Os mistérios de Londres

Primeira Parte: Becos escuros

Capítulo 01 - Às margens do Tâmisa


- Silêncio, moços! Acabai com essas cantigas terríveis. Já estamos todos com dor de cabeça suficiente por conta da bebida, não é necessário que vocês a aumentem com suas vozes bêbadas.

- Oras, Rosmerta... – um dos rapazes segura pela cintura a mulher que se aproximou – Não seja má conosco. Vinho! Vinho! Tragas mais vinho, taverneira, não vês que nossos copos já estão vazios e as garrafas que nos trouxe estão quebradas?

A taverna já estaria fechada, não fossem aqueles senhores. A noite já caíra há muito; ali perto, o murmurejar constante das águas do rio Tâmisa soava como um sonâmbulo. Por trás do balcão, um garoto de pouco mais de dez anos observava, divertido, os quatro rapazes que bebiam, falavam palavrões e tentavam inutilmente agarrar a grande madame Rosmerta, sua patroa.

- Bem, se não temos mulheres, nem vinho, contemos uma daquelas histórias sanguinolentas, um daqueles contos fantásticos que servem para assustar as crianças incautas em seus quartos escuros.

- Uma história medonha, não, Vincent? – falou um moço pálido que às palavras do amigo erguera a cabeça ruiva – Pois bem, contarei uma história. Com essa podereis tremer à vontade, não é um conto, mas uma lembrança do passado.

- Avery, Avery! Aí vens com teus sonhos!

- Conta! – outro dos rapazes pediu.

- Pois bem. Já ouviram falar de uma misteriosa e temida associação cujo chefe só age na sombra e transmite suas ordens através de um lugar tenente, uma sociedade sempre empenhada em operações que podem resultar em coisas fabulosas?

- Eu sei do que tu falas. – Gregori, outro dos rapazes, olhou sinistramente – O clube dos valetes de copas.

Todos pareceram se encolher a menção desse nome. O garoto debruçou-se ainda mais no balcão, buscando ouvir mais. Rosmerta sumira na adega, ela certamente não reclamaria.

- Eu participei de algumas das reuniões dessa sociedade. – Avery continuou – Foi lá que conheci alguns dos mais nobres senhores de nosso império. Inclusive o velho Karkaroff, com cuja filha estou comprometido. Todos sócios dessa confraria participam de tais reuniões encapuzados, sem conhecer um a identidade do outro, nos subterrâneos de casas labirínticas. Eles são recrutados nos meios mais diversos: artistas, lacaios, antigos militares, velhos trabalhadores de vida misteriosa e aparência misteriosa, estrangeiros exóticos...

- Mas se estão sempre encapuzados, como conheceu Karkaroff?

- Eu fui designado para uma missão ao lado dele. Mas deixem-me continuar para que saibam como conquistei sua confiança e também a mão da filha... Além da fortuna que um dia ela herdará. Já ouviram falar numa jóia chamada "coração de dragão"?

Passos puderam ser ouvidos fora do estabelecimento, mas ninguém deu atenção a isso. Estavam todos por demais atentos às palavras de Avery. Todos conheciam o clube dos valetes de copas por histórias, mas nunca tinham conhecido ninguém que tivesse participado de tal sociedade.

- Dizem que essa jóia pertenceu no passado à casa real dos Tudor. Mas sumiu dos anais reais a mais tempo do que os cortesãos que conhecem sua história podem se lembrar. Foi um presente de um rajá indiano a uma das grandes rainhas do passado... Um rubi, do tamanho de um punho fechado, incrustado numa gargantilha de ouro branco, cercado por outros pequenos rubis. O rajá que o deu afirmou que o rubi era, na verdade, o coração de um dragão cristalizado, um dragão de verdade, que fora abatido em suas terras por algum de seus antepassados.

- Mas ela realmente existiu? – outro dos rapazes perguntou.

- Ao que tudo indica, Rodolfo, sim, ela existiu. Foi a conclusão a qual chegamos, eu e Karkaroff. Pesquisamos muito sobre o assunto até encontrar indícios de que a jóia teria sido dada a um fiel servidor da corte, melhor ainda, a um amante da rainha. Ela mandou apagar os registros que existiam sobre o rubi. Dizem inclusive que ela teve uma filha bastarda com esse amante. Provavelmente, a jóia foi passada para a menina e agora está numa dessas famílias tradicionais que vivem por aí.

- Mas essa não é a parte mais interessante da história. Dizem que a jóia foi amaldiçoada. Que traria a morte àqueles que a possuíssem. Enquanto pesquisávamos, tentando descobrir com quem ela estaria, fatos estranhos ocorreram comigo e com o senhor Karkaroff. Tão estranhos que acabamos desistindo da busca há pouco mais de um mês, depois de quase morrermos.

- Do que está falando, Avery?

Nesse momento, a porta da taverna se abriu. Antes que Avery, com os olhos injetados pelo álcool pudesse completar sua história, ele desabou molemente no chão. No meio da testa, um furo certeiro e letal cuspia sangue.

Todos os convivas viraram-se para os recém-chegados; até mesmo Rosmerta apareceu para descobrir que barulho fora aquele. Dois homens estavam parados no umbral, um deles ainda com o braço levantado e o dedo no gatilho de uma pistola.

O que atirara era um rapaz ainda, quinze anos talvez. Tinha o rosto de anjo, com olhos cinzentos como uma tempestade, contrastando com o dourado dos cabelos. O outro era um homem feito. Um elegante chapéu repousava sobre os cabelos negros, combinando com o sorriso sarcástico no belo rosto.

O rapaz ficou na porta, mas o outro entrou, sem se importar com as faces assustadas e até mesmo raivosas do companheiro do morto. Antes de puxar uma cadeira para junto do balcão, o homem virou-se para seu acompanhante.

- Lúcio, por favor, livre-se desse incômodo.

O rapaz virou-se para a noite e fez um sinal com a cabeça. Dois homens encapuzados entraram e logo todos perceberam quem eram eles. Afinal, era deles que se falava até alguns instantes atrás. Membros dos valetes de copas... Avery fora eliminado por falar demais. Enquanto isso, o homem se sentava, tirando suas luvas, observando cuidadosamente o ambiente ao seu redor até pousar os olhos negros no garoto que, surpreso, não se mexera desde que eles tinham entrado.

A risada fria do nobre ecoou na pequena taverna. Ainda que o garoto estivesse surpreso, ele não demonstrava medo. Na verdade, os olhos da criança pareciam irradiar uma estranha determinação, até mesmo uma espécie de desafio.

- Sinto muito pelos transtornos que possamos ter causado essa noite. – a voz calculada do homem cortou o silêncio – Vocês terão sua devida compensação por seu silêncio.

O corpo de Avery saiu, carregado pelos dois encapuzados. Lúcio tirou do bolso um maço de notas ao sinal do homem e jogou sobre a mesa dos companheiros do morto. Em seguida, os dispensou. Apenas Rosmerta, o homem do chapéu e o garoto continuaram no aposento.

- Ele é seu filho? – o moreno perguntou, sem tirar os olhos do garoto.

- Ela nunca seria minha mãe. – o garoto se adiantou a Rosmerta – Minha mãe era uma nobre que teve a burrice de se apaixonar por um condenado.

Rosmerta confirmou com a cabeça quando os olhos negros do homem a encararam.

- A mãe dele morreu no parto, depois de ter fugido da família. E o pai foi guilhotinado. Como ninguém se interessou em ficar com ele, eu o criei para me ajudar aqui na taverna.

- Bem, então acho que não vai se importar se eu ficar com ele, não é mesmo? A propósito, meu nome é Tom Riddle.

Rosmerta quase caiu para trás, aflita.

- O conde Riddle? Ai, céus, eu...

Um homem daqueles em seu estabelecimento era praticamente um milagre. Ninguém acreditaria se contasse. Tom fez um movimento com a mão e sorriu indulgentemente, voltando-se novamente para o garoto.

- E qual é seu nome, meu garoto?

- Eu não sou uma coisa para que ela possa me dar a você. – ele respondeu em tom de desafio.

- James Potter! Peça desculpas agora mesmo, ele...

- Não se preocupe. – Tom novamente sorriu – Gosto disso, menino. Você é esperto. Mas, me diga, você prefere ficar aqui a servir bêbados a vida inteira em vez de ser meu bem amado sobrinho?

James estreitou os olhos.

- Seu sobrinho?

- Eu simpatizei com você, garoto. Não tenho filhos... E preciso de alguém que continue com meus negócios quando eu me for. E alguma coisa me diz que essa pessoa é você. E, acredite, meus instintos nunca falharam antes.

O garoto cruzou os braços, observando cuidadosamente o homem à sua frente. Embora jovem, James não era tolo; o conde queria alguma coisa dele. Tom voltou a calçar as luvas, sorrindo consigo mesmo. Nunca encontrara ninguém que o desafiasse abertamente a não ser seu irmão. Estava cansado de toda a subserviência de seus servos, precisava de alguém que o ajudasse realmente em seus planos. Precisava de um herdeiro. E aquele garoto tinha o ar inteligente, ousado... Nunca se enganara em seu instinto, sabia que precisava do menino.

- James, é uma oportunidade única. – Rosmerta aproximou-se do filho de criação.

O garoto pareceu pensativo por mais alguns instantes antes de sorrir marotamente.

- Muito bem então. Eu vou com o senhor.

Riddle sorriu. Cuidaria do garoto, dando a ele toda a educação necessária para que, no futuro, pudesse usá-lo como seu braço direito. Alguém em quem pudesse confiar, mas que tivesse uma visão ligeiramente mais apurada do que a dos seus comensais subservientes. James seria a peça que lhe daria enfim a vitória em seus jogos de poder...


Bem, pessoal, para começo de conversa, eu quero agradecer a todos os comentários. Sabe, às vezes dá vontade até de chorar de alegria. Eu amo vocês, sabiam? É por isso que acabei decidindo postar esse primeiro capítulo hoje em vez de segunda. Mesmo porque, eu não sei se vou ter tempo segunda...

Assim, eu quero mandar grandes beijos para Isabelle Potter Demonangels, Saky, Kim, Carol Black, Dynha Black, Helena Black (alguém ja notou quantos Blacks nós temos por aqui? Que família grande, não?), Je Black, Marina, Lisa Black, G-Lily P, Mirtes, BabI BlacK, Flávia Fernandes, Nina, Juliana, Lily Dany Potter, Mah Clarinha, Marcellinha Madden, Ewan Potter, Marmaduke Scarlet, Lily Dragon, Juliana Montez, witches, Lucilla e todos que leram esse prólogo. Obrigada. E agora, vamos às respostas das perguntas.

Primeiro, a referência do prólogo é o filme "A liga extraordinária". Já esse primeiro capítulo faz uma homenagem a um escritor brasileiro do ultra-romantismo e a seu livro de contos. E aí, alguém sabe qual é o livro?

Para quem perguntou, o James começa a história com dez anos. Mas a ação mesmo começa quinze anos depois, quando a turma está com vinte e cinco. O nome da organização secreta, "O clube dos valetes de copas" foi tirado dos folhetins de Poison du Terrail (são trinta volumes, um dos quais com esse nome).

O rapaz que acompanha o conde Riddle nesse primeiro capítulo é Lúcio Malfoy. Quanto ao Remo, não se preocupem, ele vai aparecer lá para o meio da fic. E ele vai ter sua dose de desgraça, vai sofrer preconceito, mas, realmente, ele não vai ser um lobisomem. Se eu disser o que ele vai ser, vou entregar a homenagem que faço com ele a um livro que li há muito tempo...

Hum... Qualquer outra pergunta, podem mandar bala. E não deixem de entra no Hades club, temos enquete nova e algumas novidades também que podem deixar alguns de vocês muito felizes!

Beijos,

Silverghost.