Laços de Sangue
Parte Quatro – Final
Sesshoumaru desceu as escadas, o som de vozes murmuradas no salão alcançando seus ouvidos e chamando sua atenção. Estreitou os olhos, ouvindo a voz do pai se sobressair as outras em uma ordem para que mantivessem a calma. Caminhou lentamente até o local, ouvindo fragmentos de conversas nas vozes que se sobrepunham umas as outras.
– Animas mortos perto da vila...
– Uma das crianças parece ter visto o agressor.
– Tolice! Como teria escapado com vida?
– Alguma das pessoas do vilarejo foi morta?
– Não... ainda.
– O celeiro foi incendiado.
– Sem testemunhas.
– Sempre sem testemunhas.
Sesshoumaru parou há alguns passos da porta, as palavras ressoando em sua mente enquanto uma imagem de seu passado voltava à tona. A clareira coberta de sangue. O corpo de Tenko dilacerado, o olhar vidrado e sem vida. A casa incendiada. A mãe de Haru morrendo. As marcas conhecidas em seu corpo.
– Parem de tagarelar como mulheres! – A voz do pai o trouxe de volta para o presente – Não há razão para pânico.
– Precisamos descobrir o que está atacando, Inu no Taisho.
– Descobriremos.
O jovem yokai deu mais um passo e parou quando o guarda de confiança do pai passou por ele. Piscou confuso, observando a maneira como os dois trocavam palavras sussurradas antes que Inu no Taisho dispensasse os outros. Ele ficou parado, observando–os partir enquanto o pai continuava a trocar informações com o recém–chegado, sem saber se deveria interrompê–los ou não. Por fim, pensando que poderia ajudá–los, entrou no cômodo.
– Pai? – O yokai mais velho virou para encarar o filho, a expressão pesada antes de dispensar o guarda.
– Vá reunir os outros. – Inu no Taisho respirou fundo, o olhar desviando da figura parada a porta do cômodo – Mantenha sua mulher dentro do castelo. – A voz dura soava como uma ordem.
– Eu ouvi parte da conversa... Estamos sendo atacados novamente?
– Sim. – A resposta foi curta, a irritação presente na voz e postura do yokai enquanto ele se dirigia ao local em que guardava suas armas.
– Precisa de ajuda?
– Apenas fique aqui e proteja sua mulher.
– Pare. – Sesshoumaru colocou–se na frente do pai, impedindo sua saída – O que está atacando os animais?
– Um yokai. O que acha que poderia incendiar parte da vila? – Inu no Taisho empurrou o filho para o lado e saiu, tentando ignorar estar sendo seguido.
– Pensei tê–lo ouvido dizer que não havia motivo para preocupação.
– Isso foi antes que eu descobrisse algo. – Inu no Taisho parou na porta que levava ao exterior do castelo e virou para encarar o filho – Acharam os guardas da escolta de Arashi. – Sesshoumaru piscou, a informação lentamente tomando forma em sua mente enquanto as lembranças voltavam. Animais mortos, Incêndios. – Até que verifique o que pode ter acontecido, você fica com Haru. Dentro do castelo.
– Eu entendo, pai.
– Ótimo. – O yokai virou, terminando de sair – Não pretendo demorar.
oOoOoOoOoOoOo
Arashi observava das sombras, um sorriso curvando seus lábios enquanto esforçava–se para não rir alto. Viu o marido passar por ela, de uma distancia segura, o que viu no semblante conhecido fazendo–a exaltar de alegria. Inu no Taisho deveria ter descoberto sobre sua fulga. Sabia que isso significava ter mais cuidado de agora em diante, mas não pudera resistir. Todos aqueles humanos, vivendo aquela existência pacifica e feliz enquanto ela, a grande Arashi, tinha que se esconder e viver de restos, a irritava.
Voltou os olhos para a forma do castelo, a distancia em que se encontrava, a grande construção do Clã do Oeste parecia quase irreal. Apenas um amontoado de pedras, escondido pelas altas e densas árvores da floresta que o cercava. Um sorriso satisfeito curvou seus lábios enquanto lembrava de todas as vezes que estivera tão perto de Haru. Aquela garotinha humana e imprudente estava sempre saindo do castelo, indo até a vila sozinha. Livremente. Feliz. Tão absurdamente despreocupada quanto ao que o destino lhe reservava.
' Eu podia tê–la matado uma dúzia de vezes...' Arashi deu as costas ao castelo, adentrando na floresta a caminho de seu esconderijo. ' Mas pegá–la debaixo do nariz deles será tão mais divertido...' Sorriu satisfeita pelo modo que seus planos estavam se encaminhando. ' Vou matá–la e tudo voltará ao normal... Tão... fácil.'
– Primeiro deixá–los procurando por mim... – Afastou as folhas que escondiam a entrada da caverna e sorriu. Ao menos o dinheiro que achara com os soldados do pai servira para algo. Alguns humanos não eram totalmente inúteis, ganancioso faziam qualquer coisa. 'Ao menos quando estão sendo pagos para fazer algo' – E quando eles finalmente deixarem o castelo desprotegido... – Um riso brotou dos lábios femininos e ela teve que cobri–los em uma tentativa de abafar o som alto que ecoou na caverna. Não conseguia evitar a satisfação com si própria todas as vezes que imaginava o que faria com a pequena e detestável Haru.
oOoOoOoOoOoOo
Haru andava de um lado para o outro do espaçoso quarto. Tinha trancado a porta, trancado–se ali depois de discutir com Sesshoumaru. Não conseguia entender a razão dele impedi–la de deixar o castelo, mesmo depois de prometer não sair das vistas daquela coisa verde e repugnante. Ele apenas negara, dizendo que seria melhor que ela permanecesse ali dentro onde estaria segura.'Mas segura de que?' Ele não respondera, o que só servira para deixá–la mais irritada e expulsá–lo do quarto.
A garota sentou–se no tampo de um baú, localizado embaixo da grande janela. Seus olhos perdendo–se na floresta que cercava o castelo, separando–os do vilarejo. Lembrando–se da discussão ocorrida a pouco, era estranho que Sesshoumaru não houvesse feito objeções quando ela o empurrara para fora do cômodo. Naquele momento, ela estava com raiva demais para notar a expressão perturbada ou a culpa que sombreava os orbes dourados. ' Mas culpa pelo quê?'
Fechou os olhos, respirando fundo para acalmar–se e clarear os pensamentos. Algo estava errado, era quase palpável. O jovem yokai sempre parecera silencioso e culpado por algo que ela não conseguia identificar. Um pequeno sorriso, a expressão relaxada, aquela pequena centelha de felicidade tornaram–se mais fortes e freqüentes através dos anos, mas ainda conseguia sentir a distancia que ele colocava entre os dois em certas ocasiões. A culpa, como vira a pouco, sombreando os olhos dourados quando ele a encarava em silencio ou tocavam em algum assunto relacionado ao passado.
Vozes dos soldados yokais no pátio a despertaram de seus pensamentos e a garota humana voltou a abrir os olhos. Sua atenção voltou–se para o marido conversando com alguns yokais que tinham acabado de regressar. A postura rígida, a voz soava fria e murmurada. Era impossível que ela conseguisse distinguir as palavras que trocavam.
Sesshoumaru escondia algo dela. Seu próprio passado era um enigma que nunca fora capaz de entender. Crescera em um vilarejo perto da fronteira com o Clã do Sul, uma velha miko cuidara dela por mais de doze anos até que finalmente pudera regressar àquele lugar. Era um sentimento estranho, sabia que pertencia aquele vilarejo porque Sesshoumaru lhe contara, mas não havia nenhuma lembrança verdadeira que a ligasse àquele lugar. Nem mesmo as pessoas do vilarejo lembravam–se de sua existência.
Com um suspiro desanimado, ela apoiou os braços no parapeito da janela, inclinando–se sobre eles até que o queixo estivesse apoiado. Os olhos verdes, como as arvores que os cercavam, perdendo–se no horizonte. Nada havia que a ligasse aquele lugar a não ser um sentimento.
A medida em que crescera quisera voltar para o lugar que diziam ser sua terra natal. Apesar de todos os avisos de Sesshoumaru, dizendo–lhe que o lugar era perigoso, ela queria ficar perto dele. Visitas escassas não eram mais o suficiente, ela precisa permanecer onde houvesse oportunidade para vê–lo. Talvez descobrir mais sobre seu passado.
Sua chegada aquele lugar fora decepcionante. Ninguém lembrava–se de sua existência, a maior parte fugia ao notarem a semelhança que tinha com a antiga mulher do chefe da vila. Sua ligação com o filho do lorde yokai também era um fato para afastar qualquer pessoa.
Ignorara os insultos murmurados, a forma como as mulheres afastavam as crianças de sua casa ou companhia. No final, sentira–se mais sozinha ali do que naquele afastado vilarejo em que crescera. As visitas de Sesshoumaru era a única coisa a que a impediam de mergulhar na tristeza total e chorar todas as noites, quando as pessoas conversando animadamente, ignorando sua existência ou solidão por completo. Não pertencia a ninguém ou lugar algum, e isso a entristecia mais do que gostaria de admitir até para si mesma.
Com o passar dos anos, adquirira alguma confiança das pessoas. As crianças, mesmo contrariando os pais, vinham brincar no pequeno jardim em frente a sua casa e até mesmo conversavam com ela vez ou outra. As visitas de Sesshoumaru passaram a ser algo que aguardava com felicidade, mesmo que isso significasse que as pessoas se afastariam dela por alguns dias.
Lágrimas de arrependimento era um luxo do qual ela não se permitia usufruir. Não importava o que acontecesse, ela ainda o tinha e isso era o bastante para fazê–la sorrir e continuar sua vida, solitária e sem lembranças daquilo que almejava.
Era um circulo sem fim, as ações se repetiram eternamente até o dia em que eles haviam se aproximado. Era estranho como a presença da mãe o deixava tenso. Sesshoumaru estava sempre preocupado de que ela o seguisse, falasse com Haru. Desde o primeiro dia naquele lugar ele a avisara para nunca ficar sozinha na floresta., ou conversar com Arashi. Estranho, o destino nunca as deixara se encontrar, mas a simples lembrança daquele nome a fazia estremecer e um sentimento que nunca sentira brotar em seu peito. Medo.
Naquela ultima noite, quando ele entrara em sua pequena casa e havia lhe dito que a mãe partiria, ela lutara para esconder o alivio que aquela noticia lhe causara. Era irracional, sabia, mas não conseguia evitar. Talvez aquilo fosse apenas um reflexo de todos os anos que havia passado escondida, ouvindo os comentários ferinos de Sesshoumaru sobre a própria mãe.
Alguns dias haviam se passado após a partida de Arashi. Sesshoumaru insistira que ela deveria morar no castelo com ele, agora que não havia mais razão para que ficassem separados. Haru negara, afirmando que estava perfeitamente bem ali. Se ele continuava a se preocupar com possíveis ataques, Jaken, aquela pequena coisa estúpida, a protegeria.
Ignorara o olhar contrariado e permanecera ali, por mais duas noites. Até encontrá–lo dormindo sob sua janela. Ele parecera tão determinado a permanecer a seu lado. A expressão relaxada como a de uma criança mesmo naquele local tão desconfortável que ela cedera. Finalmente entendera, a razão pela qual ele queria levá–la para o castelo não era por considerá–lo seu lar. Ela era seu lar.
Haru baixou os olhos para o jovem yokai que conversava com Inu no Taisho, um pequeno sorriso curvou seus lábios. No final, Sesshoumaru sentia o mesmo por ela. Por mais que tentasse inventar desculpas para sua insistência em voltar para um vilarejo do qual nem se lembrava, ele era a razão. Não importava o lugar em que estivessem, se ele permanecesse a seu lado seria o suficiente.
oOoOoOoOoOoOo
Sesshoumaru permaneceu parado, esperando que o pai lhe desse atenção, em meio a todos os soldados que o cercavam. Nunca antes vira tamanho alvoroço no castelo. A expressão preocupada do pai, a voz dura que não admitia réplicas enquanto ele passava instruções a seus subordinados. Observando de fora, com as poucas informações que conseguira arrancar dos primeiros yokais que retornaram ao castelo, aquilo parecia muito pior do que imaginara a principio. 'Muito pior do que qualquer coisa que Arashi já tenha feito...'
– Sesshoumaru. – A voz de Inu no Taisho chamou sua atenção – Venha, vamos conversar lá dentro.
O jovem yokai seguiu o pai em silencio. Em épocas como aquelas, em que o pai aparentava saber exatamente como e quando agir, Sesshoumaru voltava a se sentir como uma criança em seus primeiros passos. Querendo chegar a algum lugar, sabendo como, mas impossibilitado pelas circunstâncias.
– Pai... – Ele começou lentamente, enquanto via o pai fechar a pesada porta – Encontrou Arashi?
– Eu não esperava encontrá–la. – Um riso baixo e amargo brotou dos lábios do yokai mais velho – Apenas restos dos yokais do Clã do Norte, alguns cavalos mortos...
– Pai—
– Eu avisei àqueles tolos. Disse que deveriam tomar cuidado e não acreditar no que ela dissesse! – Inu no Taisho explodiu andando de um lado para o outro da sala. – Eu não devia ter confiado em servos para esse trabalho. Eu mesmo deveria ter levado Arashi de volta.
– E por que não o fez? – Sesshoumaru engoliu em seco quando o pai virou para encará–lo. – Por que não os acompanhou? Ela não teria fugido e causado todos esses problemas.
– Você não sabe de nada, Sesshoumaru. – O Yokai mais velho falou lentamente, pela primeira vez o pai parecia cansado – Seu avô não aceitou muito bem a traição de Arashi.
– Ele concordou em recebê–la de volta.
– Não por minhas mãos. – Inu no Taisho falou, virando–se para encarar o filho – Ele concordou em vir buscá–la, contanto que não me encontrasse. – Um sorriso triste curvou os lábios do lorde yokai – Mesmo com todas as provas, ele ainda considerou uma ofensa pessoal as acusações contra sua filha.
– Você não é o culpado.
– Seu avô não pensa assim... – Ele respirou fundo, sentando–se ao lado do filho – Eu deveria tê–la punido, moldado–a conforme minha vontade... – Observou o filho por alguns minutos em silencio, antes de desviar os olhos – O Clã do Norte é conhecido por suas ações... duras. Mesmo com as mulheres.
– Está dizendo...
– Que eles torturam aqueles que não concordam com suas ações. – O yokai mais velho respirou fundo. – De alguma forma, eu pensei que sua mãe ficaria mais calma aqui. Sabendo que estava segura de torturas, mas não foi o que aconteceu... – Ele voltou os olhos para a pequena parte do pátio que podia ser vista pela janela. – Quando os guardas chegaram aqui, sem a presença de seu avô, eu me ofereci para acompanhá–los na volta... – Sesshoumaru voltou os olhos para o pai e aguardou em silencio – Então eles me entregaram a carta... – Um sorriso triste distorceu as feições do yokai mais velho com as lembranças – Com a volta de Arashi, nossos clãs estavam rompendo qualquer tipo de ligação... Eternamente.
– Entendo. – Sesshoumaru baixou os olhos, pensando nas palavras do pai. – Sinto muito, eu não sabia.
– Não tem problema. – Inu no Taisho levantou, sem encara o filho – Nosso clã sobreviveu sem o deles por muito tempo, não há razão para ter duvidas quanto a isso agora.
O yokai mais novo concordou com um breve aceno. Queria acreditar nas palavras do pai, mas como se os fatos indicavam algo completamente diferente? O avô ficara ofendido por receber a filha de volta. Considerara uma ofensa os erros dela. Encarara aquilo conseqüência das ações calmas e bondosas de Inu no Taisho. Não havia como saber qual seria sua reação ao saber da fuga da filha ou das mortes de seus soldados.
– Minha mãe é a responsável pelos ataques?
– Não sei. – A voz do pai soou séria, carregada de raiva e tristeza – Não estava entre os soldados, portanto é quase certo afirmar que foi a responsável por suas mortes...
– Mas...?
– Mas, os ataques não se concentram em um único lugar. Parecem ser atos isolados, não podemos afirmar que ela os está fazendo ou comandando.
– Não temos provas.
– Não.
– Entendo.
– Vou aumentar as defesas do castelo e da vila. – Inu no Taisho falou, sua voz firme novamente – Os pequenos clãs perto das fronteiras foram avisados, espero que unam–se a nós ao menos para se protegerem. – Sesshoumaru concordou com um aceno, levantando para deixar o cômodo quando a voz do pai o parou. – Partirei em dois dias, você ficará encarregado da segurança do castelo.
– Aonde você vai?
– Procurar por Arashi.
oOoOoOoOoOoOo
Arashi observava os soldados de Inu no Taisho procurando por ela. Mesmo com todos aqueles yokais e o perfume das flores a seu redor, ainda conseguia distinguir o cheiro familiar do marido. Sabia que ele estava por perto, e ao mesmo tempo que tal conhecimento lhe trazia satisfação por tê–lo afastado do castelo, também lhe trazia repulsa e apreensão. Deu um passo para trás, fazendo uma careta de desgosto quando sentiu o tecido encharcado colar em sua pele.
Baixou os olhos para suas roupas, observando com pesar o estrago que aquelas semanas ao relento haviam causado em sua aparência. A fina seda de seu quimono estava rasgada em vários locais. As delicadas flores, que outrora decoravam o tecido, jaziam desbotadas fazendo um contraste interessante com as muitas, e pequenas, manchas de sangue e barro. Não importava quantas vezes tentasse livrar–se daquilo, elas permaneciam ali como provas de cada ato que tinha cometido. Eram a prova viva das dificuldades que enfrentara para realizar seu plano. Um estímulo a mais para se vingar daqueles que tinham usurpado a vida perfeita que levara anteriormente.
Sorriu, saltando de uma arvore para a outra quando os soldados se afastaram. A vingança tinha um gosto tão doce... Principalmente quando tempo suficiente passa para lhe dar mais e mais idéias sobre o que fazer com o objeto de sua raiva.
Parou de repente ao chegar na ultima fileira de arvores que cercavam o castelo. Orbes dourados brilharam com satisfação enquanto observavam o 'território inimigo'. Inu no Taisho caíra em sua armadilha tão facilmente.
Humanos. Essa sempre havia sido sua fraqueza. Só precisara ameaçar alguns deles e o sempre 'bondoso e preocupado' senhor saía para protegê–los. Agachou em um dos galhos, escondida pelas folhas, o sorriso aumentando ao perceber a movimentação em uma das janelas. Apertou o tronco em que se apoiava, as afiadas garras afundando na madeira com um rangido baixo enquanto imaginava que aquilo era o corpo da garota humana.
'Deixando meu verdadeiro alvo desprotegido...'
oOoOoOoOoOoOo
Haru observava entediada o entrar e sair de pessoas do castelo, mais de uma semana se passara desde a partida de Inu no Taisho e as coisas pareciam piorar a cada instante. O dia em que discutira com Sesshoumaru por não poder deixar as muralhas parecia tão distante em sua mente, o sentimento de prisão daquele momento em nada se comparava com o dos últimos dois dias quando fora proibida de deixar o castelo.
'Muitos soldados apressados, vai acabar se machucando' Fora o que ele dissera, o mesmo tom frio e distante que utilizava desde que discutiram. Ele parecia cada vez mais distante, aquele brilho de culpa que sempre via nos olhos dourados intensificando–se a cada dia. Queria poder conversar com ele como costumavam fazer, mas não havia um só minuto de paz com aquelas malditas patrulhas indo e voltando a cada momento.
A garota humana suspirou, ajeitando–se no parapeito da janela, os olhos fixos no portão principal aguardando pela volta do marido. Ele saíra na noite anterior quando um incêndio no vilarejo atraíra a atenção de todos e a deixara com aquela sensação de angustia.
oOoOoO FlashbackOoOoOo
Os gritos dos yokais misturados com o das pessoas do vilarejo a acordaram na noite anterior. Levantara–se, correndo para a janela sem pensar. A luz das chamas, visíveis da janela do andar superior chamando sua atenção e libertando lembranças que não pensava possuir.
Estremecera de medo por algo que não conseguia nomear, um grito escapando de seus próprios lábios sem que percebesse e chamando a atenção do marido que dava ordens no pátio. Quando deu por si, Sesshoumaru estava a seu lado, abraçando–a e afastando–a da janela, murmurando palavras de conforto e ajudando–a a deitar novamente.
Palavras desconexas escaparam de seus lábios, suas mãos agarraram as dele. O corpo todo tremendo com algo que nunca sentira antes. Pavor.
Mantinha os olhos arregalados e mesmo assim não conseguia se livrar das imagens das chamas que a rodeavam, o cheiro de sangue, a voz de sua mãe gritando, a imagem de seu pai desaparecendo em meio as labaredas. A fumaça preenchendo seus pulmões, queimando suas narinas. A voz de Sesshoumaru.
'–Vou tirar você daqui, Hana–san. Onde estão os outros?'
A sensação do sangue de sua mãe ensopando suas roupas, manchando seus dedos que agarravam–se a ela.
'–Mortos. Apenas Haru e...'
As lágrimas percorrendo o rosto de sua mãe e caindo sobre sua própria face, fazendo–a acompanhá–la naquele ato inútil.
'– O que houve, Hana–san?
– Tire Haru daqui.
– Não posso deixá–la, não vou conseguir entrar novamente...
– Não estou pedindo para voltar. Eu disse... Para salvar... Minha filha.'
– Não! – Haru gritou, agarrando–se mais as mãos que tentavam segurá–la na cama, impedindo–a de levantar – Não, mamãe. Não! – Ela continuou gritando enquanto empurrava as mãos que a seguravam, ignorando os pequenos cortes que as garras afiadas faziam em sua pele na tentativa de acalmá–la.
– Haru... – Sesshoumaru murmurou, entendendo por fim o que acontecia. Afastou as mãos do corpo delicado, observando–a piscar para clarear a visão – Eu sinto tanto...
– Não a deixe morrer... – A garota murmurou, sua voz cheia de sofrimento enquanto as lagrimas deslizavam por seu rosto incessantemente – Por favor, não a deixe a morrer... – Sentou–se na cama, o corpo tremendo com a mistura de medo e angustia que a atingia.
– Perdão, Haru... – O jovem yokai apenas a abraçou em silencio, afundando o rosto em seus cabelos e acariciando suas costas. – Você não deveria ter lembrado disso... – Ele continuou murmurando enquanto ela chorava em silencio contra seu ombro. Cada soluço fazendo–o sentir uma profunda dor em seu peito. – Eu não queria vê–la chorar...
oOoOoOFim do FlashbackOoOoOo
Haru enxugou as lágrimas que haviam se formado em seus olhos novamente sem que percebesse. Não conseguia se lembrar de alguma vez ter chorado por algo, e desde a noite anterior simplesmente não conseguia controlá–las. Baixou a cabeça, escondendo o rosto nas mãos, tentando controlar o tremor que passava por seu corpo quando ouviu a voz de Sesshoumaru.
'Eu não queria vê–la chorar'
Levantou o rosto, procurando pela figura do marido a sua volta e só então percebeu que ele não estava ali. Era apenas uma lembrança da noite anterior, a ultima coisa que o ouvira dizer antes que adormecesse exausta em seus braços.
Endireitou o corpo, forçando o costumeiro sorriso aparecer em seus lábios e ergue–se de seu assento. Tinha que continuar a sorri, por ele.
Respirou fundo algumas vezes, sentindo o corpo relaxar aos poucos e dirigiu–se as escadas. Precisava dormir um pouco, por mais que olhasse para os portões, desejando seu regresso, não conseguiria realizar seu desejo. Precisava ficar sozinha, sem todo aquele burburinho a sua volta.
Caminhou lentamente pelo corredor, cada passo custando–lhe um esforço absurdo para tal simples ato e empurrou a porta do quarto que dividia com Sesshoumaru. Arregalou os olhos com o barulho da explosão vindo do pátio e apressou–se em correr para a janela. As ordens gritadas dos yokais atraindo sua atenção e apagando qualquer pensamento racional de sua mente.
Outra explosão seguiu–se a primeira, fazendo–a sentir o chão sob seus pés estremecer. Ela parou a poucos metros da janela, a cabeça girando com o som alto e agarrou–se a cama em busca de apoio.
O barulho de espadas se chocando, misturado aos gritos no pátio atraíram sua atenção e ela forçou–se a continuar a caminhar na direção da janela. Parou, um grito abafado escapando de seus lábios quando um vulto apareceu em sua janela.
Cabelos prateados e olhos dourados, o rosto de tez pálida, as conhecidas marcas nas bochechas. Piscou, baixando os olhos pelo corpo da figura que pulou para o interior do cômodo, incrédula demais para pensar em fugir. O kimono de seda creme, que já vira dias melhores, cobria a mulher que sorria em sua direção.
– Então, querida Haru – Arashi sorriu, sua voz adquirindo o tom falsamente doce. – Parece que voltamos a nos encontrar...
– Você é...
– Arashi, a mãe de seu... – Uma expressão desgostosa distorceu as feições delicadas antes que a mulher yokai conseguisse completar. – Marido.
Haru arregalou os olhos e virou–se para correr, mas antes que conseguisse chegar a porta duas mãos a seguraram. Fechou os olhos, sentindo as garras afundarem na pele delicada de seu pescoço e o riso da mulher soar em seus ouvidos. Abriu a boca tentando gritar por ajuda e gemeu com o corte em sua pele antes que seus lábios fossem cobertos pela outra mão.
– Aquele inútil não lhe deu educação? – Arashi murmurou parecendo decepcionada – Ele é frouxo como o pai... Não entende que as pessoas aprendem apenas de uma maneira... – Sorriu, apertando mais o pescoço da garota. – Não se preocupe, querida. Eu vou ensiná–la...
oOoOoOoOoOoOo
– Sesshoumaru–sama!
O jovem yokai virou–se na direção da voz esganiçada que gritava seu nome. Arqueou uma sobrancelha para a figura verde e marron que corria em sua direção, os olhos arregalados e cheios de lágrimas. Comprimiu os lábios, ignorando os gritos de Jaken tentando imaginar o qual seria a reclamação do yokai incompetente dessa vez. Talvez Haru tivesse batido nele novamente. Esse sim era um pensamento agradável.
– Sesshoumaru–sama! – O pequeno yokai caiu aos pés de seu mestre arfando pela corrida.
– Se for algo inútil novamente, vou castigá–lo pessoalmente.
– O castelo, senhor! – Jaken conseguiu pronunciar, sua voz soando mais aguda – Estamos cercados!
– O que disse? – Sesshoumaru perguntou, seus olhos voltando–se na direção da floresta.
– Estão nos atacando.
– Impossível, ninguém... – As palavras perderam–se em meio ao estrondo de uma explosão. O jovem yokai deu um passo na direção da floresta, sentindo seu coração parar de bater por um segundo enquanto a fumaça subia no céu. – Haru... – Foi a ultima coisa que pronunciou, seus olhos adquirindo um tom avermelhado enquanto corria pela floresta e antes mesmo que notasse estava em sua verdadeira forma, cruzando rapidamente o pequeno espaço que o separava do palácio.
oOoOoOoOoOoOo
Sesshoumaru caminhava pelos destroços do que havia sido a muralha que cercava o castelo do Clã do Oeste. Ignorava os olhares sobre sua figura coberta de sangue, os yokais inferiores que haviam causado tal destruição não haviam sido problema para sua ira. Pulou para o telhado e parou em frente a janela do próprio quarto, observando inutilmente o cômodo vazio pelo que devia ser a décima vez na ultima meia hora.
Sua força. Sua posição. Sua agilidade. As vidas que tirara. Tudo havia sido em vão.
Haru não estava ali.
Os ataques haviam sido apenas uma distração. O incêndio no vilarejo, a destruição do castelo. Tudo fazia parte de um plano para algo maior. Fechou os olhos, inspirando profundamente, deixando o conhecido cheiro de sua mãe penetrar em suas narinas. Arashi pagaria pelo que tinha feito.
– Isso não acabou, mamãe.
oOoOoOoOoOoOo
Sesshoumaru caminhava cuidadosamente pela trilha escondida em meio às arvores. Com esforço sobre humano mantinha sua respiração calma, assim como as batidas de seu coração que a cada segundo ameaçam disparar. A cada passo cuidadoso, podia sentir o cheiro de sangue humano mais forte e isso apenas o deixava mais aflito. Podia reconhecer o cheiro de Haru, aquele não era um humano qualquer.
Não lembrava de algum dia ter sentido aquilo. O coração ameaçando disparar, o arrepio que percorria sua espinha, o suor frio que percorria seu rosto. 'Medo' O jovem Yokai saltou para os galhos mais altos da arvore a sua frente e fechou os olhos, tentando inutilmente as imagens que apareciam a frente de seus olhos.
Uma outra manhã como aquela. Arvores cercando uma clareira e o mesmo doentio cheiro de sangue humano. Era incrível como mesmo depois de tanto tempo esse tipo de lembranças fosse tão nítido como no dia em que tinham acontecido. Fechou os olhos com força, balançando a cabeça para afastar as imagens quando o rosto de Tenko transformou–se no de Haru.
Respirou fundo, apoiando as costas no tronco da arvore, o cheiro do sangue invadindo suas narinas e impedindo–o de pensar em outra coisa além do corpo delicado de sua mulher coberto por cortes, finos e profundos, feito pelas garras de Arashi. Fechou as mãos, afundando as próprias garras em suas mãos, a dor fina finalmente libertando–o da cena macabra que sua mente criara.
oOoOoOoOoOoOo
Arashi caminhava de um lado para o outro da clareira, Haru perdera a consciência algum tempo atrás deixando–a sem ter o que fazer. Inútil garota humana, como ousava adormecer a cada meia hora e deixá–la esperando?
Podia sentir o filho se aproximando novamente, os últimos dias haviam sido divertidos. Contar cada pequeno detalhe do que tinha feito com sua família, ver a angustia que suas palavras causavam na garotinha estúpida que continuava a olhar em sua direção. Fugir a cada vez que Sesshoumaru se aproximava demais, mas como toda diversão aquela estava chegando ao fim.
Os olhos verdes de Haru não possuíam mais o brilho de esperança do primeiro dia, ela não mais tentava se libertar ou lhe respondia de maneira dura. Essa fora a gota d'água que a levara a começara a feri–la. Precisava que aquela garota estúpida reagisse. Qual a graça de uma vitima que não sentia medo? Que não chorava ou gritava em revolta?
Parou de repente, voltando–se para a garota amarrada, ainda desacordada. Estreitou os olhos, irritada por a satisfação que tanto esperava para conseguir não ser como a que imaginara.
Sim, estava na hora de deixar o filho encontrá–las e dar o golpe final.
Arashi sorriu consigo mesma ao imaginar a reação do filho. Quando ele finalmente as encontrasse não teria a chance de salvar sua mulher, apenas de vê–la sangrar em suas mãos, talvez morrer em seus braços. Sim! Seria uma vingança especialmente doce se a adorável Haru morresse nos braços de Sesshoumaru.
Estreitou os olhos, o riso brotando de seu peito e acordando a garota. Podia sentir o cheiro do filho mais forte, apesar de nenhum barulho denunciar sua presença. Ele estava chegando.
oOoOoOoOoOoOo
Sesshoumaru observava a pequena clareira, escondido na copa de uma arvore próxima. Parecia tão baixo fazer aquilo, esconder–se de uma mulher, mas sabia que no momento que Arashi notasse sua presença faria algo contra Haru e queria adiar esse momento o máximo possível.
A mãe caminhava de um lado para o outro, murmurando coisas incoerentes vez por outra, e observando a garota desacordada como se ela fosse transformar–se em um monstro se deixasse de fazê–lo continuamente.
Observou–a parar, o riso descontrolado ecoando na clareira antes que voltasse os olhos dourados em sua direção, quase como se soubesse que estava ali. Sentiu o corpo congelar, na tentativa de não atrair sua atenção e por alguns minutos achou que tinha conseguido.
Fechou os olhos, pensando no que fazer a seguir quando ouviu os passos apressados, seguidos por um gemido de dor. Abriu os olhos, o terror tomando conta de seus sentidos ao notar o brilho perigoso das garras deslizando pelo pescoço de Haru.
– Então, filhinho... – Arashi falou com deboche – Não quer se juntar a nós?
'Maldita seja você.' Sesshoumaru pensou, observando a garota abrir as pálpebras com dificuldade e buscar por ele.
– Haru tem chamado por você... – A yokai falou calmamente, o sorriso nunca deixando seus lábios. – Se bem que, depois que contei como a morte de sua família não teria acontecido se você houvesse obedecido minhas ordens...
– Sesshoumaru...
– Cale a boca, ingrata! – Arashi gritou, desferindo um tapa na face pálida e machucada da garota – Sua raça é incapaz de aprender?
Antes que percebesse, Sesshoumaru havia pulado para o chão e aproximado–se rapidamente das duas. Podia ouvir o gemido fraco de Haru e sentir a ira da mãe. 'Não era assim que devia acontecer...'
– Acho que não fui severa o bastante... – Arashi agarrou a garota pelo pescoço, afundando as garras em sua pele e sorrindo ao sentir o liquido pegajoso escorrer por seus dedos – Ou descritiva o bastante... – Virou–se para o filho, o sorriso aumentando ao perceber a expressão perturbada em seu rosto – Mas tenho que admitir que você escolheu uma humana interessante, meu filho.
– Não me chame assim. – O jovem yokai murmurou entre dentes, parando ao ver a mão puxar o corpo frágil da garota contra si, aumentando a pressão em sua garganta.
– Sabia que ela não chorou? – Arashi perguntou em voz baixa, deslizando uma garra pelo rosto da garota – Nem uma vez, nem mesmo quando eu contei como foi divertido incendiar sua casa...
– Pare...
– Ou como o cheiro de sangue de sua família foi um verdadeiro perfume para mim...
– Pare. – Ele repetiu, podia ver a expressão vazia dos olhos verdes e a lembrança da ultima noite que passaram juntos, o modo como o corpo delicado estremecia em seus braços enquanto chorava pela lembrança do que havia perdido voltara a sua mente. – Pare, Arashi!
– Mamãe. – Ela o corrigiu. – Tem que ser respeitoso com os mais velhos.
– Você vai se arrepender de não ter fugido quando teve a chance.
– Ameaças. – Ela falou, retorcendo os lábios em desgosto – Insultos. – Deslizou a mão delicada pelo rosto da garota, sem desviar os olhos do filho – Desrespeito. – Estreitou os olhos levemente, e com um movimento rápido rasgou parte do kimono da garota, cortando a pele de seu ombro direito – Estou ficando cansada disso.
Sesshoumaru deu um passo para frente e parou ao ver a mãe repetir o movimento e o sangue brotar, encharcando o kimono claro da garota que não emitiu um só gemido de dor. Os olhos verdes apenas brilharam com as lágrimas que ela não chegou a derramar enquanto mordia o lábio inferior com força.
– Eu não disse que podia se aproximar mais.
– Deixe Haru em paz, é a mim que quer castigar... – Fechou as mãos, afundando as garras nas palmas antes de forçar–se a completar – Mamãe.
– Bom menino... – Ela sorriu, afastando as garras da pele da garota e voltando a apenas segurá–la contra si – Mas, devo completar, que castigo melhor para um filho rebelde do que destruir seu brinquedo favorito?
– Sabe que vou matá–la assim que Haru estiver fora do caminho.
– Claro, mas você sabe o que quer dizer com 'quando Haru estiver fora do caminho'? – Arashi começou a rir, afastando–se com a garota quando o filho avançou – Você e seu pai já me destruíram, tudo o que restou foi me vingar nessa garota estúpida!
– Deixe–a ir, mamãe... – Sesshoumaru falou lentamente, estendendo a mão sem tentar se aproximar novamente – Solte minha mulher e a deixarei partir.
– Eu não vou soltá–la com vida, seu estúpido! – Arashi gritou, segurando a garota com mais força ao senti–la estremecer – Quando você vai aprender que yokais não são bonzinhos?
– Solte–a! –Ele gritou, ignorando o levantar de sobrancelha irônico da mãe – Ou eu juro que não importa a guerra que comece, não importa o castigo que tenha que receber por matar minha própria mãe, vou fazê–lo com minhas próprias mãos.
– Você a quer tanto assim? – Arashi sorriu, diminuindo a pressão das mãos sobre a garota – Tudo o que tenho que fazer é soltá–la? – Desviou os olhos do filho para as arvores – Talvez você tenha razão... Foi divertido enquanto durou, não foi?
Sesshoumaru permaneceu impassível, a atenção fixa nos movimentos da mãe. Aquele olhar frio e satisfeito era um velho conhecido. Tinha certeza que ela estava pensando em algo, uma ultima cartada antes de fugir novamente. Sua única chance era agir antes que Arashi tivesse a chance de concretizar o que quer que estivesse planejando.
Lançou um ultimo olhar para o rosto da garota, e a viu cerrar as pálpebras, cansada demais para continuar desperta. 'Perdoe–me, Haru.'foi seu ultimo pensamento antes de cortar o pequeno espaço que os separava.
Parou de repente quando a garota despencou em seus braços, os olhos verdes se abriram em choque e ela murmurou seu nome com a voz rouca e cheia de sofrimento. Abraçou–a forte contra seu peito, afundando o rosto em seus cabelos, as mãos deslizando pelas costas delicadas e encharcadas de sangue.
Abriu os olhos de repente, dando–se conta do que tinha acontecido. O riso da mãe preenchia seus ouvidos enquanto ele observava perplexo as próprias mãos cobertas pelo sangue de Haru. Caiu de joelhos, ainda abraçando o corpo frágil contra si, os olhos procurando desesperadamente por algum sinal de vida. Algum sinal de que aquilo não estava acontecendo.
– Não pode reclamar, querido...
O jovem yokai ignorou a voz da mãe, a irritação com aquele tom falsamente doce, que ela usava propositalmente para atormentá–lo, passando desapercebida enquanto tocava o rosto de Haru em uma tentativa vã de acordá–la.
– Você disse que eu devia soltá–la, foi o que fiz.
Sesshoumaru fechou os olhos, ouvindo as batidas fracas do coração da garota em seus braços, a respiração começando a falhar enquanto o sangue brotava das feridas, encharcando o que restara do kimono e manchando suas roupas. Repetiu seu nome vezes sem conta, com a esperança de fazê–la voltar a si, ignorando a promessa que tinha feito de matar a mãe assim que Haru estivesse fora do caminho.
'– Claro, mas você sabe o que quer dizer com ' quando Haru estiver fora do caminho'?' A pergunta que a mãe lhe fizera a poucos minutos voltou a sua mente, fazendo–o voltar a realidade.
– Eu juro que se começar a chorar agora eu vou—
– Cale a boca! – Ele falou impassível, erguendo a cabeça lentamente – Eu sempre soube que você era estúpida e louca, mas não a ponto de esperar pela morte sem nem ao menos tentar fugir.
– E perder a cena final? – Ela perguntou com um sorriso satisfeito – Nunca.
– Essa foi a ultima vez que você interferiu em minha vida. – Depositou a garota no chão delicadamente e começou a levantar, podia sentir seu auto–controle falhando, mas essa era a ultima coisa que o perturbava no momento.
– Não... – Um murmúrio quase inaudível atraiu a atenção do jovem yokai e ele olhou esperançoso para a garota segurando sua manga fracamente. Abaixou o rosto próximo ao dela, ouvindo as palavras murmuradas com dificuldade. – É o que ela quer... fazer você... ficar como... ela.
– Haru, você não... – Afastou–se o suficiente para olhar para ela e estremeceu com a falta de vida nos olhos verdes. Fechou os olhos, tentando ouvir as batidas ainda fracas do coração da garota humana e gritou quando sua única resposta foi o silencio.
– Final emocionante, pena não podermos vê–lo novamente!
Sesshoumaru levantou–se lentamente, os olhos ainda fechados enquanto erguia–se a cabeça. Sentiu a brisa, que até aquele momento não notara, e abriu os olhos lentamente, a raiva aumentando ao ver a satisfação no rosto delicado da mãe, o riso enlouquecido rodeando–o, minando o pouco que restava de sua resistência.
– Ela lhe pediu para ser feliz mesmo depois de sua morte? – Arashi perguntou, dando um passo para trás, as palavras misturando–se ao riso descontrolado – Talvez para escolher outra humana imunda para ter filhos bastardos e—
– Ela me pediu para poupar sua vida inútil. – Sesshoumaru falou friamente, os olhos dourados lentamente tornando–se avermelhados enquanto sua voz adquiria um tom gutural – Infelizmente é um pedido que não poderei atender.
– Ameaça interessante... – Ela continuou sorrindo – Acha que conseguira cumpri–la?
– Tenho certeza. – As palavras perderam–se no vento enquanto ele avançava na direção de Arashi, transformando–se em um grande cão branco enquanto se aproximava da mulher que continuava a rir, os olhos transbordando satisfação ao observá–lo tomar sua verdadeira forma.
– Plano perfeito... – Ela murmurou, as palavras carregadas pelo vento chegaram até o jovem yokai fazendo–o titubear por alguns minutos, mas não o suficiente para que ele parasse.
Observou–a abrir os braços, fechando os olhos e aguardando pela morte. Sesshoumaru abriu a boca, pronto para abocanhá–la quando um vulto branco, com o dobro de seu tamanho pulou a sua frente, empurrando–o para longe e atacando a mulher yokai.
Arashi gritou angustiada, seus olhos fixos no filho voando para longe e colidindo contra uma arvore próxima.'Maldito Inu no Taisho... Sesshoumaru deveria me matar...' Foi a ultima coisa que cruzou sua mente antes que a dor se tornasse forte demais e ela deslizasse para a escuridão que tanto desejara.
oOoOoOoOoOoOo
Sesshoumaru despertou com algo frio contra seu rosto, piscou reconhecendo a figura do pai e por alguns minutos, em sua mente confusa, pensou que ele estava chorando. Piscou repetidas vezes até que a imagem entrou em foco e conseguiu reconhecer o tecido molhado contra sua pele.
Afastou a mão de seu rosto e sentou–se, empurrando pai para o mais longe possível. Passou as mãos pelos cabelos úmidos, afastando–os do rosto enquanto buscava por controle. Respirou fundo, sem conseguir encará–lo e as palavras escaparam de seus lábios sem que conseguisse conte–las.
– Por que?
– Foi a ultima coisa que ela pediu, não foi? – Inu no Taisho perguntou calmamente, indicando o corpo enrolado em suas vestes a alguns passos de distancia. – Eu o ouvi, não podia permitir que não realizasse o ultimo desejo de sua esposa.
– A vida de Arashi era minha.
– E sua morte minha. – O yokai mais velho retrucou friamente – Esqueça–se disso, Sesshoumaru, há coisas mais importantes para pensar no momento.
O jovem yokai ergue–se lentamente, aproximando–se do corpo inerte da garota. Desejava vê–la mais uma vez, mas algo o impedia de descobrir seu rosto. Fechou os olhos, apertando as mãos contra o próprio corpo, observando o leve movimento do tecido, em resposta a brisa noturna.
Inu no Taisho permaneceu afastado do filho, observando–o em silencio. Sabia não haver palavras ou atos que o fizessem sentir–se melhor, e não importa o que ele pensasse no momento, matar Arashi tampouco o faria sentir–se melhor.
'Você tinha razão, meu filho... Eu devia ter acabado com ela a muito tempo atrás.' Ergueu os olhos para o céu noturno, salpicado com as milhares de estrelas brilhando 'Mais uma vez eu cheguei tarde demais...'
oOoOoOoOoOoOo
Sesshoumaru observava a floresta que cercava o palácio em silêncio, ignorando o brilho incomodo dos primeiros raios de sol que feriam seus olhos. Já não lembrava mais quanto tempo fazia que se encontrava naquela mesma posição, apenas parado, perscrutando o horizonte. Tinha a impressão de que se ficasse ali por tempo suficiente Haru entraria no quarto, um sorriso cruzando seu rosto, chamando seu nome... Trazendo a primavera de volta para sua vida.
Fechou os olhos, vencido pela exaustão. Não queria mais dormir, ter sonhos que desvaneceriam no momento em que voltasse ao mundo real. Queria abrir os olhos novamente, continuar em sua vigília inútil por algo que não voltaria. Queria continuar agarrado aquele pequeno e frágil pedaço de esperança de que as coisas iriam ser diferentes. Viver em um eterno inverno era algo insuportável para alguém acostumado a beleza e esplendor da primavera.
– Sesshoumaru? – A voz do pai trovejou no quarto, despertando–o. – Precisa descer e se alimentar.
– Não estou com fome. – O rapaz murmurou, a irritação presente em sua voz. Enquanto ele abria os olhos, deparando–se com a escuridão da noite. – Quanto tempo...?
– Dois dias. – Inu no Taisho falou seco – Praticamente desmaiou de exaustão. A serva que o encontrou saiu gritando por todo o castelo.
– Entendo...
– Não. Você não entende. – O yokai mais velho o cortou. Respirou fundo antes de virar para encarar o filho – Não ouve os boatos? Os servos dizem que você enlouqueceu como sua... – Ele parou de falar, percebendo o rápido brilho sofrido nos olhos dourados a sua frente. – Não pode se deixar abater dessa maneira... Haru não gostaria de vê–lo assim.
– Quem se importa? – O rapaz levantou, as garras afundando as garras em sua palma, em uma tentativa frustrada de se acalmar. – Ela não está aqui para ver, está?
– Não pode achar que ela é a culpada por isso.
– Eu tenho que pensar, pai. – Caminhou até a janela, os orbes dourados perdendo–se na escuridão – Porque de outra maneira, terei que encarar a verdade... Eu sou o culpado.
– Por ter se apaixonado por uma humana?
– Por ter falhado em protegê–la.
oOoOoOoOoOoOo
Anos transformaram–se em décadas em um piscar de olhos sem que os dois inu yokais sequer percebessem o que acontecia a sua volta. A tragédia que um dia os unira apenas separando–os a medida que as outras pessoas envolvidas esqueciam–se do ocorrido ou morriam vitimas do tempo.
A muralha que costumava proteger o castelo do Clã do Oeste nunca foi reconstruída, permaneceu em ruínas como uma lembrança física de outras coisas que haviam sido destruídas por Arashi. Um símbolo do laço que havia sido quebrado eternamente.
O tempo não cura um coração partido, tampouco faz a dor diminuir. Perder alguém que amamos forma uma ferida que nunca irá cicatrizar. A culpa pelo que fomos incapazes de realizar nunca irá nos abandonar e nos deixará com duas opções para seguir em frente. Amar novamente, ou desprezar esse sentimento que nos torna tão fortes e fracos ao mesmo tempo.
Cada um deles seguiu um caminho diferente, distanciando–se cada vez mais a medida que afundavam em sua escolha. Reconstruindo suas vidas de maneiras diferentes apesar de buscarem o mesmo ideal.
Proteger alguém. Proteger a si mesmo. Buscar o sonho de que algum dia haveria novamente um poderoso Clã yokai que buscava apenas viver em paz.
Quando Inu no Taisho finalmente encontrou o que procurava nos braços de uma humana, Sesshoumaru partiu. Ver que o pai conseguira encontrar o que tanto desejava era demais. Uma lembrança constante de tudo o que um dia tivera em suas mãos e perdera. Podia conviver com a dor, mas não com as lembranças do que jamais voltaria a usufruir. Ainda sentia–se fraco demais, incompetente demais, vazio demais para presenciar o sucesso de outros.
Ainda era fraco demais para buscar pelo próprio sucesso.
oOoOoOoOoOoOo
Alguns anos depois, os boatos da luta de seu pai contra Ryukotsusei fizeram com que Sesshoumaru retornasse. Não conseguia entender a razão, apenas sabia que precisava vê–lo novamente.
Quando chegara àquela praia, guiado pelo cheiro de sangue de seu pai, ele entendeu o que o havia chamado de volta. Inu no Taisho estava ferido, provavelmente mortalmente. O sangue que escorrida por seu braço, formando uma poça na areia branca a seus pés dava–lhe uma falsa aparência frágil, apagando qualquer palavra que tivesse ensaiado em pronunciar.
'E mesmo assim ele quer ir atrás de Izayoi...'
Por alguns minutos o jovem yokai permaneceu parado, apenas observando a figura imponente do pai, imaginando se algum dia seria capaz de superá–lo. Era algo estranho, viviam em um mundo de guerra. Seguiam caminhos diferentes e por mais vezes do que conseguia se lembrar havia desejado lutar e vencê–lo, mas agora, parado ali e observando seu progenitor não conseguia pensar em mais nada além de correr em sua direção e ampará–lo.
Balançou a cabeça, afastando tais pensamentos. Essa época, onde caminhavam juntos em busca de um mesmo ideal havia passado. Destruídas pelas mãos da única mulher que realmente os unira e separara com a mesma facilidade. Depois de tantos anos lutando contra essa idéia, finalmente conseguia admitir a derrota. Arashi realmente conseguira vencê–los, destruí–los, separá–los.
Alguma parte sua murmurava uma fraca ordem para que partisse, afastasse–se do pai e tudo o que representava, mas havia chegado tão longe e sabia que sua presença havia sido percebida. Precisava ir até o fim, se ele desejava perder sua vida lutando inutilmente, que assim fosse.
# – Vai mesmo partir, pai?
– Quer me impedir, Sesshoumaru?
– Não vou te impedir, mas antes que vá... As presas, quero que entregue–me Souunga e Tessaiga.
– Se eu disser que não entregarei... Vai matar seu próprio pai? Você quer mesmo tanto poder? Por que busca tanto poder?
– O caminho que irei seguir é o da dominação, e força é o meio que irá abrir esse caminho.
– Dominação... Sesshoumaru, você tem alguém para proteger?
– Pessoa para proteger? Uma coisa dessa, não é necessária para mim. #
Sesshoumaru observou impassível enquanto a figura de seu pai tomava a forma do grande cão branco. Forçou–se a permanecer com os olhos abertos enquanto a brisa movia seus cabelos e o pai corria na direção da floresta. Havia tantas coisas que os haviam separado. Entendia a relutância do pai em entregar–lhe as presas, mas tinha que pedi–las mesmo assim.
'Alguém para proteger...Ele disse' A brisa salgada soprou novamente, trazendo o cheiro metálico junto com o salgado do mar. Seus olhos foram atraídos para as poças de sangue que manchavam a areia.
' Quando vai entender, pai?' Respirou fundo antes de forçar–se a caminhar novamente, não queria encarar a verdade que aquela podia ser a ultima vez que tivera a chance de encontrá–lo.
'Não posso ter alguém para proteger enquanto não for forte o bastante...' o som das ondas quebrando próximo a seus pés não apagava aquele sentimento de angustia e impotência. Nada mais restava do mundo que havia desfrutado. A paz, o amor, a segurança e a promessa de ser realmente feliz. Tudo havia morrido com Haru. 'Não permitirei que aconteça novamente.'
' Dominação... Isso é tudo o que resta para mim' Fechou os olhos, perguntando–se se teria a chance de observar orbes iguais as suas novamente. Olhares amorosos e doces promessas de dias quentes e perfumados como apenas a Primavera poderia trazer.
' Talvez um dia... Quando eu superá–lo, meu pai, eu possa fazer sua vontade e ter novamente alguém para proteger' virou–se para observar o céu noturno, salpicado de brilhantes estrelas que circundavam a lua. Ondas maiores se formaram e mesmo assim ele permaneceu parado, encarando aquela imensidão que tinha a capacidade de fazê–lo se sentir ainda mais solitário.
– Eu apenas gostaria que nesse dia... O senhor estivesse ao meu lado, meu pai.
Tradução dos nomes
Eu traduzi e expliquei os nomes para que vocês entendessem as metáforas que eu usei quanto as estações durante fic :P
Tesaki – Fantoche
Achei que esse seria um nome adequado a noiva escolhida para Sesshoumaru por Arashi. Afinal, ela não passava de um fantoche sem vontade própria nas mãos da adorável mãe de Sesshoumaru.
Arashi – Tempestade.
Eu tinha achado um outro significado para essa palavra a principio, mas simplesmente não consigo lembrar ou achar. Mas tempestade tem muito a ver com Arashi.
Poderosa, incontrolável, imprevisível, bela e destruidora.
Hana – Flor
A mãe de Haru.
Eu gosto do nome e achei que combinaria com a leveza que eu queria para o personagem.
Bela, forte e, infelizmente, de vida curta.
Natsu – Verão
A irmã gêmea de Haru.
Não houve nenhuma razão em especial para esse nome além de fazer uma comparação com as estações.
Haru – Primavera
Bem obvio, não é?
Ela trouxe beleza, paz e prazer a vida de Sesshoumaru. Qual melhor nome que a estação que representa renascimento para alguém que traria uma breve calmaria para a vida dele?
Tenko – Inverno
O irmão mais velho de Haru.
Achei que a estação da 'morte' combinava com alguém que teve uma morte tão repentina e fria como a dele.
N.A. – Finalmente o fim!
Que coisa mais complicada! Eu já contei que odeio escrever finais?
Fico completamente paranóica e tenho uma dorzinha por não mais ter que escrever aquele fic em particular, mas como tudo tem que ter um fim, aqui está!
Só quero deixar bem claro que esse dialogo final ( a conversa entre Sesshy e Inu no Taisho, marcadas pelos # ) foi retirado literalmente do começo do movie3 de InuYasha. Eu não o escrevi! Essa é a razão de não haver narração no meio das falas, apenas antes e depois.
Essas poucas palavras que dão inicio ao filme foram minha inspiração e eu sempre soube que estariam no final do fic para fazer uma espécie de ligação entre o que eu criei e o que está lá no original. :D
Muito, muito obrigada a quem acompanhou o fic apesar de minhas constantes demoras. Fico feliz ao saber que a apreciaram assim como eu aforei escrevê–la.
Reviews do ultimo capítulo:
Kisamadesu – Obrigada! Principalmente por ler esse capítulo incontáveis vezes, cheio de lacunas onde eu ia completando aos poucos com cenas cada vez mais malucas.
Eu acho que chamei o Jaken de coisinha verde e marrom de novo nesse capítulo XD
Miss Yuy – Eu demorei uma eternidade para postar o final, espero que você o leia e aprecie :)
Nazumi – Nem sei o que dizer...
CaHh Kinomoto – Você me perguntou ontem quando eu postaria o final, e eu disse que não ia demorar... XD
Espero que goste.
Maltratar o Jaken é tão divertido :P
DannyMoon – Não sei se para sua felicidade ou tristeza, terminou :)
Não se preocupe em perguntar por algo não, eu podia ter esquecido, não é? Nesse caso mereceria mesmo puxão de orelha XD
Espero que goste!
Bru–chan – Obrigada pelos elogios! Fico até envergonhada por recebê–los :)
Espero que goste do final também!
Leila Wood – Eu amo a Arashi, ta? XD
Demorei de novo, mas o final está aí. Espero sinceramente que tenha valido a espera.
Kiki – Suas reviews me fizeram rir tanto ( e eu ri novamente ao reler para escrever aqui XD)
Eu não fiz a Arashi morrer pelas mãos do Inu no Taisho só para contrariá–la , tá?
Esse detalhe sempre esteve em meus planos desde o começo ( risada maligna)
E aí? Morreu com a espera longa e árdua? XD ( maldade final )
LP Vane–chan – Essa fic faz parte da minha fase dark, por isso te deixou angustiada :)
Como você viu, a mãe do Inu é apenas citada :)
Espero que goste do final!
Megawinsone – Obrigada!
Arashi tinha planos malignos como sempre, quase tenho pena por tê–la matado...
Cíntia – Eu demorei mesmo, mas ao menos esse é o final e você não terá que esperar mais XD
Arashi é maravilhosa ta? Eu adoro as maldades e o jeito psicopata dela XD
Espero que goste!
Acabou!
Nota final extra grande para comemorar o final do fic ( pulando de alegria por ter conseguido terminar finalmente)
Desejo, do fundo do coração, que vocês tenham gostado.
Até a próxima.
Kissus e ja ne,
Naru
P.s.1 – Dá para acreditar que estou triste por ter matado a Arashi? XD
P.s.2 - Alguém acredita que eu pensava queisso podia ser um oneshot?
Olhando agora nem eu! XD
