Disclaimer: Os personagens libidinosos e deliciosos de Saint Seiya são propriedade do Tio Kurumada. Portanto, tudo o que produzo utilizando os personagens originais dele são objetos de mera diversão e não têm fins lucrativos de espécie alguma. Os personagens, nomes e enredos originais dessa fic, mesmo não sendo de grande valia, me pertencem, contudo.

Comentário Pessoal: Depois de muita tragédia, um capítulo mais ou menos 'fluffy'. T�, não completamente, mas boa parte... espero que se divirtam. Algumas cenas têm cortes bruscos. Onde acontecer, saibam, é para vocês usarem a imaginação... cof, cof... Ah, sim, Horemheb é a minha versão-Verlaine de Máscara da Morte – um egípcio FOFO. Ok, eu sei que ele não é egípcio... mas... bah! Ignorem. Beijos, have fun!


Incenso e Vela

Capítulo 11

Calmaria

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Mu empregou todos os meios para ensinar Shaka como eram as artes do amor. A criança dourada, divina, nascida sem mácula do Lótus fora muito bem educada – ou, como Mu preferia, deseducada – para reprimir tudo aquilo que fosse comum aos homens e nisto incluíam-se todos os desejos do corpo. Shaka não era um homem virgem qualquer – ele era incapaz de perceber intenções maliciosas nos atos, era ingênuo com tudo que dizia respeito ao sexo. Mu sabia que teria muito trabalho para recuperar longos anos de privações. Ele, no entanto, não duvidava em nada que reeducar os sentidos de Shaka seria a tarefa mais deliciosa e mais gratificante de sua vida.

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Parte I:

Usando a Visão Fraca de Shaka para o Amor

"Quero começar pelo sentido que menos me atrai, a visão."

"Só porque não enxergo?"

"Você enxerga melhor do que eu, Shaka..."

"Mais ou menos..."

"Quero que aprenda a ver, sensualmente..."

"E como eu faria isso?"

"Procure por aquilo que acha bonito... nos outros... em você."

"Mas é só isso?"

"Bem, não. O que quero é que aprenda a desejar com os olhos; a achar a beleza que te provoque desejo – em você e nos outros."

"Nos outros?"

"Em mim, preferencialmente..."

"Vou tentar..."

Durante o dia, Shaka dedicou-se a observar o ariano.

Mu era uma criatura linda, com olhos grandes e puxados, cílios finos e longos. Seus cabelos cor de lavanda eram resplandecentes, voavam livres à menor brisa e o ariano estava sempre afastando a mechinha da franja com seus dedos brancos mimosos. Os dois pontos reorganizavam os traços do rosto, já que não tinha sobrancelhas. Pescoço fino, comprido, corpo delgado, pele alvíssima, contornos delicados, porém fortes. Os dentes claros e pequenos, pés pequenos e pernas compridas... Shaka descobriu um prazer imenso em observar Mu, seguia-o, pálpebras cerradas, por onde fosse, extasiado por cada pequeno detalhe que conseguia perceber. E, ao passar das horas, afeiçoava-se cada vez mais de cada traço e peculiaridade do ariano, como se eles fossem parte de sua vida desde seu nascimento. À noite, ao recolherem-se, finalmente, na casa de Áries, era hora de Shaka mostrar a Mu o que tinha aprendido no uso da sua 'visão' para o amor.

Encontrou o ariano estendido na sua esteira de palha, o tronco apoiado sobre os cotovelos. Shaka sentou-se de frente para ele. A casa já não estava muito clara, a visão de Shaka também já não era das melhores.

"O que me diz do seu dia?"

"Posso descrever você em detalhes para qualquer um."

"Todos os detalhes?"

"Todos os visíveis."

Mu sentou-se, e começou a se despir.

"Vamos aos detalhes que você não pôde observar durante o dia." – ele viu que Shaka estava ligeiramente desconfortável ao olhá-lo totalmente nu, diferentemente da noite em que Mu havia apanhado de Afrodite, desta vez Mu afastou seus longos cabelos para que o virginiano tivesse uma visão integral de si, de todas as partes do seu corpo. – "Gosta?"

"Já vi estátuas de Buda nu." – admitiu, os olhos baixos.

"Eu me pareço com Buda?"

"Não... Sidartha era mais gordinho."

"Você não respondeu se gosta."

"Gosto." – confessou com as bochechas rosadas. – "Gosto muito..."

Mu colocou a batata da perna sobre o ombro de Shaka.

"Que bom que gosta. Eu também gostaria de ver você nu, se não se importa..."

Shaka tomou a mão de Mu e a pôs sobre seu ombro, como se o convidasse a despi-lo. Emocionado, ele deslizou os dedos sobre o sari laranja. Brahma... como era possível que Shaka fosse ainda mais bonito do que ele pudera supor? Até a suave penugem do seu corpo era dourada como um sol. Ele era todo branco, dourado e rosa... ele era todo perfeito e belo. O ariano percebeu que os olhos – cerrados, porém curiosos – de Shaka estavam timidamente colocados sobre seu sexo e o de Mu.

"Mu você é... maior do que eu..."

"Não se preocupe com isso... não fará diferença... já que..."

"Ah... é verdade. – Shaka fez um ligeiro biquinho. – "Você também não tem pêlo nenhum no corpo..."

"Sou lêmure. Esqueceu?"

"Mmmm.

"Quando me olha, o que sente vontade de fazer?"

"Fazer?"

"É, fazer... ou não fazer... não sei, o que sente?"

"Por que não começamos com você? O que sente?"

"Te vendo assim, nu?"

"É."

"Um amor imenso. Admiração pela sua beleza. Vontade de beijar cada parte de você e de tocar seus cabelos e sua pele macia... de ver seus olhos... de te abraçar, forte, muito forte... e de fazer... você sabe..." –ele suspirou. – "E você?"

"Vontade de te beijar. E de te tomar nos meus braços. De cheirar seu cabelo bonito... de passar a minha mão em você... em você todo. Vontade de te... te proteger...te ter junto de mim, meu peito dói – é uma dor boa, mas dói... é uma dor quente... no corpo todo... e mais aqui... para baixo... não sei... não é dor, porque é bom... mas é... é..."

"Isso é desejo."

"A dor?"

"Não é bem uma dor... é uma urgência."

"E o que a gente faz para parar?"

"Sacia o desejo. Ou ignora-o."

"Mmmm."

"No nosso caso, ignoramos..."

"Mu... me desculpe..."

"Não, não..." – Mu beijou o rosto triste de Shaka. – "Você é que tem que me desculpar. Eu aceitei suas condições, foi canalha da minha parte reclamar..."

"Podemos dormir juntos hoje? Assim, como estamos?"

"Nus?"

"Sim."

"Shaka, sabe o que está me pedindo?"

"Que você faça por uma noite o que fiz a minha vida inteira: rejeitar desejos. Mas se acha que não será forte o bastante..."

"Está me provocando?"

Shaka sorriu tímido."

"De uma certa forma..."

"Mas não vou tocar em você. Hoje estamos em progresso com sua lição sobre a visão."

"Está muito bem assim."

Passaram a noite em claro, olhando-se e admirando-se por horas e horas, como se pudessem se amar apenas por olhares, as mãos dadas. Vez por outra, Shaka brincava com os cabelos de Mu, enroscado-os em sua mão longa, fina, delicada. Mu retribuía o carinho acariciando o cabelo de Shaka, rente à nuca, deliciado com os suspiros lânguidos de prazer que ele conseguia tirar do virginiano com tão singelos afagos.

Shaka acendeu uma vela perto da esteira para a claridade ajudar sua visão torta, e mesmo Mu adormecendo vencido pelo cansaço, Shaka viu a vela se extinguir, o céu clarear aos poucos, o sol desvirginar a madrugada, invadir a casa de Áries sem ser convidado, dourar as costas de Mu, que dormia de bruços abraçado com um travesseiro minúsculo forrado com pétalas secas de jasmim. E, sem maldade alguma, como uma criança tola e deslumbrada, colocou seus lábios delicadamente sobre o cândido e arrebitado bumbum de Mu. Riu contente de ver os pequenos poros da pele do ariano arrepiarem-se. Beijou novamente a carne rosada do ariano, fazendo uma trilha de beijos do calcanhar até a nuca. Mu espertamente fingiu dormir, curioso para saber até onde o outro seria capaz de ir.

O virginiano não se estendeu muito – teve medo de Mu acordar.

"Acordou mais cedo que eu, Shaka..."

"Não dormi."

"Não?"

"Não tive sono."

"Sente-se mal?"

Ele deu um enorme sorriso, todos os dentes aparecendo.

"Nunca estive tão bem."

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Parte II:

Cheiro de Encrenca: o olfato de Shaka...

"Preciso mesmo fazer isso?"

"Claro. Afunda a cabeça na tina. Está com medo de molhar essa cabeleira?"

"Posso tomar banho sozinho..."

"Não faz essa cara, eu sei bem que eram o monges que lavavam esse corpinho..."

" Eles não ficavam me olhando com esses olhos de fome que você me olha..."

"Está nervoso? Medite!"

"Não dá para meditar com você esfregando a minha cabeça com essa força toda!"

"Que maldade a sua! Estou lavando seus cabelos com sabonete de alecrim e malva. Devia me agradecer! Concentre-se e sinta o perfume."

"Olfato hoje?"

"Ahã. É um dos meus preferidos. Só perde para o paladar..."

"Prefiro o tato..."

"Quem te ouve, até pensa..."

"AIII!"

"Muito charme, Shaka. Shion esfregava minha cabeça com muito mais força... é para o perfume entranhar..."

"Ele está bem entranhado... já adentrou meu couro cabeludo e vai furar meu cérebro se você continuar esfregando com essa ferocidade..."

A água da tina recendia o perfume do alecrim e da malva e das muitas pétalas de rosa que Horemheb "tomara emprestado sem pedir" de Afrodite, a pedido de Mu. Shaka se divertia como uma criança, enquanto Mu o banhava nas águas perfumadas e esfregava-o todo com o sabonete que ele mesmo fazia em Jamiel. As mãos pequenas do artesão ensaboaram os ombros largos de Shaka e desceram pelo peito talhado por treinamentos, tortuosamente pelos músculos do abdômen do seu doce indiano, detendo-se sem piedade na área do umbigo.

"Pára, Mu."

"Por que?"

Shaka se limitou a voltar-lhe as pálpebras.

"Quer conhecer uma outra dimensão?"

"Você vai junto assim peladinho e em posição de combate?"

"Não, você vai sozinho."

Mu, contrariado, largou o sabonete.

"Estava brincando, Mu..."

"Não, melhor assim mesmo..."

"O que acontece depois?"

"Depois do que Shaka?"

"Você sabe... tudo que sobe..."

"Desce. Você disse tudo."

" Mas é só isso? Sobe e fica assim? Mas com que finalidade?"

"Quando um homem se deita com uma mulher, ela tem um orifício entre as pernas especialmente para abrigar o... você entende..."

"Assim desse jeito que ele est�!"

"De outro jeito não daria, Shaka... então, depois de algum estímulo, o homem, se tudo der certo, alcança o prazer máximo e depois deposita na mulher um líquido que é a seiva da vida..."

"Ah, o sêmen?"

Mu arqueou os pontinhos.

"É. Ele faz com que a mulher engravide... seus mestres nunca te disseram isso?"

"A educação sobre esses sentidos inferiores é parte do treinamento, mas na verdade, nunca quis saber. Preferia que me ensinassem sobre Buda e sobre como derrotar meus oponentes me livrando dos desejos humanos absurdos." – Shaka continuou olhando para aquele 'objeto estranho' entre suas pernas dentro da tina. O corpo não era algo constrangedor ou desconhecido para ele; o problema de Shaka era entender que serviam mais do que meramente para instrumentos fisiológicos.

"Mas, se somos homens... como fazemos? – o indiano voltou à carga."

"Bom... improvisa-se."

"Improvisar?"

"É, o homem também tem um orifício, só que atrás..."

"Disso eu sei. Só não sabia que servia para isso."

"Pois bem, usamos. Ele serve para os mesmos fins, exceto o de reprodução..."

"Não dói? Quer dizer... eu vi o seu tamanho... tem maiores?"

"Difícil ser maior do que eu."

Shaka enrugou a testa ante o sorrisinho irônico de Mu e deu um tapa na água que espirrou sobre os cabelos do ariano.

"Convencido."

"Coisinha dourada..". – Mu suspirou enxugando o rosto. – "Doer dói. Mas é tão bom, mas tão bom, que você não percebe que dói..." – Mu riu sozinho. – "Só no dia seguinte! Ah, claro... também há muitos 'estratagemas' para que não se sinta dor..."

"Ah é?"

"Pois é, para você ver."

"Você sente dor? Quando você... você sabe o que quero dizer..."

"Eu sempre fico por cima..."

"Você?"

"Não entendi o tom do 'você?'..."

"Ah, Mu, não sei... fiquei surpreso, só isso."

"Surpreso... sei... mas vamos lá... nem sempre fico por cima. E não, não sinto dor – pelo menos nada que me desanime muito a ponto de eu me tornar abstêmio."

"Então, vocês só usam o... orifício?"

"Não, usamos as mãos, a boca... somos criativos... mais do que as fêmeas... elas são muito dependentes do seu 'orifício'... é o que Shion sempre me dizia... que as fêmeas são pouco criativas e dependem que o homem seja sábio para agradá-las."

"Já se deitou com mulher, Mu?"

"Já. Com a Polixena..."

As olhos pareciam tremer sob as pálpebras. Um certo ciúme se apoderou dele: imaginou Mu sobre o corpo da sacerdotisa bonita, os lábios entreabertos de prazer. Ficou vermelho. Depois, pálido.

"Polixena era uma mulher verdadeiramente admirável. O pai dela, Ereuthalion, descende diretamente de Heitor de Tróia." – Mu continuou, fingindo que não notava o desconforto de Shaka.

"Pensei que o filho de Heitor tivesse morrido." – respondeu com um certo escárnio, seu peito puro pela primeira vez enchendo-se de fel, uma raiva surda daquela mulher que partilhara de Mu todos as delicadezas que ele preferia que fossem só suas.

"Não morreu. Astíanax foi levado como um bebê escravo para Ítaca. Depois fugiu. Foi um guerreiro forte e serviu em Atenas à democracia."

"E como é deitar com mulher?" – perguntou, já em um certo desespero.

"Vicia."

"Mesmo?" – resolveu-se por abrir os olhos, as mãos tensas agarradas às bordas da tina.

"É muito mais fácil do que deitar com homem. Elas chegam... ao êxtase muito mais facilmente, quero dizer: fisicamente é mais simples ter o prazer com uma mulher."

Piscava nervosamente. Não estava acostumado à luz e não conseguia digerir o que Mu dizia e muito menos o ciúme que lhe causava. Uma mulher! Justo uma mulher! Talvez se tivesse sido Aioria... com ele poderia competir de igual para igual e... mas no que estava pensando? Competir? Tolo, tolo, tolo! Que moléstia horrível era essa que agora o acometia? Coçou os olhos com os dedos molhados do sabonete.

"Então, por que prefere um homem?" – o tom desafiador.

"Porque prazer imediato não é o que busco em meus relacionamentos. Amei Aioria e amei Polixena."

Maldita hora em que perguntara!

"E agora, você me ama?" - era um golpe baixo. Mas já não lhe restava munição, Mu o fulminaria se ele não partisse para o ataque...

"Amo... e acho que mais do que deveria." – silenciou, esperando que o virginiano confessasse-lhe amor também. O virginiano não disse nada; Emudecido pelo medo de perder o que mal lhe fora dado, Shaka enlaçou o corpo de Mu com seus braços molhados, apertando-o.

"Mu... por que você gostaria de mim?"

"Oh..." – Mu gozava o contato delicioso dos braços mornos de Shaka ao redor do seu corpo. Seria sua imaginação ou ele estremecia suavemente? - "Por que alguém não o amaria? Você é lindo... doce... bom."

"Sou lindo, mas não sou doce, Mu. Não me elogie impropriamente ou não vou mais acreditar quando me disser coisas assim..."

"Para mim você é doce. Muito..." – afrouxou o abraço, tomou o rosto loiro entre seus dedos e beijou-o com ternura. – "nada é mais doce do que sua boquinha de anjo, Shaka..."

"Mu... você me deseja?"

"Oh, Zeus... mais do que tudo!" – Mu deslizou a língua pelo pescoço úmido de Shaka, o loiro tombou a cabeça para o lado, facilitando a exploração daquele território pálido e delicado que era seu pescoço longo. Entorpecido de prazer, o ariano roçava suas unhas curtas contras as costas escorregadias de Shaka, mas logo suas mãos já não o obedeciam e deitavam-se sobre os mamilos arrepiados do indiano que gemia discretamente enquanto sua boca era tomada pela língua de Mu. De joelhos ao lado da tina, Mu curvava-se sobre Shaka, sentindo sua ereção começar a despontar contra a madeira; as mãos afoitas de Shaka, puxavam seus cabelos, trazendo-o cada vez mais perto de si.

"Mu..." – gemeu o indiano, forçando ligeiramente a cabeça do ariano para baixo, para que ele visse entre a espuma e pétalas de rosa da tina o quanto ele estava excitado também.

"Oh, Brahma... Shaka... não me enlouqueça assim..."

"Mu... o que eu faço agora?"

Mu, muito mais experiente do que Shaka, sabia que podia muito bem aproveitar-se do momento de hesitação do virginiano para tomá-lo. Seria simples – o indiano em seus braços estava zonzo de prazer e não resistiria se ele tentasse alguma coisa. Entretanto, reuniu tudo de frieza que lhe restava para não fazê-lo. Já conhecia Shaka o suficiente para saber que ele não o perdoaria se fosse desvirginado daquela maneira – em um momento inconsciente de prazer. Ele atiraria o fato em sua cara para sempre. E também não precisava disso. Queria que Shaka se entregasse a ele espontaneamente e muito seguro do que estava fazendo. Não seria ali.

"Minha criança querida..." – tocou as mãos molhadas de Shaka – "faça você. Ainda será puro depois..."

"Mesmo?" – gemeu Shaka, hesitante.

"Sim, meu anjo... sim."

Hipnotizado de desejo, Shaka levou a mão até seu sexo ereto. Apalpou-o com uma certa estranheza, mas logo em seguida passou a estimulá-lo com movimentos rápidos e bruscos.

"Calma, Shaka... calma..." – Mu segurou o pulso de Shaka, enquanto o beijava ternamente o rosto todo, a língua dançando sobre a pele de marfim. – "Devagar... devagar..."

O ariano então, com o pulso de Shaka entre os dedos, forçou-o a seguir um ritmo mais lento e cadenciado. O rosto do virginiano se desfigurava de prazer, a respiração pesada e lenta; enfiou o rosto no ombro de Mu, a mão livre agarrou-se nos cabelos lavandas próximos a nuca, as unhas cravadas na pele de Mu que sequer lembrou-se de protestar. Gemia o nome de Mu a cada movimento de ida e vinda da sua mão. Concentrado em ajudá-lo, o ariano tentava em vão desviar os olhos da cena divina, imaginando aquelas mãos longas, brancas, frias sobre ele também, estimulando-o daquela maneira... fechou os olhos para imaginar melhor, quando o longo e gutural gemido de prazer de Shaka o despertou da sua catarse. Shaka tirou o braço de cima de Mu, vendo as unhas com sangue – tinha cravado as unhas com tanta força no pescoço do ariano que acabara ferindo-o.

"Mu..." – a voz ainda alterada pelo êxtase. – "Me desculpe..."

"Não... não doeu..." – ele respondeu, tentando raciocinar o que faria para dar conta do seu desejo insatisfeito por aquele homem.

"Deixa, Mu... eu faço isso por você..." – Shaka interrompeu a trajetória da mão do ariano.

Mu voltou-lhe os olhos arregalados de surpresa.

"Eu... eu... tenho um pequeno poder de telecinese, mas... acho que já será o bastante... feche os olhos, Mu... me beije."

Obedeceu sem pensar duas vezes. Enquanto era beijado pelo seu 'aluno', Mu sentiu seu sexo ser envolvido por algo quente, que não tinha a textura de uma mão, mas tinha o mesmo peso suave, acariciando-o em movimentos lentos e porém firmes. As mãos longas e brancas de Shaka entranharam-se nos seus cabelos, descendo pelas costas, até os seus quadris, deslizando acanhadamente pelas suas nádegas.

"Shaka, Shaka..." – gemeu. – "Eu te amo tanto... tanto!"

Virgem segurou o rosto trêmulo de prazer entre seus dedos molhados, gozando da bela visão do rosto branco agora tomado de um belo rubor, suor, cabelos lavanda grudados na pele, a boca úmida entreaberta.

"Mu, querido... obrigado... muito obrigado...

"Pelo quê?

"Amor... eu teria feito tudo por luxúria... obrigado por me respeitar..."

"Eu... eu quero você... mas não de qualquer jeito... eu quero você quando você me quiser também. Não por dez minutos de luxúria... mas por amor... e para sempre."

"Mu..."

"O quê?"

"Vamos continuar a lição o olfato mais tarde?"

"Sim..."

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"Ai... Brahma... que tortura..."

"Você está se mexendo, Mu... pare de se aproveitar da situação..."

"Você está passando com esse narizinho empinado por entre as minhas pernas! Como quer que eu fique quieto?"

"É um exercício de olfato, Mu..."

"Céus... é um exercício de auto-controle. "

"Você cheira a alecrim e lavanda... até aqui..."

"Ai, Shaka... ai, Shaka!"

"Seus gemidos atrapalham minha concentração. Quer que eu pare?"

"Não! Por favor... continue..."

"Fique de bruços."

"Oh, Zeus, Shaka!"

"Você faz uma mistura de deuses! Anda, vira..." – deu um tapinha de leve nas nádegas de Mu. Depois, bateu de novo. Mu não era tão musculoso quanto Aioria – ele tinha um contorno que parecia ser talhado pelos deuses, músculos discretos, porém firmes, a pele muito macia, a carne rosada e tenra.

"Perfeito..."

"O que disse?"

"Que você é perfeito. Parece de mentira."

Mu engoliu o seco: era o mesmo elogio que Dohko fazia para Shion... "você é perfeito. Parece feito de nuvem."

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Parte III:

Adoro ouvir a sua voz... ou não. A audição do Loiro.

"Por que não pulamos essa?"

"Alguma razão em particular?"

"Acho que ouço bem demais."

"Mas não para o objetivo que queremos. Olhe... aquele não é Horemheb?"

"Parece-me que sim, Mu."

"Ele está sangrando! Venha, Shaka."

Mu arrastou-o pelas escadas até chegar ao cavaleiro de Câncer, sentado sobre uma pedra olhando para o joelho de onde jorrava sangue. Não havia dor em sua expressão, mas um certo ar de perplexidade, como se não soubesse como ia parar aquele sangue todo.

"O que houve, Máscara da Morte?"

"Um moleque infeliz atirou uma pedra em mim e acertou meu joelho! Foi tão de repente que nem pude esticar a perna para aparar a pedra!"

"Deixa eu ver."

"Tire suas patas brancas de mim, menininha!"

"Não seja teimoso... me dá esse joelho aqui..."

Mu segurou a batata da perna do canceriano à força e pôs a mão no joelho de Horemheb: a luz dourada que emanava dela logo estancou o sangue todo.

"Aí está."

"Mandingueiro."

"Sou mesmo. Um mandingueiro lêmure."

"Não agradece, brutamontes?" – Shaka interpelou Máscara com seu natural ar de arrogância, muito semelhante ao de Máscara da Morte...

"Steve Wonder versão Dinamarca, segure sua onda. Me acerto com a mocinha aqui depois, não é Mu?"

"Claro. Não se meta, Shaka..."

"Ouviu? Não se meta, Shaka!"

"Mu!"

"Deixa Horemheb em paz, Shaka."

"Fica por conta das porradinhas que dou na cama em Afrodite..."

"Estamos quites então." – Mu sorriu, vendo Horemheb sair e acenar para ele, já de costas.

"Madre Teresa..."

"Shaka, você acreditando ou não, gosto do Horemheb. E me sinto responsável por ele. Sabia que eu mesmo fui falar com Ares para que aceitasse-o como um dos candidatos a cavaleiro?"

"Você também se orgulha dos seus erros?"

"Falo sério. Admiro Horemheb, é petulante o bastante para enfrentar o mestre. Uma vez disse a Ares que o transformaria em patê para gato, se ele quisesse."

"Que gracinha. É o humor barato dele que admira?"

"Horemheb é um cavaleiro que se fez sozinho. Foi treinado apenas um ano por um velho cavaleiro de prata que foi pupilo de Shion por algum tempo. Chegou aqui sem uma armadura, sem alguém por ele, mas com um cosmo que chegava às alturas. Sequer tinha um golpe... em uma luta, normalmente, dava socos e pontapés, mas não tinha um golpe só dele, já que não tinha mestre."

"E você foi mestre dele?"

"Não, ele já não precisava disso... Ares não queria ver ele nem pintado de ouro na área do Santuário... aí ele fez a gracinha do patê. Procurei Ares e pedi que reconsiderasse. Ele já tinha o sétimo sentido... não ia demorar até ter um golpe."

"O que fez então?"

"Tentei falar com Horemheb. Primeiro ele me ignorou. Depois me ameaçou de arrancar meus olhos, depois de arrancar minha cabeça. Depois me ignorou de novo. Mas depois de algumas semanas, ele viu que eu não ia desistir. E concordou em falar comigo. Me hostilizou... aquelas coisas que você sabe que ele faz... perguntei se ele gostava de ler."

"Bestas feras lendo... o ocidente é lindo."

"Ele disse 'prefiro me enfiar numas bundinhas gulosas e arrancar umas cabeças para relaxar'."

"Baixo..."

"Genial! Você não percebe, Shaka? Ele me testava. Queria ver o quão moralista e preconceituoso eu era, antes de aceitar minha ajuda."

"E o que você disse?"

"Disse a ele que entre uma bundinha gulosa e uma cabeça arrancada, eu também tinha tempo para ler um livro ou outro. E que se ele quisesse folhear alguma coisa naqueles entediantes quinze minutinhos entre uma ereção e outra, minha biblioteca estava à disposição."

"Mu, você é um cretino adorável."

"Depois daquilo ele conversou um pouco mais comigo. Sempre me desafiando, claro. Ele só se dava bem com Afrodite e eu sei muito bem que Peixes foi um mentor melhor do que eu seria. Talvez você não perceba agora, mas... Afrodite é bem mais do que parece ou deixa transparecer... o fato é, das poucas coisas que consegui arrancar de Horemheb foi uma ligação com a morte e com os mundos dos mortos que nenhum cavaleiro até então tinha desenvolvido. Corri todos os sebos da baixa atrás de livros sobre o assunto. Fiz uma pilha deles e deixei na entrada de Áries. Eu tinha certeza de que ele podia desenvolver um golpe próprio se tivesse consciência da sua ligação com os mortos."

"E ele leu algum dos livros, Mu?"

"No começo não. Eu já estava desanimado, quando percebi que um exemplar tinha desaparecido. Se chamava 'Fenomenologia da Morte no Japão Antigo'. Pouco tempo depois Horemheb mandou uma meia dúzia de aprendizes para o Hades pelo Seikishiki . O mestre acabou se convencendo que ele seria um bom cavaleiro... organizou uma festa, que é bem uma coisa que Ares faria... uma festa! Lá ele abriu a caixa da armadura na frente de 15 meninos, entre eles, Horemheb. A armadura o escolheu. Não havia dúvida e nem questionamento que resistisse ao simples fato de que a armadura não erra no sue julgamento; ele foi feito cavaleiro de Câncer. – Mu deu um sorriso infantil – E naquele dia choveram pétalas de rosa pelo santuário o dia todo! O coração de Afrodite cantou de felicidade... Horemheb ia ficar aqui, para sempre."

"E você fez isso por aquele bruto?

"Eu não fiz nada! Nenhum livro ensina um mortal comum a ter super poderes. Horemheb só precisava de um empurrãozinho para perceber que podia manipular as passagens para o mundo dos mortos. Ele fez tudo sozinho."

Shaka deu a mão para Mu.

"Quanto mais o conheço, mais o admiro, Mu. Você é de longe o espírito mais puro e elevado que já conheci."

"Sou descendente direto dos lêmures da quarta geração. Isso é alguma coisa."

"Ah, meu doce e amado Mu..." pensou Shaka, embevecido, "sempre modesto, sempre humilde... e no entanto, sua grandeza excede todos daqui..."

"Não, não acho. Seria superior, ainda que nascido numa viela escura, filho de bêbado e prostituta, treinado por um mestre mal... é da sua natureza ser o que é. Você é uma alma pura."

"Obrigado."

"Me contar uma longa estória sobre o bruto é também uma maneira de testar minha audição?"

Mu gargalhou alegre. Shaka, já concentrado no sentido da audição, enterneceu-se ao perceber que o som do riso do ariano lembrava-lhe dos sinos sagrados do templo.

"Não. Mas acho melhor testar seus sentidos à noite."

"À noite?"

"Em Virgem."

"Por que?"

"Vou mostrar a você o maravilhoso mundo dos gemidos e sussurros. Polixena me dizia que chegava ao clímax só de me ouvir cantar no ouvido dela."

O blefe era tão vergonhoso que Mu teve ânsias de rir. Segurou o sorriso para ver a reação de Shaka.

"As fêmeas são todas mentirosas mesmo."

"Shaka! Não sei se pensava em me ofender ou ofender Polixena, de qualquer maneira, conseguiu os dois!" – resolveu levar a brincadeira adiante.

"Mu, não seja ingênuo... Polixena mentiu, claro..."

"Ela não mente!"

"Está bem, veremos então."

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Na manhã seguinte, Shaka acordou Mu com um lírio e beijos.

"Tinha razão, Mu. Me desculpe."

"Não chegamos a comprovar a teoria de Polixena." – Mu respondeu fazendo-se soar zangado, fingindo não notar o lírio e morrendo de vontade de rir daquela brincadeira tola que já estava se estendendo por dois dias...

"Eu não deixei... mas... você chegou perto."

Um blefe bem dado merece outro.

"Por que você parou? Eu não prometi que ia respeitar a sua castidade?"

"Mu, não me pressione."

"Está bem. Então acho melhor encerrar suas lições por aqui. Não vai resistir nem ao paladar e muito menos ao tato."

"Vamos tentar o paladar?" - Shaka curvou-se para beijar Mu. – "Desconfio que este será logo meu favorito."

"Está bem, está bem. Tentaremos. Para isso preciso sair."

"E por que?"

"Para arrumar o que vou precisar para sua lição..."

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Parte IV:

Gostoso! O paladar de amantes

"Ol�, Milo. Que cara é essa?"

"Camyu, o bastardo."

"O que ele fez?"

"O que ele não fez, né? Não me procura há alguns dias."

"Estão brigados?"

"Eu dei uma das minhas cenas no clube semana passada e ele ficou furioso. Está me ignorando. E eu estou subindo pelas paredes, acho que já estou com olheiras e passando mal... não sou homem de ficar no banheiro com revistinha! Eu gosto é da coisa ao vivo e a cores... mas você me conhece... eu não tenho coragem de trair o Camyu..."

"Ora, vocês já brigaram outras vezes... sei que sente falta dele, ele também sente sua falta... peça desculpas, Milo. Sabe que ele não vai recuar, é muito brioso. E eu não queria dizer, mas... provavelmente ele estava certo..."

"Mu! De que lado você est�?"

"Do seu. Por isso não quero que perca o homem que tanto te faz feliz só porque você cisma em provocá-lo em boates dançando com outros homens e mulheres! Sabe como ele é ciumento."

"Ah, Mu... eu não tenho sangue de barata! Camus me dá nos nervos às vezes! Ele não mostra paixão! Fogo! Eu quero que ele me ame, me jogue na parede, me chame de lagartixa! Eu preciso disso!"

"Então arrume outro. Este não é Camus."

"Mas quando eu provoco, ele reage!"

"Reage mal. Sempre briga com ele por isso. Se fosse você, eu pararia – ele vai acabar se cansando. Pior... talvez acredite mesmo que você precisa de um amante mais fogoso e desista de você."

"NON! Nunca! Ele não pode, Mu! Não pode! Quem mais faria o gelinho feliz? Além de mim, claro! Eu sou perfeito para ele!"

"Então não o aborreça tanto. Faça as pazes... irrite Afrodite e promova uma orgia barulhenta e selvagem em Aquário..."

"Isso vai ser fácil... meu francesinho grita que é uma coisa..."

"Então. Seja feliz."– uma sombra de tristeza toldou os olhos de Mu. – "Enquanto puder... a vida é tão curta... nossa felicidade é tão efêmera..."

"Mu, você está se dando bem com aquele homem?"

"Ele me faz feliz, Milo. O que mais posso pedir?"

"Mas você não me parece no melhor dos humores."

"Você me conhece. Tenho uma tendência à ser melancólico."

"Ah, preciso lhe dizer uma coisa."

"O que?"

"Cuidado com o Mestre. Tem uma movimentação muito estranha em Star Hill. Você o desafiou seriamente com a estória de manter a espada e a armadura de Shion. Acho que ele pretende revidar."

"Já imaginava. Vou ter que ir embora... já devia ter ido. Teria ido, se não fosse Shaka."

"Mas vai ter que deixar ele mais cedo ou mais tarde..."

"Vou." – Mu admitiu mordendo o lábio inferior. – "Mas vou adiar o máximo que puder."

"Onde vai?"

"Ao centro. Vou comprar umas coisinhas para o Shaka."

"O monge já está consumindo suas economias, Mu?"

"Milo... não desperdice sua energia me desacatando... vá procurar Camus e resolva suas desavenças com ele – na cama de preferência, onde ele cale a sua boca... e com beijos ao invés de tapas."

"Vou correndo atrás dele."

Mu não recuperou o sorriso durante o resto do dia. Ares nunca o perdoaria. Cedo ou tarde – e ele desconfiava que em seu caso seria cedo – teria que deixar Shaka...

- X -

"Vou vendar seus olhos... acha que não ver�?"

"Está muito escuro, a venda não vai me deixar ver mais do que alguns borrões..."

"Excelente." – Mu vendou Shaka com um delicado lenço indiano. – "Vou espalhar um pouco de sorvete em meu braço. Você prova e me diz de que tem gosto."

"Está bem. Mas é no braço mesmo, não Mu?"

Mu gargalhou da dúvida de Shaka... onde mais poria o sorvete?

"Claro que sim. Prove esse."

Shaka lambeu delicadamente o braço do ariano.

"Chocolate. Sorvete de chocolate! Essa foi fácil."

"Você está muito bem. Agora uma difícil."

Colocou um morango na boca e beijou o virginiano vendado. Brincaram de tentar esfacelar o morango entre as línguas, saboreando o beijo e a fruta.

"E então, Shaka?" – Mu perguntou com um sorrido feliz recuperado em seus lábios.

Shaka retribuiu o sorriso.

"Não sei... não tenho certeza... acho que teremos que repetir..."

"Ah, você quer repetir?"

"Para ficar bem claro."

Repetiram a brincadeira com os beijos e os morangos três vezes seguidas.

"Acho que é um morango..." – Shaka admitiu, maroto.

"Aluno aplicado... agora vamos testar de outro jeito." – Mu colocou uma generosa porção de sorvete na boca e beijou seu virginiano, sedento de beijos, as línguas brincando entre o quente da boca de Shaka e o frio do sorvete. O virginiano riu.

"Sorvete de creme!"

"Meu preferido..."

"Gostei mais do de chocolate..."

"Dessa vez, mais complicado..." – Mu espalhou uma pequena porção de mel na base do pescoço. – "Aqui, Shaka..." – trouxe o rosto do virginiano perto de si e sentiu a língua quente do jovem percorrer seus pescoço, com o apetite típico de quem prova uma delícia pela primeira vez, sempre lento, sempre cuidadoso, ainda que os gemidos de Mu lhe pedissem mais; para isso servia o forte controle monástico de Shaka: ele mantinha o mesmo ritmo de ação, sempre.

"É mel..." – gemeu Shaka. – "E é o mel mais doce que já provei..."

"Brahma, Absoluto... pára, Shaka..."

"Sempre preferi Shiva..."

"O destruidor?"

"O recomeçador." – um chupão mais forte.

"Shaka!"

"Você não é virgem. Pode."

"Vamos experimentar outras coisas..."

"Não precisa... eu quero experimentar você... todinho."

-x-

Parte V:

O Tato. O mais físico do Espiritual.

Shaka descia as escadarias de Áries para a arena, de mãos dadas com Mu. Já não se sentia constrangido de demonstrar publicamente seu enlevo pelo cavaleiro de Áries, tanto mais que todo o Santuário parecia experimentar uma fase de muito romance. Shaka conseguiu até achar graça em Máscara da Morte e Afrodite andando juntos de jeans justo, com as mãos cruzadas, um com a mão no bolso do outro. De repente, um jovem mensageiro do templo correu até Mu e entregou-lhe um papel.

"Mu, Polixena manda entregar o bilhete. Vem de Pamir, da ordem do mestre sábio Prabhu."

"Ah, sim, obrigada."

Mu leu o bilhete. Shaka reparou em como a expressão dele mudou, transmutando-se em um vinco na testa.

"Notícias más?"

"Minha presença em Pamir será 'requisitada' logo."

"Para que?"

"Eu preciso fazer um filho na filha do mestre Prabhu, a Mahadevi."

"Não compreendo."

"As tribos de Pamir são descendentes lêmures puros. E tem sido assim por milênios desde o fim de Lemúria: o chefe sábio escolhe um moça que tenha em seu sangue todas as melhores qualidades lêmures e ela se deita com o artesão chefe da casta. Basta uma única noite, que é determinada por uma série de cálculos matemáticos, para que ela engravide. Ela terá um menino que será criado pelas mulheres da tribo até os dois anos e meio. Depois, será mandando de volta para mim, para ser meu aprendiz e próximo mestre ferreiro – provável próximo cavaleiro de Áries."

"Você nasceu assim também?"

Mu encolheu os ombros.

"Provavelmente não. Shion nunca quis falar disso comigo, nunca quis me dizer."

"Mas ele seria o seu pai então?"

"Não. Antes de eu nascer havia um sábio mais velho que Shion, que era o chefe

ferreiro da casta. Provavelmente este seria o meu pai biológico, e o pai biológico de Shion também. Ou então... talvez eu seja um bastardo. Não importa. Os lêmures dão pouco valor a laços biológicos. Todos são 'filhos da raça': as crianças são responsabilidades da vila inteira."

" Como sabe que será um menino? E que ela engravidar�?"

"Ah, o chefe sempre tem certeza. Mahadevi já escolheu o 'apelido' do menino..". – ele sacudiu o bilhete no ar. – "Ela quer que ele seja chamado 'Kiki'... ainda por cima, preciso pensar em um nome que suporte este apelido... Mahadevi é muito voluntariosa, mas para o azar dela, é o homem que escolhe o nome..."

"Você tem mesmo que ir?" – o tom era quase uma súplica.

"É a minha obrigação... se Shion estivesse vivo... seria ele."

"Você é o chefe ferreiro?"

"Eu sou um um dos mestres. O chefe da casta é Prahbu. Mas ele não pode cumprir a obrigação porque é o pai dela. O outro mestre é irmão dela. Shion está morto e o outro mestre, o que acho que é meu pai, ficou muito doente com a idade e perdeu a capacidade de ter filhos... portanto, só restou eu."

"E você conhece a moça? A tal Mahadevi?"

"Lembro-me vagamente de tê-la visto em Jamiel."

"Como ela é?"

"Ruiva e de olhos verdes. Pequena, cabelos na altura do pescoço. Não me lembro detalhes, mas ela era bonita."

" Se você se lembra tão vagamente, como sabe que era bonita?" – o tom acusador.

"Shaka, ela era uma menina."

"E você menino."

"Está com ciúmes?"

"Tradição esquisita essa."

"Infelizmente é assim que os bebês humanos normais nascem, Shaka."

O loiro ficou em silêncio e começou a caminhar, só que muito mais rápido.

"Shaka, me espere... é minha obrigação."

"Não estou reclamando."

"Mas está fugindo de mim."

"Eu?" – ele respondeu, já muitos passos de distância do ariano.

"É! Eu..."

Mu não conseguiu terminar a frase. Uma dor lancinante no peito o fez cair de joelhos as mãozinhas crispadas sobre o coração, em uma pressão tão feroz que não conseguia nem gemer.

"Mu, já disse que..." – virou-se e viu o ariano no chão. Correu até ele, debruçou-o em seu colo. – "O que você tem, Mu? Mu! Você está bem?"

"Ai... ai... ai... meu peito... meu peito..."

"O que você tem, Mu? Por Buda!" – levantou o rosto do ariano. Ele estava roxo. – "MU!"

O ariano começou a tremer e vomitar. Shaka estava aterrorizado, não tinha idéia do que fazer. Ficou parado, com Mu debruçado sobre seus joelhos, roxo, vomitando, enquanto apertava freneticamente as contas do juzu me suas mãos, pedindo a Buda que o ajudasse com alguma calma.

"O muro, Shaka! O muro vai cair! Vai cair em nós! Vamos morrer! Vamos morrer!"

"Quer começar lutando contra mim, Máscara da Morte?"

"Claro que não, eu sei bem que um cavaleiro de ouro não deve desafiar outro."

"Athena foi atingida por uma flecha de ouro!"

"Ares é um traidor!"

"Ele vai te matar, Mu. Fuja para Jamiel."

"Kanon pensava ser esperto... Ares era mais..."

"Shion! Você é um fantasma?"

"Não. Hades me deu outra vida."

"Mãe? É você?"

"Filho, Hécate te protege."

Os flashes iam e vinham diante dos olhos de Mu. Enquanto seu corpo se debatia nos braços de Shaka, sua mente viajava entre as visões de pedaços obscuros de passado, presente e futuro. Em sua semi-inconsciência, Mu percebeu que Shaka estava tremendo. Pobre e querido virginiano! Ele não conseguia entender o que acontecia!

"Shaka... calma... vou melhorar... – segurou as mãos do outro, geladas, entre as suas."

"Mu... não sei o que fazer... me diga o que fazer!"

"Nada... nada... espere um pouco... estou melhor."

Mu fez menção de levantar-se, mas Shaka não deixou – tomou-o no colo.

"Eu levo você de volta para Áries."

Quando chegaram em Áries, Mu já estava bem melhor. Pálido e de lábios roxos, mas aparentemente bem. Shaka o banhou, trocou suas vestes e lhe deu um chá de valeriana e camomila, cobrindo-o de beijos, carinhos e cuidados. Esperou que o ariano estivesse sentado sobre sua esteira, com o copo de chá nas mãos, calmo, para perguntar-lhe.

"O que foi isso, Mu?"

"Deve ter sido a mistura dos sorvetes, das frutas... e do conhaque... não devíamos ter tomado conhaque ontem..."

"Mu, você não sabe mentir."

Ele olhou nos olhos fundos e verdes de Mu.

"Me deixe sozinho, por favor."

"Sozinho? Quer que eu vá embora e te deixe sozinho?"

"Por favor."

"Mas por que?"

"Por favor, Shaka."

"Não me quer?"

"Preciso ficar sozinho."

"Você não me quer. Não sou de sua confiança."

"Não seja tolo. Minha cabeça arde."

"E me quer longe?"

"Só um tempo, Shaka."

"Está bem." – ele levantou-se e saiu sem dizer nada, tão rápido, mas tão rápido, que Mu poderia jurar que ele usara telecinese. Partiu-lhe o coração ver seu virginiano tão ciumento e tão magoado. Mas precisava ficar só. Precisava.

Assim que Shaka saiu, Mu correu até o final da casa de Áries. Debaixo do pequeno móvel onde costumava ficar a caixa da armadura havia um enorme busto de bronze com três cabeças: era o trimurti, a trindade da Realidade Final dos brâmanes: Brahma, o criador; Vishnu, o Conservador e Shiva, o Destruidor. Virou o busto e abriu um pequeno compartimento no fundo, de onde tirou uma chave de ouro, trabalhada ricamente. Usou-a para abrir um baú, escondido atrás de um biombo no quartinho vazio atrás do banheiro.

Abriu o baú e retirou dele um pirâmide lêmure e a veste do Grande Mestre, que Shion havia lhe deixado, sob as vestes, as ferramentas lêmures e uma ânfora de barro, um medalhão com uma pedra negra e uma jóia que parecia uma coroa. Chorou copiosamente sobre o baú aberto.

"Agora entendo você, Shion... agora compreendo tão bem!"

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Comentários & Agradecimentos:

Nana: Nana-Chan! Minha querida, você é uma sanguinária! Você queria ver o Muzinho todo quebrado? Olha aí, lendo esse capítulo você já vê que Shaka nem precisou de muito mais para 'cair nos braços' de Mu. Safadinho! O golpe era só um empurrão – empurrão dado, ele já partiu para o abraço... mas também, o abraço de um ariano como esse... hehehe. Beijocas!

Lola Spixii: Sensei m�, você é que merece um fã-clube. Eu topo ser a presidente! Espero que esteja orgulhosa dos meus 'semi-lemons' que ando publicando em sua homenagem – já que você, como perva mor, está nos iniciando no mal caminho... tsc, tsc... o hades te espera, t�? Beijocas...

Bélier: Sensei! Eu também fiquei com pena de colocar o Shaka atacando o Mu, mas como você bem observou, era necessário. Quanto a ser Virgem, o Shaka até que consegue, mas ser puro, já não garanto... obrigada pelos elogios, eu fico muito envaidecida com todos eles. Especialmente por ter reconhecido o 'mote' do titulo. Ah, eu poderia dizer muitas coisas sobre sua influência na minha montagem dos personagens... mas prefiro dizer em 'off', como já tenho feito, afinal você sabe como eu sou prolixa! Bom, obrigada novamente! Beijocas da tia Vê!

Ilia-Chan: Oi, bebê! Não precisa ficar preocupada com os reviews não, não importa. Importa que você possa ler e se divertir com os capítulos, tanto quanto eu me divirto escrevendo! E obrigada pelos elogios, gosto de saber que a fic emociona quem lê- é um trabalho que faço com muito carinho mesmo. Ah, não esqueci de Gênese não! Estou ainda escasquetada por não ter bem o final definido... mas ela sai! Beijoca...

Amy: Vai ficar curiosa sim! Não vai saber quem é a mamãe do Mu até o final! Hehe! Você sim é que é uma leitora ultra-vip, pega as idéias no nascedouro, antes sequer de eu ajeitar você já leu! Bom, quanto aos lemons e aos pedidos desesperados de baby Horemheb... bem... sabes que eu faço uma fic de DitexMdM... você vai ter lemon do fofo até dizer chega! Beijocas, bebê fada...

Hakesh-Chan: UAU! Seis horas! Que resistência! Eu não consigo ficar lendo nada por mais de duas horas...bom, seja bem vinda á 'Incenso e Vela family' e pronto, satisfiz seu primeiro desejo de leitora: mais um capítulo! Beijocas!

Mo de Áries: Ah, maldade! O Mu nem é tão ameaçado assim nas minhas fics! Eu matei o Shaka em Gênese e ninguém falou nada! O Mu fica só na ameaça... mas também, tem outro jeito de arrancar uma declaração de amor da boca desse virginiano metido? Beijocas...

Ia-Chan: Pra você ver, o Muzinho não morreu e o Shaka ainda está se aproveitando dele! Ô coisa boa!

Gemini-Sama: Oras, menina! Uma professora tem que ser malvada, senão os aluninhos abusam! E é tudo para o seu bem! E eu cheguei a ver sua fic, mas depois perdi o link... quando tive rum tempo vou lá olhar e te mando uma email com as minhas 'impressões' sobre ela! Mas eu fiquei feliz de que minha bebês-fic estejam inspirando alguém além de mim mesma! Muitos talentos por aí só precisam disso mesmo: um empurrãozinho para aparecerem! SUCESSO! Beijocas.

Sinistra Negra: Moça! Que bom que você se emocionou, eu também fiquei meio 'down' escrevendo o capítulo. Bom, mas a minha trilha era outra... se você quiser conferir... é 'Enjoy the Silence', é um cover de 'Despeche Mode', cantada pela Tori Amos. É uma música linda! Bom, beijocas!

Ufa!


Verinha, seus emails são uma fonte de inspiração para mim. Fico muito feliz em abrir minha caixa postal e encontrar uma mensagem sua. Seus comentários são sempre pertinentes! Obrigada pelo seu apoio. Beijocas!

Aos meus outros quietinhos, muitas beijocas da tia Vê e um finla de semana maravilhoso!