Não era o mesmo cabelo que ela estava usando no almoço, aliás, cor que ela não usava a certo tempo.
-Você está bem, Hermione? - ela perguntou, ajoelhada, oferecendo a mão para levantá-la, ou ao menos tentou isso.
Hermione mal a via naquele instante. Sentou-se. Estava tão confusa, não recordava muito bem o porquê de estar ali. Só recordava que seu amor se fora a certo tempo e de que ainda havia alguma esperança de ele voltar. Esperança da qual se aniquilava mais e mais dentro dela, a cada fração de segundo.
"Vou ficar só, para o resto da minha vida. Ele nunca vai voltar! Nunca! Ele morreu..." - dizia dentro de si, lutava a muito tempo para não ter esse pensamento, mas era a realidade.
-Por que a realidade dói tanto? - ela perguntou inconformada - Porque tudo não pode ser fácil. Só pode ser por isso. Então por que tudo não pode ser fácil?
-Olha, Hermione, não me leve a mal, mas acho que já está na hora de você acordar. - Tonks disse olhando profundamente nos olhos dela - Eu sei que tudo está sendo muito difícil. Obrigada por ter vindo me salvar, mas não devia, se arriscou demais e no fim de tudo acabei salvando você. Vamos embora daqui antes que ele acorde.
As palavras de Tonks agora pareceram um golpe contra a cabeça de Hermione. Um golpe que sim a pôs no lugar, arrumando toda a confusão que fazia a garota esperta se tornar uma tonta por fora dos fatos. Sim, ela ia fracassar em sua missão. Ela já havia fracassado. Havia ido para salvar Tonks e no final Tonks a salvara.
A metamorfomaga que a enganara profundamente com aquela aparência ruiva, levantou-se e ofereceu a Hermione novamente, que a aceitou e se desajeitou daquele chão o tanto sujo. Hermione já tinha os típicos leves arranhões e escoriações nas roupas, que além disso estavam o tanto encardidas. O chão daquela mansão não era dos mais receptivos. Tanto para ela quanto para seu próprio dono.
A poucos passos de distância Draco Malfoy encontrava-se inconsciente, deitado de barriga para cima, completamente apagado. Era possível ver que estava vivo pois seu peito movimentava-se constantemente para cima e para baixo. Respirava. Hermione olhou como quem surpreendera-se para Tonks, que sorriu de modo sutil, porém de vencedora. Havia derrubado um Dragão da Terra meio deus, completamente sozinha. Então a garota de longos cabelos castanhos sorriu para Tonks de modo que ela merecia.
-Parabéns. - disse ela.
-Imagina. Foi sorte. - a outra respondeu - Eu arrisquei demais, agi feito uma louca. Porém agi como deveria e defendi você de sua morte, podendo até mesmo arriscar minha vida. Quando vi que ele ia te matar não resisti, me desescondi e voei para cima de Malfoy. Tive sorte, pura e crua. Quando o derrubei ele bateu a cabeça com força no chão, não desmaiou mas sentiu-se tonto. Como estou sem varinha a dele estava dando bobeira em seu bolso, dei um jeito de pegá-la e estuporá-lo antes que ele fizesse qualquer coisa contra mim. Ainda bem que a varinha funcionou perfeitamente comigo.
-Ainda bem. Temos que ir antes que ele acorde. - disse Hermione - E não adianta correr com essa parede nos prendendo aqui. - disse apontando para onde deveria haver a porta pela qual entraram, e lá não mais estava.
-Hum... Vamos até lá e vemos o que faremos. - ela deu de ombros - Já que não há jeito.
-Então tá, né? - concordou Hermione, já que não havia uma idéia melhor.
Antes de irem Hermione teve que abaixar bem próxima a Malfoy e lentamente pegar sua espada, tentando fazer o menor barulho possível.
Enquanto caminhavam até a parede, Tonks contou como chegou até lá, e como estava justamente na mesma sala que Hermione. A garota ficou boquiaberta quando a outra bruxa contou o que havia acontecido. Pouco antes Cho Chang estivera por onde ela estava presa, ume sela bem perdida quase em outro canto da masmorra da mansão. Chang havia desabafado coisas com ela, como estar cansada de ser a menos notável do grupo e a mais mal-tratada, e de não sentir mais vontade de cooperar com eles. Porém um medo que invadia sua alma a controlava, afinal, estava sobre os comandos de um deus poderosíssimo. A garota oriental em seguida agradeceu por Tonks agüentar ouvir suas confissões e soltou as algemas da garota, pedindo para que isso, pelo amor que Tonks tinha a sua própria vida, não chegasse aos ouvidos dos outros Dragões.
-Eu notei a tristeza nos olhos dela. - disse Hermione - Pena que seja tarde demais para ela querer desistir, enquanto essa guerra tola não acabar, ela não vai mais encontrar volta para esse mal.
-Infelizmente. - Tonks complementou - E depois de muito caminhar por esses corredores, semi-labirintos, eu vim parar aqui. Quando ouvi passos de alguém correr encontrei um esconderijo, bem, em seguida espiava você e Draco Malfoy aqui dentro. Mas vamos parar de papo porque estamos diante da nossa possível saída.
Encaravam a parede. Enfeitiçada, pois a pouco tempo ali havia uma porta. Como era possível? Pergunta muito boba, porque estavam em um mundo que quase tudo era assim, menos viver em paz e ser feliz.
-Só há uma maneira, o tanto arriscada em questão. - Hermione disse levantando sua espada e olhando Tonks.
-Vai dizer que você quer quebrar a parede com a espada? - Tonks perguntou em tom como se aquilo fosse a coisa mais idiota a se fazer. Fez uma careta ao ver Mione fazer que sim com a cabeça - Está louca? Vai fazer barulho suficiente para que o Malfoy-Aly-não-sei-das-quantas acorde e pegue a gente pelo colarinho.
-Mas é o melhor que posso fazer. Ou prefere que ele acorde com o tempo e nós, presas aqui, sejamos torturadas e morramos lentamente? - impacientou-se.
-Está certa. Acho que nunca vi espada quebrar parede, mas tudo bem... - ela resmungou.
-Humpft, não a minha. - Hermione pareceu ofendida - Você não conhece nosso poder juntas. Poderemos quebrar essa parede sim.
-Então vai. - a outra disse em tom duvidoso.
Hermione concentrou todo seu poder na espada. Estava cada vez aprendendo mais a se comunicar com seu Espírito Dragão. Não era difícil, fechou os olhos e sentiu-se no ar, abriu e viu-se novamente envolvida por aquela luz esverdeada, a luz que indicava seus poderes do vento. Desceu novamente ao chão, Tonks a julgava como se estivesse normal por não ver os olhos da garota, que estavam estranhamente opacos.
Entretanto, aquele vento que começava a bater numa sala sem circulação de ar, praticamente, nada tinha de normal. A outra bruxa começou a perceber que Hermione não estava para brincadeira. E ela deu um passo lento e pesado, a espada virada para trás. Aquela era a posição inicial de ataque. Rapidamente os pés ganharam velocidade, poucos passos e Tonks estava confusa o suficiente para ver que Hermione estava do outro lado da parede.
Muita turbulência antecedeu aquela cena, a metamorfomaga só pode ver pó e mais pó e ouvir um barulho de uma parte da parede desaparecer. E a poderosa estava do outro lado, com seu sorriso glorioso.
-Legal, agora você fez barulho suficiente para todos os Dragões da Terra nos encontrarem aqui. Pode até ter acordado e... Essa não!
Tonks olhou para trás e ele não estava mais lá, não havia mais nada onde deveria estar o corpo desmaiado de Malfoy. Olhou para Hermione e viu lentamente ele se aproximando dela.
-Atrás de você! - ela exclamou aterrorizada - Não! Estupe...
Apontou a varinha de Draco para ele mesmo, que estranhamente já estava em mãos dele mesmo.
-Estava com saudade do papai, querida? - ele perguntou acariciando a varinha.
-Eu não! - Hermione tentou chutar o meio das pernas de Draco, mas este a segurou com uma de suas próprias pernas antes dessa proeza.
-Não estava falando de você... - ele quase riu, antes de ver uma faca voando em sua direção.
Tonks quando entrara na sala, havia se escondido atrás de um grande alvo, no qual haviam facas para serem atiradas em quem ali ficasse preso. Ela não resistiu e surrupiou uma delas, o máximo que conseguiu guardar. E agora viu o quanto havia sido idiota em não ter acertado ela bem no peito daquele filho da mãe quando ele estava estuporado.
Agora seria impossível acertar uma faca nele, estava muito acordado para ser atingido por um golpe tão tolo. Levantou a mão e a faca foi parada no ar. Esqueceu-se que estava bem em frente a Hermione, que pegou a faca no ar e aprofundou em Draco com toda força que era capaz. Mal havia visto onde acertou, mas ele gritou.
Olhou e viu uma faca fincada no braço de Malfoy, que já derramava gotas carmesim. Aproveitou a situação e deu um chute nos meios das pernas dele, no qual fracassara em sua primeira tentativa. Ele quase caiu no chão, mas ainda segurou o braço de Hermione antes que ela corresse, com seu braço esquerdo, que ainda estava intacto. Mas perdia sangue e estava fraco, Tonks empurrou aquele braço desagradável. Logo ela e Hermione estavam livres e correram, pouco se preocupando com Draco e apenas ouvindo o grito de dor que ele dera quando arrancou a faca de si.
-Boa jogada! - disse Hermione sorrindo para Tonks, antes de olhar para trás e ver que apesar de tudo Draco as seguia - Mas ele está vindo aí...
-Corra o mais rápido que puder! - Tonks aterrorizou-se.
Hermione sentia-se uma covarde, ao invés de lutar, fugia! Isso não era a atitude que ela deveria seguir em sua filosofia de vida, que era sempre lutar enquanto havia forças, mas também agia por bom-senso, e ele indicava a ela que o melhor a fazer era correr. Não valia a pena morrer naquela altura do campeonato.
Como toda vez que corria, não conseguia ver o que fazia. Uma substância estranha subia a sua mente. Estranha e perigosa. Quando se deu por si, depois de virar para muitos lados, completamente perdida dentre aquelas celas que formavam um labirinto, estava sozinha. Perdera-se de Tonks. Aquele calabouço era muito grande, poderia ser capaz de aprisionar um batalhão inteiro de inimigos numa guerra.
Hermione deixou-se vencer pelo cansaço, começando a caminhar. Não havia sinal de Draco algum, se Tonks a havia perdido de vista, imagina Malfoy?
Ela não sabia porque começou a sentir um aperto no coração, que fazia-o doer e se reprimir mais a cada instante. A blusa que usava era de manga média, conseqüência do calor que fazia. Era insuficiente, a garota sentia-se fria, gelada por dentro, os braços cruzados tentavam aliviar o vento gelado que batia no lugar. Tudo o que ouvia era o barulho dos próprios passos e os barulhos das inúmeras goteiras, não entendia porque o lugar era tão úmido. Devia ser para ter mais frio e para doer na alma, e irritar quem estava preso ali.
Estava em um estado dormente, já havia se sentido dessa maneira e lembrava-se muito bem quando. Tremia mais e mais de frio. Era aquela sensação estranha. Mas dessa vez sentia-se bem presente ali, entendia aquele frio. Era igual ao que ela sentiu na sua casa quando acordara durante a noite. Agora estava lá, de onde vinham aquelas vozes, aqueles feitiços que a fizeram se revirar de dor. E ela sabia que sentira o mesmo de Rony, e ele estava lá. Lá, que agora era ali, e Hermione se sentia totalmente confusa. Mais uma vez sentiu-se tonta com seus pensamentos desordenados.
"Se lá é aqui, aqui é lá.... Se aqui é lá, ele só pode estar aqui..." - então, de tudo isso concluiu "Meu Rony está preso em algum lugar dessa masmorra horrível e eu preciso encontrá-lo"
Era ali, ela sentia que ele estava mais perto. As vozes, lembranças que pareciam estar presentes, agora, vieram em sua mente em ordem estranha. Elas começaram a confundir mais e mais Hermione, que não sabia se estava acordada ou se tudo era um pesadelo. As vozes aceleraram, logo se tornaram sussurros sem sentido. Hermione sentia uma grande dor-de-cabeça, queria que as vozes fossem embora, mas tudo piorava a cada instante.
Deu mais um passo pra frente e tudo estava ainda pior. Mas silenciou. Quando ela viu quem estava detrás das grades daquela cela, tudo pareceu estar em paz. Mas a dor pelo que via roubou essa paz, assim que pôde chegar.
...X...
Claire encontrava-se no meio das ruínas de Londres, estava fraca, mas como não fazia na vida real, caminhava e olhava ao redor. Seus grandes olhos vermelhos assustavam-se com a grandeza da destruição da cidade.
Estava totalmente deserto, só havia pó de pessoas que estavam vivas a pouco tempo. Carros vazios, ruas vazias, lojas vazias... Vazio era a palavra que definia o sentimento dela agora. Quando mais distraída se encontrava, a imagem de uma pessoa a sua frente a assustou.
Viu aquela figura, a mulher alta, de cabelos castanhos e longos, olhos azuis, aquele rosto fino como o de uma raposa, que mostrava a inteligência que ela tinha, e seu olhar de confiança como o de um cão de caça. A pessoa que já a havia ajudado muito, que lhe esclarecera a situação da Criança Predestinada, estava perante seus olhos, mais uma vez.
-Estou aqui novamente. - a voz era tão doce quanto o olhar daquela mulher - Você está muito confusa Claire, com toda a razão. Carrega consigo a pior das tarefas. A mais complicada de todas...
-Eu sei a dificuldade que carrego comigo, e deveria dar conta sozinha. - Claire parecia ter mágoa por aquela mulher, a conversa com ela a fez começar a perceber que era uma má Yumemi.
-Você é a melhor Contempladora dos Sonhos existente na atualidade. - disse a mulher como se lesse a mente de Claire - Mas apesar de tudo, é apenas uma criança ainda. Não tem porquê essa auto-cobrança tão elevada. Existem limites entre os mundos que somente deuses são capazes de ultrapassar. E, certo, mesmo você sendo a melhor Yumemi da atualidade, não tem como descobrir certos fatos. Você tem a solução para o Dragão do Paraíso que a procurar após tudo dar errado na segunda chance?
-Ainda não, mas minha intuição e meus sonhos disseram, que até o momento correto tudo seria esclarecido. - respondeu Claire.
-Essa hora chegou, não é mesmo? - perguntou a mulher - Estou aqui para lhe contar o que deve dizer ao Dragão do Paraíso que vier a sua procura.
-Então eu não falhei? - perguntou Claire - Eu soube que algo, ou alguém, como você, viesse e me contasse tudo antes da hora. Ainda estamos a tempo!
-Não, Claire. Você nunca falhou, somente o seu negativismo, que às vezes a ataca, atrapalha razoavelmente. Ainda há a chance de tudo estar certo, e você nem imagina que é quando tudo estiver certo, para dar errado.
A voz doce da mulher conseguia acalmar Claire profundamente. Ela agora estava muito mais animada e ansiosa, tudo o que Suzane a disse eram disparates que nunca a deviam ter feito sentir-se mal. A hora correta para tudo dar certo era a hora que parecesse que nada daria certo, e Suzane não devia saber de nada disso, e não sabia, pois ela nunca seria a mesma Yumemi que Claire, muito menos superior a ela.
-Agora você vai ficar sabendo tudo o que deve dizer ao Dragão do Paraíso que a procurar. - aquela mulher disse em tom mais sério dessa vez.
-Espere! - Claire afobou-se - Antes diga quem você é. Da outra vez que estivemos juntas não contou, foi embora antes que eu pudesse perguntar...
-Infelizmente não posso lhe dizer. - ela respondeu calmamente - Ninguém além de você e eu pode saber que eu estive aqui. Eu não deveria estar, entende?
-Perfeitamente. - Claire consentiu com a cabeça - Então vamos ao que interessa?
Sentia-se muito preparada para saber tudo agora, antes que não fosse tarde. Afinal, pelo visto "tarde" seria a hora mais apropriada.
...X...
Gelado.
Essa é a palavra que definia aquela cena. Dor era outra. Hermione se sentia gelada e dolorida por dentro.
Por detrás das grades da cela, que se encontrava aberta, estava Rony, que não teria chances de escapar dali.
Doía muito ver ele exposto naquele vento gelado, na umidade daquele lugar tão frio. O pior de tudo era sua condição física, a magreza era tamanha que ele poderia se quebrar ao meio facilmente. A roupa bastante rasgada mostrava a pele cheia de chagas abertas e em vermelho-vivo. Os olhos serrados de forma que Hermione não sabia se ele estava vivo, não conseguia ver se ele respirava.
Quando se viu lágrimas molhavam seu olhar. Lágrimas que ela não iria conter, não seria possível as conter. Correu até ele, tinha que saber se ele estava vivo. Quando olhou pra si novamente, viu que seu choro estava mais alto e desesperado. Adentrou a cela e em três largos e corridos passos estava ajoelhada perante ele.
-Diga que está vivo, por favor! Abra seus olhos... - ela disse chacoalhando levemente o ombro de Rony.
Um olhar surpreso. Um olhar de amor. Os olhos castanhos do ruivo a fitavam esperançosos e cheios de saudade. Mas não existiam forças para deixá-los completamente abertos, sim pela metade, e ele parecia se fechar mais e mais a cada instante.
-Hermione, você morreu? Veio me buscar? Me leve embora deste mundo, não agüento mais sofrer... - ele implorou fracamente, sua voz saia em sussurros.
-Não, eu vou te levar para casa Rony. Estou viva. - ela respondeu enxugando uma última lágrima e sorrindo.
-Que bom, veio antes de meu último suspiro. Vou poder me despedir de você. - ele sorria fracamente para ela.
-Não! - disse Hermione - Nós vamos embora daqui.
-Eu vou embora daqui. - disse Rony - Minhas feridas ardem... Meu esqueleto está fraco e dolorido por conta do frio... Meu estômago está vazio... E eu estou ficando sem forças para respirar... Eu vou morrer.
-Nunca, Rony! Nunca! - Hermione desesperou-se - Você vai continuar muito vivo, vai sim! Vai...
-Eu só quero lhe pedir mais uma coisa... - ele disse - Para eu poder morrer feliz, sem levar tão má impressão desta vida.
-Peça. - Hermione segurava a mão de Rony e tentava conter as lágrimas, sabia que ele estava sem chances de viver muito além daquilo e não o deixaria perceber - Faço o que você quiser.
-Me dê um último beijo. - ele disse docemente.
-Mais um beijo. Estamos muito longe do último. - ela disse antes de aproximar seus lábios ao dele e os tocar sutilmente.
E novamente sentiam a força da união dos dois. O vento gelado que já batia, tornou-se ainda mais intenso. Logo sentiam-se flutuando e com mais força. Tudo era tão simples na hora de um beijo, mas quando beijou Rony daquela vez, Hermione viu que não parecia um beijo de despedida, como pensou que seria, e não havia sido tão simples assim. A energia entre os dois era tão grande que ela se sentia como se fosse morrer em um momento, e via a luz da vida de volta nos braços da pessoa amada novamente. Sentia a luz esverdeada de quando ela estava pronta para lutar, ao redor dos dois. Logo Rony a beijava mais intensamente e envolveu seus braços pelas costas dela. Ele estava sentando e encostado na parede, Hermione se ajeitava sobre ele levemente e inclinava a cabeça para cima.
Tudo era perfeito demais naquele momento e Rony não estava reagindo como quem fosse morrer. Hermione não conseguia se separar dele, foi muito duro quando teve que fazer isso e olhou dentro de seus olhos. Duro só por ter que separar-se de seu beijo, pois seguidamente encontrou sua recompensa. Os olhos de Rony estavam bem abertos e mais vivos do que nunca. Com um sorriso de orelha a orelha, Rony deu um selinho em Hermione, antes de agradecer:
-Obrigado por ter me dado mais um beijo. - deu uma leve risadinha.
-Rony, você está melhor do que nunca! - ela exclamou.
-E não estaria? - ele perguntou - Com uma garota que me ama tanto ao meu lado, eu jamais morreria aqui.
-Eu não entendo o que aconteceu... - ela disse pensativa.
-Você me salvou com o seu beijo. - disse Rony - Eu estava à beira do precipício, via a luz da morte vindo me buscar, até que lhe pedi aquele beijo e você me deu. A morte que vinha até mim desapareceu e me vi ainda te beijando e envolvido por uma luz esverdeada. A luz do poder da garota que salvou a minha vida.
-Então eu fui capaz de salvar você com um beijo? Como? - Hermione surpreendia-se consigo mesma.
-Você tem o poder de cura, lembra? Vai ver você o usou. - respondeu o ruivo, que sorria muito a ela por ter sua vida de volta.
-Deve ter sido. Mas o que importa é que você está aqui, bem em minha frente! - ela se atirou mais ainda sobre Rony e beijou sua bochecha.
-Mione, algumas feridas ainda doem. - ele disse gemendo - Você fez milagre mas nem tão completo à ponto de fechar todas minhas feridas.
-Sim, quando estivermos em casa eu fecho todas elas usando meu poder de cura. Agora Rony, vamos embora daqui. Temos que achar Tonks e ir embora.
-Tonks? - Rony perguntou confuso.
-É, aliás, vamos para a casa de Sirius e Lisa, quando estivermos lá te explico tudo. - ela disse.
-Sirius e Lisa? Eles ajuntaram os trapos?
-Não, Rony, eles casaram e vivem com sua filha atualmente. - Hermione respondeu apressadamente.
-Filha? - perguntou Rony - Devo ter ficado muito tempo preso naquelas trevas. Aliás, estou com fome, não tem nada de bom aí não.
-Ah, Rony, quer saber, vá para Hogwarts, bem, quando chegar lá vá até uma lareira e use o Flú para Rua dos Unicórnios, Dragonfly's Ville, nº 10. - ela disse apressadamente - Lá é a casa de Sirius.
-Tá Mione, mas justo você se esqueceu que é impossível aparatar de Hogwarts? - ele perguntou inconformado.
-Ih, é mesmo. - ela ficou um pouco corada, odiava ser corrigida - Então use uma lareira para falar com alguém através do fogo na casa de Sirius e peça para te buscarem lá, eu vou te dar minha Chave de Portal. Pena que ela não é Toca-Hogwarts.
-Um dia vai ser, quando você ir morar lá comigo. - ele disse.
-Ora, espertinho. - ela sorriu.
-Mas como você vai voltar? - perguntou Rony - Não eu vou ficar do seu lado e lutaremos se for o caso. Depois do que você fez por mim, de fome eu não morro mais. - disse convicto.
-É, como voltaria? - ela perguntou - Deixa eu te soltar daí e procuramos por Tonks, depois que a encontrarmos vamos juntos com a Chave de Portal.
-Então me solte daqui. - Rony disse levantando a mão e mostrando a algema - Assim não dá para sair daqui.
-Anti-elus! - Hermione disse apontando para a algema de Rony, que de repente estava ao chão, não mais no braço do garoto.
-Assim está melhor. - disse Rony, se levantando facilmente - Vamos nessa agora?
Ele ofereceu sua mão a Hermione, que estava ajoelhada. Logo os dois estavam em pé e sorrindo um ao outro intensamente. Finalmente tudo estava caminhando para o lado certo.
-Ora ora, casal feliz? - ouviram aquela voz irônica surgir- Momento oportuno. Nada melhor do que morrer num momento feliz de sua vida, não é?
-Não sei, eu não morri! - Hermione respondeu estupidamente a Draco, que estava do outro lado da cela - Cadê Tonks?
-Não sei. - respondeu - Aquela criatura desapareceu, assim como você, minha ferida doía muito para que eu corresse rapidamente para alcançar vocês. Porém, sabia que você ia acabar aqui de qualquer modo, sangue-ruim.
-Não a chame assim! - brigou Rony, entrando em frente a Hermione para a proteger.
-Chamo como quiser. - respondeu Malfoy-Alimydis - Quem você pensa que é, ô fracassado? Sabia que vocês são lindinhos juntos? Perfeitos para morrerem juntos, como acontece nos grandes casos de amor.
-Melhor do que você, que não ama, sente uma doença. Você tem um filho sabia? - perguntou Hermione - O lindo Eduard.
-Pouco me importo com um filho de uma Weasley. Um bastardo! - ele disse ainda com seu sorrisinho.
-Cale a boca! - Rony disse furioso.
-Cala você. - disse Draco furioso.
-Não recomendo que você o mande calar a boca. - cochichou Hermione, lembrando do que ele fez com Suzane quando ela o mandou ficar quieto.
-Agora tenho mais uma prisioneira. - disse Draco levantando a mão.
Logo as grades da cela se fecharam. Hermione se sentiu furiosa, mesmo que na realidade não estivesse presa. Tinha a Chave de Portal. Mas e Tonks? Ela estaria livre da cela, mas correndo riscos por aí. Sem dizer que Hermione estava lá para salvar Tonks como a primeira prioridade. E esse era o seu intuito.
-Não adianta você me prender aqui, Malfoy. - ela disse irritada - Eu posso sair, tenho uma Chave de Portal.
-Mas eu sei que você não vai. - ele respondeu - Sem aquela tal de 'Tontas'?
-É Tonks. - Rony corrigiu impaciente.
-Que seja... - Malfoy resmungou - Você esteve quase adormecido não é Ronald? Agora parece estar tão bem. Estava à beira da morte quando te vi pela última vez, antes de estar com ela novamente.
-O nosso amor me curou. - ele disse segurando Hermione a sua frente com mais força - E pode desistir porque você nunca vai nos fazer mal enquanto estivermos juntos.
-O amor o curou? - Malfoy perguntou com o tom de voz baixo.
Hermione viu o quanto os olhos brilhantes de ódio dele ficaram opacos. Não era nada fácil entender Draco Malfoy, entretanto, ela via que ele se lembrava de algo, e talvez até desconfiasse do quê. Mas não se arriscava a palpitar pois Draco Malfoy tinha três personalidades agora.
E realmente ele estava preso por essas três personalidades. A primeira delas era a boa, a que era capaz de amar as pessoas e a que o fazia querer tanto estar ao lado de Gina. A segunda era a ruim, a que o fazia querer realizar a Purificação e querer o fim dos Dragões do Paraíso. A terceira delas já era a que mais o dominava e que não fazia parte dele, a mais cruel e a mais dolorosa: Alimydis. Ele o controlava e fazia com que Draco fosse capaz de fazer mal até para as pessoas que estavam lutando ao seu lado.
Mas agora uma lágrima brotava de seus olhos, e Malfoy deixou-se dominar pela primeira de suas personalidades caindo de joelhos. O conflito interior entre essas três personalidades era maior do que ele, que agora caíra sobre os próprios joelhos derramando um pouco de suas lágrimas ao chão.
-Ele está chorando? Está completamente louco! - exclamou Rony.
-Não está louco. - Hermione disse séria - Ele está sendo Draco Malfoy. Apenas isso. - "Deve estar se lembrando de quando curou Gina. Só pode ser."
E era isso que invadia a mente de Draco Malfoy. O dia que ele foi capaz de amar, não de matar. Agora ele era aquele monstro que só queria destruição e mal as pessoas. Não era quem queria ser. Mas era quem o destino queria que fosse e isso era maior do que ele. Teria que esquecer que amou um dia. O mais rápido possível.
-Veja Tonks está se aproximando. - Rony sussurrou - Distraia ele.
-Ora, Malfoy, está se lembrando do dia que foi capaz de amar? - perguntou Hermione, por mais que não quisesse provocá-lo em um momento tão conflituoso - Que coisa mais linda de se ver.
-Não, eu nunca fui capaz de amar. - ele disse magoado.
Hermione estava muito aflita, correu até a grade e segurou nela. Se Tonks desse um jeito em Malfoy, seria a maneira mais fácil deles fugirem das masmorras.
-Então por que está chorando? - ela perguntou insistentemente - Parece tão frágil... Sinto até dó de você.
-Não sinta dó de mim! - ele disse em tom de voz elevado - Não preciso que ninguém sinta nada por mim!
Tonks tinha em mãos a única arma que conseguira, um pedaço de madeira redondo e de espessura média, e estava prestes a bater na cabeça de Draco.
-Saiba que não sou tonto. - o semblante de um Malfoy-Alimydis voltou ao rosto de Draco e já era tarde demais para Hermione fazer algo por Tonks.
Ela já havia sido atirada longe e estava inconsciente. Hermione pegou sua espada no chão ao lado de Rony e avançou contra a grade, cortando como se fossem galhos de uma árvore. Rony ensurdeceu-se com aquele barulho metálico que soava tão estridente. Hermione estava do outro lado da grade que havia sido cortada em pedaços, e encarava Draco Malfoy com muita raiva no olhar.
-Olha aqui, senhor deus, você está controlando Draco Malfoy em quase tudo, mas não faça mal aos meus amigos. - ela disse furiosa.
-Que medo. - Draco debochou.
Hermione pulou para trás e atirou uma grande esfera de energia verde contra Malfoy, que saltou para o lado e escapou, fazendo com que a parede se quebrasse um pouco ao ser atingida. Em seguida ela pôde ver uma luz em forma de corrente em tom marrom atingir Malfoy, amarrando sua perna.
-Isso, Rony, eu sei que sua Espada está aqui, os Dragões da Terra a roubaram junto das Esferas. - disse Hermione - Vou convocá-la com minha varinha. Accio Espada do Rony.
A espada rapidamente chegou flutuando e caiu diante os pés de Hermione. Rony correu e a retirou do chão com a mão que não segurava a corrente de magia.
-Vocês acham que essa porcaria de corrente vai me prender aqui por quanto tempo? - perguntou Malfoy furioso.
Viu-se uma grande explosão de luz esverdeada e Malfoy estava livre das correntes. Rony tentou capturá-lo mais uma vez lançando outra corrente de luz no ar. Mas agora Draco estava preparado e se desvencilhou rapidamente. Rony avançou contra ele novamente, que desembainhou sua espada e se defendeu do novo ataque. Hermione tentou avançar contra ele, que apenas levantou a mão em sua direção e ela não conseguia dar um passo.
Rony já havia sido atirado ao chão, sua espada ao seu lado, e viu-se envolvido por uma corrente feita de luz verde, idêntica a que havia prendido Malfoy. Hermione não conseguia fazer nada quanto a isso. Quando estavam sem esperança nenhuma, Hermione sentiu-se livre da barreira de Draco e o viu cair no chão. A corrente ao mesmo tempo soltou a perna de Rony, que sentiu-se muito aliviado.
Os dois se surpreenderam ao ver Tonks, de pé atrás de um Malfoy inconsciente, com aquela madeira na mão e sorrindo.
-Que vergonha, não sou Dragão do Paraíso e já derrubei um Dragão da Terra quase deus, duas vezes hoje.
...X...
"Princesa Claire?... Princesa..." - a voz de Melina ecoava.
Claire acabava de ser despertada de mais um sonho seu. Um sonho cheio de esperanças verdadeiras e um sonho que havia lhe mostrado uma saída. Agora ela sabia o que deveria dizer ao Dragão do Paraíso que retornasse a sua procura. Agora ela entendia seus sonhos e via que tudo daria certo quando estivesse prestes a dar errado.
"Princesa, Sirius está aqui e precisa falar com a senhora." - disse Melina.
A garota estava ao lado de sua irmã Helena, e parecia sem graça com a presença de Sirius. As duas ainda estavam indignadas com o casamento dele com Lisa Brynsen. Mas era assim que as coisas caminhavam, e as duas não viam que haviam o perdido sem nenhuma delas tê-lo e que era melhor assim.
-Não quer mais nada, Sirius? - perguntou Melina.
-Não obrigado. - Sirius pareceu sem graça com a proximidade da garota.
"Podem ir para dentro garotas. Obrigada." - Claire disse desconfiando do que poderia estar acontecendo fora de sua vista e sua audição.
"Está bem princesa." - Helena respondeu reverenciando Sirius e sendo puxada pelo braço por Melina para dentro.
"O que procura?" - perguntou Claire.
"Procuro saber o que está acontecendo." - ele respondeu. "Estou escondido com Melissa, sem saber se ela ainda corre perigo."
"Pode voltar para a casa de Lisa." - Claire disse em tom sério. "Infelizmente não há mais motivo algum para os Dragões da Terra quererem a sua filha. Eles já tem as Esferas em mãos."
"Então a ruína está mais perto do que nunca." - Sirius assustou-se.
"Não." - respondeu Claire. "No final tudo vai estar bem."
"Viu isso em seus sonhos?" - Sirius perguntou em tom de deboche.
"Sim." - respondeu Claire.
"Então me conte este seu sonho." - disse Sirius. "Viu os coelhinhos ressurgirem em um campo com o sol nascendo?"
"Não, Black. Não irei te contar o sonho, você está alterado e deve ir para casa." - recomendou Claire. "Vá e mostre a todos que você e Melissa estão bem."
"Então tchau!" - Sirius disse indo em direção da porta. "Ela está querendo nos encher de falsas esperanças. Já está velha e devia ser esquecida." - disse a si sem ao menos se lembrar que Claire ouviria o que dissesse.
"Não se esqueça que sou capaz de ler sua mente." - Claire disse subitamente na mente de Sirius.
"Posso me esquecer assim que sair daqui. Adeus!" - ele disse antes de aparatar.
Claire estava sozinha em seu aposento agora, nem um pouco ofendida com as palavras de Sirius. Sabia que não era verdade aquilo, e que ele estava alterado por toda uma situação estressante.
"Ainda tão imaturo..." - ela pensou.
No próximo capítulo...
Agora sim Hermione, Tonks e Rony poderão ir embora, ele que estará de volta a família, e viverá momentos felizes... E momentos difíceis ao encarar que se não for capaz de fazer nada, a garota que mais ama e amigos estarão perdidos para sempre. O retorno de alguém que estava isolado da sociedade... A hora da Purificação está próxima... E o peso da responsabilidade atinge os quatro que fracassaram no que deviam ter vencido. Capítulo 6 - O Desabar do Mundo Sobre os Ombros
N.A: Oi pessoal! Nhé! Eu sei que não atualizo a fanfic há um mês, mas aqui está ela! Gostaram do capítulo? Espero que sim! R/Hr!!! Um dos três shippers que carrego no lado esquerdo do peito! Rá rá! E enganei vcs, alguns acharam que era o Rony no começo do capítulo, que havia salvado a Mione e talz, mas era a Tonks. O que acharam do action R/Hr? E do sonho da Claire? E do resto? Então pq vc, é vc mesmo que está lendo essa fanfic, não aperta aquele botão lilás na direita da tela e "submit" um review pra mim? O q custa? Já me cansei de me humilhar por reviews aqui nesse site, então mandem se tiver vontade, pois a fic continuará a ser atualizada. Agora, só não garanto se a qualidade continuará a mesma se receber muitos poucos reviews.
Olha os agradecimentos: Olivio Wood Slytherin e Naty Malfoy. Nossa! Como vcs mandaram poucos reviews nesse capítulo! Sem preguiça! Vamos lá, me ajudem a escrever mais! E mais rápido né, vcs viram como poucos reviews atrasam na atualização da fic? E nem vou comentar que certa pessoa não me deixou review no cap anterior, e se não me deixar nesse mostrando que não está viva, corto relações! Viu sra. Lina, isso é uma direta.
Bom pessoal, valeu!
Victor Ichijouji a hora da Purificação está mais próxima do que imaginam! Wahaha!
