Disclaimer: Os personagens libidinosos e deliciosos de Saint Seiya são propriedade do Tio Kurumada. Portanto, tudo o que produzo utilizando os personagens originais dele são objetos de mera diversão e não têm fins lucrativos de espécie alguma. Os personagens, nomes e enredos originais dessa fic, mesmo não sendo de grande valia, me pertencem, contudo.
Comentário Pessoal: YEAH! Saiu! Depois de meses matutando, querendo e tentando... SONG CHAPTER! Eu queria muito ter feito uma songfic com essa música, 'I'll be Yours', do Placebo. A versão do CD Sleeping with Ghosts é muito feia – eu me apaixonei pelo acústico da canção. Ela é linda! Só piano e voz. Quis colocar ela em Gênese, pensei em fazer uma songfic e – no desespero de causa, porque eu não tinha nenhuma idéia! – sugeri à Nana e Amy que usassem em "Ensina-me a Viver". Elas não usaram, eu também não e está aí: ela acabou caindo como uma luva para fechar esse capítulo. Espero que gostem! Beijocas, tia Vê.
MEU AMADO SONGFIC SERÁ RETIRADO POR ORDEM DO FFNET. TRISTE, MAS CONFORMADA.
Incenso e Vela
Capítulo 12
Seu
-x-
----------------------------------- FLASHBACK ----------------------------------
"Shion..."
"Sai daqui já, Mu! Sai!"
"Mas, mestre..."
"SAI!"
"Eu vou chamar o Dohko, mestre..."
"Não, Mu!" – agarrou o braço do menino com tanta força que o pequeno soltou um gritinho de dor. O mestre imediatamente o soltou, penalizado. – "Desculpe, filho..."
"Mestre... estou com medo..."
"Está com medo de mim?"
"Medo de você morrer... você está doente... deixa eu chamar o mestre Dohko por favor... deixa, mestre... ele cuida de você!"
"Não, Mu... não estou doente."
"Você vomitou e está com dor aqui." – Mu apontou para o coração.
"Você também vai sentir isso, um dia. E não vai morrer, querido."
"Vou?"
" Sente aqui, do meu lado."
Mu sentou-se do lado do mestre. Mesmo aterrorizado e com todo o respeito que tinha por Shion, arriscou-se em um gesto mais efusivo: tomou a mão branca, aconchegando-se sob o braço dele. Satisfeito com o carinho do menino, Shion retribuiu o abraço da criança.
"Você é como eu. Herdou do nosso povo essa maldição horrível. Espero que a carregue com o mínimo de dignidade."
"Maldição, mestre?"
" Clarividência. Chegará o dia, Mu, em que você, como todos os lêmures antes de você, vai poder ver o futuro. Ver e não mudar."
"E isso é ruim, mestre?"
"Ah, só o tempo dirá. Talvez não seja ruim para você." – segurou o menino pela mão, ainda trêmulo. – "Venha, já é a hora."
"De que, Mestre?"
"De vermos quem você é, Mu."
Avançou com o menino pelo salão em Star Hill. Era um salão amplo, imenso. Ele ficava vazio a maior parte do tempo. Shion não gostava de festas e, quando havia comemoração, ele nunca precedia cerimônias nos salões internos, mas nos periféricos. Era preciso paz no interior dos Grandes Salões, atrás dos quais estava o templo de Athena e a mulher que traria ao mundo o bebê que encarnaria a deusa. Mas ali, aos fundos do Salão principal, protegido por uma enorme cortina de veludo escuro, estava o nicho onde ficava a caixa da armadura de Áries.
Shion aproximou-se dela, olhando-a com uma curiosidade ingênua. Sua amiga querida, protegera seu corpo por anos e anos; mesmo depois de tanto tempo, parecia para ele que a caixa ficava mais jovem, mais bonita, era como se cada encontro fosse o único – eram amantes que não se entediavam um do outro.
Tirou-a do nicho e a depositou no chão, no meio do salão. Ela reluzia suavemente, uma luz leitosa e amarelada.
Reparou na fascinação de Mu – uma criança que não era em absoluto como as outras, que tinha visto armaduras de ouro de muito perto e já era íntimo do trabalho de um artesão armeiro. O menino, no entanto, sentiu pelo cosmo do mestre que aquele era um momento solene; arrepiou-se ao chegar tão próximo da caixa.
Aproveitando-se da admiração de Mu pelo objeto, soltou sua mão e afastou-se, sem que seu pequeno pupilo desse por conta. Quando achou que estava longe o suficiente, sua voz melodiosa troou:
"Abra a caixa, Mu de Áries. Vista sua armadura."
Aterrorizado, ele olhou de volta para o mestre. Então era assim? Abre a caixa e veste? Mas como?
" O que eu faço, Shion?" – voltou-lhe os olhos verdes que eram uma interrogação.
"Eu nunca pensei que precisasse prepará-lo para aquilo que era o seu destino."
O menino sacudiu a cabeça veementemente.
"Você é MEU! É pupilo de Shion de Áries. Ninguém vestirá a minha armadura senão você!"
"Não é certo. Você ainda está vivo..."
"E por quanto tempo? Quem pode dizer?"
Mu o olhou com olhos marejados.
"Enquanto você viver a armadura é só sua. Ela não vai me aceitar."
"Do que tem medo, criança?"
Mu voltou até onde Shion estava e agarrou-se às pernas do mestre.
"Não me deixe sozinho! Eu só tenho você. Eu não quero a armadura! Eu quero você!"
Loucamente apaixonado pela criança que chamava de 'sua', Shion tomou o menino no colo, enxugando as lágrimas dele com as mangas da túnica de grande mestre. Beijou a testa de Mu e acariciou seus cabelos. Acalentou o menino no seu peito até que ele se acalmasse. Depois o pôs no chão.
"Vá."
"Mas... e ela? Ela vai me querer?"
"A armadura foi vestida por mim, com muita dignidade, por muitos anos. Ela só vai aceitar alguém com a mesma grandeza e o poder que eu tenho. Só aceitará quem estiver à altura de me suceder. Acredita que você é o homem que me sucederá?"
"Você acha que eu sou como você?"
"Claro que não."
"Não?"
Shion tinha os olhos na caixa, perdidos, como se falasse para alguém que não estava ali.
"Você será muito melhor do que eu. Mu já é melhor do que eu..."
Atemorizado, mas determinado, Mu caminhou até a caixa. Não pensou em nada além da caixa em si: sua sólida estrutura, seu desenho em relevo da figura do carneiro, o traçado caprichoso do mestre dos mestres, Hefesto, o grande ferreiro-deus. Seu coração palpitava na marcha até o objeto que o esperava. Não tocou a caixa em respeito.
Elevou seu cosmo de um dourado impressionante e imponente até para um cavaleiro velho e experto como Shion. Pronunciou, de joelhos, as palavras que Shion o ensinara:
"Filho de Hera, Grande Imortal Hefesto, rei dos ferreiros, deus da nossa arte, me ajoelho em honra de sua obra. Graças ao meu ofício de ferreiro! Que eu possa guardar Athena tanto quanto velar pelas armas que você a ela consagrou."
Levantou-se do chão, moveu o dedo e exigiu – já sem nenhum traço de medo ou subserviência: "Venha!".
A caixa abriu-se revelando seu precioso conteúdo e a armadura cobriu o corpo de criança. Cego pelas lágrimas, Shion caiu de joelhos ante a visão gloriosa em dourado.
Mu era cavaleiro de Áries aos sete anos e oito meses.
----------------------------------- FLASHBACK ----------------------------------
A vida de Mu mudou radicalmente depois da descoberta do dom de Shion. Nunca mais o mestre foi o mesmo. Seu treinamento, cheio de amor e carinhos, tornou-se tortuoso, doloroso. Recebia punições desproporcionais às suas faltas e por qualquer deslize era mandando a Jamiel por longos períodos. Quando voltava, não encontrava os mesmos meninos. Shion mandou para longe boa parte das crianças. Milo, que Shion dizia que tinha 'o diabo no corpo', foi mandado para a Ilha de Milos. O mesmo aconteceu com Shura, Aldebaram e Virgílio – o menino que preparavam para ser Cavaleiro de Câncer. Dohko já não encontrava amor nas suas noites com Shion. O mestre tornou-se triste, melancólico, arredio, distante. E agora Mu compreendia muito bem o porquê: ele sabia o que estava para acontecer e sabia, com a sabedoria lêmure que lhe foi concedida, que não poderia mudar nada. Os lêmures tinham um ditado que dizia "o destino é um viajante esperto. Se bloqueiam um dos seus caminhos, ele toma um atalho, mas sempre chega onde tem que chegar." Shion conhecia bem o ditado. Poderia atrasar o destino, mas não evitá-lo.
E Mu agora também era uma vítima do seu 'dom'. O seu futuro também era sombrio. A roupa do Grande Mestre que ele jamais usaria estava em suas mãos, bordada pelas virgens de Athena. A pirâmide lêmure que o ajudaria a concentrar forças sempre que estivesse fraco – era um símbolo da sua raça e das obrigações que tinha para com ela. Tinha que dormir com Mahadevi, tinha de ter um pupilo. O certo parecia tão não certo! O medalhão preto e a coroa dourada, de traços impressionantemente perfeitos. Uma vez Shion lhe dissera que, quando fosse a hora, descobriria o valor correto de cada um dos itens do baú que foi a sua herança. A coroa e o medalhão eram jóias reais, forjadas por Hefesto. Não sabia porque Shion as tinha, nem para que serviam, embora fossem lindas. A ânfora, que nunca se atreveu a abrir, tinha escritos em um grego muito arcaico, do qual Mu apenas adivinhava – intuitivamente – o sentido. Era uma ânfora protegida por magia pesada. Só alguém muito especial poderia abri-la. Queria poder pedir ajuda, mas para quem? Os cavaleiros da ordem de Shion estavam mortos, os sacerdotes também, não havia mais ninguém... só Dohko. Mas o Libriano já tinha deixado claro que Shion pedira seu silêncio. Era tarefa de Mu descobrir, sozinho, para que servia seu baú, o que era a sua herança, sua vida e suas obrigações – enfim: seu destino.
Ah, nunca quis ter um pupilo... se Shion estivesse vivo, ele iria se deitar com Mahadevi e ter o menino que seria aprendiz de Mu. Shion sempre dizia que Mu só estaria pronto para receber um pupilo quando o amor e o ódio verdadeiros tivessem desvirginado seu coração – aí seria genuinamente sábio para conceber um filho por dever e ensiná-lo como aprendiz por honra. O jovem Kiki não chamaria ninguém de pai e mãe, como ele, Mu, também não. Era assim que tinha que ser. E assim seria... quando tivesse forças para deixar Shaka...
- X -
Com o cair da noite, Mu foi lentamente se acalmando do desespero que o acometeu na descoberta do dom. Sentou-se nos degraus da casa de Áries. Esperou por Shaka até o anoitecer, mas reparou que o virginiano não vinha. No mínimo, estava magoado com ele pela sua recusa em compartilhar aquele momento. Ah, se Shaka soubesse! Como queria poupá-lo da dor de saber de todas aquelas coisas sórdidas! Era um fardo – era o seu fardo... porque deveria dividir essa dor com Shaka, que – pobre criança querida! – já carregava tantos? Por que ele precisava saber das coisas que Mu via em delírios? Ou saber de todas as desgraças do passado que mancharam aquele santuário de sangue? Não! Ele não precisava saber, mas ele queria saber. Suspirou de cansaço.
Mu percebeu então que a ofensa que fizera a Shaka fora, sem intenção, maior do que esperava. Concentrou seu cosmo com toda a sua fina percepção lêmure e sentiu que Shaka estava em Virgem – não estava irritado, nem hostil. Mas havia uma perturbadora tristeza nos seus pensamentos, uma tristeza tão funda e tão enraizada que arrepiou Mu até os cabelos. Não, mas não podia ser sua culpa... Shaka sempre fora triste. Entretanto, por amá-lo tanto e por tê-lo tão perto, agora julgava isso sua responsabilidade.
Mu usou da sua telecinese para chegar até Virgem sem ser muito notado por todos os cavaleiros no caminho. Entrou na casa com luzes do crepúsculo que morriam sobre os taciturnos mármores seculares. Era uma visão ao mesmo tempo tão melancólica e tão bonita... um misto de uma dor infinita com uma beleza fria, uma beleza estéril. Seus pés deslizavam com a peculiar graça sobre o pavimento do saguão central. A figura de Shaka despontava do fundo da casa como uma pálida vitória-régia boiando nas trevas de um rio. Sua cabeça iluminada de fios de ouro parecia coroada de divindade. Mu sentiu um aperto no peito. Amava tanto Shaka! E tinha certeza da impiedade da vida, que ia arrancá-lo dele o mais rápido possível. E talvez, o que lhe restasse fosse isso, na memória: esse cheiro de lírio, esse tremular de velas, essa imagem branca emergindo da escuridão... e nada mais. Seus olhos distraíram-se com os incensos e as velas.
"Shaka?"
Sem mover os lábios, Shaka lhe falou direto ao cosmo.
"O que faz aqui?"
"Não ia me ver?"
"Queria ficar sozinho – eu o deixei sozinho."
"Você não pode me perdoar?"
"Por não confiar em mim? Posso perfeitamente perdoá-lo por isso. Se essa é a razão da sua vinda, pode ir em paz."
"Quer que eu me vá, Shaka?"
"Você me quis longe."
"Se não deseja a minha presença, eu vou."
Mu virou as costas. Caminhou lentamente até os degraus, quando a voz do virginiano novamente lhe falou ao cosmo, com uma tenacidade de criança:
"Vai procurar Aioria? Nele você confia? Mais do que em mim? Por que ele foi menino com você? E partilhou tudo com você! E eu jamais serei parte das lembranças da sua vida... sua vida sem mim! Minha vida sem você é um dia... as 24 horas sempre iguais do templo onde eu meditei por todos os anos da minha existência... e sua vida sem mim... tantas coisas! Sua vida é rica. Suas lembranças são muitas: eu sou uma entre todas as suas e para mim, você é a única!"
Mu refreou o passo com sua desafetação lânguida. Continuou de costas para o virginiano que o acusava sem razão.
"É verdade. Minha vida sem você foi rica de momentos inesquecíveis. Muitos deles, com Aioria. Ele foi meu amante, meu amigo, meu irmão. – a voz de Mu estremeceu – Entretanto... foi a você que entreguei minha vida. Eu teria morrido por suas mãos e não lamentaria em nada... mas se você, Shaka, não acha que isto foi o bastante... talvez... não possa mais convencê-lo... porque a única coisa realmente minha é a vida que anima meu corpo – e essa eu já te ofereci..."
"Falo de confiança, Mu." – ele por fim replicou, abandonando a posição de meditação. Já não falava pelo cosmo, sua voz rouca pela emoção reverberava nas paredes altas do templo.
"Não sei que confiança é essa que você me exige." – Mu avançava para a porta, Shaka seguindo-o de perto.
"Me diga o que houve!"
"Isso é importante?"
" Eu quero saber!"
"Por que eu deveria encher você com a minha amargura?"
"Eu não tenho nada de seu! Me presenteie com a sua dor! Me dê sua amargura como se fosse um presente! Eu a receberei em meu peito como uma relíquia santa!"
Mu virou-se furiosamente, vendo os olhos azuis de Shaka abertos, ardendo de dúvidas e de amor.
"Nada meu? Você não tem nada de meu? Minha vida, meu amor, minha alma, meu corpo! Tudo eu te dei! O que mais quer de mim? Eu já não tenho o que te oferecer, Shaka! Se eu tivesse, ofereceria!"
"Mu... o que você sentiu? Por que eu não posso saber o que você teve?" – a voz do virginiano amoleceu no tom, delicada, quase um lamento.
"Eu tive o mesmo que Shion teve e o mesmo que meu aprendiz terá: nasceu em mim o 'dom' da clarividência. Eu vejo o futuro. Desgraça minha! Eu vejo o futuro..."
"E isso é tão ruim assim, Mu?"
"Ah... é... muito..."
Shaka alcançou Mu.
"Você é forte como uma rocha, Mu." – ele abraçou o ariano ternamente. – "Saberá suportar essa dor... e você me terá... eu estarei sempre com você."
"Por que você duvida de mim? Por que você não pode acreditar no meu amor?"
"Eu acredito... mas..."
"Mas?"
"Tenho ciúmes... Aioria... Polixena..." – deslizou os dedos pelo rosto molhado de Mu, aqueles olhos verdes dardejantes – "todos eles tiveram você... tiveram um pedaço de você... deixaram no seu corpo uma marca de sua passagem... e eu? Que serei para você? Um incenso, uma vela – divinos por sua curta existência... uma luz trêmula que se extinguirá... um perfume efêmero. Nada de consistente... nada que dure!"
"Marcas em meu corpo... oh! Tolices suas! Nenhum deles teve minha alma... uma boca é só uma boca... e uma boca deliciosa pode ser substituída por outra igualmente deliciosa... e o que é feito disso sem amor? Um sucessão de bocas e coxas e gozos... e nada que aqueça meu coração! Tantas vezes eu me saciei com corpos de amantes que se entregaram para mim... e o que eles tiveram de mim foram apenas os minutos em que estive com eles! Nada mais! Quantas noites eu chorei, vendo Afrodite e Horemheb juntos e pensava comigo se algum dia os deuses me presenteariam com amor também! Quando eu ia poder amar como Shion amara Dohko! Se um dia eu teria alguém por quem viver e morrer... medo! Medo! Eu tinha medo de morrer estéril e frio, com minha cama sempre cheia e minha alma vazia, seco, seco como árvore morta! Como eu invejei Aioria porque ele amava alguém! E como invejei Milo quando ele finalmente se entendeu com Camus... e eu não tinha nada! Eu tinha todos os que quisesse, nunca recebi um não! Eu tenho certeza de que se eu descesse estas escadas até Leão, Aioria não ia se recusar a fazer amor comigo... e acordaríamos exatamente do jeito que fomos dormir! Sem mais nem menos amor em nossas vidas! Ele ainda amaria a mesma mulher e eu... ah! Eu sequer posso convencer você de que te amo! Você tem ciúmes das migalhas que dou aos outros, mas recusa a mão com que eu te afago! Você tem ciúmes dos beijos que você imagina que já dei, mas não toma da minha boca todos os que eu quero te dar! O que é que você quer afinal, Shaka? Me enlouquecer?"
"Mu, eu não sei o que fazer! Se o amor é tão bom, por que sofro? Por que tenho essa angústia? Esse medo de perder alguma coisa que sequer eu posso reter entre meus dedos?"
Ele olhava para o belo ariano em seus braços; ah! Se Mu soubesse como tinha medo de ficar sem ele... e ainda mais medo de ficar com ele. A túnica de Mu era tão bonita... era longa até os tornozelos, mas era um pano branco tão delicado, tão fluido; apenas o ombro esquerdo estava coberto pelo pano suave. Sabia que ele tinha usado o teletransporte: nunca se vestia daquela maneira, tão desnudo, em público.
"Está se sentindo melhor agora, Mu?" – deslizou os dedos pela parte descoberta do peito do ariano, sentindo a pele arrepiada sob os seus dedos.
"Eu já estou bem... não sinto nada..."
Shaka deslizou os dedos longos sobre o mamilo eriçado esboçando um doce sorriso.
"Não sente nada, mesmo"?
"Querido... não me faça esse mal..."
"É mal eu te querer?"
"Não passe mel nos lábios e me diga para não provar."
"Então prove..." – enroscou os dedos no ombro da túnica, deslizando-o até poder contemplar o peito nu do cavaleiro de Áries. – "Ah, Buda... você é tão lindo que eu tenho vontade de chorar..."
Mu deitou o rosto para a carícia delicada de Shaka, que alisava o rosto branco do ariano entre seus dedos longos, cobrindo-o de beijos.
"Me beije, Mu... você é uma boneca de porcelana... tão alvo! Tão perfeito..."
Mu agarrou os longos cabelos loiros de Shaka, forçando a cabeça do outro a pender para trás, lambendo o pescoço longo, cujas veias palpitavam sob a pele perfumada. O virginiano trouxe novamente a cabeça para o peito do ariano. Seus dedos finos e longos percorreram tortuosamente a cintura de Mu, descendo sobre suas nádegas bem desenhadas, alisando as coxas largas, as pernas firmes e lisas, subindo novamente pelas costas. Não tinham tido muito tempo juntos, em carícias íntimas, mas Shaka parecia conhecer cada minúcia do corpo do outro, cada lugar onde sua mão melhor se ajeitava. Deu vazão à sua enorme vontade de beijar o torso do ariano, que era ainda mais adorável sob a cálida luz da lua. Comprimia os lábios sobre a pele acetinada, detendo-se com particular interesse nos mamilos que mordiscava, lambia, apertava – cada vez mais ousado a medida que Mu respondia mais e mais com seus gemidos, sempre muito delicados e contidos, mas Shaka sabia que ele gostava e isso também o agradava. Empurrou o corpo de Mu contra uma das paredes, pressionando seu corpo contra o dele. Gemeu também.
"Preciso tanto de você, Mu! Não desista de nós... não desista de mim por antecipação..."
"Shaka, meu querido! Eu não posso desistir de você... não posso!"
"Então não me deixe..."
"Eu estou aqui..."
"Mas sua cabeça está longe... esteja aqui."
Mu puxou o quadril de Shaka junto do seu, o virginiano não teve nenhuma dificuldade em constatar a excitação latente do outro crescendo agora junto da sua própria.
"Sente, Shaka? Estou aqui..."– sorriu ao beijar os lábios finos do virginiano. – "E você também está..."
"Então... não desistirá de mim?" – ele forçou seu quadril contra o de Mu até encaixá-lo de maneira a manter o sexo do ariano cingido entre suas coxas delgadas.
"Oh... Brahma... Zeus! Onde aprendeu a fazer isso... Shaka?"
"Não sei... gosta?" – moveu as pernas ligeiramente para acomodar melhor o ariano entre suas coxas.
Mu respondeu-lhe com um beijo. Trêmulo de amor e desejo, Mu sentia o roçar delicado, porém firme, das coxas de Shaka contra a parte mais íntima do seu corpo e quanto mais forte e próximo o virginiano o abraçava, mais ele também percebia o quão excitado o indiano ficava. Fechou seus olhos verdes, mas teve medo de reabri-los e descobrir que tudo era um delírio febril seu, que Shaka não estava ali sobre ele, que aquele prazer imoral, quase insuportável era fruto da sua imaginação. Suas costas doíam, no entanto, da fricção contra a parede áspera; não poderia estar delirando... apertou os ombros de Shaka, quase que se apoiando sobre eles.
"Me diga... Shaka... estou sonhando?"
"Não... abra os olhos, Mu."
Era uma visão plenamente divinizada; nenhum pintor da Renascença hesitaria em dizer que Shaka era uma espécie de encarnação de Febo Apolo: o mais lindo, dourado e quente dos deuses. O Deus Sol. Era puro, infantil e ao mesmo tempo, levemente suado e de lábios molhados era estranhamente sedutor e sensual. Era todo seu... Zeus! Em que fizera por merecer aquele tesouro? E seus pensamentos como raios de luz interpunham-se com a pressão do corpo de Shaka cada vez mais intensa contra o seu, o hálito quente dele contra sua pele arrepiada de prazer, os músculos firmes da perna dele junto das suas, massageando-o em movimentos cada vez menos articulados e cada vez mais instintivos. Sentiu seu corpo todo estremecer em antecipação pelo momento; a língua de Shaka procurou a sua, afogou nela o gemido de intenso prazer quando sentiu em suas pernas trêmulas a perna de Shaka umedecida mornamente. A pressão do corpo de Shaka sobre o seu, que o mantinha de pé junto à parede, se afrouxou um pouco e ele escorregou, languidamente até o chão. Vendo-o caído, Shaka sentou-se junto dele e Mu resolveu testar seus poderes telecinéticos; o virginiano de imediato sentiu uma forte pressão em seu sexo, como se alguém o segurasse firmemente. Percebendo o que Mu fazia, sentou-se sobre o colo do ariano permitindo ao outro tocá-lo melhor, desfazendo-se do sari que vestia sem muita dificuldade. "Mãos de ferreiro... muito hábeis", pensou Shaka, ao ver suas roupas deslizarem do corpo como se tivessem vida própria.
"Lindo, lindo, lindo... Shaka... como é possível? Você cada vez fica mais lindo..."
"Mu... você também é tão bonito... meus olhos ficam alegres com você... você é a única coisa que eu gostaria de ver sempre..."
" Verdade?" – os pontinhos lêmures tremiam à medida que os movimentos telecinéticos se aceleravam.
"Mu... Mu..." – Shaka gemeu. – "Você é tão bom..."
O ariano viu seus olhos escurecerem de ventura quando sentiu seu abdômen quente e molhado, os lábios de Shaka trêmulos nos seus ouvidos... "Mu... eu sou feliz... pela primeira vez..."
"Shaka, meu Shaka... Brahma tocou minha alma... não sinto meu corpo! E ao mesmo tempo... sinto tudo!"
"É como um nirvana..."
"Melhor..."
"Está feliz, Mu?"
"Para que pergunta? Não sente?" – puxou a mão de Shaka e a pôs sobre o seu peito onde seu coração palpitava delirante. – "Não sente? É por você que ele bate..."
Shaka retribuiu o gesto – tomou a mão de Mu e a trouxe até seu coração. Ele não batia frenético, ao contrário, batia tão lento e tão baixo que era difícil senti-lo.
"Sente, Mu... meu coração fica intimidado diante de você... ele cala... ele espera... ele ouve você."
"Por que fez isso, amor? Esteve tão entregue em meus braços..."
"Para que você pudesse dizer que foi feliz ao meu lado... você teria se deixado morrer para que eu fosse feliz..."
"Você não tem medo?"
"Do quê?"
"Estou feliz... tão feliz... chego apensar que deve ser pecado ser tão feliz assim... talvez nem os deuses jamais tenham sido tão plenos quanto eu sou agora."
Shaka deu de ombros e beijou o queixo de Mu.
"Se for, estamos condenados pela eternidade – eu quero fazê-lo feliz todas as noites e dias. Para sempre..."
Mu sentiu seus pontos lêmure arderem à menção do 'para sempre'.
"Não diga 'para sempre', Shaka..."
"Por que?"
"O sempre nunca é para sempre. Eu não gosto de Eternidade. A Eternidade é fria e distante. E eu tenho você agora... e me basta..."
Shaka afastou os cabelos lavanda do rosto amado. Viu a agonia da clarividência tomar o lugar do seu amor naquela alma sensível, entristecê-lo, enchê-lo de mágoa. Não podia arrancar a tristeza de Mu, mas podia soterrá-la em beijos, acalmar a alma de Mu com carícias, derreter com o calor do seu cosmo o frio das visões do futuro negro que o ariano parecia esperar. Percebeu então que a sua tristeza também não poderia ser estrangulada para sempre: Shaka carregava na sua alma casta a capacidade de sofrer pela dor de todos, como quando era criança e via morte e a fome no Ganges. Porém, mesmo a sua tristeza parecia conformar com a dulcíssima felicidade que havia naqueles braços. "Buda o consagrou para mim, para ser o meu alívio e a minha fortaleza – e também me consagrou a ele pelo mesmo motivo: Serei o remédio dele."
"Mu... vamos nos banhar?"
"Sim, eu quero me banhar com você."
"O banho de Virgem é como os banhos romanos. Já viu?"
Ajudou o amante a se levantar. Caminharam até um canto da casa de Virgem que Mu nunca visitara muito. Ali havia sim um banho no estilo romano, uma miniatura do que havia em Star Hill. Era realmente muito menor, mas bem mais gracioso. Shaka deitou os dedos sobre a água – seu cosmo dourado elevou-se até ele sentir o líquido sob seus dedos estar morno. Tirou o que restava da túnica de Mu, rindo do suave rubor que tomou as bochechas do ariano, diante do simples comentário "Mu, seu bumbum está todo marcado com a minha unha..." Ficou imensamente satisfeito em perceber que, embora mais experiente que ele, Mu ainda era capaz de ficar tímido com um comentário mais direto.
Sentaram-se na escada plana, que os deixava com água até a metade do tórax. O virginiano delicadamente tomava água com a mão em concha e a derramava sobre os cabelos de Mu, puxando-os para trás, molhando o rosto do ariano.
# I'll Be Yours, música de Placebo.
"Mu, meu querido… deixa eu ajudar você... deixa eu cuidar de você para que sua dor seja lavada nesta água... eu não suporto te ver triste."
# I'll Be Yours, música de Placebo.
"Shaka, você não precisa me fazer nada. Já sou muito grato por ter você. Você é tudo para mim ( 1 ). Minha tristeza passará. Meu amor por você não."
Titubeou por algum tempo. Tombou a cabeça de Mu sobre seu ombro, beijou os pontos lêmures, massageando-os com a língua. Por fim, atreveu-se a perguntar.
"Mu... você viu a sua morte?"
Era uma pergunta simples e direta. Mu apenas puxou os braços de Shaka, para que eles o cercassem com mais força. O Virginiano entendeu que sim – ele vira. Virou o rosto do outro até seus olhos encontrarem-se. Não disse nada, fitou-o ardentemente, tamanha a fúria da pergunta sacudindo a sua alma que Mu compreendeu imediatamente o que ele queria saber. Beijou o ponto vermelho.
"Vamos morrer juntos."
Shaka deu um suspiro de sincero alívio e beijou a boca pálida de Mu.
"Graças aos céus."
# I'll Be Yours, música de Placebo.
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( 1 ) Essa frase é mencionada em alguma (s) fic (s) de Bélier, mas eu não me lembro exatamente onde e nem qual. Assim mesmo, fica o registro de 'procedência'.
Comentários & Agradecimentos:
Nana: Nana-Chan! Maninha sanguináaaaaria! Oh, não me elogie tanto, você sabe que eu sou sua fã também! Me orgulho muito de ser sua beta e de ler o que você escreve com antecedência e até de ter meus palpites ouvidos! Você é uma ficwriter modesta,atenta e muito sensível! É por isso que você está em constante evolução! Te adoro! Beijocas!
Lola Spixii: Sensei cruel não comentou no capítulo passado, mas mesmo assim eu te AMO e te recomendo, Mãe Lola: joga búzios, desfaz trabalho e traz o amado de volta em até sete dias! Beijos!
Ada Lima: Moça, muito obrigada pelo review kawaii. O Shaka com ciúmes é mesmo uma delícia! E nesse aqui também teve mais ciumeira... ai, esses meninos! Beijocas!
Ilia-Chan: Segredos revelados! Muzinho não precisa mais mentir para o Shaka... mas você tem razão: precisava ter um segredinho para ter uma boa reconciliação! Hehehe... beijocas!
Amy: Seu coração infiel! Você ama todo mundo! Não vou deixar o baby Hô com você não! Ele é do Dite! E você, fadinha malvadinha, é muito nova! Para você só o Shun!
Hakesh-Chan: Omo faz e Omo mostra! A Tia Vê também! Olha aí: pedidos atendidos – cenas de ciúmes, mais momentos 'kawaii'... está bom assim, dona moça? Hehehe... beijocas!
Mo de Áries: Olha aí o resultado do estresse do nosso Virginiano! Mas até estressado o Shaka é uma gracinha! O Mu precisa é revoltar mais o Shaka, porque quanto mais bravo ele fica, mais ele cede! Hehehe... beijocas!
Ia-Chan: Você disse tudo: eu também queria essas lições com o Mzinho! Mas o sortudo do Shaka é que cada vez aprende mais! E espero que, pelo menos em partes, esteja solucionado o 'enigma do baú'!
YEAH!
Bélier, musa inspiradora. Obrigados fixos e vitalícios pela sua ajuda com o desenvolvimento das personalidades dos anjinhos e pela sua atenção.
Verinha, musa inspiradora #2. Capaz de perder longos minutos do seu dia para ler as patacoadas que eu escrevo e me ajudar a 'polir' minhas idéias. O seu 'obrigado' também é vitalício.
Aos meus outros quietinhos, TIA VÊ AMA VOCÊS! Ô, esse meu coração grande! Beijoca, obrigada pela leitura! Mesmo que os reviews diminuam em número, eu sei que eles crescem em qualidade, porque vocês estão aí, eu escrevo melhor a cada dia. BRIGADÃO! E beijoquinhas dessa tia rabujenta!
