Notas
Fic: Demorou para sair, desculpem. Reeditei todo um capítulo, porque não era o que eu queria, então aí está. Tentei, ao máximo, manter o estilo do primeiro capítulo, com passagens de tempo. Mas eu não poderia fazer passagens muito longas nesse, senão ficaria sem sentido. O.o Então, o resultado é esse -.-
Autora: Eu sorri tolamente com cada review, obrigada! Espero que curtam esse capítulo, deu muito trabalho -.- A música é, Where Will You Go, Evanescence, que eu achei cair perfeito para o que eu queria. Bom, reviews, tá?
Miaka: Oie! Você gostou do Rony falando com a Gina? Ah, brigada. Foi a cena que eu mais queria escrever xD Aí está o capítulo, mas acho que o próximo vai demorar... Desculpas antecipadas, tá? Valeu!
Juli-Chan: Olá! XD, Prontinho, aí está o segundo capítulo, e obrigada por ter elogiado. Eu fico boquiaberta quando acham que está boa, e você diz que está "demais", então... Obrigada!
Miri: Oi! Pronto, continuei. Ah, thanks pelo elogio. Eu não mereço >. Sou uma pobre e comum escritora, xD E, sim vou continuar sempre e PROMETO não desistir, xD Valeu pela review!
Brousire: Olá! - Eu também tenho esperanças de vê-los juntos X) Tá aí a continuação, espero no ter desagradado -.- Não tenho previsão, mas vou atualizar sempre que puder, juro. Obrigada por tudo -.-
Carol Malfoy Potter: Olá! Pronto, fiz a continuação xD Na verdade, a idéia de colocar os fatos do quinto livro surgiu "de repente". Eu apenas queria ler uma fic que falasse da relação da Gina e do Michael, com o Harry "presente", e como não havia nenhuma... Criar é a regra, xD Até .
Pati Mello: Holá! Ah, acho que sei o que é essa sensação auto-crítica, apesar de que estou me controlando com essa fic 8-) Obrigada por ter elogiado a fic; lol essa é a sensação de que valeu a pena ter escrito. Brigada!
Michelle Granger: Wow! Fico feliz que tenha gostado da song xD Eu acho que 'Ordem da Fênix' é o livro com mais H/G, apesar de que estão escondidas pistas nas entrelinhas... -.- Valeu por tudo!
Belinha Weasley: Olá! Ah, obrigada mesmo. Então, eu FIZ a continuação, e ainda não acabou, mas eu vou em passos bem lentos -.- Obrigada pelos parabéns... lol Eu não mereço xD - mas, mesmo assim, espero que o elogio continue valendo... -.- Até
Where will you go -Evanescence
You're too important for anyone
There's something wrong with everything you see
Seu sorriso era incontrolável - e sabia que isso agradava profundamente o irmão. Desviou o olhar e lhe deu as costas, enquanto tentava tornar sua voz normal. Aquilo era impossível - seu coração estava batendo depressa demais para se controlar.
"Interessante" - disse, sua voz ligeiramente trêmula. Ginny Weasley se apoiou na parede. Não demonstrar fraquezas. - Eu... vou arrumar minhas coisas, então. - Mal via a hora de encontrá-lo.
"Você não me disse algo sobre 'estar morrendo de fome'?" - Rony perguntou, numa voz inocente, mas Ginny sabia que ele estava satisfeito. Várias vezes lançara indiretas. Ela podia agüentá-las no atual momento, quando era só entre eles, mas e depois, quando estivessem com Harry? Ginny não tinha idéia de como seria. - Desistiu da idéia, Gin?
Ginny revirou os olhos.
"Perdi a fome" - resmungou, subindo as escadas. Chegara ao patamar do seu quarto quando ouviu umas risadas de Rony.
"O amor faz isso com as pessoas" - ele cantarolou, sumindo de vistas. Ginny suspirou e entrou no quarto, numa das poucas vezes em que não reclamou da cor rosa dele. A primeira vez fôra há quatro anos, quando descera animada e encontrara um certo alguém...
Ela sentou-se à sua penteadeira. Havia vários rolos de pergaminho - Rony lhe convencera a escrever algumas cartas para Harry, e, embora ele não houvesse respondido nenhuma até então, lhe dava uma sensação boa escrever para ele. Como se pudesse ficar mais perto de alguém que nunca teria...
Ginny encarou seu reflexo no espelho. As palavras de Rony voltaram-lhe a mente. "Nós vamos para Grimmauld Place amanhã... Harry também vai".
Ela ainda sorria.
But I, I know who you really are
You're the one who cries when you're alone
Teve uma noite incrivelmente agitada. Harry entrava e saía dos seus sonhos, assim como Tom Riddle e uma gargalhada fria. Aquilo não fazia sentido, mas ela estava ligeiramente febril quando se levantou, cambaleante, e pegou o roupão para descer as escadas. Sentia frio, apesar do verão. Grimmauld Place dava a impressão de inverno, sempre. Se encostou na parede, murmurando palavras sem sentido, e, apertando os braços, continuou a descer.
Jogou água fria no rosto, direto da pia, sentindo sua pele se arrepiar, mas melhorou. Começou a pensar com clareza. Remédio - e, num vislumbre, imaginou acordar os Gêmeos e pedir a eles um remédio. Excelente idéia se alguém quisesse se arriscar a ficar verde - pensou, se lembrando de uma de suas experiências com a Medicina deles.
Sua mente trabalhava depressa agora. Ala Hospitalar - terceiro patamar, à esquerda. Ou seria à direita? Bocejou, sentindo sua cabeça explodir. Desejou saber - e poder - fazer um feitiço para sarar. Mas, não. Era criança demais para aprender - pensou, revoltada, enquanto sentia outra pontada. Isso lhe lembrou de Harry - ele costumava sentir isso, não era? E chegava no dia seguinte.
Voltou a subir, cada passo pesando, mas com a sensação de que estaria melhor quando chegasse lá. Hesitou ao terceiro andar. Qual dos lados?
Outra pontada. Esquerda, direita, que diferença? Se errasse era só voltar. Suspirando, abriu a primeira porta à direita. Uma sala escura. Não devia ser, mas...
Entrou, sua curiosidade vencendo a cautela. Ao passar pelo vão da porta, as velas ocultas se acenderam. Ginny fitou, espantada, as fotos nos porta-retratos. E, em meio a sua dor na cabeça, um pensamento surgiu em sua mente. Harry adoraria ver aquilo.
But where will you go
With no one left to save you from yourself
Seu ânimo esfriou ao vê-lo, pela primeira vez em toda sua vida. A falta de sorriso em seus lábios e seu olhar perdido e seco pareceu incrivelmente contagioso, e Ginny suspirou, sem vontade de se aproximar. Ia subir as escadas e, provavelmente, ficar no quarto a tarde inteira, imaginando como falar para Harry aquilo que descobrira, quando Rony passou correndo por ela.
"Harry!" - ele gritou, animado. E Ginny franziu a testa ao perceber que a frieza de Harry tivera o mesmo efeito sobre ele. - Hum... Você está bem? - perguntou, mais baixo e cauteloso. Harry fitou-o longamente antes de concordar. - Quer subir? Pode deixar suas coisas lá em cima. E há novidades... - Rony simplesmente não sabia o que dizer, Ginny contastou. Mas ela apenas continuou fitando o Menino-Que-Sobreviveu, imersa em seus próprios pensamentos.
"Pode ser" - a voz dava a impressão de que raramente a usava. Rouca. Vinda de um lugar bem distante. Ginny se apoiou na parede quando Harry passou e lhe fitou diretamente nos olhos.
Há uma coisa que eu tenho que lhe dizer, Harry. Seus olhos diziam tudo. Mas Ginny meneou a cabeça negativamente quando ele se afastou. Havia muito coisa que Harry não podia ver.
You can't escape
You can't escape
Outro sonho. Jamais ouvira aquela gargalhada, mas ela invadia seus sonhos. Assim como os olhos frios de Tom e os olhos verdes de Harry - aquela sensação de acolhimento que a fazia, incondicionalmente, querer esse sonhos. Meneou a cabeça. Estava febril de novo, mas ao menos sua cabeça não doía tanto. Suspirou. A mesma sensação de sede da noite passada voltava, e com resignação, abriu a porta e começou a descer. Desejou que Hermione voltasse logo da Itália, para poder voltar a conversar com a amiga.
Entrou na cozinha fria e tornou a apertar o sobretudo contra o corpo. Só trajava uma simples camisola e aquele roupão não era muito grosso. Tomava o segundo copo d'água quando a porta se abriu, de súbito. Ginny ergueu a varinha por reflexo.
"Ah, Harry" - disse, aliviada, abaixando a varinha. - Pensei... - Ela suspirou. - O que foi?
Ele não respondeu. Sentou-se a sua frente e tornou a fitar seus olhos, enquanto Ginny se sentia fixada por eles. Eram incrivelmente verdes.
"Você tem algo para me dizer" - ele se pronunciou, lentamente. O coração de Ginny disparou, daquele jeito incontrolável que lhe agradava e irritava.
Ele lêra seus olhos. Ginny voltou a sorrir.
You think that I can't see right through your eyes
Scared to death to face reality
"O que é?" - ele perguntou, sua voz rouca, fitando a escuridão que se estendia a sua frente. Ginny não lhe respondeu. Fez um gesto para ele entrar, embora ela própria continuasse parada. Harry lhe encarou, indeciso, mas entrou mesmo assim - e, tal qual na noite anterior, as velas se acenderam e Harry fitou o nome escrito na parede. Sirius Black.
À volta, havia vários retratos antigos e coisas pessoais. Ginny desviou o olhar, preferindo o chão a ver a face de Harry. Ele continuou quieto por vários minutos, parado, fitando.
"Harry?" - ela chamou, hesitante. O rapaz se virou para ela, com os olhos vazios de expressão.
"Que idéia de "coisa para mostrar" isso faz para você?" - perguntou, friamente. Ela parou, de repente. Não ouvira direito.
"Quê..."
"Não é engraçado mexer em feridas abertas, só para te avisar" - disse, numa voz subitamente calma. - Isso lhe pareceu uma brincadeira?
Nunca demonstre fraquezas.
"Não" - disse, com tanta calma quanto ele, encarando-lhe nos olhos, sem se importar se ele leria ou não a única parte do seu corpo que demonstrava estar chateada. - Achei que iria gostar. Talvez pudesse cicatrizar as feridas. - Ela respirou fundo. - Não foi minha intenção te magoar, mas você faria bem se deixasse de jogar sua raiva em inocentes, só para te avisar.
E lhe deu as costas. Estava do outro lado do corredor quando ele tornou a falar.
"Só para te avisar... Obrigado" - e fechou a porta do quarto de Sirius Black, se trancando lá. Ginny a fitou e, por mais que tentasse evitar, uma lágrima solitária e teimosa rolou por sua face.
No one seems to hear your hidden cries
You're left to face yourself alone
Seu olhar encontrou exatamente o dele quando ela entrou na cozinha fria na manhã seguinte. Por dois segundos. Antes que ambos os desviassem. Dando um rápido beijo nos pais, Ginny sentou-se a outro lado da mesa, enquanto Rony e Harry pareciam entretidos numa conversa baixa e silenciosa. A ruiva franziu a testa. Mais uma das conversas secretas - pensou, bocejando. Não tivera um resto de noite muito boa naquele dia. Não conseguira dormir, ainda que seus pesadelos tivessem cessado por enquanto.
"Chegou uma carta para você" - Rony disse, de súbito, lhe passando um pergaminho. - Hermione.
Ginny lhe mirou com os olhos estreitos.
"Você leu?" - perguntou, desconfiada. Por um momento, lhe pareceu que Rony iria concordar, para provocá-la, mas, passado alguns segundos, ele negou. - Que pena - ela disse, sorrindo e abrindo o pergaminho. - Eu estava a fim de azarar alguém hoje...
Rony limitou-se a fazer uma careta.
"Onde você foi ontem, Harry?" - ele perguntou, de repente. - Eu acordei e você simplesmente não estava lá. Tive a impressão de que só voltou de madrugada.
"Eu fui dar uma volta" - o amigo respondeu, calmamente. - Estava com sede e tinha perdido o sono, só isso.
"Mas..."
"Você já viu as novidades?" - Ginny interrompeu, determinada. Ela sentia o olhar de ambos sob ela, mas não desviou os olhos da carta. - Hermione chega daqui a dois dias - e ela não resistiu a trocar um olhar cúmplice com Harry enquanto Rony parecia que iria explodir de felicidade.
But where will you go?
"Eles são tão óbvios, não é?" - Harry perguntou, de repente, fazendo-a sobressaltar. Não tinha sentido sua presença. Ela estava numa sala antiga da casa, lendo em frente à lareira. Em geral, Ginny odiava que alguém interrompesse seus momentos de leitura, no entanto... Ela lhe deu um espaço para ele se sentar.
"Quem?" - perguntou, antes de bater sua mão na própria testa. - Ah, claro. Está na frente deles e eles são os únicos que não podem ver.
Ela não agüentou. Riu e, embora ele apenas tivesse sorrido, bem fracamente, ela se sentiu satisfeita.
"Por que as risadas?" - Rony perguntou, se encostando com uma xícara de chá na parede.
"Estávamos falando de coisas óbvias" - Ginny respondeu simplesmente. Rony olhou de um para outro por alguns segundos.
"Sei. Há coisas que são tão óbvias" - e ela tinha a certeza de que ele não se referia a sua relação com Hermione.
With no one left to save you from yourself
You can't escape
Ela gostaria de poder dormir em paz. Agitou-se, seu Eu verdadeiro lutando para acordar. Estava presa na torre. Fitando-lhe os olhos verdes. E sempre que tinha a impressão de que, finalmente, ele iria chegar perto e lhe salvar, o céu escurecia e o verde era substituído por vermelho - ou o cinza frio dos olhos dele. Tom Riddle. As lembranças machucavam mais que qualquer coisa...
Ele estava ao seu lado. Tom Riddle tinha um sorriso indecifrável, venenoso. Ela era sua refém. Harry viria atrás dela para lhe salvar...
"Não!" - gritou e, no momento em que sentiu as mãos dele tocando-lhe o ombro, pulou. Acordou com um grito sufocado. Havia alguém ali. Desesperada, pegou-se abraçando-a.
"Está tudo bem..." - a voz pareceu-lhe estranhamente confortadora, embora estivesse hesitante. - Eu... eu estou aqui.
"Harry" - ela suspirou, mais aliviada, fechando os olhos e pousando sua cabeça no ombro dele. Ginny sentiu vontade de sorrir ao ver como ele pareceu nervoso com essa aproximação.
"Você está bem?" - Harry perguntou, preocupado. De repente, ela perdera a vontade de sorrir. Ele estava sendo como um irmão.
"Estou" - disse, com a voz mais normal. No final, ele a salvara da torre de novo.
You can't escape
I realize you're afraid
"Você tem certeza disso?" - Ginny perguntou simplesmente, lembrando-se do ataque dele na noite anterior. - Isso é uma coisa tão pessoal que eu...
"Não teria sentido se eu não dividisse um dos poucos momentos de alegria com você, mesmo que tenha te acordado à uma hora da madrugada" - ele respondeu e mais um daqueles sorrisos incontroláveis se formou na face dela, ainda que na voz dele só houvesse carinho fraternal.
Ela fechou os olhos, parando na porta, enquanto ele atravessava o vão e as velas se acendiam.
"Você está bem?" - Harry perguntou, fazendo-a encarar-lhe. Não, não estava bem. Seu coração batia Contra sua vontade e ela estava do lado de um irmão que NÃO era seu irmão.
"Estou" - a voz saíra incrivelmente verdadeira. Harry continou lhe fitando e, num delírio, ela imaginou se ele estaria lendo seus olhos. Princesas passam a vida inteira sonhando com seu príncipe.
"Então, venha" - ele lhe puxou a mão, fazendo-a se arrepiar. Por que não o esquecia logo?
Harry apontou para uma foto.
"Meus pais" - disse, inutilmente. - Lily e Tiago Potter. - Ginny pôde ver que Harry era a imagem do pai, com exceção dos olhos. Ela sorriu à foto. Os pais dele brincavam com um pequenino Harry no colo. O garoto não devia ter mais de três meses.
"Você é idêntico ao seu pai, exceto..."
"Exceto nos olhos" - ele completou, o vestígio de um sorriso em seus lábios. Ginny lhe deu alguns segundos antes de pigarrear. - E aquele é Lupin, há alguns anos, e, olhe...
Ginny sorriu sonhadoramente. Ele tinha mesmo os olhos verdes da mãe.
But you can't abandon everyone
You can't escape
You don't want to escape
Harry ergueu a sobrancelha quando finalmente se viu às sós com a garota numa das salas de estar.
"Você está com olheiras terríveis" - disse, fazendo-a sentir-se pior do que estivera ao olhar no espelho de manhã. Em resposta, recebeu uma almofada na cara, enquanto Ginny deitava-se no sofá, exausta, bocejando.
"Eu tive insônia" - disse, divertida, entreabrindo os olhos para ver que ele se apoiara no sofá e a fitava calmamente. Ela pestanejou. Eles haviam ficado conversando até às três horas da manhã, e, embora mal se agüentasse em pé, cada minuto valera a pena da noite passada. - Sabe, não consegui dormir, então...
"Então eu aproveitei para te raptar" - Harry completou, os olhos brilhantes, fazendo-afranzir a testa. Ver os olhos deles brilhando era como ver um sorriso que há muito ele não dava. Meneou a cabeça e desviou o olhar.
"Foi legal" - afirmou, sorrindo.
"Então..." - ele abaixou a voz. - ... Lhe agradaria, senhorita, me dar a honra de... - a voz dele não era mais alta que um sussurro. Ginny estava fazendo leitura labial agora. -... acordá-la de novo... Se não for muita chatice agüentar um sentimental de óculos falando a noite inteira...
"Não tem problema" - rápido demais. Harry apenas moveu a cabeça, na hora em a porta se abria.
"Olá" - Rony Weasley disse, calmamente, e Ginny pôde reparar, pelo tom de voz do irmão, que para Rony era muito suspeito Harry estar inclinado sobre ela, enquanto os dois estavam sozinhos numa sala. Ginny revirou os olhos.
O irmão parecia estar tão enganado...
I'm so sick of speaking words that no one understands
Is it clear enough that you can't live your whole life all alone
"Hermione chega amanhã" - Harry informou, de súbito, não desviando o olhar dos álbuns antigos que ele abrira sobre a antiga cama de Sirius.
Ginny apenas moveu afirmativamente a cabeça.
"Acho que, então, não vai mais dar para você vir aqui" - ele moveu a cabeça, de modo a impedi-la de ver sua face. - Já é difícil para mim...
"Você pode vir sozinho" - ela disse, também desviando o olhar. - Imaginei que você preferisse assim.
"Eu não consigo explicar. É uma sensação de que eu te devo alguma coisa. Você não faz idéia de quanto importante isso foi."
"Quando eu era menor" - Ginny comentou, mais para ela que qualquer outra coisa. Harry se virou para encará-la. -, minha vó morreu. Ela já era bem velhinha, mas, mesmo assim... Eu me tranquei no quarto por três dias e me recusei a ir ao velório. Quando anoiteceu, de madrugada, eu me levantei e fui sozinha ao cemitério. Era uma longa caminhada, mas... Fiquei em frente ao túmulo dela a noite inteira. Antes de amanhecer voltei à Toca e tornei a me trancar no quarto. Abri um álbum de fotografia que tinha e fiquei até o resto da noite fitando as fotos, sozinha, numa forma de estar com ela uma última vez. Parece estranho, mas foi necessário - ela suspirou e deitou as cabeça nos braços em cima da cama, encarando o vazio. Um arrepio súbito percorreu-lhe pelo corpo quando Harry pousou sua mão sobre a dela.
"Não é estranho. Eu gosto de ficar sozinho, mas... Não me arrependo de ter te acordado. Vou sentir falta."
Ela também.
I can hear you in a whisper
But you can't even hear me screaming
A amiga a encarou astutamente.
"Você está diferente. Mais feliz, mais aliviada. Aconteceu alguma coisa?" - perguntou Hermione Granger, numa voz calma. Ginny deu de ombros, sem tirar a pena do pergaminho onde escrevia uma carta a Luna Lovegood.
"Nada. Pura imaginação sua" - e, sorriu saudosamente. Hermione não pareceu acreditar muito nisso.
"Você não me engana, Gin. Você e Harry estão estranhos."
Ginny se virou para encarar a amiga.
"E o que lhe dá a idéia de que eu estar 'estranha' tem referência com Harry?"
O sorriso de Hermione, entretanto, era quase triunfante.
"Nenhum de vocês dois sabe mentir."
A ruiva limitou-se a revirar os olhos. Hermione costumava adivinhar as coisas.
"Algum dia eu te conto" - disse, com um sorriso, fitando a mão que ele tocara na noite retrasada.
But where will you go
With no one left to save you from yourself
"Houve um ataque num bairro trouxa, não muito longe de Londres" - a voz de Hermione soou, por trás do Profeta Diário. - Mas não foi encontrada a Marca Negra. Então talvez tenha sido apenas coincidência.
"Não foi um ataque, ao menos nada oficial" - Harry disse, de repente, sua mão na cicatriz. - Ele está concentrado em outra coisa agora. Voldemort ainda precisa da profecia. E se não pode tê-la através da esfera... - ele se levantou. - Preciso falar com Dumbledore!
E saiu da sala, ignorando os olhares de Rony, Hermione e Ginny. O ruivo meneou a cabeça.
"Outra premonição?" - perguntou ele, baixinho.
"Não é 'premonição'" - Hermione retorquiu, fazendo Ginny sorrir com o tom de sua voz. - Harry apenas divide alguns pensamentos com Voldemort.
"Então" - Ginny começou, lentamente, desviando o olhar do livro. -, Você-Sabe-Quem também consegue ver os pensamentos de Harry?
Hermione pareceu pensar por um momento.
"Imagino que somente os mais fortes. Somente os pensamentos que... Mas aí não faz lógica!" - ela mordeu os lábios. - Sabem, pensamentos que são profundos, mas a maioria desse tipo de pensamentos é de ódio ou amor. Voldemort não seria capaz de sentir algo assim.
"Já pensamentos de ódio..." - Rony completou, trocando um olhar com a amiga.
Ginny franziu a testa, tentando voltar a leitura - e seus olhos não focalizam mais as letras. Se perguntou quando aquela guerra acabaria...E se estaria no final dela.
You can't escape
I realize you're afraid
Franziu a testa ao reparar que o único lugar vazio era atrás dele. Perguntou-se se Rony fizera isso de propósito, antes de achar que estava sendo exagerada e egocêntrica. Afinal, disse a si mesma, enquanto pegava um prato, não há nada demais em se sentar ao lado de uma pessoa comum, mesmo que seu irmão veja isso com maldade. Suspirou.
"Olá" - disse, simpática. Percebeu que era a primeira vez que o encontrava naquele dia. E então concluiu que realmente estava exagerada. Meneou a cabeça reprovadoramente e estendeu a mão para pegar as almôndegas.
"Você sumiu" - Harry disse, sem lhe encarar nos olhos.
"Eu estava escrevendo uma carta" - disse, num tom displicente. - Dino me mandou...
"Pensei que não era para mandar muitas corujas" - Harry interrompeu, numa voz calma, embora não desviasse o olhar do prato. - Não foi o que Dumbledore disse?
Ginny piscou.
"Eu pedi para Fred e Jorge colocarem para mim, quando fossem ao Beco Diagonal" - disse, no mesmo tom que ele. Tinha o sorriso incontrolável outra vez. Harry estava com ciúmes?
"Ah" - ele pareceu um tanto mais animado ao se virar para encará-la. - E o que lhe dá a idéia de que eles não irão ler a carta?
Por um instante, Ginny o encarou, parecendo incerta se Harry lêra ou não. Então sorriu.
"Impossível. Alertei eles. Tonks colocou uma azaração no envelope. Eu não tentaria ler nem que fosse para ganhar um milhão de galeões."
Harry murmurou algo indecifrável, só para si, e, resmungando, começou a falar com Lupin e Rony. Ginny revirou os olhos, ainda sorrindo, e seu olhar encontrou o de Hermione. A ruiva limitou-se a dar de ombros.
Sonhos...
But you can't reject the whole world
You can't escape
Ela ergueu as sobrancelhas quando o irmão entrou no quarto.
"O que foi?" - perguntou, absorta em guardas os livros no malão. Olhou para o calendário pregado na parede. 31 de agosto. E pensar que, em menos de 24 horas, estaria de volta a Hogwarts... O tempo passara rápido, concluiu, enquanto o Rony sentava-se na cama de Hermione.
"Eu estava imaginando" - disse, lhe olhando de um jeito que lembrou Luna Lovegood a ela. Completamente aéreo. - Você e Harry andam estranhamente chegados.
Até ele.
"Impressão" - respondeu Ginny, fechando o malão com um estrondo. - Eu conversei algumas vezes com ele, mas... nada demais - um sorriso melancólico se espalhou por sua face. Nada demais. Ela apenas o ajudara, e ambos já vinham se ajudando a algum tempo. Pessoas não se apaixonam por ajudar, pensou, encostando-se na parede e fitando o irmão.
"Foi o que ele disse" - Rony certamente estava achando graça na situação. - Exatamente as mesmas palavras. Andaram treinando desculpas, Gin?
Ginny imaginou-se transformando o irmão num sapo.
"É claro" - comentou, sarcástica. - Acredite, sempre sobra tempo durante os nossos encontros para discutirmos desculpas.
E, no instante seguinte, congelou. Harry acabara de entrar pela porta aberta e ela não podia saber se ele ouvira ou não.
"Você esqueceu de um livro, Rony" - ele disse, calmamente, olhando para o amigo.
"Ah" - Rony fez uma careta, embora fosse visível que ele estava rindo. - Depois eu guardo...
"Você vai esquecer" - Ginny disse, no mesmo instante, se levantando. - Me dê a chave que eu coloco para você.
Qualquer coisa era melhor que o olhar pefeitamente normal de Harry.
You won't escape
You can't escape
Era realmente irritante as risadas vindas do quadro coberto na parede. Fazendo força para ignorar, Ginny Weasley abriu o malão e guardou o pesado Guia da Magia. Já ia sair quando um pergaminho aberto, sobre a cama de Harry, lhe chamou a atenção. Não podia ser... Um tanto nervosa, ergueu o pergaminho a favor da luz que entrava pelo quarto, dos últimos raios de sol, e leu.
Caro Harry,
Caro? É uma palavra estranha. Mas não me sinto suficientemente "amiga" de você para dizer "querido Harry". Na verdade, nem ao menos sei porque estou lhe escrevendo. Correção: sim, eu sei o motivo. Rony me aconselhou a escrever. Estranho. Em geral, eu não ouço os conselhos do meu irmão.
Está tudo bem com você? Espero que sim - e, no momento, acaba de me ocorrer que essa é uma pergunta idiota. Não pode 'estar tudo bem com você'. Mesmo assim, continuo desejando que, ao menos, você se recupere. Agora me sinto uma tola. Pareço escrever palavras sem sentido - mas, desculpe, não sei o que escrever. Simplesmente desejava poder te consolar - mas não posso. Desejava que conseguisse te fazer sorrir - e, adivinhe, não consigo. Então, estou escrevendo inutilmente essa carta. Você vai ler e a achar confusa - pior, vai ME achar confusa. Mas isso é o melhor que posso fazer.
Eu apenas posso desejar, Harry. Que é essa dor passe. Que você sorria. Que você consiga sobreviver a mais uma decepção. E que você se cuide. Apenas isso que caiba na carta. Eu adoraria te falar tudo, mas tudo mesmo - acho, no entanto, que tenho um diário para isso. Então, resumo dos fatos.
Você já sabe quando vem para cá? Mamãe falou algo sobre no começo de agosto, ou coisa parecida. Não aconteceu nada de novo no "mundo mágico", exceto uns ataques que ninguém sabe quem foram realmente os culpados. E Rony anda nervoso. Hermione nos mandou somente algumas cartas e ele anda num ataque histério de nervosismo. Se eu não conhecesse meu maninho... De qualquer forma, ele também te manda uma carta, então não vou falar de muita coisa - não mais do que escrevi.
Com carinho - Ginny Weasley
P.S: Quando você precisar... Eu estarei aqui.
You don't want to escape
Para Aonde Você Vai
Você é tão importante para todos
Você finge ser tudo o que você quer ser
Mas eu, eu sei quem você realmente é
Você é aquele que chora quando você está sozinho
Mas Para onde você vai?
Sem ninguém para te salvar de você mesmo
Você não pode escapar
Você não pode escapar
Você acha que eu não consigo ver atrvés de seus olhos
Assustado até a morte de enfrentar a realidade
Ninguém parece ouvir seu choro secreto
Você foi deixado sozinho para enfrentar você mesmo
Mas Para onde você vai?
Sem ninguém para te salvar de você mesmo
Você não pode escapar
Você não pode escapar da verdade
Eu percebi que você está com medo
Mas você não pode abandonar todo mundo
Você não pode escapar
Você não quer escapar
Eu estou tão cansado de falar palavras que ninguém entende
É evidente o bastante que você não pode viver sua vida inteira sozinho?
Eu posso ouvir você num sussurro,
mas você não consegue nem me ouvir gritando
E para onde você vai? Sem ninguém para te salvar de você mesmo
Você não pode escapar da verdade
Eu percebi que você está com medo
Mas você não pode rejeitar o mundo inteiro
Você não pode escapar
Você não vai escapar
Você não pode escapar
Você não quer escapar
