A História de Nós Dois
Primeiro Capítulo
Uma Chance Apenas
Observou-a durante longo tempo. Meses talvez. Observou-a sentada ao longe, no meio do lago, olhando atentamente para o pôr do sol.
Dia após dia, durante meses, Draco Malfoy observou aquela menina ruiva apanhar a sua velha vassoura Comet 111 e voar para a rocha no meio do lago, à mesma hora, no fim da tarde quando o sol começava a se pôr no horizonte. E ela sempre fazia a mesma coisa, sentava-se sobre a rocha, abraçava-se aos joelhos e olhava com afinco e paixão para o sol.
Ele obviamente sabia que aquela garota era uma Weasley, contudo não sabia seu nome, e muito menos, sabia de onde vinha aquela admiração que ele desenvolvera por ela ao longo do tempo.
Era instigante vê-la repetir os mesmos atos todos os dias, e estar no mesmo lugar à mesma hora. Ao mesmo tempo que, por vezes, era doloroso perceber que os atos dela eram uma forma de fuga da realidade. Draco sabia bem disso, porque ele mesmo sabia o que era ser solitário, e ele percebia que a ruiva o era.
Todos os dias ele mesmo sentava-se debaixo da mesma árvore na beira do lago e ficava observando o sol se pôr, ao mesmo tempo que também observava a garota. E ele até chegou a pensar que ele não observava o sol, e em algum dia do passado ele passara a observar os belos cachos ruivos da garota, que brilhavam intensamente, num tom rubro, à luz do sol poente.
Assim que o sol se pôs, Draco viu a garota apanhar sua vassoura e voar novamente para o castelo, mas antes dando uma volta no lago e parando bem no alto para contemplar a lua. Ela também sempre fazia isso. E ele achava-a linda cada vez que a via iluminada pela luz da lua e seus cabelos brilhavam e seu corpo era envolto por uma luz branca, deixando-a parecida com um anjo...
"Simplesmente linda...- ele pensou."
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Draco também não podia deixar de notar, em cada manhã, o modo silencioso como ela tomava café da manhã. Silencioso e novamente solitário. Como ele.
Ele podia estar rodeado de pessoas, com Crabe e Goyle um de cada lado, comendo feito porcos e raramente dirigindo-lhe alguma palavra, ou Pansy Parkinson enchendo a sua paciência nas primeiras horas da manhã.
"Não, Pansy, eu não quero comida na boca...chega disso e sai, ok?"
"Mas, Draquinho...- ela cruzou os braços e saiu sem dizer nada ao ver o olhar frio que o rapaz lhe lançara."
Assim que a garota saiu, Draco continuou observando a ruiva da Grifinória, mexendo insistentemente no seu prato, mas sem comer ou beber nada. Já há algum tempo que não a via comer bem, e ele queria acreditar que não se preocupava.
A verdade era que Draco não sabia porque o interesse na garota Weasley, mas entendia que de alguma forma ela chamava sua atenção. Talvez por ser solitária, e isso ficar tão claro nos atos dela, e ele mesmo se sentir solitário também.
Ele suspirou, voltando sua atenção para o seu próprio prato quando a ruiva levantou-se, apanhou suas coisas e saiu de cabeça baixa, provavelmente rumo a uma de suas aulas.
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E Draco achava engraçado ver a ruiva andando pelos corredores de mãos dadas a Harry Potter, enquanto o irmão dela, o que ele chamava de cabeça de fogo Weasley, andava com a amiguinha trouxa deles.
E era claro que Draco sabia que a ruiva era namorada do Potter. Tinha lido certa vez, num dos jornais bruxos. Tinha até o nome dela, mas ele não dera muita atenção e por isso não sabia ser Virgínia ou Victória ou Valéria ou o que fosse. Àquela altura não importava.
No entanto, Draco não entendia o porque dos olhos tristes da garota, da falta de sorrisos e altivez. Não entendia o porque de uma menina sentir-se tão infeliz como ela se sentia. E mesmo não entendia o porque desse sentimento estando ao lado de Harry Potter. Não que ele achasse que alguém deveria sentir-se feliz ao lado do Santo Potter, porque ele mesmo sentia-se enojado com a mínima idéia. Mas o Potter era famoso e tinha dinheiro, popularidade e fama de santo e herói, e Draco sabia o que isso significava para algumas meninas. Porém, pelo menos aparentemente, para ela não significava muita coisa.
A um certo instante, Draco notou que o quarteto parou no meio do corredor e o trio maravilha pôs-se a conversar alegremente, deixando a ruiva de lado, fora da conversa. Ela olhou para o relógio de pulso, olhou para os três e saiu sem dizer nada e sem ser notada.
Draco observou as horas também, e viu que o sol se poria em alguns instantes. Sabia exatamente onde encontrá-la a essa hora.
Ele chegou aos jardins e ficou sob a mesma árvore de sempre. A ruiva já estava lá, sentada na mesma rocha, abraçada aos joelhos, olhando o pôr do sol com o mesmo afinco e paixão como quando Draco a vira ali pela primeira vez.
O sol se pôs, a lua surgiu imponente àquela noite. Última noite de lua cheia. Estava linda e muito grande, com um tom amarelado e intenso, tomando um céu com várias nuvens carregadas e algumas poucas estrelas.
Ela deu a volta no lago e parou à frente da lua. Observou-a durante algum tempo e, dessa vez, ela não voou de volta ao castelo. Pousou na grama, deixou a vassoura esquecida ali e foi em direção ao lago.
Draco sentiu seu coração disparar desesperado ao vê-la entrar na água e ao perceber que ela chorava silenciosamente. Ela tremia. A ruiva entrava cada vez mais, de modo que a água já quase batia no seu pescoço. Por vezes ele a viu afundar, mas em segundos voltar à superfície. Ele apanhou a vassoura e parou atrás dela.
"Não vais fazer isso, não é?- ele perguntou, e ela voltou-se para ele, surpresa. Draco então pôde notar que havia mais tristeza no olhar dela do que ele imaginara."
"Fazer o quê? Matar-me?"
"Sim, isso seria uma idéia estúpida."
"Uma idéia estupidamente viável e conveniente para mim.- ela falou pesarosa- Tu não entenderias. Além do mais, te importas mesmo com isso?- ele estendeu a mão para ela."
"Não importa o que eu diga, ruiva, nunca irias acreditar mesmo.- ele falou, ainda com a mão estendida."
"Vá lá, Malfoy, diga. Talvez eu acredite, demonstra que mereces que eu acredite em ti. Te importas com uma Weasley?"
"Eu me importo sim, ruiva."
"Vou morrer e não vou ver tudo."
"É, e se morreres agora não vai ter visto nada.- Gina olhou-o ainda mais surpresa e confusa."
"E difícil acreditar em ti, Malfoy. Além do mais, ninguém sentiria a minha falta. Não sentem nunca mesmo."
"Não namoras o Potter? Ele sentiria tua falta. E o teu irmão cabeça de fogo também, tenho certeza. E também..."
"Harry...bem, ele é um idiota e me faz sentir como se eu fosse uma propriedade. Já percebeste como ele não se importa comigo? E o Rony, bem, ele vai superar. Há muito que também não se importa comigo, nem mesmo nota o que se passa comigo."
"É, mas talvez tenha alguém mais que vá sentir a tua falta, ruiva."
"É? Meus pais? Irmãos? Não vejo ninguém mais, não tenho amigos nem mais ninguém."
"Isso não é verdade, ruiva.- ele parou e tentou sorrir para ela- Tu tens a mim."
"A ti?- ela olhou a fundo nos olhos dele e viu o medo que ele sentia, talvez de perdê-la."
"Sim. Vem, deixa que eu te salve só desta vez.- ele estendeu ainda mais a mão."
Houve um relâmpago no céu que iluminou todo o jardim, e em seguida um estrondoso trovão. A chuva começou fraca, mas não demorou segundos para ficar torrencial.
"Salvação? Eu não tenho salvação, Malfoy. Não mais."
Por um instante Gina segurou a mão de Draco e puxou-o para beijar-lhe os lábios. Um beijo intenso sob a chuva, que fez com que o rapaz finalmente parasse de se enganar e concluísse que estava mesmo apaixonado pela pequena Weasley.
Porém, num outro instante, viu-a sendo tirada de perto de seu corpo, para longe dos seus lábios, sendo arrastada pelas águas agora turbulentas do lago e afundando.
Ele ficou desesperado e não pensou em fazer mais nada que não encontrá-la e tirá-la da água. A sorte fora que ele pensara rápido e conseguira apanhar a ruiva antes que ela se afastasse muito.
Retirou-a da água e botou-a deitada na grama. Estava desmaiada, branca e muito gelada, com as pulsações fracas e pouca respiração.
"Anda lá, ruivinha... não digas que eu cheguei tarde e não pude fazer nada por ti..."
Foi quando Draco selou seus lábios aos dela, tentando soprar o máximo de ar para dentro da garota. Não sabia o que fazer, e achou que aquilo fosse o mais sensato para o momento.
E ele percebeu que aquilo fora o certo quando o que era para ser uma respiração boca a boca tornou-se um beijo, apaixonado e exigente e, sobretudo, aliviado.
"Por que fizeste isso, Malfoy?- ela abraçou-se a ele e perguntou, ainda tentando respirar melhor."
"Para te dar uma chance, ruivinha. Para nos dar uma chance. Uma chance apenas, é só isso que peço.- ele fitou os olhos castanhos dela e continuou- Eu amo-te, ruivinha. Amo-te não sei desde quando, mas agora sei que desde sempre eu busquei por ti e só agora pude perceber que um segundo a menos e eu te teria perdido..."
"Malfoy, eu..."
"Shhh...- ele passou levemente os dedos pelos lábios dela, impedindo-a de prosseguir- Eu amo-te. Deixa que eu tente ao menos...- e ela deixou que, novamente, ele a beijasse, com carinho e como ele não sabia que queria há muito tempo."
E ambos souberam que aquele fora o melhor beijo de suas vidas e o único que lhes tirou a sensação de solidão que ambos carregavam constantemente em seus corações.
Draco não soubera, até aquele momento, que aquela ruiva Weasley fora o que ele sempre procurara para afastar a sua solidão. E, o que nem mesmo ela ou ele sabiam, era que Gina sempre esperara que Draco a encontrasse.
