Os mistérios de Londres
Primeira Parte: Becos escuros
Capítulo 03 - Discípulo
São Petersburgo – Rússia - Setembro de 1921
Ah, o frio russo... Já estivera em muitos lugares naqueles últimos quatorze anos, mas nenhum era gelado como a velha Rússia dos vermelhos de Stálin. Mas naquele momento, poucas horas antes de embarcar no navio que o levaria de volta para casa, ele não estava preocupado com os comunistas, como a grande maioria de seus compatriotas.
- Então você vai mesmo, bátiuchka?
O rapaz sentou-se na cama, encontrando a bela russa que encontrara para passar com ele a última noite naquele país. Arrepiou os cabelos negros, que antes disso já estavam bem arrepiados, e tateou a cabeceira até encontrar seus óculos.
- Sim, Lavisa. Meu tio ordenou afinal minha volta.
A loira também se sentou na cama, cobrindo-se com o lençol.
- Não vejo porque tem que obedecer a esse tio. Você já é um homem, responsável por si mesmo... Porque não fica conosco? A Rússia sabe ser muito acolhedora quando quer.
Ele apenas sorriu. Claro, muito acolhedora... Já fugira duas vezes da polícia política daqueles loucos, que achavam que ele era um espião disfarçado. Realmente ridículo... Não se interessava por política, a não ser pelas intrigas de seu próprio país, muitas vezes na qual ele ou um seu conhecido estava envolvido.
- Minhas malas já estão no navio. E eu devo embarcar no mais tardar daqui a uma hora. Mas não se preocupe, Lavisa. Sempre que vier a esses cantos do mundo, hei de procurá-la.
Ela sorriu enquanto o rapaz se vestia e deixava o quarto da miserável pensão que o abrigara na última semana. Alugou um coche para levá-lo até o porto de São Petersburgo. Ouvindo o trotar cadenciado dos cavalos, ele quase se deixou levar pelo sono.
Tinha deixado Londres há quase cinco anos para completar sua educação. Viajara por toda a Europa, seguindo as recomendações do tio e tutor, até chegar na Rússia, no final do ano anterior. Ali, tivera contato com os ideais socialistas.
Ele sabia exatamente porque fora mandando para aquela imensa fábrica de picolés, pensou enquanto soprava as mãos, tentando esquentá-las. O velho Tom queria ter certeza de que ele não se deixaria levar por tolas idéias de justiça. Queria ter certeza de que o criara da maneira certa para ser seu herdeiro. Bem, ele passara no teste.
Finalmente chegou ao porto. O Khutorok parecia um formigueiro, com gente saindo e entrando do enorme navio. Rapidamente ele embarcou, procurando sua cabine onde certamente a calefação estaria ligada e ele poderia se esquentar. Ele quase desejou ter trazido Lavisa com ele. Ela saberia deixá-lo aquecido por toda a viagem.
Enquanto procurava, repassou mentalmente o trajeto que faria para chegar a Londres. O navio o levaria para a Suécia. Um carro o levaria até Trelleborg, onde embarcaria novamente em um navio para chegar a Alemanha. Depois pegaria o trem que o levaria até Paris, onde provavelmente passaria o ano novo. E, finalmente, atravessaria o Canal da Mancha. Chegaria em Londres às vésperas de seu vigésimo quinto aniversário.
Estocolmo – Suécia
Frio. Parecia que o frio o estava perseguindo. O rapaz suspirou enquanto aguardava que o motorista acabasse de guardar suas malas. Não confiava muito em carros, mas diziam que era um meio seguro de se deslocar. Preferia um trem, mas demoraria demais e Tom dissera que ele devia ir o mais rápido possível.
Finalmente o motorista fez um sinal para que ele entrasse no confortável veículo. O rapaz obedeceu e assim que se viu lá dentro, retirou os óculos, coçando os olhos cansados. Quase não dormira no navio, os malditos aquecedores tinham quebrado.
O balanço suave do automóvel parecia embalá-lo. Ele fechou os olhos, lembrando-se das muitas tardes passadas no palacete em Londres. Quase podia ouvir a voz do tio repetindo suas lições. Seja frio. Seja cínico. Seja forte.
Berlim – Alemanha
Estavam no final de novembro. O trem se movia vagarosamente e, naquele ritmo, provavelmente passaria o natal ainda na Alemanha. O rapaz observou pelos vidros os prédios se distanciarem. Berlim era uma bela cidade.
Voltou-se novamente para a xícara de chá que esfriava rapidamente diante dele. O vagão restaurante estava cheio. Nesse momento uma jovem beldade atravessou a porta. Cabelos negros até a cintura, olhos dourados como os de um felino. Ela vasculhou o lugar, procurando onde poderia se sentar.
O rapaz sorriu ao perceber que ela olhava em sua direção. Ao contrário dos outros passageiros, ele era o único que não estava acompanhado. Ela caminhou até sua mesa, os cabelos balançando de forma perturbadora sobre os ombros.
- Com licença... O senhor já acabou sua refeição? – ela perguntou num sotaque alemão carregado.
Ele logo reconheceu o sotaque. Francês. E foi nessa língua que respondeu, enquanto a porta do vagão se abria novamente deixando passar um senhor já de certa idade.
- Pode ocupar a mesa, Eu já estava de saída.
Ela sorriu de forma tentadora em resposta e sentou-se, cruzando as belas pernas. O senhor recém chegado aproximou-se antes que se pudesse fazer mais alguma pergunta.
- Ma cher?
O rapaz sorriu enquanto olhava a mão esquerda da bela senhora. Uma aliança. Bem, isso só tornava as coisas mais divertidas. Pelo menos arranjara alguma coisa para fazer durante a viagem.
- L'excuse.
O velho sorriu para ele, assim como a esposa. Levantando-se, ele caminhou até o bar. Enquanto pedia um conhaque, perguntou ao garçom quem era o casal a quem cedera a mesa. E logo teve a informação que precisava. O nome dela.
Lydia Trajani.
Paris – França
- Le bonne année. – ela sussurrou em seu ouvido antes de se distanciar.
Ele sorriu, sem tirar os olhos dos fogos de artifício. Sim... Feliz ano novo... E começara muito bem aquele. Como calculara, estava em Paris no fim do ano. Só que as coisas tinham saído muito melhor do que ele planejara. Afinal, estava em companhia do representante francês na Alemanha e de sua bela esposa.
Lydia não fora um desafio muito grande. Na verdade, ele não precisou fazer esforço algum para conquistá-la; na primeira noite depois de eles terem se conhecido no vagão restaurante, a morena bateu à porta de sua cabine. Colocara calmantes na bebida do marido, que durante toda a viagem se queixou de uma incômoda dor de cabeça e muito sono, ao que os dois apenas sorriam, cúmplices.
Tornou-se amigo do diplomata. Aquele era o tipo de pessoa que Tom gostava de conhecer. Fraco, de uma inocência quase absurda e portador de interessantes detalhes da vida pública e privada da aristocracia. O tipo de pessoa que se deixa seduzir e manipular com facilidade.
Infelizmente, no dia seguinte, ele teria novamente que partir. Naquela mesma noite, seguia para o porto de Calais. Atravessaria o Canal da Mancha e, em no máximo uma semana, estaria de volta a Londres. Mas enquanto isso não acontecia, ele aproveitava a festa.
Londres – Inglaterra - Fevereiro de 1922
Nada parecia ter mudado. A mesma neblina, o fog inglês que vira na despedida estava ali para recebê-lo na volta. Ele sorriu, enquanto descia do automóvel que o trouxera de Dover. Diante dele, o grande palacete dos Riddle se recortava contra o céu escuro.
Enquanto os empregados corriam para descarregar suas malas, ele penetrou pelo portão, indo direto para o escritório de seu tio. Como pensara, Tom estava lá, escrevendo alguma coisa.
Mas Tom não estava sozinho. Havia com ele dois homens; um deles mais velho que seu tio. O outro parecia ter a idade do recém-chegado. O conde Riddle levantou-se, sorrindo, ao ver o sobrinho.
- Até que enfim, meu caro. Estava esperando-o desde ontem. Bem, esses são Archibald Black e seu filho, o jovem Sirius. E esse é meu bem amado sobrinho, James Potter.
Tom sorriu enquanto Sirius e James apertavam-se as mãos. Seu discípulo chegara afinal. Finalmente chegara a hora de pôr seus planos, por tantos anos guardados, para funcionar.
Fim da primeira parte
Bátiuchka – na linguagem popular russa é usado para se dirigir a pessoas às quais quer se tratar respeitosa e afetuosamente.
Khutorok – canção popular russa.
Trelleborg – cidade portuária da Suécia.
Calais – cidade portuária francesa.
Dover – cidade portuária da Inglaterra.
É, pessoal, esse capítulo foi um pouco maior do que o passado. Eu sei que alguns deles podem parecer pequenos, mas não se preocupem, a tendência é eles aumentarem de tamanho. Bem, quanto à referência desse capítulo, todo mundo acertou o autor, mas não a obra. Embora O homem da máscara de ferro seja uma história com dois irmãos, eu estava me referindo a outro livro... "Os irmãos corsos". Sendo assim, ninguém ganhou capítulo.
Devo acrescentar que eu não sou tão mercenária para negociar quantos reviews eu tenho que ter para postar capítulo novo, mas se eu tiver 50 novas reviews até amanhã, eu posto capítulo novo (huahuahuahuahuahuahua...). Não falando sério agora, eu adoraria postar mais rápido, mas daí os capítulos que eu tenho pronto vão se acabar, eu não vou ter tempo para escrever novos, e aí, como vocês ficam?
Bem, eu quero mandar milhares de beijos para Helena Black, Lily Dragon, BabI BlacK, Naniiinha, Lisa Black, Louise Black, Juliana Montez, Lily Dany Potter, Anya Black, Diadem Black, Ameria A. Black, Maíra, Marcellinha Madden, Lilibeth, Dynha Black, Jéssy, Juliana, Patty Felix, Mah Clarinha, witches, Ewan Potter, G-Lily P, Thaisinha, Saky, Flávia Fernandes, Rose Mia e todos que estão lendo essas loucuras que eu escrevo.
Esse capítulo não tem uma referência específica, então não precisam quebrar a cabeça tentando adivinhar dessa vez. Mas a partir do próximo capítulo, voltamos ao esquema das adivinhações, ok?
Beijos,
Silverghost.
