Os mistérios de Londres

Primeira Parte: Becos escuros

Capítulo 02 - O Conde Riddle


Nesse ponto da história, é necessário voltar um pouco no passado. Deixemos James e seu novo protetor instalarem-se em elegante palacete numa das ruas mais iluminadas de Londres. É preciso saber quem é o homem que entrou na taverna e com isso mudou a vida do pequeno garoto.

Tom foi criado como órfão durante sua infância, uma infância feita de pequenos delitos que denunciavam aquilo que a criança se tornaria quando grande. Deixando o orfanato, descobriu, por meios que não conhecemos e que não nos importam nesse momento, que tivera como mãe uma tradicional senhora aristocrata do império. Apaixonada por um novo-rico, um burguês, entregara-se a ele e desse romance, surgiu a indesejada criança. O tal burguês não quis assumir a paternidade.

A família Riddle tirou da jovem mãe o filho tão logo ele nasceu. Tom foi mandado para o orfanato e sua mãe nunca soube de seu paradeiro. Aliás, é muito provável que ela nem sequer soubesse que o filho nascera vivo, mas isso são conjecturas que não me cabe fazer, eu apenas transcrevo aqui o que soube dos fatos de ouvir contar.

Em todo caso, a senhora Riddle casou-se, casamento muito bem arranjado. Dessa união ela teve mais um filho, que também se casou, teve uma filha e cedo ficou viúvo. Tom descobriu tudo isso ao deixar o orfanato e encarar o irmão pela primeira vez.

Para surpresa do jovem rapaz, seu irmão dividiu com ele a fortuna que herdara da mãe e até mesmo dera a ele um título de nobreza. Acolheu-o no seio da família com grande alegria. Apenas uma pessoa viu com reservas a "volta do filho pródigo": o marido legítimo de sua mãe, que a aceitara apesar de desonrada pelo pai de Tom.

Esse, Tom não chegou a conhecer. Tudo o que ele descobriu sobre o velho homem, que era seu padrasto, é que seu primeiro nome era Albus. Mas isso não vem ao caso. Não agora, pelo menos. O caso é que, apesar de tudo o que seu irmão fez por ele, ardia em Tom, agora transformado em conde, uma chama funesta; uma chama de ódio, de inveja... de vingança.

Tom não se deteve em apreciar a vida como os velhos aristocratas satisfeitos de suas posses. A raiva corria em suas veias e, com ela, o desejo de poder. Ele só fora aceito na sociedade por causa da boa vontade do irmão. Era hora de se impor por méritos próprios. Para começar, ele deveria arranjar um bom casamento. E seus olhos logo se alongaram para os lados da bela sobrinha.

Geneviève tinha belíssimos olhos azuis, como os do avô. O nome fora herdado da bisavó, que migrara da França quase oitenta anos antes do nascimento da bisneta. Os cabelos eram de um vermelho escuro, e caíam como graciosa manta sobre os alvos ombros da graciosa moça. Não bastasse isso, Geneviève era doce como poucas pessoas que Tom conhecera na vida.

Mas a moça lhe foi negada. Estava prometida a um amigo do pai, arqueólogo de renome, e o casamento já estava até marcado. Coincidência ou não, uma semana depois de ter recebido a recusa, o irmão de Tom apareceu morto; fora assassinado.

Albus acolheu a neta e o casamento, apesar de tudo, foi celebrado. Riddle perdera a batalha dessa vez. E o ódio voltou a queimar com ainda mais intensidade. Não fosse o velho, ele seria tutor de Geneviève e não seria muito difícil torná-la sua esposa. Tom dedicou-se então a descobrir uma maneira de arruinar seu pretenso padrasto.

O tempo passou. Geneviève teve duas filhas. Seu marido era famoso por suas expedições e descobertas, muitas vezes ela o acompanhava nas viagens, mas na maior parte das vezes, ficava sozinha em casa, cuidando das duas pequenas. Perfeito para que ele pudesse seduzi-la, mas ainda havia o velho...

Decidido a acabar de uma vez por todas com aquela confusão e matar seu padrasto, Tom viajou para o interior, além das montanhas, onde ficava o convento onde o velho se abrigava. E foi lá que, pela primeira vez, seus olhos bateram no coração de dragão.

Enquanto esperava Albus numa sala confortável, Tom encontrou um quadro onde uma mulher, tão formosa quanto sua Geneviève, ostentava no colo alvo uma gargantilha onde um enorme rubi parecia faiscar.

Quando o velho senhor apareceu para conhecer o enteado, viu-o entretido com o quadro. Por fim, os propósitos de Riddle para aquela noite tiveram que ser adiados. Ele perguntou sobre a jóia e Albus contou a história do coração de dragão.

Riddle não precisava que Albus confirmasse para saber que o amante da rainha que possuíra a jóia fora antepassado de Geneviève. A mulher do quadro era a filha da rainha e não negava os traços em comum com sua sobrinha. Só lhe faltava agora saber onde estava a gargantilha. Mas logo ficou claro que Albus jamais lhe diria.

A cobiça quase enlouqueceu o jovem conde. Talvez por isso, Albus tenha sobrevivido naquela noite. Riddle sabia que a única pessoa que poderia levá-lo ao coração de dragão era o velho padrasto. Geneviève agora sumira de sua mente, tudo o que Tom via agora era o rubi faiscando diante dele.

Nessa época, o clube dos valetes de copas já existia. Uma sociedade secreta, presidida por um conselho de mentes criminosas, o terror das docas escuras de Londres. Mas seus membros eram medíocres demais para estender seu poderio para além das docas miseráveis às margens do Tâmisa. Tom ouviu falar deles.

Nesse ponto é necessário fazer uma observação pertinente. Tom Servolo Riddle pode ter diversos defeitos. Mas não se pode negar, em nenhum ponto da história, que fosse homem inteligente. Poucas pessoas conheci tão diabolicamente espertas quanto esse rapaz; dá até para se perguntar o que estão ensinando a nossas crianças nesses dias de hoje...

Em todo caso, não se sabe como, Riddle ascendeu ao posto de comandante dos valetes de copas. O clube deixou de ser apenas um ponto de encontro dos criminosos comuns da cidade para se tornar uma associação de nobres e novos ricos cansados de sua vida tediosa de salões e bailes e coisas do tipo.

Mais do que isso. Nas reuniões ditas culturais, eram discutidos ideais racistas que, algumas décadas depois, dariam o sabor do tempero chamado nazismo. Enquanto isso, Riddle agia na sombra, fazendo de todos suas marionetes. Mas, sob a capa de sociedade aristocrata, o clube dos valetes de copas continuava a existir como uma organização criminosa, mas, dessa vez, com todos os celerados sob ordens de sir Riddle.

Os anos se passaram. As filhas de Geneviève cresceram, a fortuna de Tom cresceu, Albus envelheceu... E nada do coração de dragão. Até que, numa noite escura, numa taverna suja junto ao rio Tâmisa, o nosso conde conheceu o pequeno James, filho de uma aristocrática família, órfão por conta dos preconceitos da mesma. Extremamente parecidas, a história dele e do pequeno, foi o que ele achou.

Foi a partir desse encontro que Tom concebeu seu maior plano. Criaria o rapaz, única pessoa em muitos anos que não baixara a cabeça subservientemente a ele. E ele seria a peça central no seu teatro. James seria criado com o único e exclusivo propósito de roubar a jóia maldita...

Quinze longos anos se passariam antes que o conde Riddle acreditasse ter o rapaz pronto para seus planos. Enquanto isso, James era educado com esmero, viajava por toda a Europa, desenvolvendo a arguta inteligência e todos os demais dotes que seriam a ajuda e ruína de Tom Riddle.


Muito bem, pessoal, aí está mais um capítulo de Mistérios. Que bom que estão gostando, eu realmente estou até assustada com o número de comentários que tenho recebido... 50 em dois capítulos? Será que vamos quebrar o recorde de Hades? Vocês estão me deixando tão feliz que acabei vindo postar mais cedo do que esperava...

Bem, quero mandar os parabéns para Lisa Black, Flávia Fernandes e Ewan Potter que acertaram a referência e ganharam esse capítulo antes de todo mundo (ou pelo menos assim espero...). A referência do capítulo anterior foi o livro "Noites na Taverna" de Álvares de Azevedo, grande poeta do ultra romantismo brasileiro.

Quero mandar beijos também para the black angel 357, Thaisinha, Marcellinha Madden, Ysa, BabI BlacK, witches, Juliana, Juliane Delacour, Helena Black, Sarita, Juliana Montez, Ameria A. Black, Lily Dragon, Mah Clarinha, Saky, Jéssy, Je Black, Nina, Marmaduke Scarlet, Isabelle Potter Demonangels, Dynha Black, Flávio e todos que leram a fic!!

Quanto às perguntas... O Sirius aparece no próximo capítulo (alegrem-se fãs do cachorrão!), a Lily lá pelo sexto e o Remus é citado no nono, mas ainda não escrevi o capítulo em que ele realmente aparece. Eu tenho metade da fic pronta, até o décimo capítulo (que, por sinal, eu amo de paixão) e acredito poder acabar de escrever antes de postá-lo. A Geneviéve não é a Gina. Outras coisas eu não posso responder agora ou vou entregar o ouro. Aí não tem graça, né? Sim, eu vou falar um pouco do passado de cada um dos personagens, mas através de reminiscências, já que o próximo capítulo vamos dar um salto de quinze anos na história (hehehehe...). O irmão do Riddle não é um personagem realmente importante (tanto que eu o matei nesse capítulo), então acho que vocês vão continuar sem saber quem é ele. Em compensação, temos o padrasto do Riddle (huahuahuahuha...). E, bem, pelo menos nesse começo, Sirius e James vão ser maus... muito maus... Quanto ao nome do Lúcio (ou Lucius), eu não gosto muito do som desse "s" no fim... Me dá a impressão de um silvo de cobra. Apesar dele ser uma cobra. Por isso, apesar de usar os nomes no original, eu optei por mudar o do Lúcio Malfoy. Também pensei em fazer isso no Remo, mas acho que como ele é um personagem mais importante, vou mantê-lo no original. E sim, a Susan vai aparecer nessa fic. Putz... Vocês estão cheios de dúvida, não? Perguntem à vontade, eu prometo tentar responder todas desde que elas não traiam meus segredos...

Quanto a dica desse capítulo... Ele é uma homenagem a um grande autor francês do romantismo. Teve um filho escritor que também se destacou muito. Um livro em especial desse autor inspirou a história de Riddle... E esse livro é sobre dois irmãos. Alguém sabe qual é a resposta?

Beijos e até semana que vem.

Silverghost.