N.A. – Apenas algumas explicações sobre a história.
Esse fic é um tipo de pré-anime. O que isso quer dizer?
Bem, ele se passa antes do anime e em conseqüência antes da existência de InuYasha. Ele conta a história de Sesshoumaru, ou ao menos o que eu imagino que seja XD
Laços de sangue
Sangue, tanto sangue espalhado pela clareira. Os troncos próximos estavam com respingos de sangue, a grama úmida com o líquido viscoso e vermelho, o cheiro seria nauseante até mesmo para um humano. Um frágil corpo infantil repousava no meio dessa cena aos pés de seu algoz que observava a tudo com um brilho satisfeito nos orbes dourados.
A aparência frágil da mulher poderia enganar a um observador menos atento, o corpo curvilíneo, estremecendo com o riso contido, daria a impressão a qualquer um que passasse por ali de que ela estava chorando pela morte de um ser inocente, mas a realidade era algo bem diferente.
Ela tinha chegado ao local com a mesma graciosidade de movimentos com que percorria os corredores do castelo, trazia no rosto a mesma expressão serena com a qual cumprimentava um lorde que os visitava. Atacara o pequeno garoto humano com tal velocidade que duvidava muito que ele sequer tivesse visto quem ou o que o atingira.
Um sorriso curvou os lábios femininos enquanto ela observava o resultado de sua 'missão', apoiou as mãos sobre as coxas e olhou com desgosto para o fino tecido branco ensopado com sangue. Nunca conseguiria tirar aquelas manchas, franziu o cenho avaliando os estragos no quimono de seda.
Sesshoumaru era o culpado. Assim como aquela criança humana. Se os dois tivessem obedecido suas ordens, ela não teria precisado tomar atitudes mais enérgicas e não estaria coberta daquele sangue imundo, ou impregnada com aquele cheiro repugnante.
Olhou para o cadáver a sua frente pensando no que fazer a seguir, com certeza precisava livrar-se do corpo antes que alguém descobrisse o que ocorrera. Os pais do garoto não ficariam felizes e com certeza não queria ter outra discussão com o marido sobre como os fracos humanos não deveriam ser atacados, torturados ou mortos. Aquele comportamento estava começando a se tornar enfadonho. Nem ao menos podia se divertir, mas não deixaria o filho ser 'contaminado' pelos pensamentos bondosos do pai.
Levantou lentamente e começou a recolher alguns gravetos empilhando-os em cima do corpo antes de atear fogo, observando os galhos queimarem lentamente acabando com as evidencias do que acontecera. Estreitou os olhos enquanto as chamas extinguiam-se e começou a se afastar, poderia ao menos lavar-se no rio e tentar acabar com os vestígios de sangue em suas vestes.
Passos correndo em sua direção e uma conhecida voz infantil ecoou na clareira, ela se virou em posição de ataque. Estreitou os olhos flexionando os dedos finos e compridos, as garras longas e afiadas brilharam e a criança parou a poucos metros, os olhos dourados como os seus arregalaram-se em terror quando capturou o cheiro de sangue misturado ao do amigo.
- Volte para o castelo, Sesshoumaru. – Ela arqueou uma das sobrancelhas bem desenhadas quando o garoto continuou sem reação olhando para a pilha de gravetos queimados que agora não passavam de cinza. – Não me ouviu? Volte para o castelo agora.
Os infantis olhos dourados fixaram-se na figura coberta de sangue a sua frente, os cabelos prateados permaneciam presos em um gracioso coque e pareciam destoar da cena a sua frente. O quimono branco apresentava grandes machas de sangue, algumas gotas e riscos formavam desenhos que lembravam a forma de grandes rosas desenhadas, se ao menos o cheiro metálico não fosse tão forte, poderia deixar-se enganar. Poderia pensar que eram mesmo apenas flores mal desenhadas, e não sangue manchando as vestes e mãos da mulher a sua frente.
- É o último aviso, Sesshoumaru.
- Aviso de que? – O garoto fechou os olhos tentando barrar aquelas imagens de sua mente, torceu o nariz sentindo o cheiro impregnar-se em suas narinas – Vai me matar também se eu não fugir agora, mãe?
- Foi necessário, querido – Ela baixou as mãos lentamente e olhou para o garoto que evitava olhar em sua direção. O tratamento carinhoso soou estranho em seus lábios, mas ela não se importou, deu um passo na direção do filho enquanto continuava – Ele estava atrapalhando você.
- Ele era meu amigo!
- Ele era humano! – Ela quase gritou fechando as mãos em punhos, os ossos estalaram perigosamente e mesmo assim o garoto não se moveu. Voltou os orbes dourados na direção da mulher com um brilho desafiador. – Eu avisei você, disse que tomaria atitudes drásticas se não fizesse o que eu pedi.
- Eu odeio você. Papai tem razão, você não passa de uma louca intransigente que acha que pode acabar com todos os humanos que aparecem a sua frente. – Ele estreitou os olhos e continuou parado no mesmo lugar enquanto a mulher se aproximava – Ele nunca deveria tê-la tomado como esposa!
- Seu pequeno ingrato! – Parou na frente do garoto, acertando seu rosto com uma bofetada forte o bastante para fazê-lo voar longe. Caminhou em sua direção sem nenhum traço de remorso estampado nas feições delicadas – Por acaso esquece que se ele não houvesse me tomado como mulher você não existiria?
- Eu preferia não existir. – O garoto levantou lentamente sem tocar o rosto que ardia pelo tapa recebido – Para ser obrigado a viver com alguém como você, eu preferia nunca ter nascido.
- Está pedindo por um castigo, Sesshoumaru.
- Dane-se você e seus castigos. – Ele arrumou as roupas sem olhar para a mãe – Odeio você e suas vontades insanas, se quiser me matar fique a vontade... – Virou-se caminhando para o castelo – Só esteja certa de fazer de modo que meu pai nunca descubra.
Ela estreitou os olhos em silêncio enquanto observava o filho se afastar, toda essa confusão por um reles humano morto. O culpado era o marido por ser tão permissivo e bondoso com essa raça fraca, deixar que morassem tão perto de suas terras, que fizessem amizade com o filho. Odiava a todos por ousarem se aproximar e ao marido por não fazer nada para mudar tal fato, e agora odiava o filho por desafiá-la.
- Talvez eu faça, Sesshoumaru - Ela se virou quando o garoto saiu de seu campo de visão e caminhou para o rio como tinha planejado a princípio. Não conseguia mais suportar aquele cheiro nojento em seu corpo – Talvez eu mate você se achar que está contaminado demais com toda essa... 'humanidade'..
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Já havia anoitecido quanto ela voltou ao castelo, por experiências anteriores sabia que o filho deveria ter corrido para o pai e relatado suas atividades vespertinas, e não estava disposta a ouvir um sermão. Manterá-se afastada o maior tempo possível, banhara-se no rio longamente e lavara suas roupas deixando-as secar sobre uma pedra enquanto tentava tirar o cheiro do garoto humano de seu corpo. A pior parte em 'livrar-se daquela raça' era ter que suportar seu horrível odor em seu corpo por alguns dias.
Quanta a lua apareceu no céu, e a temperatura começou a baixar, percebeu que não poderia mais evitar o confronto e vestira-se rapidamente para voltar para'casa'. Seria tão mais fácil se não tivesse que explicar seus atos.
Abriu a porta lentamente e entrou no grande salão calmamente, não via nenhum servo a vista e queria que as coisas continuassem desse modo. Caminhou lentamente na direção das escadas que a levariam ao segundo andar, e a segurança de seu quarto, na quase completa escuridão do local.
- Pensei que não voltaria para casa esta noite, Arashi.
Ela sobressaltou-se ao ouvir seu nome ser pronunciado na escuridão. Maldito Inu no Taisho, sempre espreitando seus atos na escuridão. Se ao menos fizesse o mesmo com os desprezíveis humanos.
- Para onde mais poderia ir, meu Lorde?
- Deixe de se fazer de esposa dedicada, Arashi – Passos ecoaram no piso antes que uma vela fosse acesa iluminando o aposento parcamente – Sei muito bem o que fez esta tarde... Mesmo depois de eu ter dito especificamente para deixar os humanos em paz.
- Não era qualquer humano. – Ela estreitou os olhos lentamente, odiava ser contrariada e repreendida. – Aquele garoto passou dos limites quando se infiltrou em nossa casa!
- Está sendo paranóica novamente, Arashi – A voz masculina soou calma como se falasse com uma criança o que apenas irritou ainda mais a mulher – Aquele garoto, como qualquer outro humano nunca entrou neste castelo.
- Ele se aproximou de nosso filho! Fez amizade com ele! – Uma careta de desgosto destorceu as feições delicadas por alguns segundos antes que ela completasse em um profundo tom de desprezo – Contaminou Sesshoumaru com sua humanidade!
- Eles apenas brincavam e caçavam juntos, mulher! – Ele a cortou exasperado, sentou em uma das cadeiras espalhadas no salão e olhou para a mulher a sua frente com impaciência – Passou dos limites e sabe o que isso significa.
- Não pode me manter presa aqui novamente. Vou acabar enlouquecendo se não puder sair!
- Tarde demais para isso.
- O que isso quer dizer? – Ela respirou fundo e aproximou-se perigosamente do marido – Está chamando a mim, Arashi, de louca?
- Estou dizendo que deveria ter pensado nas conseqüências antes de realizar seus atos escusos. – Ele levantou com um suspiro – Está confinada a seu quarto até que eu resolva que pode sair novamente.
- Não tem o direito de fazer isso comigo apenas porque matei um humano! – Ela o seguiu escada a cima tentando controlar o desejo de matá-lo.
- Se isso fosse tudo o que fez... Talvez eu realmente não a castigasse desse modo, Arashi – Ele continuou a subir calmamente e caminhou para seus aposentos – Mas, você achou que podia ameaçar nosso filho e isso eu não vou permitir.
- Eu não fiz exatamente isso.
- Entre nos seus aposentos e permaneça lá até que eu diga que pode sair – Ele abriu a porta do próprio quarto e lançou um olhar irritado a esposa – Tem sorte por eu não mandar jogá-la nas celas do subsolo.
- Você não ousaria tratar-me como uma qualquer. Sou Arashi, a segunda filha do Lorde do Norte.
- E eu sou Inu no Taisho, Lorde das Terras do Oeste onde você está. – Ele apertou a porta fazendo com que a madeira rangesse com a força aplicada sobre ela – Você ameaçou meu filho e herdeiro, desobedeceu minhas ordens e matou uma criança inocente que estava sob minha proteção.
- Era apenas um maldito humano!
- E você é apenas minha maldita esposa! – Os olhos dourados brilharam perigosamente enquanto ele falava calmamente – Quando aceitei você como esposa tenho a impressão de tê-la ouvido fazer um juramento de lealdade...
- Eu não te traí.
- Sim, apenas desobedeceu minhas ordens. – Começou a fechar a porta calmamente ignorando os protestos da mulher parada no corredor. – Faça o que mandei e esquecerei seus 'pequenos deslizes', e se sequer 'pensar' em encostar em nosso filho novamente terei que providenciar para que não possa machucar a mais ninguém.
- Isso é uma ameaça?
- Entenda como quiser. – Ele murmurou enquanto terminava de fechar a porta.
'Não se preocupe, meu Lorde... Não precisarei tocar em nosso filho se puder tirar você do meu caminho' Ela virou entrando no próprio quarto ignorando os guardas parados na porta ' Sem sua má influencia, Sesshoumaru poderá viver muito tempo.'
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Os dias passam lentamente quando se está preso, os planos de vingança apenas se tornam mais constantes. E foi isso o que aconteceu com Arashi, os dias transformaram-se em semanas e antes que ela pudesse perceber, em meses. Ignorou as visitas do marido que voltava todas as noites e tentava conversar e acalmá-la até notar que quanto mais o ignorava mais o seu castigo aumentava... Então, passou a fingir que o ouvia e concordava com o que ele lhe era dito.
Quando finalmente pode sair de 'sua prisão' novamente seu ódio pelos humanos ou pelo, que considerava, um marido injusto tinha aumentado a um grau que beirava a insanidade. Observara através da janela de seu quarto, o único contato que lhe restar com o mundo exterior do castelo, o filho sair todos os dias e voltar a cada dia com uma aparência melhor.
'Mais amigos humanos... Mais inimigos a serem eliminados'
Sesshoumaru continuava deixar o castelo todos os dias, a se encontrar com crianças humanas e brincar com elas ao invés de matá-las. Não percebia sua superioridade e isso a irritava, precisava consertar aquilo de uma vez por todas. O cheiro de humanos nele era mais forte a cada dia e a simples imagem de seu filho com crianças fracas e inúteis era o bastante para que sentisse seu estomago virar.
Enquanto estivesse viva não permitiria que Sesshoumaru se misturasse àquela raça que há muito deveria ter se extinguido, se o filho teimava em desobedecer-lhe mudaria suas táticas. Palavras não mais teriam lugar na lição que estava preste a lhe ensinar.
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Sesshoumaru saiu do castelo e entrou na floresta que o circundava com a certeza que estava sendo seguido, não sabia o que fizera o pai deixá-la sair novamente, mas a mãe com certeza causaria mais problemas. Acelerou o ritmo dos passos até adquirir uma boa distância e saltou para os galhos altos de uma das árvores antigas, esperou que ela o alcançasse, sabia que seu esconderijo não duraria muito, mas ao menos seria o bastante para saber se ela estava realmente o seguindo.
Arashi caminhou em passos apressados atrás do filho, estreitou os olhos quando o perdeu de vista. Ao que parecia Sesshoumaru pensava que podia enganá-la, criança tola pensando que poderia enganar um Inu Yokai adulto. Parou no local onde o cheiro dele desaparecia e olhou em volta procurando esconderijos prováveis.
'Maldito garoto tornando-se tão bom em tão pouco tempo', levantou os olhos para as árvores folhosas nessa época do ano procurando pela roupa branca que ele usava, não poderia camuflar-se por muito tempo em meio àquelas árvores. Isso é claro se não houvessem tantas malditas árvores de cerejeiras por ali.
- Inferno! – Balançou a cabeça levemente tentando clarear os pensamentos, fechou os olhos lentamente prestando atenção aos sons a sua volta e a presença dele. Encontraria aquele fedelho abusado e o faria pagar por tentar enganá-la.
- Perdeu alguma coisa, mãe? – Ele sorriu ao vê-la virar em sua direção, pulando de volta para o chão – Ou saiu para dar uma volta e se sentiu mal?
- Estou descansando, querido. – Ela franziu o cenho ao pronunciar aquela odiosa palavra, não combinava com sua natureza ser carinhosa e sabia pela expressão no rosto do garoto que ele tinha notado seu desconforto ao pronunciá-la. – Fiquei muito tempo trancada no quarto – 'Graças a você e seu odioso pai' completou em pensamento – E acho que exagerei. Não deveria ter vindo tão longe no primeiro dia.
- Entendo. – Ele sorriu enquanto aproximava-se da mulher calmamente – Voltarei com a senhora até o castelo... Não queremos que nada de ruim lhe aconteça, não é mesmo?
- Oh, mas ainda é cedo e o dia tão bonito – Ela fechou as mãos em punhos enquanto observava o filho caminhar pelo caminho que acabara de passar. – Não quero voltar ainda.
- Pode continuar seu passeio mais tarde, mãe. – Ele continuou a caminhar sorrindo disfarçadamente quando a ouviu suspirar as suas costas – Vamos voltar para que possa descansar...
Arashi suspirou resignada antes de seguir o garoto de volta para casa, ao que parecia ele estava ficando esperto rapidamente. Conseguira manipulá-la rapidamente e isso era algo que poucos yokais eram capazes, sorriu ao pensar como eram parecidos. Ambos fariam tudo a seu alcance para conseguir o que desejavam. Sesshoumaru acabaria por fazer as coisas a seu modo, porque no fundo eles eram iguais.
'Sim, por mais que você deteste pensar isso, querido... É muito parecido com sua mãe'
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Arashi esperava a volta do filho escondida perto da escada, as sombras provavam ser uma fiel companheira em seus planos. Cansara de tentar segui-lo, o cheiro de humanos parecia contaminá-la a cada vez que deixava o castelo, e resolvera que seria melhor 'conversar' com ele e 'aconselhá-lo' a parar de misturar-se com humanos. Orgulhava-se de ter 'jeito com as palavras', como suas irmãs costumavam dizer quando ainda vivia com elas. Não importava que isso significasse que ela era uma manipuladora no fundo, enquanto conseguisse o que queria não importa do que a chamassem.
Pelas janelas de seu quarto vira o filho, agora um adolescente, passar pelos portões do castelo e caminhar calmamente, naquela posição de superioridade tão conhecida, pelo pátio. Sabia que ele logo entraria e iria direto para seu quarto, evitando sua companhia como fazia desde o dia em que a flagrara 'cuidando de seu amigo' na clareira. Sorriu consigo mesma ao vê-lo caminhar na direção da escada e flexionou os dedos instintivamente em antecipação por sua aproximação, mas essa sensação durou pouco. Antes que o garoto colocasse o pé no primeiro degrau uma sombra saiu de uma das câmeras e o chamou;
- Sesshoumaru. – O jovem yokai parou ao ouvir o pai chamá-lo, virou em sua direção com um olhar interrogativo – Caminhe comigo, tenho que falar com você.
- Como desejar, pai.
'Maldito Inu no Taisho' sempre estragando seus planos e protegendo o maldito filho. Como poderia educá-lo se estava sempre sendo interrompida? Pensou em segui-los, mas mudou de idéia.
Se o marido estivera escondido no térreo esperando pela chegada do filho então deveria ter sentido sua presença, se os seguisse provavelmente receberia outra punição e não estava disposta a passar mais uma temporada naquele quarto que, a cada dia que passava, parecia se tornar menor. Deu meia volta, marchando para seu próprio quarto, esperaria pela volta dos dois e então conversaria com o filho 'amigavelmente' ou talvez estivesse na hora de agir novamente.
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Sesshoumaru seguiu o pai para fora do castelo em silêncio, sabia que aquilo tinha uma razão. Arashi estava por perto e o pai não queria que ela os ouvisse, aquele clima insuportavelmente tenso era demais e tão diferente do que podia ver na casa de seus amigos humanos. Pais deveriam cuidar, aconselhar e, não provocar o terror e ameaçar para conseguirem o que desejavam. Estava se tornando cansativo permanecer dentro daquela casa luxuosa e sombria mesmo à luz do dia, por isso saía nas primeiras horas da manhã e passava todo o dia nos campos com algumas das crianças que ainda se aproximavam dele ou visitando os pais de seu falecido amigo, Tenko.
- Sesshoumaru...
- Por que a soltou novamente, pai? – Encarou o yokai mais velho sem medo quando viu a expressão dele se fechar. – Sabe que ela tem atacado o vilarejo? Matado animais e destruído partes da plantação? – Desviou os olhos do pai e cruzou os braços na frente do peito – Logo todos se voltarão contra nós por causa das ações dessa mulher.
- Arashi é sua mãe e não deveria tratá-la de forma tão desrespeitosa, Sesshoumaru.
- Ela é uma louca controladora que faz as coisas mais absurdas para me convencer a fazer as coisas a seu modo.
Inu no Taisho encarou o filho em silêncio, não podia negar suas palavras ou defender a mulher dos atos insanos que realmente tinha cometido. Suspirou baixo e aproximou-se mais do garoto.
- Não posso mantê-la trancada para sempre, você sabe disso. – Fez uma pausa esperando alguma reação do filho e continuou desanimado quando não obteve nenhuma. – Se ela resolver comunicar a seu avô, com certeza entraremos em guerra com o clã do norte.
- E se ela fizer novamente? E se matar outro humano?
- Acha que uma guerra entre clãs não tiraria vidas? – Inu no Taisho respirou fundo desviando os olhos para o horizonte – Gostaria de ter outra saída para esse problema, Sesshoumaru... Mas, manter sua mãe trancada não é a solução apropriada.
- Não quero perder outro amigo, ou ouvir as pessoas do vilarejo chamando-nos de assassinos.
- Eu sei que não, filho. – Ele colocou a mão no ombro de filho e esperou que virasse os olhos em sua direção – Tudo o que podemos fazer, por enquanto, é vigiá-la.
- Eu sei, pai.
- Tome mais cuidado enquanto eu estiver fora, mantenha-se afastado da casa do chefe da vila... – O yokai mais velho sorriu ao ver a surpresa nos olhos dourados do filho – Sim, eu sei onde passa seus dias.
- Queria que eu ficasse aqui?
- Não, entendo suas razões. – Apertou o ombro do filho antes de afastar-se – Apenas tenha cuidado e não vá até lá enquanto eu estiver vistoriando nossas fronteiras. Dois dias no máximo.
- Acha que ela pode tentar matá-los? – Sesshoumaru perguntou um pouco mais alto enquanto o pai caminhava na direção dos portões do castelo.
- Acho que sua mãe é imprevisível e é melhor prevenir. – Fez um gesto esperando que o garoto o seguisse – Não quero que os acontecimentos se repitam.
- Eu entendo, pai.
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Sesshoumaru suspirou entediado na sua posição no alto muro do castelo, mais de uma semana havia se passado e não saíra nem uma vez do castelo. Tentara algumas vezes esgueirar-se para visitar os amigos, mas mudara de idéia ao perceber que a mãe o seguira. Queria muito ter algo para fazer, andar livremente pelo campo sem ter que se preocupar com a mulher descontrolada que chamava de mãe, mas isso não era possível no momento.
- Aonde pensa que vai, mãe? – Saltou para o chão a alguns passos de Arashi e cruzou os braços na frente do peito quando a viu estreitar os olhos levemente. – Sabe que não pode deixar o castelo sozinha.
- Desde quando devo satisfações dos meus atos para um pirralho como você?
- Não deve. Apenas não pode sair desacompanhada. – Girou os olhos antes de segui-la e tentou permanecer calmo – Sua 'saúde frágil', entende? Não pode ir muito longe ou 'acidentes' podem acontecer...
- Acidentes do tipo... Outro amigo seu aparecer morto?
- Não. – Apertou o passo e a ultrapassou parando à sua frente – Acidentes do tipo que podem colocá-la em problemas com meu pai... – Por mais que tentasse não conseguiu reprimir um tom alegre na voz ao completar – Não queremos que a senhora tenha que passar outra temporada no quarto, não é mesmo?
- Está me ameaçando, Sesshoumaru?
- Apenas avisando, mãe. – Ele sorriu satisfeito ao ver a irritação nos olhos dela – Não queremos que nada aconteça com a senhora e temos que nos esforçar para cuidar muito bem de 'seus passeios'.
- Isso não terminou, querido... – Ela deu meia volta entrando no castelo novamente – Não pode me vigiar o tempo todo.
Sesshoumaru pulou para seu posto no muro do castelo novamente e olhou Arashi desaparecer pelas portas com um pequeno sorriso nos lábios. 'Tem razão, mamãe... Mas, posso vigiá-la para que não cometa mais atos impensados...' Voltou os olhos dourados para o horizonte pensando quanto tempo mais passaria até a volta do pai, as irmãzinhas gêmeas de Tenko tinham nascido há poucos dias e ele desejava conhecê-las.
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Inu no Taisho voltou pouco mais de uma semana depois, Sesshoumaru parecia mais irritado que o normal e a julgar pela expressão insatisfeita de Arashi o filho deveria tê-la seguido a todos os lugares possíveis nas últimas semanas, estragando qualquer que fossem seus planos. Sua mulher estava se tornando um fardo muito maior do que pensara a principio, apenas causava confusões ao invés de auxiliá-lo. Se, ao menos, ela ficasse dentro do castelo ou saísse apenas para passeios inofensivos como havia sido nos primeiros anos de convivência... Mas, depois do nascimento de Sesshoumaru ela havia se tornado um tanto quanto intransigente com os humanos e à medida que o garoto crescia isso tinha apenas piorado.
Dois dias haviam se passado desde sua volta e o filho voltara a sua rotina de desaparecer durante o dia, o humor de Arashi piorava cada vez mais e Inu no Taisho não mais encontrava desculpas convincentes para mantê-la a sua vista.
O fato dela olhar em sua direção com mal disfarçado ódio e repulsa também não ajudava muito, era sempre tão desanimador sequer pensar em passar mais que quinze minutos em sua companhia... Se ao menos soubesse que ela não aprontaria nada ficaria feliz em deixá-la fazer o que quisesse... De preferência bem longe de si, mas a realidade era outra bem diferente.
- Aonde vai, Arashi?
- Como se não bastasse aquele pirralho agora tenho que dar satisfações a você também? – Ela virou na direção do marido, a hostilidade era evidente em sua voz e pela maneira como flexionava os dedos parecia a ponto de atacá-lo.
'Mulher insolente' ele arqueou uma sobrancelha e a encarou esperando que fizesse algum movimento em sua direção, quando ela baixou as mãos lentamente ele deu um passo em sua direção.
- O 'pirralho' é seu filho e voc não deveria tratá-lo dessa maneira... – Cruzou os braços na frente do peito e endureceu a expressão quando ela girou os olhos em um sinal de impaciência. – Não quero que saia sozinha... Sesshoumaru não lhe contou que algum yokai perigoso tem matado animais do vilarejo?
- Oh... Mesmo? – Arashi disfarçou o sorriso fingindo uma expressão surpresa – ele não me contou esses fatos... Apenas não me deixou sair sozinha... – Forçou um sorriso inocente no rosto – E eu me irritando com os atos dele quando tudo o que desejava era proteger sua pobre mãe...
- Sim, ele só queria protegê-la... – Ele se esforçou para não dizer o que realmente pensava daquela encenação e estendeu o braço para a mulher – Mas, se realmente quiser passear posso acompanhá-la.
- Oh, não é necessário. Sei que tem muitos afazeres, meu Lorde. – Ela se encolheu para não tocá-lo e sorriu novamente fingindo não notar a expressão satisfeita no rosto do marido – Não vou incomodá-lo, vou apenas dar uma volta nos arredores do castelo.
- Eu insisto em acompanhá-la, Arashi. – Ignorou a expressão insatisfeita da mulher quando pegou sua mão – Sua segurança e satisfação vêm em primeiro lugar para mim.
- Nesse caso... – Ela falou entre dentes – Será um prazer ter sua companhia, meu lorde...
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Sesshoumaru voltou para o castelo com uma expressão tranqüila, ao menos permaneceria assim até que chegasse em casa. Não devia ter segurado um dos bebês, mas a mulher parecera tão atrapalhada com as duas crianças recém-nascidas que ele se oferecera para ajudar. Tinha sido um erro, podia sentir o cheiro da criança em si mesmo... Não queria provocar a mãe quando ela parecia ter se acalmado novamente, mas no momento parecera tão natural que não conseguira evitar.
As duas garotinhas eram tão pequenas e mesmo assim o lembravam tanto de Tenko, mal podia esperar para que elas crescessem o suficiente para poder ter amigos novamente. Ensinaria a elas tudo o que tinha ensinado ao amigo, mais coisas até já que não planeja perdê-las. Balançou a cabeça levemente ao passar pelos portões do castelo tentando colocar as idéias no lugar, o que estava pensando?
Anos se passariam antes que tivesse a chance de poder brincar realmente com elas e segundo a tola tradição dos humanos, garotas deveriam se comportar e não passar os dias correndo nos campos e caçando.
- Sesshoumaru... – Arashi chamou assim que ele entrou no castelo, viu o garoto olhar para em sua direção e torceu o nariz ao sentir o maldito cheiro de humano misturado ao dele.
- Deseja alguma coisa, mãe?
- Vá se lavar e depois conversamos.
- Como disse?
- Vá tomar um banho e não saia do rio até que esse cheiro nojento saia de você.
Ele piscou com a hostilidade na voz feminina, Arashi nunca falara com ele desse modo. Costumava sempre forçar um tom doce e manipulador em suas tentativas de controlá-lo.
- Não sinto cheiro nojento nenhum em mim. – Cruzou os braços na frente do peito e encarou a mulher a sua frente com falsa inocência.
- Está fedendo a humanos, vá se lavar agora!
- O cheiro de sangue é muito pior... – Estreitou os olhos levemente sem fazer menção de obedecê-la – Posso senti-lo em você há anos e nunca disse que precisa tomar um banho para poder ficar perto de mim – Ignorou o instinto de fugir quando a viu aproximar-se dele lentamente flexionando as garras perigosamente – Até porque duvido que esse odor saia de você, está impregnado assim como sua loucura.
- Maldito garoto abusado! – Em um movimento rápido, e inesperado, ela avançou sobre o filho e o levantou do chão pelo pescoço prensando-o contra a parede – Acha que pode me desafiar até quando? – Estreitou os olhos dourados que brilharam perigosamente enquanto aumentava a pressão no pescoço do garoto que se debatia e arranhava seu braço em uma tentativa de se soltar – Perdi as contas de quantas vezes eu o avisei para não ficar perto de humanos e agora você volta com o cheiro de um deles tão misturado ao seu que me enoja.
- Pare, mãe. – As palavras não passaram de um murmúrio estrangulado e ele afundou as garras mais nos braços dela, fechando os olhos quando o cheiro de sangue atingiu suas narinas – Estou avisando...
- Cale-se! – Levantou a mão livre rapidamente desferindo um tapa no rosto do garoto que se calou assustado – Estou cansada de sua insubordinação e teimosia, Sesshoumaru... – Desceu a mão até o pescoço do garoto, unindo-a a outra e apertando seu pescoço lentamente, sorrindo ao vê-lo ficar sem ar –Acho que o tempo de 'conversar' acabou, querido... Mamãe vai ensiná-lo a deixar de andar com humanos...
Sesshoumaru entreabriu os olhos lentamente sentindo a visão embaçar enquanto suas forças desapareciam. Ouviu passos se aproximando, mas estava fraco demais para reconhecer a pessoa. Fechou os olhos novamente, soltando os braços dela sem forças para continuar lutando.
- ARASHI! – O garoto caiu no chão arfando quando Arashi o soltou, ele levou as mãos ao pescoço sentindo a região dolorida e olhou para a cena a sua frente reconhecendo a voz do pai. – Quantas vezes eu lhe disse para não tocar em meu filho? – Inu no Taisho ajoelhou ao lado do garoto certificando-se que ele estava bem antes de levantar aproximando-se da mulher que levantava-se lentamente – O que eu deveria fazer com você agora?
- Ele me desafiou, eu disse para se afastar dos humanos e sinta o cheiro dele! – Levantou as mãos avançando para o marido na mesma rapidez que fizera com o filho, deu um gemido frustrado quando ele segurou seus pulsos mantendo-os afastados de si – Vou matá-lo e acabar com os problemas.
- Acabou, Arashi. – Ele a empurrou na direção dos guardas que haviam corrido ao ouvir o primeiro grito, olhou friamente para a mulher que tentava se soltar das mãos dos yokais e completou sem demonstrar nenhuma emoção na voz – Levem-na para baixo.
- Não pode me mandar para lá. – Olhou para o marido pela primeira vez percebendo a gravidade da situação – Você coloca inimigos e prisioneiros de guerra lá, sou sua mulher.
- Tenha calma, as celas estão vazias há muito tempo. – Ele sorriu ironicamente para a mulher – No momento você não é minha mulher e sim apenas uma louca que tentou matar meu filho. – Virou de costas aproximando-se do filho que permanecia no chão tentando se recuperar.
- Avisarei meu pai, mandarei um mensageiro até o castelo do norte e você será punido por fazer isso comigo, Inu no Taisho.
- Faça isso se desejar, vou ajudá-la emprestando-lhe meu melhor e mais rápido mensageiro... – Ele levantou o garoto nos braços e passou pela mulher sem lhe dirigir sequer um olhar – Tentou matar meu herdeiro, SEU filho... – Fez uma pausa enquanto subia os degraus lentamente deixando que o peso de suas palavras caíssem sobre sua mulher – Seu pai concordará comigo que precisa de 'uma lição', como você mesma diz.
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Quase dois anos se passaram antes que Arashi pudesse deixar sua cela no subsolo do castelo. A face mortalmente pálida, os longos cabelos prateados haviam perdido completamente o brilho de outrora, mas os olhos dourados ainda conservavam as mesmas emoções. Brilhavam mais do que nunca com ódio e frustração pelo que tinha passado, ser tratada como uma qualquer e tendo que, vez ou outra, suportar a companhia de algum preso de guerra. Não pensava no fato de sua cela ser maior que todas as outras, ou que nunca tinha realmente ficado mais do que dez metros próxima de outro prisioneiro. Tudo que ela podia pensar era na humilhação pela qual tinha passado. Maldito Inu no Taisho esquecendo-se que ela era Arashi, segunda filha do chefe do Clã do Norte e senhora do castelo do Clã do Oeste.
Ele pagaria por tudo o que passara nos últimos meses, Sesshoumaru pagaria por ser o causador de tudo aquilo também. Até mesmo seu pai, que ignorara seus pedidos de ajuda e apenas a aconselhara a ser forte, pagaria por essa traição. Quando sua vingança fosse realizada todos se arrependeriam por não tratá-la como merecia.
A mulher entrou em seu quarto calmamente com a mesma postura superior de antes, não importava como se sentisse não daria a satisfação a ninguém de ver que conseguiram abalar sua confiança parcialmente. Rosnou para a criada que se aproximou para ajudá-la e sorriu satisfeita ao vê-la correr para fora do cômodo, olhou em volta reconhecendo cada objeto em seu quarto. Nada havia mudado de lugar e o quarto parecia limpo arejado como se apenas um dia tivesse se passado desde que o deixara, ao menos isso. Odiaria ter que voltar para um quarto abandonado, uma espécie de lembrete que todos a haviam esquecido.
Caminhou lentamente até o grande espelho na penteadeira e examinou seu reflexo por longos minutos, a raiva crescendo a cada segundo enquanto notava o que aquela temporada no subsolo havia feito com sua aparência. Virou-se rapidamente para a janela ao reconhecer a voz do filho vindo do pátio, maldito fosse por continuar sendo feliz e despreocupado enquanto sua pobre mãe sofria em uma cela mofada.
Sesshoumaru pagaria, seria o primeiro a sofrer em suas mãos. Apertou o parapeito frio da janela e olhou para o garoto que deixava o castelo em silêncio enquanto planos se formavam em sua mente. Não tentaria matá-lo novamente, havia aprendido sua lição naqueles dois anos trancada, mas Inu no Taisho nunca dissera que estava proibida de encontrar outros modos de ensinar o filho a se comportar.
Arashi sorriu consigo mesma enquanto afastava-se da janela. Algo que dois anos não puderam apagar de sua memória fora o cheiro de humanos nas roupas do filho, esperaria algum tempo até que estivesse recuperada e começaria a colocar sua vingança em andamento. Mataria os amigos do filho e dessa vez não deixaria rastros ou testemunhas que pudessem incriminá-la.
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Sesshoumaru abriu os olhos confuso, ouvindo o barulho de passos apressados vindo do lado de fora, olhou para a janela para ver a lua ainda no céu. Sentou na cama confuso e passou as mãos pelos cabelos em uma tentativa de ordenar os pensamentos para saber o que estava acontecendo, franziu o cenho sentindo o cheiro forte de madeira queimada que o vento trazia.
- FOGO!
- Tem que nos ajudar, Inu no Taisho.
- Por que mandaram uma mulher nos avisar?
- Meu marido ficou lá ajudando os outros. – Uma voz feminina choramingou – Pelos deuses, nos ajude.
O jovem yokai pulou da cama, os sentidos alertas ao ouvir a voz do pai ordenando aos outros yokais que fossem para o vilarejo. Os olhos dourados se arregalaram na escuridão enquanto lembrava dos amigos e do que poderia acontecer com as crianças.
- A vila inteira vai ser destruída.
- O vento está forte, vai espalhar o fogo. – Inu no Taisho falou – Temos que ser rápidos.
- Vai nos ajudar?
- Se você sair da minha frente – O Lorde yokai desvencilhou-se da mulher – Fique aqui, vai estar segura no castelo.
Sesshoumaru desceu as escadas correndo depois de vestir-se rapidamente, olhou para os yokais que corriam para fora do castelo e precipitou-se na direção do pai.
- Fique aqui, Sesshoumaru. – O yokai mais velho ordenou saindo do castelo com o resto dos homens.
- Eu vou ajudar. – O filho o seguiu para fora.
- Não quero ter que me preocupar com você também. – Ele virou-se na direção do garoto, seus olhos brilhando perigosamente em uma tentativa de assustá-lo – A situação já está bem grave sem que eu tenha que parar para pensar se você não vai se ferir.
- Não vou ficar aqui de braços cruzados enquanto meus amigos podem estar morrendo! – Sesshoumaru olhou firme para o pai, sem deixar-se intimidar – Não tenho medo de você e estamos apenas perdendo tempo aqui.
- Vá para o rio. – O yokai mais velho deu as costas para o filho, uma parte de si sentia orgulho pelo garoto não se deixar intimidar e lutar pelo que achava certo. Se ao menos a situação não fosse tão grave – Ajude os homens de lá com a água.
- Quero ir para a vila com você.
- Vá para o rio. Preciso de alguém para supervisionar as coisas por lá. – Inu no Taisho respirou fundo sentindo os olhos arderem como cheiro forte de madeira queimada. – Mandarei chamá-lo se for necessário.
Sesshoumaru ficou parado enquanto via a figura do pai aumentar tomando sua verdadeira forma de cachorro branco antes de desaparecer na escuridão. Suspirou desanimado por não ter a chance de discutir sobre a situação, balançou a cabeça levemente antes de correr na direção do rio. Mesmo na completa escuridão e com o cheiro de madeira tão forte no ar seria fácil achar o caminho certo, os gritos dos homens guiariam seu caminho.
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Arashi observou com satisfação e desapontamento de dentro das sombras. Sorria com a visão da vila parcialmente destruída e amaldiçoava ao marido e seus subordinados por terem conseguido diminuir a intensidade do fogo tão rapidamente. Sua maior frustração era não ter sido capaz de matar ninguém, escolhera uma noite quente para colocar seu pequeno plano em ação, só não contara com os humanos idiotas acordados até tarde e rápidos o suficiente para começarem a apagar os pequenos focos de fogo. Claro que o vento forte que espalhara pequenas fagulhas por toda a vila tinham lhe sido de grande ajuda, mas... Suspirou, ao menos conseguira fazer um grande estrago.
Estreitou os olhos ao ver o filho aproximar-se do pai com um sorriso satisfeito, amaldiçoava os dois por sempre conseguirem acabar com seus planos. Aos menos dessa vez não fora pega, com toda aquela distração eles nem tinham lembrado de sua existência. Pela primeira vez isso a deixava satisfeita, poderia voltar ao castelo sem que ninguém percebesse o que tinha feito. Provavelmente pensariam que ela ignorara os apelos dos humanos e continuara a dormir, o que realmente teria feito se não fosse a causa de tudo aquilo. Deu de ombros e virou para voltar á segurança do castelo quando captou um cheiro conhecido vindo da casa do chefe da vila.
Olhou para a jovem humana parada à porta com algumas crianças a seu redor e aproximou-se lentamente sem deixar as sobras que a ocultavam. O cheiro que sentira no filho naquele dia em que quase o matara não podia ser daquela mulher, Sesshoumaru era jovem demais para pensar em se envolver com alguém daquele modo. Inclinou levemente a cabeça para o lado direito e observou a cena com mais atenção, ela segurava dois bebês...
- Parece que o fogo está controlado, crianças – A mulher humana sorriu carinhosamente para as pequenas crianças a sua volta – Podem brincar aqui, mas não atrapalhem o trabalho dos homens, certo?
Arashi estreitou os olhos com desprezo ao ver o bando de pirralhos brincando no espaço que os separava do resto das casas. 'Crianças idiotas' Por certo pensavam que aquilo tinha sido apenas um jogo.
- Vou colocar Natsu e Haru na cama novamente, não se afastem.
'Os bebês!' O cheiro conhecido era dos bebês. 'Maldito Sesshoumaru, como se não bastasse brincar com esses seres inferiores ainda fica de babá para crianças humanas?'
Olhou para as crianças humanas brincando distraídas na frente da casa e correu na direção da casa em que a mulher entrara. Parece que sua sorte havia mudado, poderia matar alguém esta noite. Sorriu consiga mesma ao pisar no assoalho de madeira, poderia finalmente vingar-se dos meses presas no subsolo do castelo.
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- Muito obrigado, Inu no Taisho-sama – O chefe do vilarejo falou em tom amistoso para o lorde yokai – Não teríamos conseguido apagar o fogo a tempo sem sua ajuda.
Sesshoumaru olhou satisfeito para os dois homens conversando amigavelmente, os outros habitantes do vilarejo pareciam felizes, embora mostrassem a aparência cansada por terem passado parte da noite apagando focos espalhados de fogo que aumentavam mais a cada rajada de vento. Não estava satisfeito pela destruição do lugar que tanto gostava de passar seus dias, mas quem sabe esse pequeno incidente ajudasse a apagar as suspeitas contra eles.
Embora nunca ninguém pudesse provar nada sempre o olhavam de maneira desconfiada graças os atos estranhos de sua mãe. O tempo em que ela ficara presa apenas tinha feito com que isso aumentasse uma vez que todos os ataques tinham cessado, ao menos ela não tinha feito nada desde que fora solta ou as suspeitas aumentariam novamente.
O jovem yokai virou de repente com o som de pequenos passos correndo seguidos de gritos infantis, estreitou os olhos vasculhando as redondezas. Se encontrasse a mãe por perto tentando se aproveitar daquela situação para atacar as pessoas novamente iria...
- FOGO!
- PAPA! A casa ta pegando fogo!
Sesshoumaru piscou quando as crianças passaram por ele tentando entender qual das casas estaria em chamas.
- Hana-sama está lá dentro. – Uma das meninas choramingou agarrando-se as vestes da mãe.
- Hana! As crianças! – O chefe do vilarejo murmurou enquanto disparava na direção da própria casa que ficava um pouco afastada das outras e onde as crianças tinham sido mantidas até aquele momento. – Hana!
Sesshoumaru o seguiu antes mesmo que a informação se formasse em sua mente, olhou para a casa pegando fogo em choque enquanto observava o homem desaparecer na fumaça e chamas que a cercavam. Começou a segui-lo e olhou irritado quando foi impedido por braços mais fortes segurando-o, virou irritado encontrando os olhos dourados do pai e começou a se debater tentando se soltar.
- O que estão esperando? Vão pegar mais água! – Inu no Taisho ordenou para os homens que observavam a cena em choque – AGORA!
- Solte-me, pai! Eles vão morrer!
- Ajude com a água, Sesshoumaru.
- Não, tenho que entrar e—
- Não adianta entrar lá agora, ajude com os baldes. – A ordem estava implícita no tom de voz do pai, o rapaz apenas concordou com um aceno sabendo que não seria solto se continuasse a lutar e contradizê-lo. – É o que podemos fazer por eles. – Diminuiu a pressão do abraço lentamente libertando o filho.
Sesshoumaru baixou a cabeça por alguns minutos tentando ignorar as vozes a seu redor, que gritavam ordens, os passos apressados correndo de um lado para o outro. Franziu o cenho com o cheiro de madeira queimada e ouviu o pai avisar para se manter afastado, mas o ignorou. Levantou a cabeça depressa ouvindo um grito angustiado vindo de dentro da casa se sobrepor às vozes a seu redor, percebendo que não conseguiria apenas observar aquilo.
- Perdoe-me, pai... – Murmurou antes de correr na direção da casa, ignorou os gritos do pai chamando por ele e ultrapassou a barreira de fumaça que tomava conta de toda a frente do lugar.
- Vai atrás dele, meu Lorde? – Um dos Yokais perguntou trazendo mais baldes cheios, observou seu mestre olhar para a grande casa com um olhar duvidoso por alguns momentos antes que lhe respondesse.
-Não, vamos tentar apagar o fogo. – Respirou fundo ignorando o cheiro de queimado que ameaçava sufocá-lo – O que estão esperando? MAIS RÁPIDO!
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Sesshoumaru entrou na casa e cobriu o rosto com parte de seu quimono tentando filtrar o ar, aquele cheiro era muito forte para que pudesse suportar. Virou para todos os lados chamando as pessoas que considerava como uma segunda família enquanto adentrava o local o mais rápido possível que as vigas caindo ou as chamas o deixavam.
- Sesshoumaru...
Ele parou de repente ao ouvir o fraco chamado e olhou na direção do cômodo onde o fogo era mais intenso.
- Continue falando. – Falou o mais firme possível enquanto seguia a direção que achava ter vindo o chamado – CONTINUE FALANDO!
- No quarto... – a mulher murmurou um pouco mais alto, começando a tossir em conseqüência do esforço.
O jovem yokai pulou pelos obstáculos no chão desviando de partes da casa que desabavam banhadas pelo fogo enquanto seguia na direção do quarto. Ouviu um dos bebês chorar alto e pulou para dentro do cômodo parando a poucos centímetros da mulher sentada encolhida em um dos cantos do quarto, abraçada a criança.
- Vou tirar você daqui, Hana-san – Ele ajoelhou a seu lado colocando a mão em seu ombro – Onde estão os outros?
- Mortos... – Ela murmurou em um fio de voz, as lágrimas correndo por seu rosto formando trilhas na pele manchada de fuligem. – Apenas Haru e... – A mulher parou de falar e começou a tossir novamente, só então ele notou o corte profundo em seu ombro do qual o sangue brotava em abundância manchando suas roupas e formando uma poça a sua volta.
- O que houve? – Ele tirou a criança chorosa dos braços da mãe e tentou ajudá-la a levantar para ser afastado bruscamente. – Hana-san?
- Tire Haru... Daqui – Ela pediu em voz fraca.
- Não posso deixá-la aqui, não vou conseguir entrar novamente...
- Não estou pedindo para voltar. – Ela passou a mão pelo rosto tentando limpar as lágrimas – Eu disse para... Salvar minha... Filha...
Ele olhou em silêncio para a mulher, notando a palidez fora do normal de seu rosto baixando lentamente para o quimono manchado de sangue. O corte no ombro não era nada perto dos outros ferimentos em seu corpo, ela estava morrendo e sabia disso.
- Conte-me quem lhe fez isso. – Ele levantou lentamente antes de tirar o manto da criança em seus braços e enrolá-la no próprio quimono, abraçando-a novamente. – O que aconteceu com os outros?
- Meu marido foi morto... Tentando salvar Natsu – Ela escondeu o rosto nas mãos soluçando com a lembrança. – Minha pequena criança...
- Quem fez isso? – Ele pulou para trás quando uma viga caiu entre os dois e estremeceu ouvindo a mulher gritar em terror, tentou aproximar-se novamente e parou ao vê-la fazer um sinal negativo com a cabeça.
- Saia agora, Sesshoumaru.
- Diga quem fez isso com você. – Ele olhou para o rosto pálido e delicado, daquela que considerara mais que uma mãe, com uma determinação surpreendente – Não sairei daqui enquanto não disser.
Hana balançou a cabeça lentamente estremecendo com o choro.
- Não, Sesshoumaru – Ela se encolheu mais com um gemido angustiado de dor pelos cortes profundos em seu corpo – Apenas salve Haru para mim... Cuide dela... Como eu cuidei de você.
- SESSHOUMARU! – A voz do pai trovejou do lado de fora da casa o que despertou o jovem de seu estado de torpor e fez com que a garotinha em seus braços se encolhesse chorando mais alto, agarrando-se a sua camisa.
- Estou indo, pai! – Lançou um último olhar a mulher no meio das chamas, viu que ela parara de chorar e sabia o que aquilo significava. – Perdoe-me, Hana-san... – Abraçou a menina mais forte e correu pelo mesmo caminho que tinha feito percebendo que não conseguiria sair por ali. Olhou em volta por alguns minutos antes de ver uma pequena brecha entre as chamas que levava a uma porta fechada, a única que sobrara ainda parcialmente em pé. Respirou fundo antes de correr e saltar em sua direção destruindo a madeira fina como se fosse feita de papel e caindo no chão do lado de fora da casa.
Ouviu o pai chamar seu nome antes que mais de um jato de água o atingisse, encolheu-se no chão abraçado à menina enquanto tossia descontroladamente pela fumaça que aspirara. Caiu de lado no pavimento sem soltar Haru que abraçava-se a ele encolhendo-se com os gritos dos homens a sua volta.
- Você está bem, filho?
- Diga aos homens para não fazerem tanto barulho – Ele murmurou em um tom baixo e rouco – Estão assustando Haru...
Inu no Taisho deu um pequeno sorriso ao perceber que o filho estava bem o bastante para ordenar algo e o pegou nos braços junto com a menina que não o soltava.
- E os outros?
- Mortos... Estão todos mortos... Pai – O rapaz baixou os olhos para a menina em seu peito – Algo os atacou e provocou... O incêndio... – segurou a mão de Haru notando um pedaço de pano conhecido – Hana-san não quis me contar... Quem foi... Eu... – Com algum esforço ele pegou o tecido da garotinha e estreitou os olhos levemente – Arashi. – murmurou.
- Não deixem o fogo espalhar.
- O chefe está bem? – um dos moradores perguntou e baixou a cabeça quando viu o poderoso yokai fazer um gesto negativo com a cabeça.
- Apenas controlem o fogo. – Inu no Taisho disse de maneira firme virando-se para partir – Vou levar meu filho para casa, meus homens ficarão aqui.
- A filha do chefe...
- Por hora, ela vai comigo. – Falou de forma a não deixar margem a discussões e correu para o castelo percebendo que o filho tinha perdido os sentidos.
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Continua.
N.A.² - Oi minna,
Eu imaginei isso sendo um oneshot, mas com o passar das páginas percebi que tinha se tornado um shortfic. Embora tenha parte escrita e não publicada, ainda não terminei.
Tirando Inu no Taisho e Sesshoumaru que são obviamente de propriedade de Rumiko Takashi, os personagens aqui apresentados são fonte desta mente insana. Então, sim estou tendo mais trabalho que o usual para escrever isto.
Se alguém se interessar em saber esse fic nasceu do início do terceiro movie de InuYasha, quem o assistiu perceberá isso no final e quem não... Bem, não tem importância XD
Algumas pessoas leram partes deste rascunho quando ele ainda não passava disso e eu agradeço do fundo do coração a todas por gastarem seu tempo com pedaços de uma história quando esta ainda fazia sentido apenas para mim. Spooky é a madrinha do fic já que escutou pacientemente eu discorrer sobre uma idéia que naquele momento não fazia sentido nem para mim e mesmo assim me incentivou ( leiam AMEAÇOU XD) a continuar.
Espero sinceramente que gostem de ler esse fic tanto quanto tenho gostado de escrevê-lo. Opiniões são bem vindas como sempre.
Chega de falar, certo? XD
Por enquanto é só. Kissus e já ne,
Naru.
